Três perguntas: Maglore

por Marcelo Costa

No site oficial eles se apresentam como “uma banda de música popular brasileira e rock, formada em meados de 2009”. O primeiro disco, “Veroz”, saiu em 2011, época em que a banda ainda vivia em sua terra natal, Salvador. Em 2012, o quarteto decidiu se mudar para São Paulo: “Foi um baque ter vindo. No início, não entendíamos nada”, relembra Teago Oliveira, voz e guitarra. “Dá pra dizer que, nesse um ano e meio, São Paulo já é visto como ‘nossa casa’”, completa.

“Vamos Pra Rua”, o segundo álbum, já exibe as marcas das duas casas da Maglore, pois foi gravado em Salvador e mixado/masterizado em São Paulo. Além, conta com a participação de Carlinhos Brown em “Quero Agorá” e de Wado em “Nunca Mais Vou Trabalhar”. É um disco altamente pop, brasileiro, dançante, marcas de uma banda que parece ter noção clara de onde quer chegar. Para saber um pouco mais sobre o Maglore, três perguntas para Teago Oliveira. Abaixo, ouça o álbum (download gratuito no http://www.maglore.com.br).

No começo de 2012, numa entrevista ao Scream & Yell, você falava sobre a expectativa do Maglore vir pra São Paulo e “viver como uma banda”. Há quanto tempo vocês estão aqui e como está a adaptação? Quais as primeiras impressões desta selva de pedra?
Estamos em São Paulo desde março de 2012. Claro, foi um baque ter vindo. No início, não entendíamos nada. Nem sabíamos pra onde ir, o que fazer, etc. Muitos amigos e conhecidos nos deram uma luz e conselhos. A Vivendo do Ócio foi da maior importância. Outras pessoas nos foram abrindo os olhos, como o videomaker Rafael Kent, a Renata Almeida (que produz Emicida), Silvana Ramalhete (que produz o Tatá), Pamela Leme (Alavanca), enfim. Muitos amigos, paulistas ou não, ajudaram no processo de adaptação. A gente tem um sentimento de gratidão imenso. Gustavo Ruiz também foi um grande norte pra acertarmos os detalhes do novo disco. É um camarada super gente fina.

Como ano passado fomos patrocinados pela Vivo pra uma turnê nacional de 13 datas, tocamos pouco por aqui. Esse ano já entramos mais no circuito que tem a ver um pouco com o que fazemos, conhecemos muita gente. Dá pra dizer que, nesse um ano e meio, São Paulo já é visto como “nossa casa”. Acabamos nos apaixonando pelos lugares e pelas pessoas. Óbvio que a saudade de Salvador talvez nunca vá embora. Viemos pela experiência de morar todos na mesma casa, pré produzir coisas novas num estudiozinho que temos e pelo fato de ser mais fácil circular por lugares onde já estávamos tocando com frequência, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campinas, São Carlos, São Paulo. Muitos lugares onde estamos em processo de formação de público.

Como vocês veem “Veroz” e Vamos Pra Rua”? E como rolou a participação de Carlinhos Brown e do Wado no segundo disco?
Pra mim são coisas bem diferentes. O “Veroz” é um disco mais sentimental, um disco de amor. Em alguns momentos até monotemático. Esteticamente me incomoda um pouco, principalmente pelo fato das músicas terem sido gravadas quase no mesmo período em que a banda estava se formando e pelo fato dessas músicas serem muito antigas em relação à gravação do disco. Não nos concentramos na produção de um disco, e sim em gravar músicas pra ter material pra show. Tinha música que compus com 16, 17 anos. Mas é a verdade daquela época. Rendeu muita alegria, muita coisa boa. Somos gratos por ter feito isso e por termos tido o apoio de tanta gente.

O “Vamos Pra Rua” (já fomos chamados de oportunistas por uns freaks, mas o disco saiu antes das manifestações) já é esteticamente mais aplicado dentro do que queríamos fazer. O tema foi livre e, apesar de também ser pessoal, é uma experiência de grupo, de deixar rolar o que ocorrer. Acho legal porque é algo que vem acontecendo com menos frequência. Queríamos gravar um disco como se gravava antigamente, tentando um modelo clássico. Então foi ao vivo, na mesma sala, com tudo vazando, sem metrônomo pro baterista, sem overdubs, pouquíssimos microfones, passamos a mix num tape recorder, na fita. A master não explode os ouvidos de compressão, etc. Definitivamente saí com outras visões e percepções musicais dali.

Carlinhos Brown foi uma escolha porque achamos que ele caberia bem na música “Quero Agorá”. Obviamente, no início rimos, achando impossível ter acesso a ele. Então mandei um email com a letra e com a gravação. Um mês depois tivemos a surpresa de ver o email retornando já com as vozes dele. Ficou como queríamos. Ele sincopou e quebrou a melodia de alguns versos (o que me dá um duro trabalho de reproduzir ao vivo, porque toco guitarra nela).

Wado foi um acaso incrível. Em 2011 ele me convidou pra cantar “Com a Ponta dos Dedos” no show que fez em Salvador. Ali meio que se estreitou a relação. Quando eu estava gravando as vozes do “Vamos Pra Rua”, Wado anunciou no facebook que ia pra Salvador fazer participação no show da Radiola (banda de Tadeu Mascarenhas, que produziu nosso disco). Aí ficou tudo em casa. Ele ouviu a música, escolheu e mandou ver. Não preciso dizer que todos nós somos fãs absolutos de Wado. O “Atlântico Negro” é uma obra prima. Não só dele, mas de Carlinhos Brown também.

Como é ter uma banda independente no Brasil em 2013? Como vocês veem a cena nacional neste momento?
A gente consegue se virar, mas está cada vez mais difícil ser uma banda independente, que não está na crista da onda (e que nem almeja se prender a isso) e etc. Ao mesmo tempo temos muito prazer em fazer, em sentir felicidade nos outros, essas coisas todas que parecem um clichêzão, mas que no fundo são verdades.

A cena atual pra mim vai de vento em popa. Temos, ao logo desses anos, andado por vários cantos que nos permitem conhecer muita música boa. Tem muita coisa boa sendo lançada nesses tempos. Particularmente a cena mineira e a paulista me agradam muito, mas o momento está bom pra todos os cantos. Não concordo com as opiniões de que hoje a música brasileira vai mal. Vai mal talvez para quem não a procure, porque hoje em dia ouvir música é um exercício de pesquisa. Sem demérito algum.

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

Leia também:
– Entrevista: Maglore (2012), por João Paulo Barreto (aqui)

Três perguntas para:
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– Oy: “Senti que a música deveria crescer, tornar-se mais abrangente” (aqui)
– John Ulhoa: “Agora vamos pensar um bocado em Pato Fu, e virá algo novo” (aqui)

3 thoughts on “Três perguntas: Maglore

  1. Esses caras são sensacionais, torço pelo sucesso deles. Já os assisti em dois shows na cidade onde moro ( Feira de Santana ).

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