Entrevista: Flavio Landau

por Marcos Paulino

Flávio Landau, mineiro de Alfenas, tem sete discos lançados em seus 15 anos de carreira. O último deles, “Casca Grossa” (2014), concebido recentemente, está disponível para download gratuito na íntegra no site do artista (http://www.landauonline.com/).

Mesmo com tanto tempo de estrada, é provável que você não conheça o trabalho de Landau. Mas certamente já ouviu alguma coisa de seu irmão mais famoso, Rogério Flausino, do Jota Quest. E talvez até de seu outro irmão, Wilson Sideral. Tenha, porém, uma certeza: o som de Landau em nada lembra Flausino ou Sideral.

A revista “Rolling Stone” classificou “Casca Grossa” como “um trabalho que segue pelo blues, country e hard rock dos anos 70 e mostra o lado mais sério do artista”. Isso porque Landau sempre foi conhecido pela sua faceta irreverente, desde que começou a carreira adotando o nome de um carrão das antigas. Nesta entrevista, ele fala sobre seu trabalho.

Tem quem diga que o novo disco é o primeiro “sério” de sua carreira. O que você acha disso?
É o mais maduro. Ele tem os três lados da minha composição. Tem o irreverente, que me acompanha nesses 15 anos e que não posso abandonar. Tem um lado que ficou meio esquecido nos últimos cinco anos, o da poesia, mais estilo Zé Ramalho. E uma parte menor, que é a romântica, com canções que falam de amor de um jeito menos dramático.

Você já se classificou de várias maneiras nesses 15 anos, como “roqueiro da roça” ou “Ricky Martin do Paraguai”, por exemplo. Isso acaba reforçando um estereótipo brega/engraçado. Você está tentando fugir disso?
Não! No meu show toco de tudo, de ACDC a Zé Ramalho, juntos. Aquela coisa de misturar Bon Jovi com Amado Batista está inserida aí. O pouquinho de heavy metal, o pouquinho de brega, o pouquinho de cada coisa virou este caldeirão que é o Landau. Eu não “desfalaria” nada do que foi falado. Sou todas essas referências e as que ainda virão.

Você identifica um público que te acompanha e compreende essas transformações na sua carreira?
Sim. Sempre me acompanharam aqueles fãs do Raul (Seixas), do Zé Geraldo, hoje com 50, 60 anos, que levam seus filhos e netos em encontros de motociclistas. Tenho até um show em formato pra choperia, para aquele público que não vai mais pra balada. O pilar são os roqueirões das antigas. E tem a nova geração desses pais que não deixaram o rock sair deles.

Inevitável perguntar: te incomodou, ou ainda incomoda, ser “o irmão” dos famosos?
Me incomodou nos meus dois primeiros discos. Quando a gente começa uma carreira, acha que tem uma linha definida, mas não tem. Nas canções mais românticas, o tipo de voz fazia lembrar demais deles. Isso incomodava, porque meu trabalho tinha outras coisas. E tinha o lado estranho, porque eu estava de chapéu de cowboy e era irmão do cara mais raio laser daquela época (risos). O que incomodava é que a estranheza vinha de uma maneira depreciativa. E também incomodava que 80% do papo ficava naquela de “Por que vocês não têm uma banda juntos?”. Nos três anos em que morei em Belo Horizonte, fiquei angustiado. Mas quando vim pra São Paulo, a coisa ganhou vida própria.

Você compôs o tema do quadro “Lata Velha”, do programa do Luciano Huck, ou seja, flertou com o mainstream. Continuar trilhando um caminho independente é opção sua ou falta de oportunidade?
Acho que é a vontade de fazer um som que me agrade. Hoje tem uma turma que consome essa coisa mais intimista, do carreira solo que fala de si, que saiu da cidade pequena pra tentar a vida na capital. É um discurso, não só a música. Quero que as pessoas se identifiquem com meu estilo de vida, não só com a minha música. É uma coisa meio posuda (risos). O artista solo tem dificuldade de trabalhar em grupo, é meio egocêntrico (risos). Mas foi uma opção, sim. Fui baterista do Sideral, mas depois descobri que não era isso.

Você leva tão a sério essa coisa do eu sozinho que toca todos os instrumentos dos seus discos. Por quê?
Quando estou sozinho em estúdio, é meio um laboratório. Chego com uma música na cabeça, aí rearranjo na bateria, na linha de baixo, é um processo de criação até fechar todas as canções. Enquanto isso, vou aprendendo, praticando. E fica mais barato (risos). Mas chamo uns comparsas pra gente dividir o som nos palcos do Brasil, caras independentes, que estão na peleja como eu. E fazendo amizade, que é o mais importante.

Já te falaram que o som do disco novo lembra Celso Blues Boy ou eu sou o primeiro?
Pô, você é o primeiro, e te agradeço demais! Que responsabilidade! (Risos) Excelente referência, sou devoto do Celso.

Você já tem novos projetos engatilhados?
A minha ideia pro ano que vem é transformar o “Casca Grossa” em DVD, levar 70% do disco pros shows e registrar. Chamar os parceiros de todos esses anos pra participar, pra eu não me sentir tão sozinho assim. Acredito que seja gravado em abril ou maio, e lançado no segundo semestre do ano que vem.

– Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira. Foto de Edu Marchesan.

Leia também:
– Jota Quest: “A música está sendo mais consumida de uma forma diferente” (aqui)

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