Entrevista: Tiago Iorc

por Rodrigo Guidi

“Zeski” é o disco definitivo de Tiago Iorc. Se será seu melhor trabalho, só o futuro dirá. Mesmo já sendo seu melhor trabalho até aqui, “Zeski” é definitivo para Tiago porque marca o encontro das MPBs – a Música Popular Britânica e a Música Popular Brasileira – do cantor e compositor que nasceu em Brasília, é radicado em Curitiba, mas cresceu na Inglaterra e nos EUA.

“Aprendi a falar lá (na Inglaterra)”, diz o compositor. A opção de cantar em inglês foi natural em “Let Yourself In” (2008) e “Umbilical” (2011), mas em “Zeski”, das 11 canções do álbum, quatro são cantadas na língua de Maria Gadu, Silva e Daniel Lopes, cada um participando de uma faixa (a quarta canção em português é uma versão para “Tempo Perdido”, da Legião Urbana).

Se os dois primeiros discos traziam apenas composições na língua estrangeira, neste terceiro álbum é criada a ponte que o traz (ou leva) de volta à raiz. Daí o título “Zeski”, que é o final de seu sobrenome, Iorczeski. Em entrevista ao PLUG, parceiro do Scream & Yell, Tiago falou sobre o novo trabalho e sobre gravar pela primeira vez em sua língua de origem.

Você tem um início de carreira marcado por gravar canções em inglês. Como foi a ideia de fazer um disco também com letras em português?
O processo todo da escolha do repertório do disco foi acontecendo ao longo dos meses em que organizamos a pré-produção do disco. No início, não tinha uma ideia fixa se teria ou não músicas em português. Havia essa vontade, esse interesse, mas não sabíamos como seria. Tudo começou mesmo com uma regravação que fiz de “Música Inédita”, da banda Cidadão Quem, do Rio Grande do Sul. Comecei a pensar em regravar no início de 2012 e fui encontrando uma forma de fazer e de chamar a Maria (Gadú) para cantar. Ela topou e a música saiu no meio do processo do disco. Aí ficamos bem felizes com o resultado e o Maicon (Ananias, produtor do disco) disse que havia essa possibilidade, da gente fazer esse outro lado do meu trabalho que não havia sido explorado ainda, de cantar em português, em parcerias. Aí acabou que fizemos com as pessoas que estavam próximas.

Você tem preferência por cantar em inglês?
Inicialmente tinha, mais por uma questão de gostar mais do resultado do que fazia em inglês do que em português. Era o que estava interessado no momento, mas hoje já não vejo dessa forma. Me abri para essa possibilidade (de cantar em português) igualmente ou mais até.

Você foi muito cedo para o exterior, mas impressiona que você canta em inglês sem sotaque.
É que o momento em que fui para a Inglaterra eu nem falava ainda. Aprendi a falar lá. Nasci aqui, mas meus primeiros anos de vida foram lá. Estava em contato direto com as pessoas da língua inglesa e em casa meus pais falavam em português.

E o nome do disco, que é o final do seu sobrenome, reflete isso mesmo? É uma volta às origens?
Exatamente isso. Não só em relação à língua, mas a outras coisas que sempre foram parte da minha personalidade e que estão ali representadas nessa simbologia de um final de nome que era minha identidade antes de eu ser uma figura pública. Quis resgatar essa coisa de personalidade mesmo, de coisas que me sentia à vontade para manifestar agora no palco.

Você tem muita música que emplacou em produções de TV, novelas. Como foi isso?
O processo todo começou antes até de eu ter disco gravado. Teve uma demo minha na época que fazia faculdade e nem tinha pretensão de ter uma carreira na música, participava de algumas bandas em Curitiba. Teve uma música que gravei em casa por brincadeira e o pessoal gostou e começou a replicar na internet. Isso foi em 2007, quando a Som Livre estava lançando um selo novo, o SLAP (Som Livre Apresenta), que tem o intuito de lançar novos artistas. Eles estavam buscando novos artistas e conheceram essa gravação, entraram em contato e, como a Som Livre é um braço da Rede Globo, eles têm essa possibilidade de indicar as canções aos produtores das novelas. A maioria foi assim e algumas foram por outros meios, amigos que conhecem os produtores de novela.

Como você vê a internet para disseminação da produção cultural? Ela mais ajuda ou atrapalha?
No meu caso, ajuda muito, porque a ideia de qualquer artista que está emergindo é espalhar o máximo possível a música. Nesse sentido, tudo ajuda, seja a música na novela ou nessas plataformas em streaming gratuito. A verdade é que o consumo de música pela internet no Brasil é muito baixo próximo do que pode ser. Não chega a ser um montante significativo para sustentar uma carreira. É diferente de outros lugares, onde a rentabilidade de uma música na internet já é algo real. Aqui quem mais vende tem números muito baixos perto do tamanho da população brasileira. A grande verdade é que o trabalho em si se sustenta pelos shows, porque não tem como falsificar o show.

Falando nisso, como está a agenda de shows?
Está bem legal. Estamos fazendo o Brasil todo, vamos para o Norte, Nordeste e a ideia é aumentar esse número de cidades.

******
Rodrigo Guidi (@rodrigoguidi) é jornalista do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.