Boteco: três cervejas belgas da De Struise

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por Marcelo Costa

A De Struise Brouwers nasceu em 2001 e o nome é homenagem à fazenda de avestruzes de dois dos quatro sócios mantém em Vakantiehoeve. A cervejaria, no entanto, foi montada em Oostvleteren, a quase uma hora e meia de Bruxelas e vizinha do mosteiro de Saint Sixtus, responsável pela hoje melhor cerveja do mundo, a Westvleteren 12. Não que a De Struise Brouwers fica atrás. Na lista de 50 melhores cervejas do mundo do site Ratebeer, a De Struise Brouwers aparece com apenas um rótulo, mas entre as 50 melhores cervejas da Bélgica na atualidade são 10 os rótulos da cervejaria dos avestruzes na lista. Os escandinavos e os norte-americanos foram os primeiros a perceber a categoria das cervejas da “novata” Struise, mas logo os próprios belgas reconheceram seu valor, e hoje a De Struise Brouwers é uma das destacadas jovens cervejarias do mundo. Abaixo, três rótulos deles.

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Primeira cerveja produzida pela De Struise Brouwers, ainda em 2001, a Struise Witte é uma witbier diferenciada (principalmente para aqueles que conheceram o estilo através da Hoegaarden). Na receita, malte, trigo, aveia, lúpulo, levedura e especiarias concedem ao conjunto uma característica azeda, cítrica e refrescante. Exibindo uma coloração dourada com leve turbidez devido a não filtragem, a Struise Witte destaca um aroma bastante cítrico e frutado (laranja e limão) com um leve toque de mel. A levedura, arisca, se faz perceber assim como a sugestão de condimentos (semente de coentro). É no paladar que a Struise Witte se abraça ao seu estilo original, com leve acidez e amargor marcando o primeiro toque, que irá ser encoberto na sequencia por uma leve camada frutada cítrica, que seguirá (acompanhada de leve melaço) até o final, cítrico, azedinho, refrescante e envolvente. No retrogosto, frutas cítricas e levedura.

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A Struise Motuecha é uma belgian blond ale single hop, ou seja, com adição de apenas um tipo de lúpulo, neste caso o neozelandês Motueka, que traz características levemente cítricas e tropicais em seu DNA. De coloração amarelo palha levemente turva (turbidez a frio) e creme branco de ótima formação e permanência, a De Struise Motuecha apresenta um aroma levemente maltado com notas florais, adocicadas e cítricas (laranja), e percepção interessante de levedura e trigo (feno). O paladar é suave e envolvente com dulçor e amargor bastante equilibrados num conjunto que valoriza notas frutadas e cítricas (laranja e limão), percepção de malte (trigo deliciosamente perceptível remetendo à plantação) e um toque picante e levemente ácido proveniente da levedura. O final é seco e levemente cítrico enquanto o retrogosto passeia entre o frutado e o levemente maltado. Ótima.

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Feita especialmente para o Monk’s Cafe Sveavägen, em Estocolmo, a Struise SVEA IPA vai (felizmente) na contramão do que os norte-americanos querem tornar regra apostando na união de quatro cereais maltados (cevada, trigo, aveia e centeio) mais açúcar para combater o amargor carregado dos lúpulos. De coloração âmbar e creme bege de excelente formação e longa permanência, a Struise SVEA IPA surpreende com um aroma caramelado e com sugestão de resina e notas frutadas (pêssego). A levedura arisca coça o nariz e concede ao conjunto aromático um leve caráter cítrico. No paladar, muito equilíbrio (o que pode desanimar alguns lupulomaniacos puristas), com o caramelado do malte combatendo com dignidade os lúpulos nobres da receita. Os segundos vencem apenas no trecho final e, como uma boa IPA inglesa, vai se acumulando e amargando mais conforme a garrafa esvazia. O final é caramelado e o retrogosto, suavemente amargo.

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Balanço
Minha primeiro Struise foi a sensacional Black Albert, então a expectativa estava lá em cima. Comecei desta vez pela Struise Witte, cerveja que deu origem a cervejaria De Struise, até parece não ser uma witbier: coloração e aroma não remetem aos cânones do estilo, mas basta um toque na língua para descobrir que, apesar de diferente, ela é uma wit (que gostaria de ser uma saison em uma próxima vida). O azedinho, o cítrico e o toque de mel estão presentes em todas as fases do paladar, e a refrescancia apaixona. Um belo exemplar de cerveja belga. Já De Struise Motuecha Single Hop, a número 1 da série Cartoon (este assinado por Arne Frantzell), é uma excelente combinação da escola belga com um lúpulo cítrico oceânico resultando em um conjunto que ora valoriza o frutado, ora destaca o terroir (há algo de fazenda nela), com resultado arrebatador. É outra que remete a saison, e, por lembrança, se sai tão bem quanto a Brewdog IPA Is Dead Motueka. Fechando este trio com a deliciosa Struise SVEA IPA, uma India Pale Ale que segue a escola inglesa valorizando o malte e deixando o amargor lá para o final da experiência sensorial. Indicada para aqueles que não são fãs do estilo (e, claro, para os não puristas fãs de cerveja). Uma belíssima India Pale Ale. Uma belíssima cervejaria.

Struise Witte
– Produto: Witbier
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,29/5

Struise Motuecha
– Produto: Belgian Blond Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,46/5

Struise SVEA IPA
– Produto: India Pale Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3,49/5

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