The Baggios, Felipe Cordeiro, Cérebro

por Marcelo Costa

“Sina”, The Baggios (Independente)
Responsáveis por um dos melhores shows do cenário independente brasileiro na atualidade, o duo sergipano The Baggios (que completa 10 anos de estrada em 2014) chega ao segundo álbum com o desejo nítido de quebrar tudo. “Sina” (lançado em CD e também em vinil verde) é o disco certo no momento certo da banda, pois choca as influências setentistas (Led Zeppelin e Black Sabbath) assumidas de Julio Andrade (guitarra e voz) e Gabriel Carvalho (bateria) com uma azeitada pitada brasileira, como se Jimmy Page tivesse nascido no sertão e tocasse na banda de Alceu Valença. No novo álbum, o formato reduzido de guitarra e bateria – que, inevitavelmente, os aproxima de duos de blues rock famosos como White Stripes e Black Keys – recebe o acréscimo delirante de sanfona e baixo acústico em “Salomé Me Disse”, poderoso rockão que poderia embalar a gangue de Lampião; de trompete e sax na porrada circular de “Esturra Leão” e na cadenciada “Vagabundo Arrependido” mais órgão na psicodélica “Tardes Amenas”. Já o riff de “Sem Condição” é um encontro de Jimi Hendrix com Jack White num boteco de beira de estrada. Gravado em Aracajú e masterizado em Seattle, “Sina” mostra que os limites da boa música brasileira estão cada vez mais amplos. Em “Afro”, o duo manda seu recado: “Vai, vai, vai pra roça, vai”. Autêntico rock n’ roll brasileiro.

Nota: 8
Preço: R$ 15 (CD); R$ 70 (vinil)
Download gratuito: http://www.thebaggios.com.br/

Leia também:
– The Baggios: “Sina” é um disco em que buscamos ir além do rock (aqui)

“Se Apaixone pela Loucura do Seu Amor”, Felipe Cordeiro (Natura Musical)
Terceiro álbum do compositor paraense Felipe Cordeiro, “Se Apaixone pela Loucura do Seu Amor” marca a consagração estética do cantor. A produção esperta dividida entre Carlos Eduardo Miranda e Kassin valoriza o conceito de um trabalho feito para dançar coladinho ou então requebrar sem culpa. O maior mérito de Felipe no disco é desejar transformar Odair José, Beto Barbosa e Caetano Veloso em uma entidade só. Para isso, são apresentadas canções que namoram com a cúmbia, resgatam a lambada e ainda piscam o olho para o mambo, dub, guitarrada, rock e o que mais estiver arrastando os pés no salão. Duas canções grudam: “Problema Seu”, de riff de guitarra empolgante e letra esperta, e a dançante “Ela É Tarja Preta”, parceria de Cordeiro com Betão Aguiar, Luê e Arnaldo Antunes (também presente em “Disco”, do último). Mas há mais: a suave e deliciosa “Trelelé”, “Alta Voltagem” (que aproxima Felipe Cordeiro de Marcelo Jeneci via Guilherme Arantes), “É Fogo” (trazendo Silva nos sintetizadores e no theremim) e a versão esperta da antiga “Marcianita”. A provocativa “Breá Époque” quer provar que a Belle Époque parisiense do final do século 19 está sendo revivida na Belém do século 21 – só que com mais suor. “Se Apaixone pela Loucura do Seu Amor” flagra o músico paraense no momento em que ele se traduz completamente brasileiro, em um disco para ser ouvido pelo Brasil e pelo resto do mundo

Nota: 8
Preço em média: R$ 20

Leia também:
– “Kitsch Pop Cult”, Felipe Cordeiro: merengue a ser bailado entre o cérebro e a pélvis (aqui)

“Vamos Pro Quarto”, Cérebro Eletrônico (Independente)
Restrita a um cenário que não se sustenta, a música brasileira independente do novo século está fadada a guetos. Se por um lado, o desastre do cenário inibe e frustra, por outro permite reinvenção e radicalização, e é mais ou menos pela segunda via que caminha o Cérebro Eletrônico em “Vamos Pro Quarto”. Se “Onda Híbrida Ressonante” (2003) era o retrato de uma banda ainda imatura, e a dobradinha “Pareço Moderno” (2008) e “Deus e o Diabo no Liquidificador” (2010) filtrava as grandes influências dos paulistanos resultando num bom número de canções inesquecíveis (“Pareço Moderno”, “Mar Morro”, “Decência”, “Desquite” e, principalmente, “Cama”), “Vamos Pro Quarto” chuta pra longe o pensar pop quadradinho (ainda que inteligente) dos arranjos anteriores: difícil de ser deglutido numa primeira audição, “Vamos Pro Quarto” é uma orgia sonora psicodélica (perfeitamente ilustrado por cenas de “O Jardim das Delícias Terrenas”, de Hieronymus Bosch, um dos quadros mais delirantes de todos os tempos), que clona Secos & Molhados e David Bowie para criar uma paisagem sonora que se suspende no ar, quase intocável (“Seus Papos Não Colam”, “Oh! My Lou” e a bela “Tristeza Retrô” funcionam muito mais como elos de ligação no álbum do que propriamente canções). Em meio a tanta loucura brilham números deliciosos como “Não Bateu”, “Egyptian Birinights” e a épica “A Internet Parou”, mostrando que ainda é possível chutar o balde na música brasileira. Longe de ser um disco fácil, “Vamos Pro Quarto” flagra uma banda totalmente à vontade com sua própria loucura, e abre um precedente interessante para a “cena”: já que ninguém aqui vai ficar rico, bora se divertir? Eis um disco corajoso e delirante.

Nota: 9
Preço: R$ 14
Download gratuito: http://www.cerebrais.com.br/

Leia também:
– “Deus e o Diabo no Liquidificador”, Cérebro Eletrônico: um dos discos do ano (aqui)

8 thoughts on “The Baggios, Felipe Cordeiro, Cérebro

  1. Estou dando a minha opinião, Fernando. Ela é contraria a sua. E é baseada também na opinião de artistas que podem realmente dizer se download gratuito é ou não importante para eles. Por isso nem quis argumentar (já falei tanto disso), só postei um link. Porque dar opinião sem embasamento é fácil. Escrever bobagem, também. Todo mundo tem uma receita de sucesso. O mundo real é outra coisa.

  2. Eu sei que esse papo cansa,mas não dá pra largar certos conceitos em troca de outros vagos e nada a ver.Sei que cada um tem sua opinião,eu novamente estou reafirmando a minha,de novo!Essa geração é ótima,mas tem que ter ajuda seja de selo e gravadora,trabalhar com rádio,senão não tem show,não tem nada.Enfim,fiquemos com os fatos reais de verdade.

  3. Sem problema, Fernando. Na verdade, nenhum de nós pode bater o martelo dizendo o que é certo e o que é errado, pois há exemplos de ambos os lados que legitimam opiniões. No entanto, fiz questão de linkar opiniões de alguns artistas que acreditam que se beneficiam colocando seus discos para download gratuito exatamente para mostrar um outro lado, e não ficar apenas um lado da história. Abraço

  4. Esse disco do Baggios é um dos melhores do rock nacional em anos. Pra mim, o melhor que uma banda brasileira pariu desde Uhuuu, do Cidadão Instigado. A exemplo da banda de Catatau, os meninos do Baggios conseguiram fazer um álbum brasileiro ao extremo – no melhor dos sentidos, claro. Seguem o jeito Novos Baianos de tratar suas influências, misturando Sabbath com Alceu, Hendrix com malemolência nordestina e por aí vai. Sobretudo, é um álbum muito bem gravado. Tem tudo para tocar em tudo quanto é novela e programa de auditório.

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