10 (grandes) canções esquecidas de Lulu Santos

por Fernando Silva

Se há um artista brasileiro que pode ser considerado realmente pop é Lulu Santos. O cantor está prestes a lançar “Lulu Canta & Toca Roberto e Erasmo” (um álbum com covers da dupla) e construiu toda a carreira trafegando pelo estilo e se transformou em uma fábrica de hits.

Seja inspiradas em rock, samba, discoteca, música havaiana ou eletrônica, as composições do autor de “Como Uma Onda”, “Um Certo Alguém” e “Apenas Mais Uma de Amor” sempre chegaram aos ouvidos e pegaram os quadris do grande público. Mas várias de suas gemas pop também foram esquecidas ou passaram batidas durante as três décadas de estrada.

Assim, para comemorar o aniversário de Lulu, nada melhor do que fazer uma lista com 10 grandes canções suas que não alcançaram o reconhecimento popular. Um lado B do carioca que lançou até hoje 19 discos de inéditas, da estreia em “Tempos Modernos” (1982) até “Singular” (2009) – sem contar o álbum do Vimana, gravado em 1978 e nunca lançado.

Os critérios para elaborar a lista, naturalmente cheia de idiossincrasias, seriam simples: entrariam apenas músicas compostas ou gravadas em primeira mão por ele. Boas versões, como “Se Você Pensa”, de Roberto e Erasmo Carlos, e “Samba dos Animais”, de Jorge Mautner, portanto, ficariam de fora.

Para discordar completamente das escolhidas – listar significa também propor um debate – ou inspirar-se a montar uma coletânea, eis aí dez pérolas perdidas do jurado do “The Voice Brasil” apresentadas em ordem cronológica:

– “Tudo com Você”, de “Tempos Modernos” (1982) Ali, logo na segunda faixa de sua estreia e posicionada depois do megahit que seria “Tempos Modernos”, Luiz Mauricio Pragana dos Santos já diz a que veio. Direto, com uma canção de três minutos e cantando como se estivesse lendo uma carta em voz alta. A parceria com o compositor Fausto Nilo é um grande retrato do artista quando jovem.


– “Esse Brilho em Teu Olhar”, de “O Ritmo do Momento” (1983) “Essa canção quer você todo o tempo que eu perdi”, canta Lulu Santos, dando voz a meninos e meninas apaixonados. Baladaça pontuada por guitarra e teclado e preenchida com versos para abrir qualquer coração. Com direito a final falso e épicos contornos românticos, a faixa é um ponto alto (e esquecido) na primeira fase de sua carreira.


– “Lua-de-Mel”, de “Tudo Azul” (1984) Mesmo que você considere o casamento uma instituição falida, dê uma chance a essa ode ao paraíso perdido. O arranjo com um quê de Rita Lee fase “Baila Comigo” – não à toa, ela e o marido, Roberto de Carvalho, participaram do disco – nos transporta a cenários de água transparente, “bancos de areia” e “imensidão”. Gal Costa gostou tanto que regravou e intitulou seu disco de 1987 com o nome da canção, acrescentando o “Como o diabo gosta”.


– “De Repente”, de “Normal” (1985) Com refrão irresistível, essa é mais uma tabelinha de Lulu com o jornalista, escritor e letrista Nelson Motta. A dupla, que já havia emplacado sucessos como “Tudo Azul” e “Certas Coisas”, monta aqui uma equação na qual junta música pegajosa e filosofia sobre a passagem do tempo. Tão new wave que tem até solo de sax de Leo Gandelman para encerrá-la.


– “Satisfação”, de “Toda Forma de Amor” (1988) Pra começo de conversa, pegue uma velha teoria e a desfaça, fechando o refrão com uma recusa “a admitir que amar é sofrer”. Depois, vá direto ao ponto, criando uma canção e um riff cheios de ganchos. Por fim, escreva algo simples, sincero e humano. Pronto: o resultado é coisa fina, de um artesão do pop.


– “Honolulu (O Havaí é Lá)”, de “Honolulu” (1990) Essa delícia escapista resgata o tema praiano e a influência da música havaiana. O som da slide guitar e o “zen-surfismo” de Lulu Santos, porém, parecem não estar ali dessa vez apenas para lembrar que a vida poderia ser um verão sem fim. Os tempos do final de mandato de José Sarney e da posse de Fernando Collor na Presidência da República eram de recessão econômica, com inflação de mais de 70% em fevereiro e confisco monetário de contas correntes e poupanças no mês seguinte, e a realidade era dura (“Tô sem grana/Tá sem água/E tem uma pilha assim de prato sujo e contas pra pagar”).


– “O Que é Bom”, de “Assim Caminha a Humanidade” (1994) Uma das surpresas do disco que iniciou a trilogia produzida por Marcello Mansur, o Memê, nos anos 1990 (que seguiria com “Eu e Memê, Memê e Eu”, de 1995, e “Anti Ciclone Tropical”, de 1996. Os dois ainda trabalhariam juntos em “Bugalu”, de 2003). Escondida em meio à canções como a faixa-título, “Tudo Igual” e uma versão para “Hey Hey, My My (Into the Black)”, de Neil Young, ouvir a composição de Pedro Fortuna e Bernardo Vilhena é encontrar um pequeno tesouro. Programações eletrônicas e o suingue da guitarra de Lulu emolduram com balanço toda a sacanagem da letra: “vem pra cama e me faz o que é bom”, diz a moça da história.


– “Aquilo”, de “Calendário” (1999) Talvez a melhor do divertido último álbum lançado por ele na década de 1990, a faixa é exemplo de pop sem medo de ser feliz. Lulu reencontra Liminha – que havia assinado a produção de seus três primeiros discos – e revitaliza sua música para o novo século com as velhas crenças românticas. Se o amor “volta sempre a acontecer” é ainda melhor que seja doce como a melodia e otimista como o refrão dessa canção.


– “Todo Universo”, de “Programa” (2002) No clipe, o cantor experimenta os efeitos da gravidade espacial ao embarcar em um avião laboratório em Moscou, na Rússia. Na canção, ele cria imagens entre a espionagem e a ficção científica para falar de um relacionamento, tudo embalado por música imediatamente reconhecível (isso só pode ser Lulu Santos). Alta probabilidade de ser atraído pela melodia e sair cantarolando o refrão tão logo termine a faixa.


– “Melô do Amor”, de “Bugalu” (2003) Quando esse rhythm and blues estilo anos 1960 e 1970 começa, dá pra perceber que vem coisa boa, mas isso é mesmo Lulu Santos? Cadê a “voz sempre rouca”? Depois que o falsete vai, e a ficha cai, fica a reflexão, antes mesmo da proliferação de tantos acessórios virtuais, de que o bom é a presença da amada(o) ou ao menos “ouvir a tua voz”.


7 thoughts on “10 (grandes) canções esquecidas de Lulu Santos

  1. Que bacana essa materia, Lulu ‘e uma grande referencia mesmo! Tenho um projeto musical com bastante referência dele e queria convidar quem curte esse estilo, a dar uma escutada nesse meu projeto tb. Espero que curtam! Abracos e parabens! 😉

  2. “Sereia” foi um hit menor. Não sei se pode ser considerado um lado B por causa disso, mas… que canção excelente!

  3. Que lista bacana!!! E listas são sempre assim: faltam umas, não concordam com outras… mas eu adoro listas! Vou fazer uma playlist com elas!! Obrigado!

  4. Esse Brilho Em Seu Olhar e Lua de Mel não se encaixam muito bem na proposta. Forçando, mais fácil entrarem no lado A. Tem de fazer um lado C e D para pegar as realmente maravilhosas e desconhecidas.

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