Entrevista: Band of Skulls

por Alexandre Lopes

“Porque para onde estamos indo é uma incógnita”. O refrão do single “Asleep At The Wheel” define em parte o sentimento durante o processo de criação de “Himalayan”, o terceiro disco de estúdio da Band of Skulls, lançado em março deste ano. Ensaiado exaustivamente e depois aprimorado com a produção de Nick Launay (que já trabalhou com Arcade Fire, Yeah Yeah Yeahs, Gang of Four e Talking Heads), o repertório do grupo embarcou em uma viagem por técnicas de gravação e novos arranjos em busca de uma evolução. “Trabalhando com Nick, as músicas podem mudar totalmente. Era fascinante ver como elas poderiam evoluir”, conta o vocalista e guitarrista Russel Marsden em entrevista por telefone ao Scream & Yell.

Formado por Marsden, Emma Richardson (baixo, vocais) e Matt Hayward (bateria), o trio de Southampton (Inglaterra) está na ativa desde 2004. Russel e Matt são amigos desde a infância e passaram por algumas bandas até conhecerem Emma na Winchester School of Art. Com o nome Fleeing New York, o trio lançou “AOK”, EP que teve algum sucesso na cena indie do Reino Unido. Mas à medida que a banda amadurecia musicalmente e a influência de blues e garage rock ficava mais evidente, os três amigos sentiram a necessidade de mudar de nome para Band of Skulls em novembro de 2008.

E a mudança de nome pareceu dar sorte: em março do ano seguinte, o iTunes escolheu a faixa “I Know What I Am” como o single da semana. O chamariz do single precedeu o elogiado disco de estreia “Baby Darling Doll Face Honey”, lançado em abril de 2009 pelo selo Shangri-La e produzido por Ian Davenport (Supergrass e Badly Drawn Boy). No mesmo ano a banda teve a música “Friends” incluída na trilha do filme “Lua Nova”, da Saga “Crepúsculo”.

Após passar o resto de 2009 e 2010 em turnê pela Europa e Estados Unidos, abrindo shows de Black Rebel Motorcycle Club, Dead Weather e Muse, a banda voltou ao estúdio para trabalhar no segundo disco. “Sweet Sour” veio em fevereiro de 2012 e a popularidade do grupo cresceu ainda mais – principalmente por conta da participação em festivais e trilhas de séries como “True Blood” e “Gossip Girl”, além de jogos como “Guitar Hero”, “Rock Band”, “Fifa World Cup 2010” e “Gran Turismo 5”.

Seguindo como banda de abertura de nomes consagrados como Red Hot Chilli Peppers, Queens of the Stone Age, Soundgarden e Black Keys, a Band of Skulls se especializou em fazer shows considerados pesados para uma banda com apenas três pessoas. O desafio em “Himalayan” era conseguir recriar esse tipo de som em disco, e o processo ajudou a desenvolver a própria identidade da banda, como explica Marsden abaixo.

Como está indo a turnê até agora?
A turnê tem sido incrível. É muito legal voltar a tocar para a América, onde começamos a fazer turnês de verdade e o nosso novo álbum de certa forma foi concebido para ser tocado ao vivo. E agora que temos três discos, nossos shows são os melhores que já fizemos. É emocionante poder tocar todos os dias, então estamos realmente gostando.

Em “Himalayan”, as canções parecem mais pesadas em comparação aos discos anteriores, mas no novo trabalho também aparecem momentos mais viajantes, como em “Cold Sweat” e “Get Yourself Together”. No que este álbum é diferente dos anteriores?
Acho que agora temos muito mais confiança e isso torna as coisas mais fáceis para nós. Você passa a conhecer o seu próprio som e a se arriscar para fazer algo diferente. E é isso que estamos tentando fazer: não há sentido em se repetir, então experimentamos alguns sons diferentes, várias outras formas de gravação e as músicas foram muito além do que esperávamos, com várias mudanças nos arranjos ao longo das finalizações. Gravar um disco e fazer um show são duas coisas muito diferentes: as músicas já estão evoluindo para novas versões à medida que começamos a tocá-las ao vivo, e acho que isso é um bom sinal.

Como vocês começaram a escrever as músicas? Existe algum tipo de processo padrão na hora de compor?
Tivemos que mudar a maneira que nós fazemos nossos álbuns. Desta vez a ideia era ficar em Londres e não recluso em um lugar qualquer. Basicamente, passamos a trabalhar no disco todos os dias e, em seguida, tudo seria ouvido novamente em casa, com outra percepção. E nós continuamos a fazer isso por todo o processo de gravação do álbum e algum tempo após as sessões também. Tudo foi feito em Londres: composição, ensaios e gravações e acho que a cidade acabou sendo um elemento extra ao disco. É uma cidade grande e lá há uma energia que não encontraríamos se fôssemos gravar isolados em um estúdio no interior, como fizemos anteriormente. Então acho que isso é o que mudou neste disco. Posso ouvir a mudança na forma que trabalhamos neste disco. E essa foi a grande mudança. Além, claro, de contarmos com um novo produtor: trabalhamos com Nick Launay neste álbum. Então ele trouxe suas contribuições também.

Existe algum conceito por trás da arte da capa de “Himalayan”?
Para este disco nós trabalhamos com um especialista em arte digital de Nova York. Ele usou as ondas sonoras da música “Himalayan” para criar uma imagem 3D a partir das frequências. Ficou de uma forma que a capa deve representar a música visualmente, como se fosse “em carne e osso”.

E o que Nick Launay trouxe para sua música?
É fácil ver agora; naquele momento, era como ter mais alguém na banda, aquele momento excitante. No segundo álbum, “Sweet Sour”, Nick chegou a mixar as faixas. Mas desta vez, ele veio a Londres e trouxe algumas grandes ideias e ajudou a nos sentir mais confortáveis com nós mesmos. Ele sempre fala sobre sensações e não sobre técnicas musicais; ele fala como a música deve ser sentida. Ele vem com algumas ideias e nos desafia a nos colocar em lugares diferentes. Nick trabalha muito rapidamente, então não é possível parar para analisar as coisas, apenas registrá-las. Ele capturou aqueles momentos e foi ótimo. Ele é um grande personagem e ele trouxe a sua personalidade para o álbum. Acho que o que ele nos deu foi confiança, e foi ótimo trabalhar com ele.

Quanto tempo vocês levaram para terminar o disco?
Não foi muito tempo, na verdade. Provavelmente alguns meses. Passamos mais tempo compondo e trabalhando nas músicas do que gravando. Nós realmente trabalhamos duro nesta parte. E nós evoluímos muitas destas músicas fora dos ensaios. Trabalhando com Nick, elas podem mudar totalmente de novo. Era fascinante ver como elas poderiam evoluir. Mas, para nós, quanto mais rapidamente você gravar, melhor. Porque tudo se trata da captura de um momento. Sempre se gasta muito tempo para fazer um disco e é muito estressante, mas no final estamos muito aliviados quando terminamos. Todo o tempo gasto vale a pena.

O que demanda mais tempo para a banda: escrever as letras e as canções ou gravar as partes de cada um?
Nunca temos nada totalmente pronto e nunca é possível ter certeza de que foi tudo concluído, por isso há sempre um refrão e uma letra faltando, e eu acho que isso que dá excitação ao processo. Algumas das letras finais foram escritas quando toda a faixa já estava sendo gravada. Acontece algo natural nestes momentos, porque você está sob pressão e tem que terminar a canção. Algumas vezes, não ter muito tempo disponível te dá aquela inspiração para letras e é a mesma coisa para as partes instrumentais, quando você tem que fazer um solo ou outra parte na canção: basta fazê-lo e não pensar muito sobre isso. Apenas pressione “rec” e veja o que acontece.

Algumas canções da banda tem um sentido obscuro, mas também é possível enxergar um pouco de humor em títulos como “I Feel like ten men, nine dead and one dying” e “you aren’t pretty but you got it going on”. É uma dualidade interessante.
Obrigado (Risos). “I Feel like ten men, nine dead and one dying” é uma frase que meu bisavô costumava dizer quando estava mal-humorado. Para nós, a música não é apenas uma coisa só, deveria cobrir todos os aspectos. Escrevo letras que poderiam se passar naquele “lugar escuro”, mas proceder sempre assim pode ser chato e melancólico demais. Gosto quando há algo mais profundo, para fazer com que as pessoas pensem ou até mesmo deem risada. É disso que a música se trata. Se é um título diferente e faz com que a canção seja original de alguma forma, ficamos felizes com isso.

A Band of Skulls no início se chamava Fleeing New York. O que fez vocês mudarem e de onde surgiu o novo nome?
Foi um momento de transição; nós queríamos mudar e ainda não tínhamos um nome. Nós começamos a escrever canções que se tornariam o primeiro disco da Band of Skulls e naquele tempo tocávamos em uma noite de um clube em Londres, na qual dividíamos com outras bandas e DJs. Do lado de fora do local, havia uma imagem inspirada na caveira de Hamlet. Nós gostamos da imagem do crânio e decidimos incorporá-la no novo nome. Band of Skulls parecia ser um título adequado e assim ficou, com um sentido totalmente novo, fazendo a música que queríamos fazer. Pode ser um nome simples, mas este nos pareceu mais natural e livre para seguir com a nossa nova proposta de som.

Vocês já apareceram em trilhas sonoras de filmes e jogos. Esse é um tipo de publicidade que vocês buscaram ou foi algo que aconteceu por meio de acordos da gravadora?
Antes de tudo, nós ainda somos basicamente uma banda independente. Nós nunca assinamos com uma grande gravadora. Temos um acordo no qual somos parceiros de companhias para licenciar nossos discos. Essa é a situação: temos total controle criativo, mas ainda temos de trabalhar de forma independente para fazer com que nossa música atinja as pessoas, então tentamos ao máximo divulgá-la. Estamos sempre à procura de outras maneiras de alcançar as pessoas, como tocar em programas de TV, participar de trilhas de filmes ou qualquer outra coisa. Se o rádio e outros meios de comunicação tornam-se mais difíceis de atingir, eu acho que a música precisa encontrar novos lugares para ser ouvida. É isso que faz com que seja viável manter uma banda: chegar até novas pessoas. E somos muito abertos em relação a isso.

Quais são os planos futuros? Alguma previsão de visitar o Brasil em um futuro próximo?
Vamos fazer uma turnê por três meses para promover o novo álbum. Vamos terminar a turnê americana e temos alguns festivais de verão na Inglaterra, como o Glastonbury e depois um show no Brixton Academy. Sairemos em turnê novamente no outono e devemos fazer mais alguns shows perto do ano-novo. Ao mesmo tempo, temos que nos planejar para trabalhar nas músicas que devem fazer parte do próximo disco. Já temos algumas novas, porque há sempre alguma ideia que não tivemos tempo de finalizar para colocar no álbum e acabamos trabalhando nelas depois. Então há bastante coisa a ser vista. Mas acho que seria um bom momento para voltar à América do Sul, pois agora temos três álbuns e seria ótimo tocar em alguns shows por aí. Viajamos para a América do Sul pela primeira vez no final do ano passado e tocamos na Argentina, mas o Brasil é uma possibilidade que nós definitivamente também gostaríamos de realizar. Faz parte da nossa wishlist por um longo tempo e agora nós sentimos que é mais possível do que antes. Mas como somos uma banda independente, não é só chegar e fazer, temos que planejar. Espero que possa acontecer logo, então meus dedos estão cruzados para isso!

– Alexandre Lopes (@ociocretino) é jornalista e assina o www.ociocretino.blogspot.com.br

5 thoughts on “Entrevista: Band of Skulls

  1. Não Eduardo, para o Fernando, Lestics não sabe vender o seu peixe. E não só o Lestics – é uma cobrança antiga do Fernando, que é contra download gratuito, por exemplo. Discordo intensamente dele – e nessa comparação em questão, mais ainda, afinal mercado europeu é uma coisa, mercado brasileiro, outra – mas acho interessante a discussão.

  2. Adoro essa banda, mas nunca consegui entender como eles nunca fizeram um mísero show por aqui! Ah, sim, lembrei que brasileiro adora assistir shows repetidos, prefere trazer sempre Franz, Arctic, KOL, e outras bandas indies mais famosas, em vez de trazer bandas de alta qualidade como essa mas que nunca fez show aqui.

    E ótima entrevista!

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