Cinema: “Me Excita, Droga”

Esse Você Tem que Ver – Me Excita, Droga
(Få meg på, for faen, Noruega, 2011)

por Leonardo Vinhas

Um filme em que uma adolescente norueguesa começa a descobrir sua aparentemente irrefreável sexualidade parece a desculpa perfeita para qualquer marmanjo que queira assistir putaria tendo uma justificativa “cult” para isso. Se você se encaixa no perfil, me desculpe por estragar sua alegria: a única genitália que você vai ver em “Me Excita, Droga” é masculina. Nem por isso você deve deixar de assistir ao filme, que não chegou a ser distribuído no Brasil, mas vale a procura.

Alma (Helene Bergsholm) quer transar. Ela fantasia com colegas de escola (meninos e meninas), com o pai das amigas, com o atendente do telessexo. Ela tem 15 anos e não se aguenta de tesão. Mas, justamente por ter 15 anos, não sabe como expressar isso para seus objetos de desejo. O problema é que ela embarca tanto nos seus devaneios que fica difícil para ela – e para nós, espectadores – saber o que é real e o que não, principalmente quando uma de suas histórias passa a ser do conhecimento de todos na minúscula Skoddeheimen, e ela é obrigada a conviver com a reprovação social, o preconceito e a crueldade dos conterrâneos, principalmente os de sua idade.

Skoddeheimen é uma cidadezinha no norte da Noruega, mas para seus jovens, é uma prisão à qual todos temem estar condenados, mesmo que consigam sair para estudar ou trabalhar em outras cidades. Alma teme que esse seja seu destino, que acabe seus dias como a acomodada esposa de um plantador de nabos (a principal atividade econômica da cidade) ou como caixa de supermercado. Ela sabe que tem a vida toda pela frente, e se recusa a aceitar que ela será sempre como é hoje. Mas como torná-la diferente?

A diretora e co-roteirista Jannicke Systad Jacobsen entende que ser adolescente é uma confusão infernal, mas que não precisa retratar isso com a comedinha sensível padrão. Ao invés, ela prefere navegar na esfera sexual sem medo de tocar em tabus como pornografia, masturbação feminina e sexismo. Mais que isso, ela entende que sexo é a relação física com o outro, algo ainda mais complicado para quem vive em uma cidade com poucas pessoas e nas quais os pudores se sobrepõem ao respeito à individualidade – mesmo que aqueles que criticam padeçam das mesmas inquietações que a criticada (Alma, no caso).

As atuações do jovem elenco não são geniais, mas estão longe de comprometer o filme. Difícil mesmo é acreditar que a bela Helene Bergsholm seja entendida como “feiosa”, que é como as competitivas colegas de Alma a veem. Apesar dessa “falha”, estabelece-se uma boa química entre os atores, principalmente quando entra em cena Henriette Steenstrup, que vive a mãe de Alma. Quando “mãe” e “filha” estão em cena, há um envolvente mostruário do que há de mais belo e incompreensível no complexo universo feminino. São cenas para as mulheres se identificarem e os homens aprenderem.

Enxuto (não chega a uma hora e dez de duração) e com poucos diálogos, “Me Excita, Droga” é um filme sobre descobrir a própria identidade, e sobre como isso está indissociavelmente ligado ao lugar onde escolhemos viver e ao modo como vivenciamos ou não os atos sugeridos por nossa libido – um dilema fortíssimo na adolescência, mas inescapável ao longo da vida.

Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell

5 thoughts on “Cinema: “Me Excita, Droga”

  1. Fiquei curioso, o roteiro me lembrou de “Fucking amal” do Lukas Moodysson, outro grande filme sueco… Quero assistir esse.

  2. Fernando, infelizmente só encontrei pra baixar em torrent. Até onde pude apurar, nunca foi lançado comercialmente no Brasil.

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