Boteco: da Argentina, três cervejas artesanais

…que vieram na mala de viagem.

por Marcelo Costa

A Fuegian Beverage Company nasceu em Ushuaia, na Argentina, em 1999, com a proposta de seguir a Lei da Pureza Alemã e, quando possível, utilizar elementos nacionais – como a água glacial e o lúpulo patagônico. Homenageando o barco HMS Beagle, que foi enviado em 1826 para estudar os mares do sul, a Fuegian trabalha a linha Beagle, que além desta Golden Ale (atualmente 29ª colocada no ranking “Argentina” do Ratebeer) conta com mais sete rótulos. A Beagle Fuegian Golden Ale é uma cerveja de coloração amarela com turbidez derivada de não filtração. O creme branco é de média formação e boa permanência. No nariz, o aroma valoriza tanto o caramelado do malte (destacando doçura) quanto uma sugestão interessante de trigo que remete, também, a ervas. Na boca, doçura de malte interessante contrabalançada por amargor assertivo do lúpulo patagônico único a um azedume suave (provável que de levedura belga) e bem interessante, que persiste – e remete a chá de ervas. O final é discreto com doçura (de caramelo) e amargor suave bem equilibrados, mas o retrogosto é mais marcado, com amargor e azedume surgindo de forma bem interessante num conjunto discreto, mas com personalidade.

A Barba Roja de Anapa é uma micro cervejaria familiar que começou a produzir cervejas em 2001, e hoje mantém um complexo cervejeiro artesanal em Escobar, a 40 minutos de Buenos Aires, com convenções e feiras sobre cerveja. Eles produzem mais de 15 rótulos diferentes como a Diabla Pale Ale, a Floral Pale Ale (com adição de extrato de ervas e flores), a Negra Bock com Framboesa, a Orange Pale Ale (com suco de laranja) e uma Strong Red Ale (não tão fáceis de se encontrar fora de Escobar). Essa Barba Roja Winner é uma Double Bock (comprada em Buenos Aires) de 4.8% de álcool e jeitão alemão de ser. De coloração marrom bem escura e creme bege de baixa formação e rápida dispersão, a Barba Roja Winner exibe um aroma simplório, que valoriza as notas derivadas do malte torrado (bastante café em primeiro plano, leve chocolate amargo na retaguarda). Na boca, o sabor segue o que é antecipado pelo aroma: amargor maltado que remete a café e chocolate amargo suave. Os dois lúpulos presentes na receita não se destacam tanto, mas conseguem equilibrar a contento o conjunto de uma boa cerveja argentina que poderia passar por alemã sem dificuldade. O final é mais adocicado do que se espera e o retrogosto, suave, traz café e chocolate amargo. Boa.

A De La Vaca Tranquila Cervezas Artesanales é uma cervejaria de San Carlos, na região de Salta, que desde 2008 produz rótulos elogiados pelos cervejeiros argentinos como a linha Me Echo La Burra (com cinco rótulos) e outras três cervejas especiais de acento belga: La Doma (Belgian Ale), San Lunes (Quadrupel) e La Pecadora, esta última uma interessante belgian ale que recebe adição de frutas (pêssego, alfarroba e ameixa) plantadas ao redor da estância hotel La Vaca Tranquila e lembra a escola Lambic. De coloração amarela com turbidez aparente (devido a não filtração), La Pecadora exibe um creme branco de baixa formação e rápida dispersão. No nariz, interessante acento cítrico (que remete a acerola), acidez pronunciada, leve sugestão de azedume e toque avinagrado. O malte de caramelo fica na retaguarda. Na boca, a doçura do pêssego (com, novamente, sugestão cítrica de acerola) surge em primeiro plano e logo recebe companhia de acidez provocante e azedume refrescante. Há percepção avinagrada, leve toque salgado mais caramelo discreto (derivado do malte) e frutado. O final traz secura, acidez e suave azedume. No retrogosto, leve adstringência, mais azedinho (longo e permanente) e frutado cítrico. Uma delicia.

Balanço
Primeira do trio, a Beagle Fuegian Golden Ale, da Terra do Fogo, me lembrou a cervejaria paulistana Urbana, pelo uso da levedura belga (em destaque). Gostei do conjunto, e fiquei interessado em provar outras da turma da Patagônia. Já a Barba Roja Winner não é uma das principais cervejas da casa (a maioria reinventada com frutas e adições incomuns), mas mostra que a cervejaria é capaz de produzir uma boa cerveja alemã (mesmo estando em Buenos Aires). Assim como a Beagle, me deixou mais curioso por provar outras da casa. Fechando o trio, a primeira boa surpresa do pacote que veio da Argentina foi comprada em Neuquén, às cegas, e é uma Belgian Ale com jeitão de Lambic frutada, uma delicia acida, azeda, frutada e suavemente salgada. Agora quero ainda mais os outros rótulos da La Vaca Tranquila Cervejas Artesanais. Quem sabe na próxima vez que eu for pra Argentina, eu não dou um jeito de ficar na pousada (hehe)…

Beagle Fuegian Golden Ale
– Produto: Belgian Golden Ale
– Nacionalidade: Argentina
– Graduação alcoólica: 4.8%
– Nota: 3,11/5
– Preço pago em Buenos Aires: 42 pesos argentinos (330 ml)

Barba Roja Winner!!!
– Produto: Double Bock
– Nacionalidade: Argentina
– Graduação alcoólica: 4.8%
– Nota: 3,12/5
– Preço pago em Buenos Aires: 28 pesos argentinos (330 ml)

La Pecadora
– Produto: Belgian Blond Ale
– Nacionalidade: Argentina
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3,31/5
– Preço pago em Neuquén: 35 pesos argentinos (355 ml)

Leia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)

3 thoughts on “Boteco: da Argentina, três cervejas artesanais

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