Entrevista: Jennifer Souza

por Bruno Lisboa

Minas Gerais como um todo, e Belo Horizonte em particular, anda vivendo um momento de efervescência musical e cultural admirável. Luiz Valente, responsável pelo selo Vinyl Land, contou ao Scream & Yell: “Tem toda uma história acontecendo em BH que a gente fica torcendo para que o resto do Brasil descubra”. Ele lançou em 2013 um vinil duplo só com banda mineiras (Iconili, Constantina, Pequena Morte, Graveola, Flávio Renegado, Dead Lovers Twisted Heart e Transmissor, entre muitos outros), um retrato do momento.

Dentre estas, a Transmissor já pode ser apontada como veterana no cenário. São três discos lançados (“Sociedade do Crivo Mútuo”, 2008; “Nacional”, 2011; e “De Lá Não Ando Só”, 2014, todos disponíveis para download no site da banda), e não bastasse o trabalho coletivo, seus integrantes mantém projetos paralelos: Thiago Corrêa toca em diversas bandas, Leonardo Marques lançou “Dia e Noite no Mesmo Céu” (2012) e Jennifer Souza, a porção feminina da banda, disponibilizou em 2013 seu primeiro disco autoral, “Impossível Breve”.

“Minhas composições são quase sempre confessionais”, conta Jennifer. “Preciso da necessidade do desabafo”, diz ela, que ainda elenca se inspirar em bons filmes, no frio, no silêncio e no trabalho de artistas como Mark Kozelek e Jeff Buckley. Paralelamente ao Transmissor e à carreira solo, Jennifer é responsável (junto de Luiz Gabriel Lopes, da banda Graveola) pela Mostra Cantautores BH, projeto idealizado em prol da visibilidade de novos artistas, e fala sobre a mostra, a banda e a carreira solo em bate papo com o Scream & Yell.

Há alguma desassociação, em termos de composição, entre a Jennifer em carreira solo e com Transmissor?
Acho que isso acontece de forma espontânea. Foram bem raras as vezes que compus já pensando se seria material pra um trabalho solo ou com o Transmissor. As músicas que podem ter mais a ver com a banda eu mostro e a gente trabalha. Acho que a essência é a mesma, mas com a banda a composição fica mais aberta a mudanças, novos caminhos melódicos ou harmônicos, letra… Todos opinam e reconstruimos juntos. O trabalho solo acaba sendo mais solitário em relação às composições e revela de maneira mais forte essa essência.

Quais são as dificuldades de se conciliar duas carreiras?
Por enquanto é tranquilo. Tanto na carreira solo quanto na banda as agendas são conciliáveis. Vez ou outra fica mais difícil, mas no geral é bem positivo. Quase todos do Transmissor também participam dos trabalhos solos.

“Impossível breve” é um disco de caráter intimista e de rara beleza. De onde vem a inspiração para suas composições?
Minhas composições são quase sempre confessionais. Componho pouco até acho que por isso. Pra ter o que dizer preciso da necessidade do desabafo, geralmente é algo bem pessoal e forte. Mas claro, tem outras coisas que inspiram muito; ouvir meus artistas favoritos como Mark Kozelek e Jeff Buckley, um filme muito bom, frio e silêncio de preferência na natureza, as primeiras vezes de uma música nova com a banda.

Como funciona Jennifer Souza ao vivo? O que você anda tocando nos shows?
“Impossível Breve” inteiro! Ainda tocamos “Outra Ela”, que faz parte do “Nacional”, segundo disco do Transmissor, uma do disco solo do Leo (www.leonardomarques.com) e uma outra minha em parceria com uma amiga francesa ainda sem registro oficial.

A cena independente mineira segue forte e em alta devido ao grande trabalho realizado por vocês, o Graveola, o Dead Lovers, entre tantos outros. Como é a relação entre vocês?
Somos todos muito amigos por aqui. O Luiz Gabriel, do Graveola, é meu vizinho e parceiro de Mostra Cantautores. Vou ao campo ver jogos (de futebol) com o Guto, do Dead Lovers, e por ai vai! Aqui no bairro onde moro tem muita gente da cena, muitos amigos queridos e a gente acaba tocando junto, inventando coisa pra fazer. Essa intimidade vai para o palco também. É sempre muito gostoso quando estamos no mesmo festival ou evento. Clima de festa.

Já que você tocou no assunto, como anda a nova edição da “Mostra cantautores BH”, projeto idealizado por você e que cede espaço para novos cantores autores?
Esse ano teremos a quarta edição da Mostra no final do mês de novembro. Ainda não sabemos como será a programação, isso depende um pouco da aprovação ou não de projetos. Ano passado realizamos a mostra sem investimento algum. Durante uma semana fiquei na bilheteria do teatro e operei luz enquanto o Luiz passava e operava o som dos shows e o Thiago Sá ajudava com todas as outras coisas. Não tinha mais ninguém. Deu tudo certo, os shows foram lindos, mas não é o ideal. De toda forma o projeto é sólido. Temos duas coletâneas lançadas (www.soundcloud.com/mostracantautores), uma terceira pra sair antes de novembro, quase 40 vídeos muito bem produzidos no nosso canal no youtube (www.youtube.com/mostracantautores), mais 12 pra sair até o fim do ano e um panorama bem rico e interessante com mais ou menos 50 cantautores da música contemporânea. E o que dá mais orgulho é ver que conseguimos com o projeto um espaço de total interesse e respeito pelo artista, mesmo que nunca tenha se apresentado antes. O silêncio e conexão durante as apresentações é de impressionar e de emocionar.

A repercussão de “De Lá Não Ando Só” tem tido ótima por parte da imprensa. Há a intenção de se fazer uma turnê nacional?
Com certeza queremos rodar com o disco. Mesmo com toda a repercussão positiva ainda é difícil organizar uma turnê dessas, mas acredito que em breve teremos novidades pra um lançamento em São Paulo e a partir de agosto também em outras cidades.

– Bruno Lisboa (@brunorplisboa) é redator e colunista do pignes.com

Leia também:
– Download: baixe “Impossível Breve”, o disco de Jennifer Souza, gratuitamente (aqui)
– Download: baixe “De Lá Não Ando Só”, o disco da Transmissor, gratuitamente (aqui)
– Luiz Valente: “Me sinto completamente ligado a esta geração (de bandas mineiras)” (aqui)
– Transmissor ao vivo em Belo Horizonte: “Renovado e com lenha para queimar” (aqui)
– Graveola: “Nascemos independentes e autônomos e assim morreremos” (aqui)

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