Boteco: Quatro variações de cervejas famosas

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por Marcelo Costa

Uma das cervejarias mais famosas da Andaluzia espanhola, a Cervezas Alhambra surge com a Alhambra Negra, versão Dunkel do hit da casa, a Alhambra Reserva 1925, com pedigree alemão e 5.4% de álcool. De coloração preta com leve tom amarronzado sob a luz, a Alhambra Negra exibe um creme marrom de ótima formação e média permanência. No nariz, o aroma não se desprende com facilidade, mas é possível perceber um leve toque de malte de caramelo remetendo a chocolate, sem nenhuma presença de café (esperado devido a torra). Na boca, dulçor intenso com pouca combatividade do lúpulo – mesmo a torra do malte não agrega amargor, o que abre caminho para que o dulçor domine o conjunto com notas que remetem a chocolate, baunilha e caramelo. Ainda assim, não soa enjoativa. O final adocicado e seco e rápido, ainda que deixe resquícios de caramelo pelo caminho, enquanto o retrogosto traz dulçor e leve adstringência.

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Impedida por contrato de utilizar o nome Budweiser Budvar fora da República Tcheca, a cervejaria da cidade de Budweis renomeou sua cerveja como Czechvar, popularizando esta tradicionalíssima Bohemian Pilsner, quilômetros à frente da concorrente norte-americana. A Czechvar Premium Dark Lager (Budweiser Budvar Premium Dark Lager em sua terra natal) é a versão escura do hit da casa, de coloração preta com leve tom amarronzado sob a luz, e creme bege de ótima formação e média permanência. No nariz, a Czechvar Premium Dark Lager exibe café, caramelo e chocolate, frutos da torrefação do malte. No boca, o dulçor esperado é intenso, mas surge acompanhado de uma pontada de amargor, que age de forma oportuna equilibrando o conjunto. Há reforço de café (mais) e chocolate (menos) numa receita de final adocicado com um agradável toque amargo de café e retrogosto maltado. Bem agradável.

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Uma das líderes do mercado português, a União Cervejeira está situada nos arredores de Porto, e o maior sucesso da casa é a Super Bock, uma Standard American Lager bastante premiada, mas nada fora do comum. A versão Abadia da Super Bock, ao contrário do que o imaginário adianta, não tem gene belga, mas alemão, e chegou ao mercado em 2006. De coloração âmbar caramelada, a Super Bock Abadia exibe um creme bege de média formação e baixa permanência. No nariz, um delicado aroma de malte tostado remetendo a caramelo, melaço, bala toffee e, muito levemente, resina, conquista o bebedor. Na boca, o melaço adocicado derivado do malte é intenso e surpreende ao lado de uma leve picância dos 6.4% de álcool, que se tornam mais presentes conforme a cerveja aquece na taça – sem incomodar. O final é caramelado e quente enquanto o retrogosto traz mais caramelo. Bem agradável (2).

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De La Coruña, a cervejaria Hijos de Rivera produz rótulos de sucesso como a Estrella Galicia e a 1906 Reserva Especial. É como uma variação encorpada desta última que surge a 1906 Red Vintage La Colorada, uma Strong Pale Lager de 8% de álcool, coloração âmbar caramelada e creme bege claro de boa formação e baixa permanência. No nariz, a 1906 Red Vintage traz um aroma intenso de malte tostado remetendo a caramelo afundado no álcool, perceptível a ponto de coçar a nariz. Na boca, a sugestão proposta pelo aroma é seguida a risca com o malte distribuindo dulçor em notas de caramelo e melaço enquanto o álcool fornece o contraponto de amargor e calor, com picância e leve sugestão de resina. O final é caramelado e alcóolico, com o segundo incomodando levemente. No retrogosto, calor, resina e caramelo.

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Balanço
Responsáveis pela ótima Alhambra Reserva 1925, uma Premium Lager saborosa que faz um sucesso danado na Andaluzia, a Cervezas Alhambra decepciona um tiquinho com a Alhambra Negra, uma Dunkel menor e excessivamente adocicada, que ainda assim surpreende conforme aquece na taça acrescentando tabaco ao paladar, nada que a transforme numa cerveja excepcional (embora eu não fosse dispensar o copo se alguém colocasse na minha frente). A coisa melhora com a Czechvar Premium Dark Lager, produzida pela elogiadíssima Budweiser Budvar. O dulçor bate ponto novamente, mas a proximidade com o café (derivado do malte torrado) e o amargor do lúpulo fazem desta tcheca uma bela cerveja escura. A versão Abadia da portuguesa Super Bock é outra que surpreende vinda de uma empresa tão mainstream. É bem adocicada, e a função de amargor fica a cargo do álcool, o que a torna levamente picante. Deve ser agradabilíssima em dias invernais. Fechando esse quarteto de rótulos secundários com a 1906 Red Vintage, a Skol Extreme dos espanhóis: muito álcool perceptível com uma camada densa de caramelo para deixar o fulano bêbado rapidamente sem oferecer um contraponto gustativo. Dispense.

Alhambra Negra
– Produto: Dunkel
– Nacionalidade: Espanha
– Graduação alcoólica: 5,4%
– Nota: 2,74/5

Czechvar Premium Dark Lager
– Produto: Dark Lager
– Nacionalidade: República Tcheca
– Graduação alcoólica: 4,7%
– Nota: 3,28/5

Super Bock Abadia
– Produto: Helles Bock
– Nacionalidade: Portugal
– Graduação alcoólica: 6,4%
– Nota: 2,81/5

1906 Red Vintage
– Produto: Strong Pale Lager
– Nacionalidade: Espanha
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 2,58/5

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– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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