Três Livros: Álbum Duplo, Kings of Cool, Nu de Botas

por Bruno Capelas

“Álbum Duplo”, Paulo Henrique Ferreira (Editora Record)
Em 1995, ao escrever “Alta Fidelidade”, Nick Hornby fez milhões de homens se sentirem compreendidos ao falar de música pop, relacionamentos e suas idiossincrasias, criando um dos livros populares mais importantes e imitados dos últimos trinta anos. Afinal, a ideia parece simples: basta juntar uma dor de cotovelo, um passado obscuro, um trabalho frustrante e alguma obsessão por rock’n roll para fazer nascer um grande romance. Essa, pelo menos, é a intenção do jornalista Paulo Henrique Ferreira com o seu “Álbum Duplo”, lançado no fim de 2013 pela Record. Em primeira pessoa, a obra conta a história de Marlo, um professor de cursinho que, depois de trair a namorada, se afunda em drogas ilícitas, perversões sexuais e diz bobagens no nível de “como o tio Lou, que certa vez disse ‘sou um chupador de pau’ sem perder a atitude de macho”. Em uma narrativa cheia de clichês e citando canções pop como uma metralhadora que atira a esmo, com um protagonista convencido e que não inspira nenhuma piedade, a obra de Ferreira é tão maçante e pretensiosa quanto ouvir 90% dos álbuns duplos já lançados até esta data.

Nota: 2

“Kings of Cool”, Don Winslow (Intrínseca)
Adaptado para o cinema por Oliver Stone, “Selvagens” foi um dos primeiros romances de Don Winslow a chamar a atenção do grande público, contando a história hedonista de três jovens ricos da Califórnia cujo maior feito é produzir maconha em larga escala – numa versão industrial do “Abaixo de Zero”, de Bret Easton Ellis, e mostrando o universo cantado por Frank Ocean no grande disco “channel ORANGE”. Lançado no exterior em 2012, e trazido ao País pela Intrínseca, “Kings of Cool” funciona como uma prévia de “Selvagens”, querendo explicar a origem de seus protagonistas e a do próprio tráfico na Califórnia desde meados dos anos 1960, incluindo hippies, cartéis mexicanos e doidões. A prosa de Winslow exibe o mesmo vigor ágil, irônico e cheio de referências do trabalho anterior. Entretanto, ao contrário do que acontece em “Selvagens”, a velocidade cinematográfica com que o autor trabalha se torna cansativa com tantos vais e vens no tempo, deixando o leitor confuso e tornando o prazer em uma narrativa com flasbacks em uma bad trip. Dessa vez, Winslow não trouxe o do bom. Uma pena.

Nota: 5

“Nu, de botas”, Antonio Prata (Companhia das Letras)
É até difícil criticar Antonio Prata depois que ele deixou de ser só “o filho do Mário” e se tornou um dos maiores cronistas do País, tendo publicado, semana após semana, textos que foram lidos por todo lado retratando árvores de natal, bares sujos, saltos entre casais e taxistas viúvos. Em “Nu, de botas”, seu mais recente livro, lançado no final de 2013, o autor se afasta levemente do seu gênero usual para voltar os olhos para suas próprias lembranças de infância, envolvendo o palhaço Bozo, os meninos da casa do lado ou uma viagem em que se esquece de levar a cueca – um pesadelo para crianças de cinco anos, não é mesmo? Em um livro que, dividido em pequenos capítulos, flerta com o formato de conto e de novela ao poder ser lido tanto em conjunto quanto aos pedaços (como já tinha sido feito com o tocante “Waldir Peres, Juanito e Poloskei”, publicado em seleção da revista Granta), Prata usa da inocência e de sua simplicidade (por que não, ao desnudar suas memórias?) para renovar um tema já tão batido e adicionar força ao inconsciente coletivo de várias gerações. Uma candura.

Nota: 8,5

***

– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista e assina o blog Pergunte ao Pop.

Leia também:
– Sobre Nick Horby e “Alta Fidelidade”, por Marcelo Costa (aqui)
– Três biografias: Tony Iommi, Ramones e Bruce Springsteen, por Leo Vinhas (aqui)
– O best-seller de Jonas Jonasson, por Adriano Costa (aqui)
– “Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar”, de Ricardo Alexandre, por Leo Vinhas (aqui)

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