Boteco: Três cervejas da Rogue (Parte 3)

por Marcelo Costa

Abrindo um trio de garrafas especiais da norte-americana Rogue com a Morimoto Imperial Pilsner, uma das três receitas que a turma do Oregon desenvolveu em parceria com o chef japonês Masaharu Morimoto, um dos maiores nomes da cozinha asiática contemporânea, em 2003 (as outras duas são Morimoto Soba Ale e Morimoto Black Obi Soba). A receita, básica, une malte francês Pilsner, lúpulo Sterling (um cruzamento entre Saaz, Cascade e outros lúpulos experimentais alemães), água e levedura tcheca e o resultado é uma cerveja de 8.8% de álcool e 74 de IBU. De coloração dourada com leve turbidez, a Rogue Morimoto Imperial Pilsner exibe um creme branco de excelente formação e permanência, incluindo rendas belgas nas laterais da taça. No nariz, um equilíbrio apaixonante entre mel e caramelo de malte com as notas florais, herbais (feno, cereais, arroz e capim) e cítricas da lupulagem (laranja e limão) – há, ainda, leve resina, álcool e trigo. Na boca, a entrada é maltada (caramelo e mel) e o amargor que surge na sequencia é intenso, mas saboroso, desmembrando-se em notas cítricas (casca de laranja e maracujá, que se tornam mais intensos conforme a cerveja aquece na taça), trigo, arroz e resina. O final traz caramelo, álcool (não agressivo), amargor cítrico e, por fim, resina. No retrogosto, caramelo, resina, álcool e leve adstringência de amargor cítrico.

A Rogue Double Chocolate Stout é uma Russian Imperial Stout de 9% de álcool e 50 de IBU, evolução da Rogue Chocolate Stout. A receita une quatro estilos de malte (Great Western 2-Row, C120, Chocolate, Rogue Farms Dare & Risk), dois de lúpulo (Cascade e Rogue Micro Hopyard Revolution Hops) mais aveia e cevada tostadas, mel e chocolate meio amargo holandês. De coloração preta intensa e creme marrom de excelente formação e permanência, a Rogue Double Chocolate Stout começa a conquistar o bebedor assim que a garrafa é aberta e o nariz percebe as notas adocicadas derivadas de chocolate meio amargo flutuarem no ar antes mesmo do líquido pousar no copo. Na taça, o torrado do malte mais o chocolate holandês remetem bastante a cacau (puxando pra nutela), em primeiro plano, e leve café na retaguarda, e é difícil perceber outra coisa (um pouco de ameixa e baunilha, talvez). Na boca, quem espera doçura extrema de chocolate é surpreendido: a entrada é realmente achocolatada, mas amargor de lúpulo, da torra do malte e do álcool (que marca mais presença conforme a cerveja aquece) surgem na sequencia e o conjunto torna-se bastante interessante, remetendo a alcaçuz, chocolate amargo, baunilha, caramelo e café. O final traz chocolate, baunilha e amargor de álcool enquanto o retrogosto, reforça as sensações finais. Baita cerveja.

Fechando o trio com a estilosa Rogue XS Imperial I2PA, uma cerveja extrema que soma 74 de IBU e 9.5% de álcool. A receita aposta em 100% de malte Maris Otter e um blend danado de quatro lúpulos: Saaz, Cascade, Northwest Golding & Rogue Farm Willamette Hops. Tem mais: ele só sai da fábrica após envelhecimento de novo meses. De coloração âmbar e turbidez presente, a Rogue XS Imperial I2PA exibe um creme alaranjado de ótima formação e longa permanência. No aroma, notas clássicas (e apaixonantes) do estilo: muito lúpulo distribuindo notas frutadas, cítricas (casca de laranja, maracujá e tangerina) e herbais (pinho). A percepção de resina, típica do estilo, bate ponto de forma aconchegante, sem incomodar, ao lado do caramelado do malte, que fica em segundo plano. Na boca, a entrada é impressionantemente adocicada de caramelo, e a pancada de amargor subsequente (e esperada), ainda que intensa, é muito mais sossegada do que a imaginação aguarda. E, interessante, não acumula, abrindo espaço para valorizar as notas cítricas (casca de laranja) e a sugestão herbal, claras e saborosas no paladar, que ainda traz resina de forma comportada. O final é seco e lupulado (cítrico, herbal e levemente resinoso, uma delícia) enquanto o retrogosto reforça a característica cítrica do conjunto de forma arrebatadora com casca de laranja, leve resina e… felicidade.

Balanço
Intensa, eis uma definição em uma palavra para a Rogue Morimoto Imperial Pilsner, versão do pessoal do Oregon (com colaboração do chef japonês Masaharu Morimoto) para a tradicional escola tcheca. Alto volume de álcool (8.8%), amargor marcante (74 de IBU), notas cítricas (que se florescem conforme a cerveja aquece na taça), florais e herbais muito bem integradas em um conjunto que soa combinar muito bem com comida japonesa (há algo na receita que valoriza o trigo e traz algo de arroz). Simplesmente deliciosa. O mesmo pode ser dito da excelente Russian Imperial Stout da casa, Rogue Double Chocolate Stout, que recebe adição de chocolate meio amargo holandês, que se destaca ao abrir a garrafa. Na taça, ela continua surpreendendo, com amargor marcante e doçura de chocolate simplesmente viciante. Fina, muito fina. Fechando o trio impressionado com a Rogue XS Imperial I2PA: eu esperava uma porrada de amargor resinoso, efeito característico das IPAs extremas norte-americanas, mas a turma da Rogue se superou ao produzir uma IPA que já chega nas mãos do bebedor com nove meses de envelhecimento, e a lupulagem amaciada, o que permite deixar de lado o amargor (que, não se engane, está presente, mas de forma comportada) e valorizar os valores cítricos, herbais e adocicados do conjunto. Até esta data, a melhor IPA que eu já bebi.

Rogue Morimoto Imperial Pilsner
– Produto: Imperial Pilsner
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 8,8%
– Nota: 4,03/5
– Preço pago: R$ 42 – 750 ml

Rogue Double Chocolate Stout
– Produto: Russian Imperial Stout
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 4,42/5
– Preço pago: US$ 13 – 750 ml

Rogue XS Imperial I2PA
– Produto: Imperial India Pale Ale
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 9,5%
– Nota: 4,61/5
– Preço pago: US$ 17 – 750 ml

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