Três perguntas: Selton

por Marcelo Costa

Quando baixaram no país no final de 2013 com “Saudade”, o terceiro disco, debaixo dos braços, os gaúchos da Selton, que vivem na Europa desde 2005, mostraram uma vontade imensa de reatar laços, sentimento que foi estendido na terceira turnê do grupo pelo Brasil, que aconteceu em maio e junho de 2014 e passou por cidades como Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba, entre outras (ao todo foram 11 apresentações).

“Ficamos bem impressionados como em um ano o nome da banda ganhou força”, conta Ramiro Levy (voz, guitarra e cavaquinho). “Em cada show notamos a presença de um público novo”, observa o músico, que não teve muito tempo para descanso: o último show da Selton no Brasil foi em Curitiba, 08/06, e o primeiro da turnê italiana (com mais de 20 datas) foi no dia 12/06 em Collecchio, cidade de cerca de 11 mil habitantes na província de Parma.

Uma das três apresentações da Selton em São Paulo aconteceu na Sensorial Discos, espaço na rua Augusta que une venda de vinis, CDs e livros com cafeteria, bar com cervejas especiais e agenda de shows caprichada (as outras duas aconteceram na Casa do Mancha e no Puxadinho da Praça) além de espaço para exposições. Na Sensorial, o quarteto fez um excelente pocket show, e alguns registros em vídeo da noite podem ser assistidos ao longo desta página.

O momento atual da Selton é de termino de ciclo. Após estrear com um disco de versões de canções de Enzo Jannacci (“Banana à Milanesa”, de 2008), que fez imenso sucesso na Itália, e assumir o lado autoral em “Selton” (2010), a banda encontrou sua identidade em “Saudade” (2013), e após encerrar a turnê italiana deverá se concentrar na produção do quarto álbum. “Também estamos muito curiosos para descobrir qual a cara que ele vai ter”, diz Ramiro.

Abaixo, três perguntas para a Selton:

Essa é a terceira turnê oficial de vocês no Brasil: como vocês estão se sentindo em tocar as canções desta vez aqui agora e, por outro lado, como vocês estão sentindo a resposta do público?
Pois é, está fazendo um ano que o nosso disco “Saudade” saiu. Na prática, um ano que a banda passou a existir no Brasil. Desde então, foram três turnês e muita água que rolou por aí. Nessa última, acredito que o mais legal de tudo – além de ter tocado em novos estados, como Paraná (Curitiba) e Minas Gerais (Belo Horizonte), por exemplo – foi sentir a resposta do público. Ficamos bem impressionados como em um ano o nome da banda ganhou força e se difundiu na cena independente brasileira. Em cada show que fizemos notamos a presença de público novo, informado, curioso e conhecedor das nossas músicas. Essa com certeza essa foi a maior satisfação que tivemos, isso faz com que todo o trabalho tenha valido a pena.

Esta nova turnê trouxe algumas novidades: algumas músicas do segundo disco (que não fizeram parte das turnês anteriores) e o momento de reencontro com o público como vocês faziam em Barcelona. Como surgiram essas ideias?
A inserção de músicas dos nossos discos anteriores nos shows dessa turnê foi uma tentativa de mostrar outras facetas da banda, que o nosso novo público ainda não tinha tido a chance de conhecer. Como no Brasil ainda estamos nos apresentando para a galera, nos parecia natural incluir também algumas músicas dos nossos trabalhos anteriores. Já o momento “fora do palco”, sem microfones, foi uma ideia de resgatar o lado busker que está na essência da banda. De certa forma, é mais uma maneira de mostrar quem somos e de apresentar algo que temos de muito genuíno e especial. Às vezes, realmente sentimos saudade do tempo em que tocávamos nas ruas de Barcelona, sem nada a perder e com a leveza de quatro amigos que se encontraram por acaso em um país distante. Gostamos de dividir essa sensação com as pessoas, e acreditamos que ela esteja presente quando tocamos de maneira despretensiosa, diminuindo a distância entre banda e público.

Agora vocês emendam uma turnê de verão na Europa e, em seguida, param para gravar o sucessor de “Saudade”. O que podemos esperar? Esta nova turnê, com músicas do segundo disco e o momento “próximo ao público”, deixou uma sensação de Jovem Guarda e Beatles no ar (que não havia nas turnês anteriores). Para onde o som da Selton vai daqui pra frente?
Ainda não sabemos dizer exatamente para onde vai o nosso som daqui para frente. Já temos algumas ideias e alguns indícios, mas o resultado final ainda é um mistério também para a gente. Sentimos que com o “Saudade” conseguimos por fim encontrar uma identidade clara para a banda. A mistura de línguas, a importância das vozes nos arranjos, a mistura do orgânico com o eletrônico e a “percussividade” são elementos que com certeza vieram para ficar. Uma das ideias é extremar ainda mais esses elementos, mergulhar ainda mais fundo nessa que parece ser a nossa linguagem musical. Além disso, nesse período estamos com as antenas ligadas, escutando muita música, escrevendo, pensando alto, sonhando acordados e tentando dar forma para esse novo disco. Também estamos muito curiosos para descobrir qual a cara que ele vai ter.

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

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