Três perguntas: Juliana R

por Leonardo Vinhas

A sorocabana Juliana R tem um timbre peculiar de voz, e sabe usá-lo. E usa bastante: cantando nos projetos de covers Tarântulas e Tarantinos (que versiona temas que soam nos filmes de Quentin Tarantino) e Les Provocateurs (tributo a Serge Gainsbourg capitaneado por Edgard Scandurra), ou na sua carreira solo, composta por ora de um único e bom disco, lançado em 2010 (download gratuito aqui).

Desde esse lançamento, Juliana apareceu mais nos palcos com seus projetos de intérprete do que com seu trabalho autoral – mesmo com a canção “El Hueco” tendo feito certo sucesso, graças à presença numa publicidade que circulou não só em todo o território nacional, mas também em outros países. Uma pena, já que o material simultaneamente pop e introspectivo registrado em 2010 fazia crer em um sucessor ainda mais interessante.

Em 2011, Juliana recebeu o repórter Tiago Agostini para um longo e agradável papo, que analisava esse período de disco recém-lançado. Agora, Leonardo Vinhas foi verificar, via e-mail, quais as razões desse “silêncio autoral” e conhecer os planos futuros da cantora, radicada na capital paulista há quase 10 anos. Fala Juliana!

Seu disco de estreia teve boa resposta da crítica, “El Hueco” entrou numa publicidade que circulou em vários países… Mas desde então não houve outro registro solo em estúdio. O que aconteceu nesses quatro anos?
O disco começou quando lancei um EP em 2008. Na época eu tinha uns 22 anos e as músicas foram praticamente uma coletânea de coisas que vinha escrevendo desde a adolescência. Do lançamento pra cá tenho colecionado alguns rascunhos, mas nesses últimos anos não consegui fechar um repertório satisfatório. Além disso, pra lançar o disco de estreia foi um longo caminho pra levantar não só um repertório, mas também o dinheiro pra prensagem, produção etc, o que me trouxe um certo cansaço e não pensei num próximo disco tão cedo. Quando ele foi lançado, também fiz menos shows do que queria, aí acabei me dedicando a outros projetos que acabaram rolando melhor. Nesse meio tempo me aventurei fazendo sonoplastia e trilhas para peças de teatro e tocando teclado nas bandas Submarinos e Firefriend. Estive mais interessada em colaborar com projetos de outras pessoas e crescer enquanto instrumentista do que me dedicar inteiramente a um projeto meu. Agora sinto que é um momento pra me empenhar em um segundo disco, resgatar os rascunhos dos últimos anos e levantar as composições.

Vi um show seu no SESC Vila Mariana em 2013. Havia algumas poucas canções novas ali. Elas farão parte desse segundo disco?
Eu, o Dustan Gallas (integrante do Cidadão Instigado e produtor do primeiro disco de Juliana) e [o músico] Joaquim Pedro dos Santos estamos fazendo a pré-produção desse álbum na minha casa, mas já adianto que algumas músicas que você ouviu nesse show foram cortadas (risos). O meu plano era ter lançado o disco em 2014, mas não consegui terminá-lo a tempo e, por ser ano de Copa do Mundo e eleição, resolvi deixar pro ano que vem. Toco as músicas novas nos shows que tenho feito, mas decidi criar um formato mais enxuto pra conseguir tocar em mais lugares, já que a maior parte paga com bilheteria e dificilmente ela consegue cobrir os custos de uma banda. Provavelmente o disco será pensado pra esse formato.

Você participa de dois projetos de versões, ambos bem diferentes, que têm bom trânsito nos palcos paulistanos: Les Provocateurs e Tarântulas & Tarantinos. Como esse lado intérprete dialoga com o lado compositora – e qual tem prioridade no seu futuro imediato?
Esses projetos de versões me ajudaram a crescer enquanto intérprete e me trouxeram experiência de palco. Sempre me diverti durante esses shows, é quando eu mais tenho que me colocar como cantora e isso traz sempre novos desafios. Musicalmente esses projetos não influenciam muito meu trabalho solo, são coisas bem distintas. A minha prioridade mesmo sempre foi composição, é o que mais gosto de fazer, mas não posso me dedicar inteiramente a ela. Música autoral dificilmente paga as contas e também nem quero fazer uma música que se torne obrigação pra mim, embora eu tenha muita vontade de escrever pra outros cantores e cantoras.

Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell. A foto é de Liliane Callegari.

Leia também:
– Juliana R: “Quando você grava amarra ainda mais a música a você” (aqui)

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