Enfim, um grande disco dos Titãs: “Nheengatu”

por Bruno Capelas

2014 acaba de ganhar um ingrediente para se tornar um ano ainda mais surrealista. Enquanto o País se divide entre o “não vai ter Copa” e o “vai ter Copa sim”, a polícia abusa de violência sem nem saber por onde e o estado mais rico da nação vive a ameaça de uma seca e as eleições prometem sujeira explícita, os Titãs voltam a fazer um disco que merece a sua audição, por mais improvável que isso possa soar. Depois de embalar a carreira no lixo com “Sacos Plásticos” (2009) e passar quase dois anos ganhando alguns tostões relembrando o clássico “Cabeça Dinossauro” (1986), o grupo resolve sair das cinzas artísticas e mostrar “Nheengatu”, um trabalho que não prima pela sua força poética, mas sim pela sua urgência e pela raiva.

Reduzidos apenas a Paulo Miklos (voz e guitarra), Sérgio Britto (voz e teclados), Branco Mello (voz e baixo) e Tony Bellotto (guitarra), após a saída do baterista Charles Gavin em 2010, os Titãs chegam a “Nheengatu” com uma expressão angustiada: além de perceber a situação fragmentada do País, o disco reflete a morte de Rachel Salém, esposa de Miklos, em 2013. A ira do cantor pode ser percebida logo na abertura do álbum, “Fardado”. Neta do clássico “Polícia”, a canção que abre “Nheengatu” oferece palavras de ordem que podem soar tolas e pueris quando cantadas em estúdio por um cinquentão: “Você também é explorado/ Fardado(…) Por que você não abaixa essa arma?”. Entretanto, embaladas pelo riff explosivo de Bellotto e pela bem conduzida bateria do contratado Mario Fabre, tais palavras de ordem poderiam muito bem virar canção de protesto pelas gargantas de 10 mil pessoas nas ruas do País – vale lembrar que “vem pra rua” ou “sem violência” são gritos que também não primam exatamente por sua beleza poética, certo?

Se “Fardado” recupera a veia dos Titãs pela estética esporrenta de “Cabeça Dinossauro”, “Mensageiro da Desgraça” (um baião enrockado) e “República dos Bananas” (um quase ska), as duas canções que se seguem, relembram a mistura brasileira com punk rock que deu certo em “O Blésq Blõm” (1989), o último grande disco da banda. De cunho social, as duas cerram punhos (“Na selva de concreto / estou pronto pra lutar”, diz a letra de “Mensageiro”) e tentam mostrar que o País pouco mudou nas últimas três décadas, apesar de relativa prosperidade econômica (“Calúnias sociais / seus tipos bacanas / bundas e caras / da República dos Bananas”, em letra que tem autoria até do cartunista Angeli). A sensação de prosperidade também é questionada na balançada “Eu Me Sinto Bem”, na qual o título positivo é contraposto à ideia de falta de dinheiro, com “nada para comprar, nem para trocar pilha / nada para guardar nem deixar no chão”.

A raiva volta a aparecer na dupla “Fala, Renata” (velha conhecida dos fãs nos shows da banda) e “Canalha” — esta uma regravação de Walter Franco. Na primeira, armas apontadas para “quem fala muito, fala por falar” (e uma mensagem direta para João Luiz ‘Lobão’ Woerdenbag Filho, que há tempos bufa contra casas de tijolos) e “não diz nada não, nada de bom nem ruim”, enquanto a segunda, em interpretação rasgada de Branco Mello, resume o clima do álbum “com uma dor canalha que te dilacera”.

Entre as duas, um retrato da violência em um país que responde por 11% dos assassinatos do mundo (segundo um estudo recente da ONU) aparece em “Cadáver sobre Cadáver”, cujo refrão (“Quem vive, sobrevive”, escrito a quatro mãos por Miklos e Arnaldo Antunes) volta à manifestar bobagens líricas, mas reveladoras. Outro momento tolo em termos de letra é “Não Pode”, toda sustentada em variações da frase que lhe dá título, mas na qual brilha a bateria de Mário Fabre.

Um raro momento de força nas letras de “Nheengatu” aparece na densa “Pedofilia”, diário cotidiano de um dos principais destinos do turismo sexual no mundo. E enquanto a internet tenta descobrir se vai ter água, se um pastor homofóbico nos representa, se o Brasil está virando uma nova Cuba ou se somos todos macacos, os Titãs questionam “Quem São os Animais?”, lembrando “Que ninguém fala por você / você tem que respeitar o direito de escolher livremente”, em uma faixa perfeita para cair no gosto das “rádios rock” do País.

E é justamente nesse sentido que reside o tal mérito de “Nheengatu” (um dos nomes que se dá à língua geral, uma mistura de português com tupi que foi vital para a comunicação na época do Brasil Colônia). Ainda que, mais uma vez, o brilhantismo poético não seja uma de suas forças, este é um disco que mostra um país insatisfeito – algo que pouco tem sido visto na música brasileira recentemente. Salvas raras exceções, os artistas nacionais pouco se manifestam ou se dispõem a cantar sobre os problemas que podem ser vistos em qualquer grande cidade do país (escolha o seu favorito: violência, habitação, saúde, educação, fome, desigualdade social, corrupção, gastos públicos – a lista parece não ter fim), preferindo se focar em romances abstratos, o mar, cavalos e canções de apartamento.

Não é o caso de gente (ainda que em níveis e abordagens diferentes) como Apanhador Só ou o Passo Torto. Entretanto, mesmo esses grupos têm pouca amplificação entre as diversas camadas sociais e etárias que compõe “essa tal sociedade” em que vivemos hoje, contribuindo para que muita gente repita a velha cantilena de que “a música brasileira não morreu”. (Se você está lendo este texto aqui no Scream & Yell, você sabe bem que isso não é verdade, mas a reverberação da cena independente é tema para outra hora).

Com um disco angustiado, raivoso e que tenta tanger a velha energia de seus bons momentos, os Titãs acabam por falar a língua certa para os ouvidos interessados de gente que precisa de uma trilha sonora ou um riff de guitarra para se manifestar — ou no mínimo, conseguir cravar uma canção roqueira sequer no top 100 das rádios nacionais (o que não aconteceu em 2013).

É claro que tanto tiro para todo lado pode acabar sair pela culatra: em sua semana de pré-venda, “Nheengatu” foi divulgado pelo YouTube oficial da banda. Entre as faixas, era possível ouvir o jingle festivo que um dos maiores bancos do país preparou para a Copa do Mundo, cantado por gente como Fernanda Takai e… Paulo Miklos — dando margens a quem quiser acreditar que este trabalho possa ser apenas uma “conspiração maligna dos Titãs” para ficar bem na fita neste ano turbulento. Nos primeiros dias após o lançamento do trabalho, não faltou quem procurasse devastar ou louvar como obra-prima na rede social mais próxima de você.

Devagar com o andor, Leonor. Em pouco mais de meia hora, “Nheengatu” acaba por ser um disco tiro 12, que mira para todos os lados, causando mais estilhaços do que acertando em alvos certeiros. Pode não causar um impacto profundo (a não ser por alguma bala perdida), mas tem a capacidade de deixar marcas, mostrando a cara de uma banda que já cansou de falar sobre desordem, miséria e bichos escrotos. Vinte anos depois de seu último bom disco de inéditas, os Titãs mostram que o pulso… sim, ainda pulsa.

Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista e assina o blog Pergunte ao Pop.

Leia também:
– Titãs e Primal Scream: por que a crítica os trata diferente?, por Eduardo Palandi (aqui)
– Cerveja: Colorado Titãs não traduz a banda, por Marcelo Costa (aqui)
– “Cabeça Dinossauro”, o terceiro disco dos Titãs, completa 25 anos. Trigo relembra (aqui)
– Documentário “A Vida Até Parece Uma Festa”: o Titãs merecia mais, por Marcelo Costa (aqui)
– “Sacos Plásticos”: nem o fã mais ardoroso estará pronto para a decepção, por Mac (aqui)
– Top Ten Shows Nacionais: Titãs no TCC, Taubaté, 1986, por Marcelo Costa (aqui)
– Titãs na Virada Cultural de São Paulo, 2012: “A nostalgia agradece (e só ela)” (aqui)
– Ira x Titãs: no embate de discos de covers, o Titãs apanha feio (aqui)
– “MTV Ao Vivo”, Titãs: quem espera novidade irá aproveitar pouco, por André Azenha (aqui)
– Titãs ao vivo em Taubaté, 2002: uma instituição pop, por Leonardo Vinhas (aqui)

48 thoughts on “Enfim, um grande disco dos Titãs: “Nheengatu”

  1. Não consigo entender como um disco dos Titãs pode ser bom sem primar pela força poética.
    Além do que depois de abrirem as pernas para o mercado do jeito escroto que abriram a banda perdeu a moral, a credibilidade.
    Ouvir os Titãs bradando contra o que quer que seja hoje em dia soa como piada.
    Credibilidade artística é que nem cabaço.
    Pode até tentar reconstituir, mas fica (soa) fake.

    Ps: Ahh, sim, a resenha ficou boa.
    Belos ganchos.

  2. bom, muito bom….o disco e a resenha,…é preciso entender tbe que os titãs desde o primeiro disco ja se faziam em mil canais, mil facetas, pop, rock, brega, etc…..um grupo com força criativa e poética…sim, fizeram estragos com Sacos Plásticos, mas não tira o mérito…de um grupo que acima de tudo faz Arte.

  3. Eu sinceramente não esperava por um disco dos Titãs a essa altura do campeonato.Gostei muito do disco Cabeça Dinossauro Ao Vivo,mas é material velho,conhecido,reconhecido.A não ser pela formação enxuta não parecia revelar nada.E de repente vejo no face de um amigo a capa e todas as informações e pensei:o que é isso??será??E eu já de cara achei a capa linda e pensei:Cabeça Dinossauro!Ai deram um link e ouvi todas as musicas.Achei o seguinte:o disco é pesado,rápido,cru.Os Titãs precisavam de um disco assim na altura do campeonato,de fato.Foi de uma rápida compreensão isso,as letras são muito foda,esqueça a propaganda do Itaú.O Pato Fu não faz musicas irônicas,então?

    Sendo assim,é um(improvabilissimo)candidato a melhores do ano.Quem diria,hein?O pulso ainda pulsa.

  4. Sem dúvida que os Titãs desde o início “se faziam em mil canais”.
    Inclusive literalmente.
    Foram descobertos pelo Raul Gil, frequentavam o Chacrinha semanalmente, faziam playblack em shows…
    Agora, eu vejo uma diferença muito grande desse início de carreira pueril para o momento As Dez Mais e Sacos Plásticos, por exemplo.
    Ainda mais se no meio desse período eles lançaram petardos como Cabeça Dinossauro, Jesus Não Tem Dentes, O Blesq Blom…
    Ou seja, venderam além de música, idéias – em sua grande maioria contestadoras.
    Resumindo:
    No início de carreira eles entraram no esquemão no oba oba do momento, já depois do acústico eles foram deliberadamente Bichos Escrotos.
    Para mim, artisticamente falando, já não têm moral alguma.

  5. Prefiro um artista ou banda com discurso em registro fonográfico e viver dignamente desses registros, aos artistas mal informados e aclamados por fãs e simpatizantes quão ignorantes.

  6. a comparação com os últimos trabalhos da banda e com a bundamolísse da música nacional atual faz com que o disco soe melhor do que de fato é. ele é bom, mas não deixa de ser caricato.

  7. Bem, podemos dizer, resumidamente, que as músicas soam como a revolta de meninos reacionários que bradam palavras de ordem contra quem quer que seja pensando que isso fará deles pessoas críticas e revolucionárias.

  8. Ultimamente até nas regravações as bandas têm pecado. Só o fato de terem regravado “Canalha”, uma das melhores músicas do Walter Franco (assim como Belchior ele também merecia um tributo, seus discos “Revolver” e “Respire fundo” são sensacionais) já é um grande mérito.

  9. Escuto Titãs desde bebê, influência do meu pai. Tinha em casa, muitos vinis dos caras, “Cabeça Dinossauro” sempre foi meu álbum preferido, mesmo sem entender muito das letras.
    Agora que entendo, acho tudo aquilo que já achava foda, ainda mais foda, mas senti muita falta durante toda a minha vida (tenho 20 anos) de um Titãs que lançasse outro CD politizado como eram antigamente.
    Ao ouvir esse álbum e ler essa crítica, confesso que fico muito feliz de ver os traços (escrotos) do nosso país relatados nesse álbum. Triste a realidade do nosso país. Bonita a atitude de falar disso abertamente no álbum.

  10. Gostei de algumas musicas desse novo, gostei muito dessa direção mais porradeira, mas preciso ouvir o disco todo ainda, pois é dificil ouvir um disco dos Titãs sem o Arnaldo ou o Nando, eles eram os mais talentosos e os que davam aquele tempero unico da banda, apesar de ter gostado do A Melhor Banda…

    So eu percebi uma leve influencia dos Los Hemanos no Eu Me Sinto Bem?

  11. Que música horrível essa tal de “fardados”! Achei que “canalha” não acrescentou nada. Não consegui ouvir essas faixas inteiras. Deixa pra lá.

  12. Boa resenha, apenas achei um exagero dizer que o último grande disco foi OBB… Se o Titanomaquia tivesse sido laçado por uma banda gringa em Seattle, certamente seria considerado um dos melhores discos do grunge… Depois desse disco sim, os caras se perderam…

  13. Não entendi o que viram de bom nesse novo disco dos Titãs. É bem fraquinho… O peso e o vocal gritado da primeira faixa (“Fardado”) surpreende (apesar da letra meio boba), e o ska “República das bananas” é até legalzinho, mas o resto do disco é medíocre. Tentaram emular o Titâs de “Cabeça Dinossauro”(melhor disco da banda), ou do “Titanomaquia” (que eu já não acho essas coisas), mas o resultado foi pífio. Já tá na hora de a banda se aposentar! Talvez pelo fato de o rock mainstream nacional estar tão molenga (o mainstream, porque fora dele tem muita coisa boa), e de os últimos discos dos Titãs terem baixado demais a expectativa em relação à banda, esse “Nheengatu” esteja sendo bem recebido pela crítica.

  14. Quem ouve o primeiro disco dos Titãs (1984) nota que eles já gostavam de falar de amor, mas foi nas músicas de protesto que eles realmente se encontraram. O Cabeça Dinossauro foi reflexo disso, mas também muito do momento que o Brasil passava: fim da Ditadura e resquício de uma censura implacável. Então, como grande fã, sempre achei normal eles fazerem músicas românticas, mesmo sabendo que eles não nasceram pra isso. Em 1987 veio Jesus, que apesar de “Desordem” e “Lugar Nenhum”, é um disco intimista. Quem nunca ouviu “Armas pra Lutar”, “Mentiras” e “Corações e Mentes” sabe o que estou falando. Enfim, a resenha foi muito boa, mas dizer que Õ Blésq Blom foi o último álbum bom da banda, esquece de Domingo (1995). Músicas como “Vámonos” ou “Eu não aguento” são indiscutivelmente boas. Depois veio a fase Acústico (pra garantir o futuro), e em 2001 com a morte do Marcelo Fromer e saída do Nando, a banda escorregou na criatividade. Tenho certeza que não acabou por pouco, mas até 2009 fizeram 2 músicas realmente chapantes: “Cuidado com Você” e “Deixa eu Entrar”. E agora vêm com esse CD novo que é uma tentaiva bem esforçada de fazer um “Cabeça Dinossauro II”. O problema é ver esses mesmos caras no comercial do Itaú e o Branco Mello todo dia de manhã na Globo no programa da Fátima Bernardes … enfim, viva os Titãs !

  15. Vamos dizer que sinceridade nunca foi o forte dos caras que quiseram aproveitar um momento grunge para se portarem como tal em Titanomaquia. Então vamos nos concentrar na música…mas espera…também nunca foi o forte dos caras…ah..então vamos nos concentrar nas letras…mas..vixe!!!

  16. Eu só ouvi esse disco uma vez e isso não é suficiente para julgar nada, eu não costumo comparar um disco com o outro, eu sou receptiva as mudanças, agora dizer que o forte do Titãs nunca foram as músicas e nem letras é de lascar mesmo viu.

  17. Convenhamos que depois do Sacos Plásticos não seria preciso muito esforço para fazer algo melhor. Mas o disco é bom, seria uma transição óbvia entre o Titanomaquia e o Domingo. Dentro da discografia deles soa mediano. Acho engraçado quando acusam os caras de oportunistas por causa do Titanomaquia, parecem que eles se esquecem do Tudo ao mesmo tempo agora.

  18. “Se o Titanomaquia tivesse sido laçado por uma banda gringa em Seattle, certamente seria considerado um dos melhores discos do grunge… ”

    E esse é justamente o problema do Titanomaquia, parecer um disco generico de grunge de uma banda gringa qualquer de Seattle.

  19. Eu gosto tanto do Tudo Ao Mesmo Tempo Agora quanto do Titanomaquia.
    Além de terem boas letras, característica da banda, têm músicas pesadas que exponenciam o que está sendo dito.
    Além do que era um caminho a seguir super, digamos, plausível à época.
    Aquela música “A Melhor Banda da última Semana”, por exemplo, tem uma letra ótima que se perde numa música frouxa – um pop fajutíssimo.
    É óbvio que se pode ser virulento só com voz e violão.
    A forma como se diz as coisas é tão importante quanto o que está sendo dito.

    PS: Acho que o Pedro falou das letras em relação ao disco novo, Sílvia.
    Comida é uma das, ou a melhor, melhores letras do BRock dosanos 80.

  20. Não sei se é pra ser considerado um dos melhores discos do ano. Tendo a concordar um pouco quanto a caricatura toda. Mas ao menos mostra que os caras entendem esse momento do país, o que já é relevante em comparação com os seus contemporâneos, Paralamas e Capital, que ficam só no discursinho revoltado ou nem isso.

  21. Exato Zé Henrique. Só quis provocar um pouco. Eu mesmo gosto de muitas letras dos Titãs, inclusive de músicas menos incensadas, como “Eu não presto”. Mas, sinto muito falta de honestidade nas letras. Uma atitude meio canalha (será que a regravação da música de Walter Franco tem haver com isso?) tal qual a de algumas pessoas que posam de rebeldes e contestadores repetindo o discurso de Veja, Folha, Uol, mas que, lá no fundo, são conservadoras até a médula, pois se algo realmente mudar, eles mesmos serão afetados.

  22. Pois é, Pedro…
    Lobão x Titãs – “Fala, Renata”.
    Os Titãs bundas-mole e o Velho Lobo reaça.
    Quem envelheceu pior?

    PS: Envelhecer bem é uma arte que a maioria dos artistas não domina. 🙂

  23. Na primeira vez que ouvi “Nheengatu”, pelo YouTube, confesso que não gostei. Para mim soava como uma paródia de si mesmos, um maneirismo nostálgico dos tempos em que a banda fazia um som mais pesado e escatológico.
    Porém, surpreendido por tantas resenhas positivas (inclusive a do Scream & Yell), resolvi dar uma segunda chance para “Nheengatu”. Baixei-o e… achei o álbum ótimo! Acredito que, com 20 anos de atraso, ele é o disco que fecha a trilogia iniciada pelo auto-produzido “Tudo ao mesmo tempo agora” e o grunge/metal “Titanomaquia”; é um louvável sucessor de ambos.
    “Fardado” é um pé na porta, começa o CD em grande estilo. “Mensageiro da desgraça” é um inusitado hino dos marginalizados. “República dos Bananas” resgata a verve discursiva de Branco Mello. “Fala, Renata” inicialmente parece tola, mas melhora com o tempo. “Cadáver sobre Cadáver” – que conta com a colaboração do saudoso Arnaldo na letra – é um digno bate-estaca. “Pedofilia” é ousada e polêmica. “Quem são os animais?” é candidata a single, pois é mais pop que as demais mas tem uma letra contundente e atual. E por aí vai.
    Finalmente os Titãs voltaram à boa forma! A turnê “Cabeça Dinossauro” realmente fez bem para a banda; eles redescobriram a agressividade lírica e a crueza sonora. Enfim, daqui a pouco vou passar na Saraiva para comprar o disco, rs.

  24. Aliás, concordo com o Jaurez: “a resenha foi muito boa, mas dizer que Õ Blésq Blom foi o último álbum bom da banda, esquece de Domingo (1995). Músicas como “Vámonos” ou “Eu não aguento” são indiscutivelmente boas.” E também concordo com ele em outros dois pontos: desde o início eles realmente gostavam de fazer músicas românticas (o que dizer, por exemplo, de “Toda cor” ou “Sonífera ilha”?), e “Jesus não tem dentes no país dos banguelas” é um disco intimista.
    Já devo ter dito isso em outra caixa de comentários aqui no S&Y, mas conheci Titãs graças ao disco “Domingo”, que ao meu ver dá continuidade ao estilo eclético de “Õ Blésq Blom” (embora não seja tão genial quanto este disco de 89, que para mim é a obra-prima dos Titãs) e concilia bem uma sonoridade mais pop com letras irônicas (“Domingo”, “Eu não vou dizer nada”, “Qualquer negócio”) e peso nas guitarras (graças a Jack Endino).
    “Nheengatu” é melhor do que tudo que os Titãs fizeram nos últimos 16 anos. Não é um álbum nota 10 como “Cabeça Dinossauro” ou “Õ Blésq Blom” ou 9,5 como “Jesus”, mas está no mesmo patamar de “Televisão”, “Tudo ao mesmo tempo agora”, “Titanomaquia” e “Domingo”: imperfeito, mas tem bons (e, eventualmente, grandes) momentos.

  25. Vocês juram que ainda vale a pena ouvir um cd dos Titãs??!!! Depois de Como Estão Vocês e Sacos Plásticos (principalmente por esse último) desisti mesmo e nem sabia que eles ainda existiam. Li algumas críticas positivas, mas de verdade, nem assim me animo.

  26. Ouvi o disco. Pensei na coisa do zé, de integridade artística. É algo complexo de avaliar…É tipo intenção ou nao de cometer a falta no futebol. Achei o disco bom, muito bom e com uma relevância que a banda não tinha há muito tempo. O Bowie, ídolo máximo, foi íntegro artisticamente nos anos 80? Dylan foi? Pink Floyd foi? Jesus and Mary Chain admitem que voltaram só pela grana…então essas coisas são difíceis de avaliar…pra mim a discussão é se o disco vale a pena. Vale. é um baita disco lançado num momento em que o máximo que a música pop produz hj são os ícones de uma mpb índie flacida como rômulo fróes e tulipa ruiz…

  27. Ahh, Ismael(tudo certinho?) para mim integridade artística para um artista que vende, além de música, idéias é fundamental.
    Porra, credibilidade é a alma do negócio da vida.
    Os Titãs a essa altura do campeonato virem de baluartes do que quer que seja é mais ou menos como se o PT desfraldassem novamente a bandeira da ética.
    Mas tudo bem, entendo perfeitamente para quem só olha para música.
    Eu só olho para música quando o artista só vende música.
    Do Tom Jobim eu não cobraria nada nesse sentido, já do Yuka, sim.
    Rapaz, ao contrário de você eu capto fácil as intenções – tanto no futebol, quanto na vida.
    As Dez Mais e Sacos Plásticos foram faltas daquelas que sair do campo de camburão.
    Ahhh, não quero ser juiz, hein!!!
    Só comentarista.
    Bemmmmmm mais fácil. hehhehe

  28. O problema zé, é que, nos dias de hoje, dizer que fulano é íntegro artisticamente ou não, me parece ingenuidade (não estou dizendo que você o é). O exemplo do PT foi bom por isso. Não dá para confiar mais em posturas x ou y. Não de forma integral. No caso dos Titãs, houve uma série de derrapadas depois do Acústico…A banda se tornou irrelevante num cenário em mutação. Mas acho interessante (e não só pelo discurso) que o grupo tenha feito um disco como esse. Pareceu um disco feito com vontade, com uma garra do tipo ‘estamos só nós quatro segurando essa porra, vamo fazer um disco forte’. É um bom disco, tem guitarras boas, tem um peso legal e as letras, na maioria, estão acima da média do que eles estavam fazendo… Acho interessante quando os ‘velhinhos’ saem da zona de conforto e produzem algo relevante. Como o Erasmo, Gulherme Arantes, Lô Borges…fizeram recentemente. Como o Zé Ramalho encarando o Sepultura…Atualmente tenho ouvido muito menos música que há dez anos, e geralmente só coisa velha…vez em quando boto os ouvidos em algo que tá sendo comentado…No caso dos Titãs, por que não tentar entender a possibilidade de que há uma história por trás, que há um gás novo, que há vontade? Não acho que o disco vá mudar nada, como nos anos 80, mas quem ainda acredita em coisas assim hoje em dia? Ouvi o disco de peito aberto. Gostei, segue a vida, as contas a pagar, os problemas a superar e os sonhos a sonhar. é apenas rock and roll…ainda gosto.

  29. Desse ponto de vista, Ismael, eu tendo a concordar com você – a comparação com o Erasmo foi boa.
    Mas eu ainda fico com o meu.
    Quanto a ingenuidade aqui e ali, pô, a vida sem ela para mim não valeria a pena.
    Só com cinismo e ironia ela ficaria, ao meu ver, muito pobre.
    No mais, como cantou Raul:
    “O ponto de vista é que é o ponto da questão”
    Para mim rock não é só música, tem que ter algo mais.
    Quando percebo que já não tem eu caio fora.
    João Gilberto é bem mais rock’n’roll que o falecido Chorão.
    Enfim, eu gosto de artistas que têm verdade nos olhos.
    Dá para perceber fácil, fácil, quando é só por dinheiro, fama e diversão.
    Nada contra!!!!!
    Chuck Berry, e outros tantos, fizeram belas carreiras com esse mote – era a verdade deles.
    Mas não pagavam de revolucionários e depois iam vender sabonete com a patroa na TV.
    Saca?

    PS: Tem artistas novos bem bons, cara! Com viço.

  30. Rock é basicamente atitude, Amaury.
    Os três acordes são detalhes – NXZero nunca foi rock.
    Outro dia eu ouvi que os humoristas são os novos roqueiros do país.
    Faz sentido.
    Inclusive no modus operandi – começam iconoclastas e depois são cooptados. rsrsrsr
    João Gilberto nunca foi cooptado – sempre fez o que quis e quando quis.
    O que é mais rock’n’roll que isso?
    Manjou?

  31. É um bom disco. O melhor desde 1999. Qualquer coisa seria melhor que o sofrível “Sacos Plásticos”.

  32. É um disco que queima a língua de muita gente sim. Inclusive de muitos na Scream Yell que já tratavam os Titãs como “mortos” (e estranhamente enquanto elogiava-se o Capital Inicial… vai entender…). Quanto ao conteúdo, só de ser uma crítica direta, sem sutilezas, e que não cai no discurso coxinha (que anda se escondendo nos últimos tempo atrás de um escudo chamado “politicamente incorreto”) já está ótimo. Quem já teve o desprazer de ouvir Tico Santa Cruz, DInho Ouro Preto e aquele cara do Jota Quest (esqueci o nome) comentarem sobre política (se bem que, no caso deles, parece ser mais por analfabetismo político mesmo) ou Lobão e Roger Moreira (direitistas explícitos e conscientes desta posição), sabe que, por mais que os Titãs, também tenham suas ambiguidades (e isso desde a formação da banda), aqui está um exemplo de canções políticas e críticas muito bem-vindas.

  33. Não sei por que pegam tanto no pé do “Sacos Plásticos”.
    Ouçam músicas como A Estrada, Sacos Plásticos, Problema.
    Os Titãs fizeram bem tudo o que fizeram…mas a carreira de Arnaldo e Nando, que maravilha que são!

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