CD: Built On Glass, Chet Faker

por Flavia Denise

Cortês e instigante são dois adjetivos que definem muito bem o trabalho do australiano Nick Murphy, aka Chet Faker. Com uma voz que exala soul music, o cantor e produtor, que vem lapidando seu trabalho desde 2012, quando lançou seus primeiros singles e o EP “Thinking in Textures”, chega ao primeiro álbum cheio, “Built On Glass”, lançado em abril e primeiro lugar na parada australiana (87º na parada britânica, 158º no Hot 200 da Billboard).

Cercado pelos mais diferentes tons da música eletrônica, Chet Faker aplica seu toque singular em “Built On Glass”, criando um legítimo clima introspectivo ao seu ouvinte. A faixa minimalista “Release Your Problems” abre o disco trazendo influências do R&B, que percorrem todo o álbum como um fio condutor. O produtor ainda brinca com o Jazz (seu nome homenageia Chet Baker) e tenta pôr em cada faixa uma charmosa essência groove.

A prática já vinha sendo trabalhada desde o EP “Thinking in Textures” demonstrando uma total sensibilidade e notoriedade do produtor em seu método de criação. Que o diga a versão classuda de “No Diggity”, hit de 1996 do grupo Blackstreet (com Dr. Dre e Queen Pen de apoio), que ganhou destaque em um comercial do Super Bown em 2013, e criou expectativa em torno de seu vindouro álbum de estreia.

“Built On Glass” tem inegável apelo pop, como pode ser visto em “1998”, canção que escapa do óbvio e surpreende com uma produção arquitetada formidavelmente: Chet Faker abre o arranjo com uma bateria eletrônica acelerada que desemboca em uma melodia seca e suingante, por sobre a qual pousa sua voz, remetendo levemente a James Blake até a canção ganhar corpo e conquistar o ouvinte.

Os pontos altos ficam por conta das deliciosas “Talk Is Cheap” (primeiro single do álbum) e “Gold”, trilhas sonoras para um relacionamento que mesmo desmoronando, segue em frente. “Dor fria / Eu não posso sustentá-la / Isso é o que eu estou pensando”, canta Faker em “Talk Is Cheap” enquanto “Gold” avisa: “Você tem que saber / Eu estou sentindo amor / Feito de ouro”.

A produção arejada conta apenas com Nick Murphy produzindo, tocando e cantando sozinho em praticamente todo o álbum, e as exceções são “Melt”, que conta com a cantora e atriz norte-americana Kilo Kish sensualizando na segunda parte da letra, e a faixa de encerramento, “Dead Body”, levada por batidas de Downtempo acompanhadas por um leve solo de guitarra de Cleopold.

Mas o que de fato chama atenção em “Built on Glass”? O que não o faz ser só mais um nas prateleiras do mundo a fora? Em primeiro lugar, Chet Faker exprime uma delicadeza rara de se encontrar na música atual. O álbum ainda transpira uma honestidade peculiar criando uma atmosfera que concebe ao ouvinte evocar os mais diferentes pensamentos. Esse aspecto de imergir no mantra do australiano é espontâneo e instantâneo.

Chet Faker traz um tempero significativo para o cenário alternativo e parece disposto a explorar novas alternativas musicais com “Built on Glass”, um álbum que merece atenção por fundir delicadamente a música eletrônica dos anos 2000 com uma comportada – e ainda assim, vibrante – pegada soul. “No Diggity” parece ter ficado para trás: Chet quer explorar novas atmosferas e “Built on Glass” recomenda acompanha-lo. Vamos?

– Flávia Denise (https://www.facebook.com/flavsdenise) é estudante de jornalismo e colabora com os sites Pulsa Nova Música e You! Me! Dancing!

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2 thoughts on “CD: Built On Glass, Chet Faker

  1. Texto legal. Minha única ressalva é que “No Diggity” é de 1996 e o nome do grupo que produziu a faixa é Blackstreet. Aliás, este clipe tinha alta rotação na MTV Brasil na época.

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