Boteco: Quatro cervejas da Bohemia

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por Marcelo Costa

Fundada em 1853 pelo colono alemão Henrique Kremer, a Bohemia nasceu em Petrópolis, no Rio de Janeiro. A empresa ficou sob controle da família até 1960, quando foi adquirida pela Companhia Antarctica Paulista, posteriormente integrada ao império AmBev. Com o passar do anos, a produção subiu de 6 mil garrafas por dia em 1898 para 15 mil em 1930, 48 mil em 1968 e 95 mil em 1982. A linha também cresceu juntando-se a versão tradicional Standart American Lager uma versão Escura (2002), uma Weiss (2003), uma Belgian Ale (2005) e uma Oaken (2008), a única planejada para ser sazonal que não ficou fixa no cardápio da casa. Abaixo, as quatro que estão disponíveis no mercado brasileiro.

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Apontada como a primeira cerveja do Brasil, a Bohemia, lá pelos idos de 1860, era uma cerveja que preservava as características alemãs de amargor e corpo, opção que foi sendo deixada de lado nos anos seguintes visando aproxima-la das concorrentes no mercado da época, e tornando-a mais leve e menos amarga. O site oficial diz que a receita é produzida com malte 100% importado e lúpulo da República Tcheca, mas esquece de incluir os cereais não maltados que aparecem no rótulo, e que provavelmente não integravam a receita original de 1853. De coloração dourada e cristalina, a Bohemia exibe um creme branco de média formação e baixa permanência. No aroma, leve floral se une a notas herbais (trigo) suaves, mas que se destacam frente a concorrência mainstream brasileira. No paladar, amargor moderado e dulçor suave trazem poucos atributos sensoriais numa cerveja leve e refrescante, que desaparece rapidamente e traz, no retrogosto, uma leve adstringência.

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Lançada em 2002, a Bohemia Escura é uma Dark American Lager, tentativa da cervejaria de reproduzir uma Schwarzbier alemã – uma das vedetes do estilo é a Köstritzier. O site oficial informa que os maltes são importados de Munique. De coloração preta e brilhante, a Bohemia Escura exibe uma espuma bege de média formação e permanência. No aroma, pouco persistente, destaque para o malte torrado, que libera notas que remetem a café e chocolate amargo. Há algo de metálico também. No paladar, o corpo é leve e a textura suave. Os maltes torrados voltam a se destacar, mas sem exibir intensidade. Há pálida sensação de café e, com persistência, é possível sentir chocolate amargo. O primeiro ataque é adocicado com leve amargor de lúpulo tentando equilibrar o conjunto, que é notadamente doce. O final é seco e adocicado enquanto o retrogosto (quase inexistente) sugere amargor.

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A Bohemia Weiss é versão bávara de trigo da casa e foi lançada em 2003 obedecendo uma receita que une maltes de trigo francês, cevada, cereais não maltados, levedura e lúpulo alemães. De coloração amarelo palha cristalina, o que denuncia filtragem (a não filtragem é um dos fatores definidores da tradicional Weiss alemã), e creme branco de boa formação e media permanência, a Bohemia Weiss traz no aroma as notas clássicas do estilo remetendo a banana e trigo, com uma leve sugestão de especiarias. Há ainda percepção de lúpulo floral. No paladar, a textura é suave e o corpo, fraco. A sensação de banana parece mais intensa, com um adocicado marcando presença. O final é curto, doce e metálico e o retrogosto reitera a característica principal do estilo remetendo levemente a banana. Ela está muito mais próxima de uma German Kristallweizen (devido à filtração, que concede não só concede cristalino para a cor, mas também diminui o peso de seu corpo), guardadas as devidas comparações.

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A Bohemia Confraria é uma Belgian Ale que foi lançada em 2005 a partir de uma receita belga nascida na idade média. Na releitura carioca, a receita une malte de cevada, aveia, cereais não maltados, levedura e lúpulo. De coloração castanha translucida (ou seja, novamente filtrada) e espuma de média formação e baixa permanência, a Bohemia Confraria traz no aroma notas adocicadas que remetem a caramelo e leve condimentação que sugere cravo. No paladar, o malte se sobressai distribuindo doçura em notas que remetem a caramelo e mel. O amargor é praticamente inexistente nesta cerveja que parece mais imitação de belgian ale do que uma real belgian ale, com final melado e retrogosto levemente maltado. Em 2005, quando o mercado nacional era carente de bons rótulos importados, ela até tinha alguma relevância por introduzir o bebedor médio em um estilo europeu, mas atualmente ganha apenas no preço, embora o que entregue não seja mais do que uma pálida imitação. Boa para beber em locais que ainda não prepararam cartas de cerveja adequadas, e que por acaso a tenham na geladeira.

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Balanço
A Bohemia versão tradicional, Standart American Lager, é uma das melhores cervejas mainstream nacionais ao lado da Serra Malte, com um pouco mais de lúpulo e malte que suas concorrentes. É a minha preferida de boteco tradicional. Esse pequeno “capricho” de malte e lúpulo faz a diferença em relação à concorrência, mas não impede que ela sofra se colocada ao lado de uma autêntica Pilsen tcheca. O mesmo pode ser dito dos outros exemplares da casa, que tem como mérito terem chegado ao mercado brasileiro em um momento que era raro encontrar boas cervejas importadas de qualidade acessíveis e com bons preços, mas agora soam tentativas frustradas de imitar estilos estrangeiros. Ainda assim, as versões Weiss, Schwarzbier e Belgian Ale valem como porta de entrada para pessoas que acreditam que exista apenas um único tipo de cerveja, a Pilsen, mas são, no mercado cervejeiro nacional cada vez mais abastecido, o degrau mais baixo de uma longa escadaria.

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Bohemia
– Produto: Standard American Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2,19/5

Bohemia Escura
– Produto: Dark American Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2,13/5

German Weizen
– Produto: German Weizen
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,6%
– Nota: 2,25/5

Bohemia Confraria
– Produto: Belgian Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6,2%
– Nota: 2,17/5

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Leia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)

One thought on “Boteco: Quatro cervejas da Bohemia

  1. No CenterBox da José Bastos (em Fortaleza, Ceará) a cerveja Bohemia fica “escondida” entre as demais. Não tem preço anunciado (só no freezer) e a caixa, além de parecer com a da Brahma (é só um pouco menos amarela), não tem o preço cadastrado. Mas a unidade da lata está bem mais em conta que a maioria ofertada como promoção. Posso estar enganado, mas deve ser predileção do gerente ou sem-vergonhice dos promotores. Acho que isso deveria ser visto pela Bohemia. A lata está a 2,29R$. Preço bem melhor que a Devassa, por exemplo.

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