5ª Festival Brasileiro de Cervejas

por Marcelo Costa

Blumenau é uma cidade alemã que, por um daqueles acasos de imigrantes, está situada no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, e não na Bavária, na Alemanha. Uma das ruas principais do centro antigo da cidade traz na placa de “Rua XV de Novembro (Antiga Wurststrasse)”, a arquitetura típica alemã é reproduzida em diversos prédios e casas da região (quando você acha que está diante de uma bela confeitaria, na verdade está em frente ao Palácio da Justiça), e o blumenauense tem até a sua Oktoberfest, a mais festejada fora da Alemanha.

Ou seja, cerveja é coisa séria aqui, o que não estranha a enorme quantidade de pessoas que se destinou ao Parque Vila Germânica, um complexo temático de 36mil m² que busca recriar uma vila alemã, durante quatro dias para conferir as últimas novidades no universo das micro cervejarias, setor que vem crescendo cada vez mais no país. A 5ª edição do Festival Brasileiro de Cerveja, que começou na quarta-feira, 20, e seguiu até o sábado, 24, recebeu o festejado número de 27.738 pessoas, um crescimento de 25% em relação ao ano anterior.

Focado no mercado micro cervejeiro, o Festival Brasileiro de Cerveja contabilizava cervejas de 13 países e mais de 500 rótulos divididos em mais de 80 estandes, a grande maioria da região de Santa Catarina e Curitiba, mais nomes de Belo Horizonte, de Porto Alegre e de São Paulo – além de restaurantes com mais de 40 pratos especiais para o evento, como hambúrgueres de pato e marreco, massas e risotos, pratos alemães, petiscos, saladas e sorvetes de cerveja, este último um dos grandes hits da festa (que, assim como muitas cervejas, esgotou sabores).

A 5ª edição do festival foi marcada por um desejo da organização em aproximar micro cervejeiros e fornecedores de produtos. Desta forma, estantes especializados em vendas de copos, bolachas para chopp, grãos, maquinário para produzir cerveja, xarope, entre outros, marcaram presença. Outras atividades marcaram o evento como uma série de debates e workshops como foco no mercado cervejeiro e o I Concurso Brasileiro das Cervejas, que premiou 31 cervejarias, destacando a mineira Wäls (foto abaixo) e a paranaense Bodebrown (veja aqui).

Cheguei a Blumenau na sexta-feira (terceiro dia do festival) de capa de frio e espaço na mala para levar cervejas para São Paulo. No roteiro pessoal ainda havia planos para uma ida a cidade vizinha Pomerode experimentar a badalada Schornstein, um passada no bar da fábrica da Eisenbahn e uma visita ao Museu da Cerveja. Os planos ficaram todos para a próxima visita, já que os dois dias de Festival Brasileiro da Cerveja (com a presença da Schornstein e da Eisenbahn) bastaram para lavar a alma cervejeira.

Na sexta-feira, assim que entrei no local do evento, decidi ir atrás daquela cerveja de Pomerode que vários amigos me indicaram. Abri os trabalhos com a otima Schornstein Pale Ale, estilo que os pomerodenses apresentavam em primeira mão na festa, acompanhada de batata fritas mais cheddar e bacon. Na sequencia decidi encarar outros três lançamentos: a ótima Way Avelã Porter (aroma sensacional) e as alcóolicas 4Blés e Double Perigosa (11,7% e 15,1% respectivamente). Gostei muito da versão porrada da Perigosa.

Pausa para um sorvete da Gelataio, sorveteria de Curitiba que decidiu caprichar numa edição de sorvetes artesanais alcoólicos especialmente para o festival. Minha primeira opção, o de Way Amburana Lager, estava esgotado (no dia seguinte ele estava presente, e não deixei passar: sensacional), então optei pelo Bodebrown Wee Heavy, simplesmente apaixonante a alcoolizante com a suavidade do creme combinando a perfeição com seus 8% de graduação alcoólica. Derrete e amortece a boca. Uma experiência que precisa ser repetida.

Com o nível alcoólico subindo, decidi não arriscar no desconhecido e fui de Bodebrown Black Rye Ipa, medalha de ouro no concurso do festival na categoria American-Style Black Ale, e uma das minhas cervejas prediletas da atualidade, que desceu suavemente, ainda mais sensacional na versão torneira. Para fechar (já que os braços acumulavam mais de 10 garrafas), outra Bodebrown: o lançamento Cacau IPA, direto da Kombipa, uma Kombi com várias torneiras de cervejas. Se é boa? Todos os barris e garrafas esgotaram no terceiro dia deixando os que foram apenas no sábado com água na boca. Garanti minha cota da melhor cerveja que provei no festival.

Para o sábado, cuja maratona deveria se estender (nos três primeiros dias do festival, o pavilhão abria às 19h e fechava à 1h, mas no sábado os portões estariam abertos desde às 15h), armei um plano: para provar mais cervejas, nada de copos de 400 ml (entre R$ 7 e R$ 10), e sim doses de 80 ml (entre R$ 2 e R$ 4), o que me permitiria aumentar o leque de cervejas sem ficar tão bêbado. Funcionou. No sábado experimentei mais de 20 rótulos, e o cidadão ainda conseguiu achar o caminho do hotel e acordar sem ressaca. Winner.

O serviço foi aberto com uma boa Belgian Golden Ale da Cervejaria Kiezem Ruw, da cidade catarinense de Guabiruba, seguida da deslumbrante Invicta Imperial Stout, que o pessoal de Ribeirão Preto lançava no festival (me arrependi de não ter trazido uma garrafa) – as quatro cervejas da Invicta foram premiadas no concurso. Estava bastante curioso pela Pagan IPA, de Curitiba. Gosto dos rótulos anteriores e esse novo, medalha de ouro na categoria English-Style India Pale Ale manteve a moral em alta.

Hora de arriscar: os amigos decidiram encarar uma Chaparrita, witbier com pimenta (também chamada de Chili Witbier) da Ogre Beer, cervejaria de Curitiba que carrega o lema “Só não harmoniza com frescura”. Gostei, e até ia trazer uma garrafa, mas esgotou. Acabei comprando uma Über Lager (Caldo de Bituca, a famosa cerveja defumada dos curitibanos, também havia esgotado) e, na sequencia, encarando a comentada (na festa) Pumpkim Ale da curitibana Bier Hoff,que vendia sua ótima abóbora como se fosse a primeira do país (o pessoal da Sauber, de Mogi Mirim, já faz uma ótima versão a bastante tempo).

No estande da Taberna, representante de Belo Horizonte cujo dono comanda o pub Celtic na capital mineira, experimentei uma boa Brown Ale e, no balcão da Insana, de Palmas, provei a premiada Insana Chocolat Porter, medalha de ouro Brown Porter. Em conversa de balcão eles garantiram que produzem o próprio lúpulo desafiando aqueles que dizem que o parente da cannabis não se dá bem em solo tropical. Falando em balcão, José Felipe Carneiro, o mestre cervejeiro da Wäls, sorria com seu estande tomado. “Está tudo ótimo, perfeito”, garantiu.

Duas gaúchas insanas pela frente – Bigfoot Russian Imperial Stout, da Seasons, e Coice, da Coruja – e chega a hora de encarar um dos sucessos da feira: a raquetada da Way Beer, um suporte com 10 doses de cerveja da casa curitibana incluindo títulos não engarrafados como uma excelente Wit Wine (uma witbier com chardonnay), uma Stout Corte do Cervejeiro (mais lupulada), uma Fruit Stout e uma equilibradíssima Porter Hoped além da Avelã Porter e títulos conhecidos como a Irish Red Ale, a Amburana Lager e a estupenda Double APA. Amém.

Acabou? Não. Uma dose de Bodebrown Black Rye IPA e uma passada no estande da provocante Morada Cia Etílica, com um cardápio que incluía diversas versões de melomel (hidromel com frutas), uma medalha de ouro no estilo American-Style Amber Lager (a bela Double Vienna), uma medalha de prata na categoria German-Style Kölsch (Morada Kölsch), e algumas deliciosas insanidades como a Morada Hop Arabica (doses generosas de café e lúpulo) e uma e Wheat Wine envelhecida em seis versões de madeira (!): fui de Balsamo e o meu amigo optou por Carvalho Francês – melhor. Eles ainda tem uma Saison de Uva…

O Festival Brasileiro da Cerveja ainda rendeu oportunidade de encontrar vários cervejeiros, como Murilo Foltran e Luiz Felipe Araújo, da DUM Cervejaria, responsáveis pela Petroleum (comercializada em parceria pela Wäls, embora a DUM continue sua produção caseira), que conheci na primeira brasagem da cerveja em Belo Horizonte. Murilo e Luiz Felipe estão com planos muito interessantes para a DUM Cervejaria, e vale muito ficar atento ao site dos curitibanos porque vem coisa boa por ai (e para poucos).

Na mala para São Paulo, três Colorado (Berthô, Ithaca e ICI 01), duas Bodebrown (Cacau IPA e De Bora Robust Porter), uma Way Avelã Porter, uma Backer Capitão Senra, uma Ogre Amber Lager e uma Zap Golden Ale, presente do cervejeiro caseiro de Joinville, Willian Petla. O saldo particular do Festival Brasileiro da Cerveja foi tão positivo quando o saldo do próprio evento. As datas de 2014 já estão confirmadas (12 a 15 de março), mas espero da próxima vez conferir as cervejas da festa e o roteiro de cervejarias da região. Ou, quem sabe, ir um pouco antes. Blumenau me aguarde: eu volto. Logo.

– Marcelo Costa (@screamyell) é jornalista, editor do Scream & Yell, sommelier de cervejas e assina o blog Calmantes com Champagne. Todas as fotos por Marcelo Costa (exceto as fotos 3, 5 e 10, reprodução do facebook do Festival Brasileiro da Cerveja).

Leia também:
– Top 200 Cervejas, ranking pessoal de Marcelo Costa (aqui)
Beer Experience SP 2011 (aqui) e Beer Experience 2012 (aqui), por Marcelo Costa (aqui)

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