Boteco: da Dinamarca, Evil Twin Yin & Yang

por Marcelo Costa

Cervejaria irmã má da Mikkeler, de Mikkel Borg Bjergsø, a Evil Twin Brewery, do gêmeo Jeppe Jarnit-Bjergsø, foi fundada em 2010, e em apenas quatro anos de história cervejeira, Jeppe produziu um número incontável de boas cervejas, muitas delas disponíveis no Brasil. As duas abaixo promovem uma interessante experiência: vendidas separadamente (a versão conjunta ainda não chegou ao Brasil) como Yin (Russian Imperial Stout) e Yang (Imperial IPA), recomenda-se mistura-las em um mesmo copo para conseguir uma terceira cerveja. O ideal, na verdade, é provar um pouco de cada garrafa (afinal são 10% de álcool em cada uma) e depois junta-las. A sensação é de que as versões solo aprofundam de maneira mais complexa os estilos propostos enquanto a versão conjunta lima as arestas de cada estilo concentrando-se no que cada uma tem de melhor. Abaixo, relato da experiência com cada uma sozinha e, depois, misturadas em uma mesma taça.

Abrindo a experiência Yin & Yang com a Evil Twin Yin, uma Russian Imperial Stout de 10% de graduação alcoólica. De coloração preta intensa com creme marrom escuro de alta formação e média permanência, a Evil Twin Yin valoriza o aroma clássico do estilo, sem arredar o pé: notas derivadas da torra do malte (café e chocolate amargo) convivem lado a lado com um toque de caramelo, baunilha, ameixa e açúcar mascavo, sem percepção do lúpulo (que deverá bater ponto na versão conjunta). Na boca, a entrada é rapidamente doce, mas o conjunto logo é amargado, muito mais pelas notas derivadas da torra (café) e da alta graduação alcoólica do que da lupulagem. É um amargor rápido, que abre passagem para que o conjunto adocicado desfile em notas que remetem a ameixa, chocolate amargo e baunilha, com um leve toque cítrico (o primeiro momento em que o lúpulo realmente mostra a cara no conjunto). O final traz torrado, chocolate amargo e quentura de álcool. No retrogosto, mais chocolate amargo.

A Evil Twin Yang, por sua vez, é uma Imperial IPA de… 10% de graduação alcoólica – na boa, os dinamarqueses não estavam brincando. De coloração âmbar e creme levemente alaranjado de boa formação e média permanência, a Evil Twin Yang desfere uma porrada de lúpulos cítricos no nariz (maracujá em primeiro plano com leve toque de casca de laranja) sem, no entanto, esconder o caramelado do malte, que marca presença junto a leves notas herbais (pinho) e o esperado acabamento resinoso, que soa bem inserido no perfil aromático. Na boca, o primeiro toque é de doçura de caramelo, mas dura alguns segundos até ser encoberto pela lupulagem e pelo álcool, que garantem amargor e calor. O conjunto retém notas cítricas comportadas, mas presentes (maracujá e laranja), junto a mel, caramelo, mais presentes aqui do que no aroma, pinho e resina. O final traz amargor cítrico, caramelo e resina em doses praticamente iguais, embora a resina e o amargor cítrico permaneçam intensos até o retrogosto, quente.

Ao misturar a Evil Twin Yin com a Yang na taça, a primeira percepção é visual prevalecendo a cor preta da Russian Imperial Stout na taça. O creme fica mais claro, mas ainda permanece marrom. A formação continua boa, mas a permanência parece aumentar. No nariz, uma junção perfeita (ainda que resumida) das melhores qualidades aromáticas das duas cervejas: percebe-se facilmente tanto as notas derivadas da torra do malte (café) da versão Yin quanto o conjunto cítrico (maracujá) derivado da alta lupulagem da Yang, sem muita profundidade (como nas versões single). A sensação é que, no nariz, consegue-se separar uma da outra com facilidade mesmo elas estando juntas. Na boca, por sua vez, acontece algo bastante interessante: uma diminuição das características extremas de cada cerveja. As notas derivadas da torra ainda remetem a café, mas não de uma forma intensa como na Yin. O mesmo pode ser dito da derivação cítrica da Yang, que chega acomodada, até macia, perto da porrada de amargor da versão solo. Aqui também perde-se profundidade, mas ganha-se equilíbrio. O final é mais cítrico e amargo do que torrado enquanto o retrogosto traz adstringência, notas cítricas e café. Uma experiência… maluca. E deliciosa.

Balanço
Como a ideia inicial era promover a experiência de misturar as cervejas, o pessoal da Evil não radicalizou os ingredientes nas duas receitas, pelo contrário, fez duas cervejas básicas que combinam muito bem juntas. A versão Yin da Evil Twin é uma Russian Imperial Stout clássica, que valoriza tanto os derivados da torra do malte (café e chocolate) quanto o álcool sem abrir espaço para o lúpulo, como muitas Russian Imperial Stout da escola norte-americana. É equilibrada e deliciosa, uma grande representante do estilo. A versão Yang, por sua vez, é uma Double American IPA como manda o figurino: alguns caminhões de lúpulo numa receitinha básica, mas o pessoal da Evil Twin merece palmas por conseguir dar bastante espaço para o malte, ainda que o final seja amargor cítrico e resina. Uma bela Double IPA. Juntando as duas numa mesma taça, apara-se as arestas de cada uma e valoriza o melhor de cada estilo: o torrado do malte da Russian Imperial Stout e as derivações cítricas da Double IPA. E, claro, o álcool. O resultado é uma cerveja mais equilibrada (principalmente no caso da Double IPA) e mais saborosa. Entre as três prefiro a versão conjunta.

Evil Twin Yin
– Produto: Russian Imperial Stout
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 10%
– Nota: 4,19/5
– Preço pago: R$ 23 (330 ml)

Evil Twin Yang
– Produto: Doube India Pale Ale
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 10%
– Nota: 3,95/5
– Preço pago: R$ 23 (330 ml)

Evil Twin Yin & Yang
– Produto: Black India Pale Ale
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 10%
– Nota: 4,26/5

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