Entrevista: Placebo

por João Vitor Medeiros

O Placebo tem duas fases distintas. A primeira, de maior sucesso comercial, flagra o grupo em sua formação mais conhecida com Brian Molko (voz e guitarra), Stefan Osdal (baixo e teclado) e Steve Hewitt (que substituiu o baterista Robert Schultzberg, que gravou apenas o primeiro disco) e segue do elogiado álbum de estreia, de 1996, passa pelos hits de “Without You I’m Nothing” (1998) – “Pure Morning” e “Every You Every Me” – e alcança o auge em “Black Market Music” (2000) e “Sleeping with Ghosts” (2003).

“Meds” (2006) inaugura a segunda fase da banda, mais madura, e é o último disco com Steve Hewitt na bateria, que passou o banquinho para Steve Forrest, que comanda as baquetas da banda desde 2008. “Battle for the Sun” (2009), o primeiro disco com a nova formação, foi bastante criticado, mas o sétimo disco de estúdio do grupo, “Loud Like Love”, saiu sem muito alarde no ano passado e recuperou a fé do público e da crítica.

Completando 20 anos de estrada, a banda fez uma turnê mundial do disco, que terminou na noite fria de segunda-feira, 14 de abril, com um show único no Brasil (o terceiro da banda no país), no Citibank Hall, em São Paulo. Sem muita divulgação, a apresentação acabou ficando à sombra do badalado Lollapalooza e a casa recebeu um público aquém do que esperado – cerca de 4 mil pessoas levaram celulares e cartazes ao Citibank Hall.

Com tudo isso em vista, antes do Placebo subir ao palco, o “novo” baterista da banda, Steve Forrest, recebeu a reportagem do Scream & Yell nos bastidores poucos minutos antes da banda se apresentar em São Paulo. Forrest contou como foi a adaptação ao grupo, o que achou do resultado de “Loud Like Love” e ainda falou sobre amor, a indústria da música, David Bowie, The Walkmen e muito mais. Confira abaixo.

Então, “Loud Like Love” é o seu segundo disco com o Placebo, certo?
Sim, sim, nós fizemos (juntos) “Battle for the Sun” (2009), o EP “B3” (2012) e agora “Loud Like Love” (2013).

Em “Loud Like Love” a banda parece muitas vezes discutir o amor nos tempos da internet. O que você pensa sobre isso? Você acredita em “amor moderno”?
Eu acho que amor é uma emoção humana muito básica que nem sempre está sob controle. Nesse disco não acho que seja propriamente sobre amor por outra pessoa, coisa ou por você mesmo, às vezes é mais vago que isso. Tipo quando você olha pra uma foto maravilhosa e aquilo te pega, te desperta uma série de emoções, faz você pensar em todo o tipo de coisas. Amor moderno… eu sou um romântico, acredito em todas essas coisas, almas gêmeas e pessoas que realmente foram feitas para estarem juntas. Mas costuma ser mais difícil que isso.

Quantos anos você tem?
Eu tenho 27 anos. 28 em setembro.

E você gostou do resultado final de “Loud Like Love”? O que achou a primeira vez que escutou ele pronto?
Nós estávamos fazendo o disco e foi tão bom, muito inspirado. Nos arriscamos fora das nossas zonas de conforto. E nosso produtor fez um belo trabalho nisso. E, sabe, nós estávamos tentando coisas novas e quanto terminamos e fomos escutar o resultado foi “wow”. Ficamos muito orgulhosos e felizes com aquilo e não podíamos estar mais felizes com o disco. Pessoalmente acho que é o melhor desde “Sleeping with Ghosts” (2003) e fiquei muito feliz de participar.

A música vem vivendo um novo período com internet e todas as novas mídias. O que você acha de novos serviços como iTunes e Spotify. Eles são melhores ou piores pros músicos?
É a era digital e tecnológica… eu costumava odiar esses serviços, pra ser honesto. Spotify e isso tudo. Achava que as pessoas deviam ir às lojas de discos e pegar CDs e vinis, mas nos últimos anos…. você não pode combater essas coisas, sabe? Tudo está ali. iTunes é ótimo porque ali as pessoas ainda compram os discos. Enquanto as pessoas estiverem colocando dinheiro no bolso das pessoas que estão fazendo a música, isso é o mais importante. Tantas bandas e selos e pessoas que perderam seus bons empregos e foram jogados na sarjeta, e isso também inclui lojas de discos, porque as pessoas pensam que música deveria ser de graça. E eu sei que de um jeito (o download gratuito) pode ajudar muitas bandas novas a divulgarem seus trabalhos e isso é ótimo, mas por ninguém estar comprando aquela música, essas bandas novas não conseguem fazer tours. Acho que o balanceamento correto está a caminho. iTunes é ótimo, Spotify apesar de não ser ruim, acho que ainda não é isso. Eu realmente odiava muito o Spotify porque você paga 10 libras por mês e você tem todos os discos e, cara, um disco custa 10 libras! Mas está melhorando e é algo que você tem que ir com a maré. Temos que ser criativos. Nós temos sorte de termos começado nos anos 90 quando as pessoas ainda compravam discos, mas pra projetos paralelos e bandas menores é difícil.

E como você disse, é o seu segundo trabalho com a banda. O que você trouxe de diferente? Quais suas diferenças pro Steve Hewitt (baterista anterior)?
Quando entrei para o grupo em 2008, eu não tinha nenhum pensamento de cara tipo “vou transformar o som dessa banda, deixar ele grande, etc.”. Mas pra mim, pessoalmente, eu queria jogar uma grande porção de cor, excitação e dinâmica. Sou um grande fã de dinâmica, de fazer o inesperado, e acho que eu trouxe um pouco disso. Obviamente tocando mais forte e essas coisas. E fomos tocando juntos, eu tinha um estilo diferente e em “BP3” eu já estava me acostumando mais. Você pode ouvir isso (a diferença) em “Loud Like Love”, pois já estamos há 6 anos e meio juntos. Nós ficamos tão próximos e quando a gente entra nos estúdio cada um pega um instrumento e de repente “o que estamos fazendo?” (risos) Então, é…

É uma banda!
É uma banda! Nós construímos as coisas juntos desde o começo. Nós somos muito bons tocando juntos e compondo juntos e tem toda a química, que eu acho que é a coisa mais importante em uma banda. Às vezes (em algumas bandas) os integrantes não são melhores amigos e andam o tempo todo juntos. Não é o nosso caso porque somos realmente irmãos. Algumas bandas funcionam muito bem sem isso, mas nós temos a música e a boa relação e eu acho que isso faz uma boa diferença. Em “Loud Like Love” dá pra ouvir isso.

Muita gente vê o Placebo como uma banda triste, melancólica, “dark”. Você enxerga assim?
Não! Deus, não! Nós somos extremamente patetas, somos como crianças. Nós temos uma dose de melancolia, ok, isso pode ser dito. Um monte de gente acha que nós somos mais tristes do que realmente somos. Música te mantém jovem, música é divertida e a imagem que as pessoas têm de uma banda no palco é bem diferente do que ela realmente é. Eu e você estamos conversando aqui agora e quando eu subir no palco vou me tornar uma pessoa completamente diferente. É lindo…

É a mágica da música…
É a mágica da música! (risos) É exatamente isso.

Eu acho que muitas das músicas do Placebo são sobre “pertencimento”. Qual música da banda você escolheria pra te representar nesse momento?
Eu acho que “Loud Like Love”, a faixa-título, é muito boa. Nós a compusemos e meio que ela resume onde a banda está no momento, e é um lugar muito bom. A vida ainda tem seus problemas e nem sempre tudo são rosas, mas a banda está no melhor lugar que já esteve, eu acho. Criativamente, musicalmente, somos uma família. Nós seis estamos na estrada juntos e construímos uma conexão e eu acho que essa música é uma boa representação disso.

Stefan e Brian estão tocando juntos por mais de 20 anos. Você vê a banda junto por mais 20 anos?
YEAH! Nós estávamos conversando recentemente e era tipo “20 anos, baby, e vamos conseguir mais 20”. E o Brian costumava brincar: “Ah, estamos tocando por tanto tempo, está ficando difícil… vamos arranjar um baterista novo pra continuar!”. Eles têm 14 anos de vantagem pra mim, cara.

Eles são amigos do David Bowie, você o conhece?
Então, quando entrei pra banda eles estavam falando do “Tio David” e eu perguntei quem era esse tal tio e era só o David Bowie. Brian me contou toda a história deles com Bowie. Falou que ele é um amor, que gostaria que eu visse como ele é falante, porque ele é todo social. É uma das pessoas mais adoráveis de todo o planeta, segundo Brian. Ainda não tive a chance, mas espero que eu consiga conhecê-lo um dia e apertar sua mão, porque, bem, ele é uma das lendas e não temos muito dessas vivas hoje em dia.

E quais as são bandas favoritas no mundo hoje?
Meu deus, minha banda favorita de todos os tempos é uma banda chamada The Walkmen.

Eu os conheço.
VOCÊ CONHECE ELES?

Sim, eles se separaram há pouco tempo.
(extremamente desapontado) Ah, não pode ser… eu ouvi que eles estavam dando um tempo, mas eles não podem se separar porque aquele último disco (“Heaven”, de 2012) é muito bom. Tenho todos os discos deles, tudo, eles são uma das melhores bandas de todos os tempos. Arctic Monkeys é outra banda muito boa, belo disco (o “A.M.”). Sigur Rós é também muito bom. Queens of the Stone Age… todas essas bandas ão muito boas pra se assistir ao vivo. Há uma banda nova chamada Skaters…

Brian citou numa entrevista o The National. Você gosta deles?
Oh, The National é fantástico, ele me fez ficar fã, porque eu não escutava muito, mas o Brian escuta o tempo todo. Eles são tão legais, com o cantor que canta assim com a boca meio aberta (faz uma imitação engraçadíssima do vocalista Matt Berninger cantando de cabeça baixa com o microfone próximo à boca) e a bateria é uma delícia. Adoro o útimo disco (“Trouble Will Find Me”, de 2013) e um outro disco deles chamado “Boxer” (2007). “Mistaken For Strangers”, baby! Eu fico animado, a música é muito boa.

É sua primeira vez no Brasil?
Não, é a segunda.

E o que você pensa do país?
Eu amo, cara! Eu queria ter mais tempo só pra curtir. Da última vez tivemos uns dias extras, mas dessa vez não vai rolar muito, vai ser um bate-volta. (O país) é lindo, gente linda, paisagens lindas, comida linda. Sei que tem as coisas ruins, tipo o trânsito, mas tudo fica mais doce em São Paulo. Eu experimentei caipirinha noite passada e o churrasco, uau. É demais, eu queria ter mais tempo, acho que em algum ponto vou vir pra passar férias por aqui.

E você tem algo a dizer para os fãs brasileiros do Placebo?
Só quero agradecer o amor que eles demonstram pela banda com o passar dos anos, obrigado por vir aos shows e comprar nossos discos. É por causa de vocês que somos o que somos. É isso, um grande obrigado.

E eu tenho que tenho que te agradecer pela entrevista.
Não tem de quê. Foi bom falar contigo. Mas, cara, não acredito que o Walkmen acabou…

– João Vitor Medeiros é o @indiedadepre e também escreve no www.catarticos.com.br

Leia também:
– Placebo muda para continuar exatamente o mesmo em “Meds”, por Jorge Wagner (aqui)

4 thoughts on “Entrevista: Placebo

  1. Steve Hewitt não é da primeira formação né? Ele entrou na banda substituindo o baterista original que gravou o primeiro disco.

  2. Paulo, Placebo picareta? Porque? Você pode até achar que a banda é ruim e não gostar, mas picareta…

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