Disco do Ano: Thiago Pereira

Discos do Ano #08
“Foi No Mês Que Vem”: Sensibilidades atemporais
por Thiago Pereira

Artista – Vitor Ramil
Álbum – “Foi no Mês Que Vem”
Lançamento – 06/2013
Selo – Satolep

É um disco do ano, mas não é um disco do ano. Bem, na verdade é. Mas é um disco de vários e vários anos. E não é só pelo fato de “Foi No Mês Que Vem”, de Vitor Ramil, ser uma espécie de coletânea. É porque, assim como o título indica, é um trabalho de suspensão temporal, de embebedar os cronômetros e corrigir o que passou batido. Um dos poderes maiores da música, aliás.

Porque, eu conhecia duas ou três das 32 músicas compiladas no disco. Mas assim que rodou, reconheci todas: já escutei a faixa-título em algum inverno tenebroso, vendo criaturinhas esquisitas calibrado por doses estranhas; “Espaço” foi a trilha de noites desenhando tristezas nas paredes do quarto em branco; “Passageiro” foi a companhia para as noites em que o carro e o rádio eram os únicos parceiros na boemia. Assim como “Sapatos Em Copacabana” descreveu com perfeição um passeio meio torto pelo bairro mais famoso do mundo, no início da década passada. “Que Horas Não São” me levou de novo para as tardes universitárias, inventando afinações no violão do diretório acadêmico. E cantei, hoje e todos os dias, para aquela que amo, os versos emprestados do compositor:

O teu nome, Ana, escrito
No braço da minha alma
Persiste como uma estrela
Nas horas intermináveis
Chuva, vapor, velocidade
É como o quadro do Turner
Sobre a parede gris da solidão.
So-to-me-lo te verás-me
Como-lho-me verte-ás-nos
Solo te quiero dizer-te
Que me sinto mui contento
Porque vou na tua casa
E lemos cousas bonitas juntos
No silêncio eu pego em tua mão
Tu do meu lado e eu no teu quarto quieto
Teu ser se confunde no meu.

Sim, nunca tinha escutado todas as canções citadas, e mais algumas que, generosamente, Ramil registrou no disco. Mas elas foram as trilhas tardias e perfeitas para muita coisa que vivi anteriormente, sem conhecê-lo. Sensibilidades atemporais, canções que independem do relógio. Em toda arte, existe mérito maior do que esse? Pode ate existir. Mas se torna menor quando nos reconhecemos de forma tão nítida em versos, sons e sentimentos quanto os que estão espalhados nesse trabalho.

De qualquer forma, 2013 tem sido um ótimo ano. Culpa da camisa azul celeste, dos textos que confundem e que explicam, das rotinas transformadas, das pessoas que me cercam, da vida, enfim. E do Vitor. E tudo isso, espero, “Foi No Ano Que Vem”, também. Pra mim, pro Vitor, pra vida e pra todos.

– Thiago Pereira (@thiagopereira27) é cruzeirense, jornalista e escreve no jornal O Tempo

Semanalmente teremos um convidado no Scream & Yell escrevendo sobre o disco do ano

Especial Melhores de 2013:
– Disco do Ano #1: “Fade”, do Yo La Tengo, por Cristiano Castilho (aqui)
– Disco do Ano #2: “Random Access Memories”, do Daft Punk, por Rodrigo Levino (aqui)
– Disco do Ano #3: “…Like Clockwork”, do QOTSA, por Mariana Tramontina (aqui)
– Disco do Ano #4: “Shaking the Habitual”, do The Knife, por Tiago Ferreira (aqui)
– Disco do Ano #5: “The Next Day”, de David Bowie, por Carol Nogueira (aqui)
– Disco do Ano #6: “Nocturama”, de Nick Cave & The Bad Seeds, por Gabriel Innocentini (aqui)
– Disco do Ano #7: “Dream River”, de Bill Callahan, por João Vitor Medeiros (aqui)
– Disco do Ano #9: “Tooth & Nail”, de Billy Bragg, por Giancarlo Rufatto (aqui)
– Disco do Ano #10: “13?, do Black Sabbath, por Marcos Bragatto (aqui)
– Disco do Ano #11: “Estado de Nuvem”, de Bruno Souto, por José Flávio Júnior (aqui)

4 thoughts on “Disco do Ano: Thiago Pereira

  1. Quando o MAC fez aquela sondagem dos discos da década passada, pus Tambong como o melhor disco. E comentei que se fosse gringo, seria um disco louvado de joelhos por fãs de rock, indies e congêneres. Foi no mês que vem não é só ‘o disco do ano’. será certamente um dos melhores dessa década. Quem cai de joelhos por cícero, tulipa ruiz, rômulo fróes e outros menos cotados, deveria ouvir com atenção esse disco. Vitor Ramil é simplesmente foda!

  2. o melhor, mas o melhor mesmo, de tudo, é que o vítor é totalmente não hypado… as “cabeças pensantes” do jornalismo cultural nacional não tem “tempo” nem “alcance” para hypar o vitor, preferem chafurdar com nomes menores e produção medíocre.

    ave, vitor!

    siga assim, belo, íntegro, brilhante… a estética do frio é para poucos!!!

    gracias por todo!!

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