Três perguntas: Gustavo Kaly

por Marcelo Costa

Em um site de seu estado de nascença, o blumenauense Gustavo Kaly é apresentado como um “dos maiores artistas do underground catarinense”. O epíteto representa uma carreira que começou nos anos 1990 quando Kaly era baixista e vocalista da banda Enzime (a banda só terminou em 2005) e se estendeu ao Stuart, que, segundo a hilária biografia na página da banda no Facebook (apesar do aviso: “Bio de cu é rola”), “entraram nas roubadas clássicas do rock. Já queimaram alguns amplificadores alheios. Já foram roubados, não os pagaram o cachê combinado. Esses caras são uns merdas com “M” maiúsculo.”

Com o Stuart, Kaly deixou alguns bons discos pelo caminho (“Honestidade Não Enche a Barriga”, de 2006, e “Teatro que Celebra a Extinção do Inverno”, de 2008, estão disponíveis para download gratuito no Bandcamp), mas agora é hora de escrever uma nova página: primeiro com seu novo projeto, Kaly e os Hospedes do Chelsea, que está lançando “Porres, Ressacas e Canções”, e também com Os Últimos Românticos da Rua Augusta, grupo que formou em São Paulo com outros não-paulistanos em 2009 – e que eventualmente conta, em suas fileiras, com gente como Wander Wildner, Serginho Serra e Jimi Joe, entre outros.

“Tudo feito de um jeito bem artesanal”, Kaly conta sobre seu novo projeto. “Começamos fazendo as bases em 2011”. No repertório, “Boas Notícias”, uma das grandes canções do álbum “Caminando Y Cantando” (2010), de Wander Wildner, que Kaly mostrou para o replicante punk brega quando este estava morando em Berlim (“Fiquei com a versão original”, ele brinca) e “O último romântico da Rua Augusta”, que demonstra que algumas coisas se intercalam em seus projetos musicais. Tanto “Porres, Ressacas e Canções” quanto os dois EPs (“Boliviano” e “Amores Perros”) d’Os Os Últimos Românticos da Rua Augusta estão disponíveis para download gratuito no Bancamp. Abaixo, Kaly responde a três perguntas do Scream & Yell:

Você acaba de lançar um compacto novo d’Os Últimos Românticos da Rua Augusta e o álbum de estreia do Kaly e os Hospedes do Chelsea. Onde começa um e termina o outro?
O meu disco solo, com os Hóspedes do Chelsea, é uma história que vem se desenvolvendo já faz um bom tempo. Começamos fazendo as bases em 2011, acredite se quiser. São canções mais antigas, acho que a maioria é de 2008/2009. Daí foi se arrastando. No fim de 2013 resolvi dar por terminado, lancei em 2014. Tudo feito de um jeito bem artesanal, gravando quase tudo em casa, em meio à preguiça. O material dos Últimos Românticos da Rua Augusta é uma extensão da minha produção como compositor, que tomou forma em 2012. De lá pra cá fiz, sozinho e junto à banda, muita coisa nova, e a vazão a esse material é mais fácil num ambiente coletivo, com o Urra. Rola uma cobrança maior.

No disco do “Kaly e os Hospedes do Chelsea” você gravou “Boas Notícias”, canção sua que o Wander Wildner havia gravado antes, “Caminando y Cantando”. O que você buscou com o novo arranjo?
Na verdade é engraçado isso. Essa música foi feita basicamente assim como está no meu disco. Mais crua e punk. Podemos chamar de versão original, apesar da versão do Wander ter sido lançada oficialmente bem antes. Em 2010 estávamos em Berlim, o Wander tinha alugado um baita de um quarto e comprado um equipamento pra captar as composições do que viria a ser o disco “Caminando Y Cantando”, daí apresentei a ele, gravamos a minha versão (mais próxima a do meu disco) lá, no computador dele, e ele a transformou em um folk sensacional, por querer dar essa roupagem à música em função do disco dele, que estava transitando mais nesse mundo. A versão do Wander acabou sendo a versão que também é tocada pelos Últimos Românticos. Daí fiquei com a “original”.

Porres, amores, canções e ressacas (não necessariamente nesta ordem) são uma inspiração para a vida?
É uma receita boa, bota tudo no liquidificador e vê o que sai! Esse ambiente boêmio é tema de quase tudo o que eu faço e escrevo pelo simples fato de estar inserido nele. Falamos das coisas que estão ao nosso redor, naturalmente. Acho que em partes é influência de nossos ídolos, do Beat ao Punk, em outras, personagens que criamos para circular por esse submundo, e finalmente, tem um toque de realidade nisso tudo. Inspira e transpira, com certeza!

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

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