Boteco: Três autênticas cervejas tchecas

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por Marcelo Costa

Natural da cidade de Pilsen, na República Tcheca, a Pilsner Urquell não é só uma cerveja, mas também uma lenda, e, em tempos modernos, o benchmarking do estilo mais consumido no mundo: em toda cerveja pilsen fabricada em qualquer continente, está um pouco do desbravamento da Bürger Brauerei (Cervejaria dos Cidadãos), de Pilsen, que em 1839 fundou a cervejaria e, em 1842, pariram a Pilsner Urquell, considerada a primeira Pilsen da história. De coloração dourada e cristalina (ao contrário das cervejas turvas em voga na época), a Pilsner Urquell exibe uma espuma branquíssima de ótima formação e média permanência. No aroma, a força do lúpulo Saaz é parte do charme da receita dividindo atenção com notas derivadas do malte que remetem a cereais, trigo, pão e biscoito e leve sugestão de mel. No paladar, o corpo é leve e a textura, frisante. O primeiro ataque é mérito do lúpulo, que distribui um bocado de amargor. Uma leve acidez surge na sequencia, trazendo consigo o batalhão do malte, e um dulçor que equilibra o conjunto e persiste no trecho final, seco e refrescante, mas o amargor retorna no retrogosto, clamando por outra dose da cerveja. Um clássico.

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A cidade de Budweis, a cerca de duas horas de Pilsen, é casa da Budweiser Bier Bürgerbräu, cervejaria (de moradores de língua alemã) da Bohemia nascida em 1795 e responsável pela Budweiser tcheca, conhecida na América por 1795, já que os tchecos registraram sua cerveja em 1882, cinco anos depois da Anheuser-Busch registrar a marca nos Estados Unidos. De coloração dourada e cristalina, a 1795 exibe uma espuma branquíssima de ótima formação e média permanência. No aroma, o lúpulo Saaz fica escondido debaixo de uma densa camada de malte, que distribui notas adocicadas e herbais que remetem a cereais, trigo, biscoito e pão. Há uma leve sensação de milho, que não atrapalha o conjunto. No paladar, o corpo é leve e a textura, cremosa. O conjunto surge delicadamente equilibrado, com malte e lúpulo em perfeita sintonia. O amargor é bastante suave e o adocicado também não intimida o bebedor, sugerindo uma cerveja leve e refrescante de alto drinkability. O amargor se intensifica, ainda que de maneira comportada, no trecho final, acompanhado de leve acidez. O retrogosto traz malte e sugestão de biscoito e pão.

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Também da cidade de Budweis (Ceske Budejovice no idioma local), e também com uma Budweiser no currículo (ou seja, as duas empresas tchecas perderam na Justiça o direito de utilizar o nome Budweiser nos Estados Unidos para a Anheuser-Busch – e as duas são bem melhores que a Budweiser norte-americana), a Budweiser Budvar Brewery foi fundada em 1895 por cidadãos de língua tcheca da Bohemia, e fabricaram uma Bohemian Pilsener loura, refrescante e saborosa. Hoje, essa cerveja continua sendo vendida na Europa como Budweiser Budvar, mas na América ela recebe o nome de Czechvar, e exibe uma coloração dourada e cristalina além de uma espuma branquíssima de ótima formação e média permanência. Assim que se abre a garrafa, os aromas de malte se destacam em notas que remetem a cereais, biscoito e pão. O lúpulo Saaz também aparece no aroma, com toques florais, mas é no paladar, de corpo leve e textura suavemente frisante, que ele dá seu recado, com um amargor delicado, que colabora no equilíbrio de um conjunto clássico, com notas maltadas saborosas remetendo a cereais. O final é suavemente amargo, com uma leve picância, enquanto o retrogosto traz malte, cereais e o desejo de abrir outra garrafa. Uma delicia.

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Balanço
A Pilsner Urquell é a mãe de todas as pilsens. Você pode até preferir outra, afinal a Urquell ditou um padrão que é copiado e/ou adaptado há 160 anos, em maior ou menor grau, e essas variações podem agradar mais ou menos a cada paladar. Não é isso que importa. O que importa é que você está diante de uma lenda, a pilsen tradicional, como ela foi feita. E é muito boa (e muito melhor do que o modelo de pilsen conhecido no Brasil, com mais cereais não maltados que malte). A 1795 é mais suave que a Pilsner Urquell, valorizando o equilíbrio entre lúpulo e malte. O destaque, no final, acaba sendo a gostosa sensação se cereais presente no conjunto, que não pega pesado no amargor como a Urquell, mas ainda assim agrada. Se colocando entre a Pilsner Urquell e a 1795, a Czechvar se destaca por não ser tão suave quanto a 1795 e nem tão amarga quanto a Urquell. É também a mais alcoólica das três (com 5%), e seu equilíbrio entre malte e lúpulo a coroa como uma das grandes Bohemian Pilsener do mercado – o que o Gold Quality Label concedido pela Monde Selection em 2010 e 2011 apenas referenda.

Pilsner Urquell
– Produto: Bohemian Pilsner
– Nacionalidade: República Tcheca
– Graduação alcoólica: 4,4%
– Nota: 3,60/5

1795
– Produto: Bohemian Pilsner
– Nacionalidade: República Tcheca
– Graduação alcoólica: 4,7%
– Nota: 3,20/5

Czechvar
– Produto: Bohemian Pilsner
– Nacionalidade: República Tcheca
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,42/5

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– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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