Discografia: Alanis Morissette

por Renata Arruda

Ícone feminino em meados dos anos 90, Alanis Morissette começou sua carreira no Canadá quando ainda era uma adolescente. Estourou mundialmente em 1995 cantando sobre raiva e frustração em performances enérgicas, escoltada pelos longos cabelos que se tornaram sua marca registrada. Letras maduras para a sua idade e uma gaita tocada sem técnica alguma, fizeram com que Alanis fosse precocemente considerada uma espécie de “Bob Dylan da sua geração”. Mas a cantora não se sentia em paz com o sucesso (o disco que a apresentou ao mundo, “Jagged Little Pill”, vendeu 19 milhões apenas nos anos 90; hoje já alcançou a marca de 33 milhões de cópias vendidas) e antes que abandonasse a carreira e abrisse um bar, recrutou sua mãe e duas amigas para fazer uma viagem de auto-conhecimento, que incluiu Cuba e Índia no roteiro.

Desde então, Alanis parece ter dado às costas ao showbiz e procurado fazer o que queria, ora abandonando de vez sua gaita e arriscando sonoridades diferentes; ora assumindo a tarefa de compor e produzir sozinha suas músicas, buscando afastar de si mesma o fantasma de ser vista como “cantora fabricada por um produtor”. A premissa de fazer dos seus álbuns recortes de cada período da sua vida se mantém fiel desde a escolha dos títulos (geralmente pinçados dos versos de suas canções): todos dão a pista sobre os temas que iremos ouvir a cada novo lançamento. E, à exceção de breves momentos como o lançamento do seu “MTV Unplugged” no final de 1999, ou um single que eventualmente estoura nas rádios (como “Hands Clean”, em 2002) a cada lançamento, Alanis parece não conseguir conquistar o interesse de crítica e público, mantendo sua relevância apenas pelod feitos no início da carreira.

Esta discografia tenta jogar luz no trabalho muitas vezes deixado de lado da prolífica e premiada compositora, dona de mais de 150 composições conhecidas, espalhadas em dez álbuns, dezenas de colaborações e mais outra dezena de trabalhos diversos em 21 anos de uma carreira onde mais que reclamar de ex-namorados, Alanis escreveu pequenas crônicas sobre a ilusão da fama, feminismo, religião, sociedade, comportamento, família e depressão procurando não se envolver em polêmicas vazias e levantar bandeiras que não as sociais – pelo que foi homenageada com o prêmio Global Tolerance em 2001, dado pela ONU por sua “contribuição para a tolerância no mundo”.

Vale a pena mencionar também que seu relacionamento com o Brasil não podia ser melhor: tendo um dos seus maiores mercados por aqui, Alanis passou alguns anos sob contrato de exclusividade com a Rede Globo, que incluiu várias de suas músicas em novelas e contou inclusive com uma participação da cantora em “Celebridade”. Em 2009, Alanis, desembarcou por aqui para uma série de onze shows e sua passagem pelo Nordeste causou tanto barulho que ela chegou a comentar estar se sentindo de volta aos velhos tempos. Neste ano, Alanis escolheu o Brasil para iniciar sua turnê de lançamento do seu novo álbum, “Havoc and Bright Lights”, e vem declarando em várias entrevistas que o país é um dos seus lugares preferidos no mundo. Abaixo, Alanis, disco a disco.

Primeiros Anos: Alanis e Now Is The Time, 1991-92
Alanis tinha apenas 17 anos em 1991, quando lançou o seu primeiro disco no Canadá pelo selo MCA (que nos anos 60 atendia pelo nome de Decca, primeira gravadora dos Rolling Stones). “Alanis”, o álbum, rendeu um disco de platina à cantora (100 mil cópias vendidas) e um Juno Awards como Cantora Mais Promissora do Ano. Composto em parceria com Leslie Howe e puxado pelo single “Too Hot”, o álbum fez Alanis despontar no país como cantora adolescente de dance-pop, com direto a clipes cheios de dançarinos e coreografias no palco. No ano seguinte saiu “Now Is The Time” – disco de baladas que recebeu pouca atenção do público e fez com que a MCA não renovasse seu contrato. Aos 19, sem contrato e desiludida com os rumos da sua breve carreira, Alanis decide sair do Canadá e tentar a sorte nos Estados Unidos. Inspirada pelo tom confessional do álbum “Little Earthquakes”, de Tori Amos, escreve sobre seus próprios problemas e vai bater na porta do produtor Glen Ballard, que a ajuda a compor o seu álbum de estreia mundial.

Jagged Little Pill, 1995
Melhor e mais importante disco da carreira de Alanis, “Jagged Little Pill” demorou a ser aceito por uma gravadora sendo lançado sem grandes expectativas pelo então selo de Madonna (e braço da Warner), Maverick. Com a produção de Ballard, apostando no rock alternativo para as letras diretas de Alanis, o álbum alcançou o número 1 da Billboard durante várias semanas, conquistou quatro prêmios Grammy e entrou para o Guiness Book como o disco de estreia feminino mais vendido no mundo (hoje já ultrapassa a marca de 30 milhões de cópias) – apesar de não ter sido seu disco de estreia. No repertório, canções que funcionaram como catarse para a raiva reprimida de uma Alanis pós-adolescente frustrada com os rumos da própria vida. Tanta frustração levou o álbum a emplacar os cinco singles lançados (da rancorosa “You Oughta Know” – que conta com a participação de Flea no baixo e Dave Navarro na guitarra –, à balada romântica “Head Over Feet”; passando pelo otimismo de “You Learn” e “Hand in My Pocket” e o maior hit do CD, “Ironic”) e elevou Alanis ao título de rock star que influenciaria toda uma geração de cantoras que vão de Michelle Branch a Katy Perry (e gerou até clones como a eslovena Zuzana Smatanova). O sucesso obrigou Alanis a realizar uma extensa turnê de um ano meio ao redor do mundo e a cantora começou a sentir a pressão, chegando quase a cancelar alguns shows devido à estafa. Já no final da turnê, Alanis passou a apresentar algumas músicas novas que compunha na estrada, a maioria disponível apenas em bootlegs (como “A Year Like This One”, onde Alanis desabafa: “Depois de um ano como esse, estou surpresa por amar a música ainda do mesmo jeito”). Apesar de ter ficado conhecida pela “raiva contra ex-namorados”, no disco Alanis aborda também questões como chefes abusivos (“Right Through You”), pressões familiares (“Perfect”), fé católica (“Forgiven”) e depressão (“Mary Jane”). Há ainda uma faixa-bônus escondida (“Your House”), onde Alanis canta a capella.

Ouça: “Forgiven”, “Mary Jane”, “Head Over Feet”, “You Learn”,”You Oughta Know”, “Ironic”, “Hand in My Pocket”
Nota: 10

Supposed Former Infatuation Junkie, 1998
Em 1997 chegou às rádios “Uninvited”, música que faz parte da trilha do filme “Cidade dos Anjos” (“City of Angels”), primeira canção que Alanis arriscou compor sozinha (com produção assinada pela própria cantora em parceria com Rob Cavallo) e que lhe valeu dois prêmios Grammy. No mesmo ano, uma Alanis desiludida com a fama partiu como mochileira em uma viagem de duas semanas para Índia, aonde chegou a contrair uma virose séria que quase a matou e a inspirou a escrever “Thank U”, primeira música de trabalho do seu segundo álbum, “Supposed Former Infatuation Junkie”, um disco que abandona a crueza das guitarras de “Jagged Little Pill” para introduzir novos instrumentos: surgem os sintetizadores, as cordas, a flauta (“That I Would Be Good”) e uma presença maior da percussão. Considerado pela cantora como o seu “disco de foda-se”, “Supposed…” é um álbum de transição cujas dezoito faixas apontam para várias direções: do rock alternativo (“Joining You”) ao pop (“One”), passando pelo dance rock (“So Pure”) e o industrial (“Sympathetic Character”; “Would Not Come”). Como um álbum reflexivo, são longas letras, algumas escritas em fluxo de consciência (e é possível encontrar ecos da literatura beat – uma influência assumida – em canções como “Baba” ou no poema musicado “The Couch”), principalmente sobre a sua relação com a fama e com as questões familiares e amorosas não resolvidas durante a época em que alcançou o estrelato. Aqui, Alanis mantém a parceria com Glen Ballard, mas apresenta mais quatro composições inteiramente próprias (“Are You Still Mad?”; “Sympathetic Character”; “Heart of the House”; “Your Congratulations”) e também assina a co-produção. Mesmo vendendo menos que o anterior, “Supposed…” chegou a ser o segundo álbum feminino com a melhor estreia na Billboard, vendendo mais de 470 mil cópias na primeira semana e foi premiado em 2000 como Melhor Álbum no Juno Awards. No Brasil, fez grande sucesso com a balada “That I Would Be Good” presente na novela global “Suave Veneno”. Como parte da divulgação da turnê em 1999, o álbum foi relançado no Japão e Austrália incluindo como bônus a versão demo de “Uninvited”.

Ouça: “Joining You”, “So Pure”, “That I Would Be Good”, “Thank U”, “Baba”, “Sympathetic Character”, “One”
Nota: 9

Under Rug Swept, 2002
Pronto em 2001, “Under Rug Swept” sofreu alterações na data de lançamento devido a algumas divergências: de um lado, a gravadora estava insatisfeita com o tracklist original; Alanis, por sua vez, ameaçava deixar a Maverick caso o disco não tivesse “uma divulgação decente”. A faixa “Utopia” – uma espécie de “Imagine” da Alanis – foi liberada para as rádios no final do ano em resposta à reviravolta mundial que seguiu os atentados de 11 de Setembro, e o disco acabou sendo lançado no início de 2002. Alardeado como uma espécie de “volta às raízes” (e contando novamente com a colaboração de Flea em “Narcissus” e com a de Dean DeLeo na guitarra que abre o disco em “21 Things I Want In a Lover” e na enjoadinha “Precious Illusions”), o álbum apresenta um pop rock acima da média, mas pouco original, e o grande mérito está no esforço de Alanis em tê-lo composto e produzido completamente sozinha. Está presente no disco a bem-sucedida “Hands Clean”, que causou polêmica quando Alanis revelou se tratar sobre seu relacionamento aos 14 anos com um homem mais velho (acredita-se ser o produtor Leslie Howe), configurando em um caso de estupro estatutário. Mas longe de apontar os dedos, a compreensão é sentimento predominante no disco – caso da interessante “A Man”, onde assume um eu-lírico masculino para demonstrar solidariedade ao homem moderno – e traz algumas pequenas pérolas como a cativante “So Unsexy” ou a balada “Flinch” – mais uma a fazer sucesso no Brasil ao entrar para trilha de novela. Pelo feito, foi premiada como Produtora do Ano no Juno Awards de 2003.

Ouça: “Hands Clean”, “So Unsexy”, “A Man”, “Flinch”
Nota: 7

Feast on Scraps, 2002
Também em 2002, foi lançado o EP “Feast on Scraps” (em versão avulsa ou acompanhando o DVD de mesmo nome) com oito sobras de “Under Rug Swept” – incluindo as faixas cortadas do repertório original. “Feast on Scraps” curiosamente dialoga com o segundo álbum de Alanis, causando estranheza na primeira audição. Menos radiofônico e repleto de refrões barulhentos, o EP tem o mérito de conter algumas das melhores letras de Alanis em canções que ora são baladas doloridas sobre fim de relacionamento (a bela “Simple Together”), ora cutucam o feminismo (“Sister Blister”); havendo ainda espaço para comentar o rompimento com o Canadá no início da carreira (“Unprodigal Daughter”) e o medo de aproveitar a fama (“Fear of Bliss”) – estas duas contando também com a participação de Dean DeLeo na guitarra. É neste álbum que está presente a faixa “Offer” – enorme sucesso no Brasil na trilha da novela “Celebridade” e uma versão acústica de “Hands Clean”.

Ouça: “Sister Blister”, “Simple Together”, “Fear of Bliss”
Nota: 7

So-Called Chaos, 2004
Disposta a inaugurar um novo capítulo na sua vida, Alanis retorna com um álbum que retrata as mudanças na sua vida pessoal: felicidade pelo noivado com o ator Ryan Reynolds e o desejo de liberdade que fez com que chegasse a cortar as madeixas atrás das quais se escondeu durante 15 anos. Tal desejo é exposto na faixa-título (a mais interessante do disco), onde canta “Eu quero correr nua pelas ruas / Eu quero convidar esse dito caos que você acha que eu não ousaria” em contraste às nocivas amarras da vida moderna que dita nos versos. Produzido por Alanis e John Shanks, com produção adicional de Tim Thorney, “So-Called Chaos” é considerado o álbum mais fraco de sua carreira, e não cumpre a promessa do título: o que ouvimos são canções preguiçosas onde grande parte das músicas obedece a mesma estrutura clichê (início lento, refrão barulhento). Mesmo tentando um toque oriental com a inclusão de uma cítara em “Knees of My Bees” (música composta para Ryan), o álbum é insosso e esquecível – até mesmo para Alanis que praticamente o ignora nos shows. Apesar disso, com “So-Called Chaos” vimos Alanis protagonizar um momento marcante: o primeiro verso de “Everything” precisou ser alterado para tocar nas rádios americanas (trocando a palavra ‘asshole’ por ‘nightmare’), e a cantora apareceu no palco do Juno Awards com um macacão cor da pele mostrando seios e falsos pelos pubianos em protesto contra a hipocrisia da sociedade norte-americana que “censura letras de músicas mas não corpos nus na TV”. Dos raros momentos interessantes, “Eight Easy Steps” poderia ter se salvado com uma produção mais inspirada. O CD possui alguns bônus multimídia, como o making of das gravações, uma versão acústica da sonolenta “This Grudge”, um curta e dois vídeos ao vivo (“Excuses” e “Eight Easy Steps”). A versão nacional traz ainda a canção “Offer” como bônus.

Ouça: “So-Called Chaos”, “Eight Easy Steps”, “Everything”
Nota: 5

Flavors of Entanglement, 2008
Após o rompimento repentino do relacionamento com Reynolds, que levou a cantora à uma profunda depressão – fazendo com que engordasse vários quilos e mal conseguisse cantar no palco –, Alanis voltou com o CD que considerou ser seu “renascimento de fênix após atingir o fundo do poço”. O álbum surpreendeu crítica e fãs ao apostar em influências da música eletrônica, chegando a um resultado que dialoga com “Supposed…”. Para compor o disco, Alanis recrutou o produtor Guy Sigsworth e contou com a colaboração de Andy Page e Sean McGhee – este aparecendo também nos backing vocals, algo que Alanis não usava desde os primeiros anos da carreira. Além da música eletrônica, Alanis busca influências na música indiana como nas escalas utilizadas em “Citizen of The Planet”, rock que abre o disco e deixa um estranho ar de Evanescence – o que se repete na dark eletro-industrial “Versions of Violence”. Repleto de raiva e sofrimento, “Flavors of Entanglement” é assumidamente um álbum de fim de relacionamento (explicitado na constrangedora “Torch”, onde a cantora apresenta uma lista sobre o que sente falta no ex) e marca o início do período onde Alanis passa assumir a música como uma espécie de auto-ajuda: ao compartilhar seus sentimentos, estaria ajudando seus fãs com os deles; e ainda, como uma forma de discutir o macro através do micro – o single “Underneath” é um exemplo desta premissa. Os bons momentos ficam por conta da trip-hop “Moratorium”, da balada “Not As We”, onde expõe honestamente sua “ida ao fundo do poço”, e a melancólica “Tapes”, música que remete aos velhos tempos e poderia estar em qualquer um dos seus três primeiros álbuns. Ainda que a própria Alanis tenha admitido não ser seu melhor álbum, “Flavors of Entanglement” recebeu um Juno em 2009 como Melhor Álbum Pop do Ano e também ganhou uma versão dupla (importada) trazendo um CD bônus com cinco músicas inéditas, que vão de bobagens como “On The Tequila” à redonda “Orchid”.

Ouça: “Tapes”, “Not As We”, “Moratorium”, “Orchid”
Nota: 5,5

Havoc and Bright Lights, 2012
No mesmo ano em que terminou a turnê de “Flavors…”, Alanis não renovou seu contrato com a Maverick – definindo sua relação com a gravadora como “abusiva” e baseada em brigas. Sem gravadora, Alanis gravou suas novas canções em um estúdio provisório montado na sua casa e fechou parceria com o Collective Sounds para lançar seu novo álbum, “Havoc and Bright Lights” (cujo lançamento mundial está marcado para 22 de agosto, embora o disco esteja circulando ilegalmente pela internet desde o dia 31 de julho). Com lançamento no Brasil pelo selo Lab 344, “Havoc…” inicialmente foi gravado com Guy Sigsworth, depois retrabalhado com o produtor Joe Chicarelli e – entre a dark “Numb”, as baladas “Havoc” e “’Til You” e o pop inofensivo representado por “Empathy”, “Lens”, “Receive” e “Win and Win” – é um álbum que busca influências no pop rock dos anos 90, com Alanis escrevendo/cantando não apenas sobre o seu novo status de mãe e esposa, mas também sobre “o desafio, o vício, a recuperação e as dificuldades”. O disco abre com o rock de “Guardian”, primeira música de trabalho e logo em seguida vem “Woman Down”, que apesar do ritmo dançante toca em um tema espinhoso: “ser uma mulher alpha em meio ao patriarcado, misoginia e chovinismo; e como é ser uma mulher em 2012”. A pesada “Celebrity”, canção mais forte do álbum, faz uma crítica aos valores de Hollywood: fama, riqueza e juventude. “Havoc…” foi lançado em várias versões diferentes (todas disponíveis na Amazon): simples, duplas de CD+ CD ao vivo e CD+DVD ao vivo e CD premium com até três músicas extras (entre elas, “Jekyll and Hyde”, onde divide os vocais com seu marido, o rapper MC Souleye, e “Magical Child”, composta para seu filho), além de vinil. Há um pequeno avanço em relação aos álbuns anteriores, mas ainda longe de seus melhores momentos.

Ouça: “Celebrity”, “Woman Down”, “Numb”, “Guardian”
Nota: 6

Ao vivo
Oficialmente, Alanis possui apenas um álbum gravado ao vivo, o “MTV Unplugged”, gravado em meio à turnê do seu segundo álbum, em 1999. Grande sucesso no Brasil, o álbum veio puxado por “King of Pain”, cover para a música do The Police, e vem recheado com os seus maiores hits (ficando de fora apenas “Thank U” e “Hand in My Pocket”), um b-side (“These R The Thoughts”) e duas inéditas: a música que compôs para seu irmão gêmeo, “No Pressure Over Cappuccinos” – tocada também durante a turnê do “Jagged Little Pill” – e “Princes Familar”, sobra de “Suppossed Former Infatuation Junkie”. Uma edição especial do recente “Havoc and Bright Lights”, lançada apenas na Alemanha, vem acompanhada de um disco bônus com doze faixas gravadas ao vivo em Berlim neste ano (destaque para “Numb” e “Woman Down”). Entre os bootlegs, os recomendados são “Light My Fire” (1996), “Índia” (1999), “Modern Rock Live” (1999) e “Vancouver Sessions” (2004) (canções destes últimos foram lançadas como b-sides).

EP, edições especais e coletâneas
Com o sucesso instantâneo de “Jagged Little Pill”, a Warner resolveu lançar em 1995, somente para o público japonês, um EP acústico batizado de “Space Cakes”. O disquinho, que pode ser encontrado apenas no e-Bay, traz cinco canções do “Jagged Little Pill” em rústicas versões de voz, violão, percussão e gaita – e vale a pena somente para colecionadores. Em 2005, “Jagged Little Pill” completou dez anos e Alanis procurou novamente Glen Ballard para regravar todo o disco para uma edição acústica comemorativa. Bem produzido, “Jagged Little Pill Acoustic” transforma canções pesadas em baladas corretas e traz Alanis mais preocupada em atingir suas notas mais altas do que imprimir alma à sua interpretação. Os momentos interessantes ficam por conta da versão de “Not The Doctor” e da alteração na letra de “Ironic” (o verso “É como encontrar o homem dos seus sonhos e então conhecer sua bela esposa” agora para “(…) “seu belo marido”). Um box especial foi lançado, contendo o álbum original, o acústico e um documentário chamado “Diamond Wink: Honouring the ten years of Jagged Little Pill”. Em 2005, além da edição acústica de “Jagged Little Pill”, foi lançada também a coletânea “The Collection”, com músicas selecionadas pessoalmente por Alanis. Não tão óbvia, pode falhar como cartão de visitas para neófitos, por trazer em seu repertório várias músicas pouco conhecidas em detrimento das mais interessantes. Estão presentes nove dos seus singles (os obrigatórios do “Jagged Little Pill”, além de “Eight Easy Steps”; “Everything”, “Thank U” e “Hands Clean”), músicas que gravou para trilhas de filmes (“Still”, “Uninvited” e a versão para “Let’s Do It (Let’s Fall in Love)”, de Cole Porter), um cover de Seal (“Crazy”) e a curiosa “Mercy”, canção presente no projeto de Jonathan Elias, “The Prayer Cycle”, onde divide os vocais com Salif Keita. Uma edição limitada do álbum traz um DVD, com um documentário sobre a carreira de Alanis e, entre os extras, um raro vídeo ao vivo de “King of Intimidation”, música de 1996 encontrada apenas em bootlegs. Em 2004, a Maverick disponibilizou digitalmente o especial “iTunes Originals”, misto de entrevista e músicas em versões originais e outras exclusivas. Em 2012, a Warner colocou nas lojas a caixa “Original Album Series” com os cinco álbuns de estúdio relançados em formato cardsleeve (como mini-vinis).

B-sides e colaborações
Uma caixa de luxo batizada apenas de “The Singles Box” foi lançada em 1996 com os cinco singles de “Jagged Little Pill” e as nervosas versões ao vivo como b-sides. Pode ser encontrada somente no eBay e serve apenas como item para fãs. Preferindo versões ao vivo e acústicas, são apenas oito as músicas inéditas como b-sides e entre elas há pérolas como “Symptoms” e “Awakening Americans”, ambas reflexões sobre a sociedade americana pós 11 de Setembro. Circulam arquivos em torrent com extenso material além dos b-sides, como demos (incluindo suas primeiras gravações em 1985), versões ao vivo, músicas avulsas (como “Into a King”, gravada de presente para o marido), covers (destaque para a inusitada versão de “My Humps”, do Black Eyed Peas) e colaborações diversas; entre estas, “Spoon”, presente no álbum “Before These Crowded Streets”, da Dave Matthews Band e “Drift Away”, música do álbum “Vertical Man”, de Ringo Starr, onde divide os vocais com Starr e Tom Petty. Além das faixas presentes em “The Collection”, Alanis compôs mais algumas músicas para trilhas: “Wunderkind” (“As Crônicas de Nárnia”); “I Remain”, (“O Príncipe da Pérsia”), “Professional Torturer” (“Radio Free Albemuth”) e “Arrival” (para “What About Me?”, álbum integrante do projeto multimídia “1 Giant Leap”, de Jamie Catto e Duncan Bridgeman).

DVDs
A extensa turnê de “Jagged Little Pill” rendeu o DVD “Jagged Little Pill, Live”, documentário que intercala um show gravado em Nova Orleans, com depoimentos, bastidores e clips amadores com trechos dos diversos shows da turnê pelo mundo. O documentário ganhou um Grammy em 1997 por Melhor Vídeo Musical na categoria longa-metragem. Na Inglaterra, foi lançada uma edição especial acompanhada de CD bônus com quatro canções ao vivo. Foi relançado em 2010 por uma gravadora independente. Também em DVD estão os programas “Music in High Places” e “Storytellers”, ambos gravados na época de “Supposed Former Infatuation Junkie”. O primeiro acompanha a visita de Alanis à tribo indígena Navajo em 2000 e traz belíssimos vídeos de performances acústicas como “Uninvited” (tocada durante uma roda de fogueira com a tribo), “That I Would Be Good” e “Your House”, cantada a capella em meio ao Canyon de Chelly. Foi relançado no Brasil pelo selo Coqueiro Verde como parte da série “Gold Collections”. O segundo trata-se do programa da VH1, onde Alanis conta histórias por trás de músicas como, entre outras, “Unsent”, “Thank U” e “You Oughta Know”. Inclui também uma rara apresentação de “Still” e, nos extras, “Head Over Feet” e “Uninvited”, que não foram ao ar. “Under Rug Swept” foi lançado também como Áudio DVD, e além das músicas, traz um making of do álbum e galeria de fotos. “Feast On Scraps” possui o mesmo conceito do “Jagged Little Pill, Live”: acompanha o início da turnê de “Under Rug Swept”, intercalando um show gravado em Rotterdam, na Holanda, com outros vídeos da turnê e bastidores das gravações de “Under Rug Swept” e “Feast on Scraps”, EP que acompanha do DVD. Há ainda vídeos não-oficiais, lançados por gravadoras independentes: “Live in Tokyo”, gravado em 1999 (atualmente indisponível para compra) ; “Soundstage”, com o show gravado no programa da PBS em 2004 durante a turnê do “So-Called Chaos” e “Live At Carling Academy”, com um show da turnê de “Flavors of Entanglement gravado em Londres 2008, disponível apenas em Blu-ray. Os dois últimos foram lançados no Brasil no ano passado.

– Texto por Renata Arruda (@renata_arruda). jornalista e colaboradora do Scream & Yell, da empresa Teia Livre, da Revista Cultural Novitas e responsável pelo blog Escrevedora

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15 thoughts on “Discografia: Alanis Morissette

  1. Ótimo texto! Parabéns, Renata. Há muitos anos não lia um texto tão bom sobre a Alanis em português.
    Eu acho curioso como fãs da Alanis são críticos com o trabalho dela. Deve ser porque a cada lançamento ela tem que lidar com as comparações inevitáveis com o trabalho genial que ela fez na década de 90 e isso faz com que a gente não aceite CDs abaixo de excelente. Acho que você foi muito rigorosa com o 5,5 para o Flavor. Ele tem derrapadas feias como Gigling e On the tequila, mas eu ainda acho um dos melhores CDs pós término de um relacionamento que existem, e muitos artistas fizeram CDs nesse momento. É quase inevitável fazer um CD com músicas tão dolorosas e em nenhum momento escorregar pra breguice. Eu concordo que nos versos de Torch, por exemplo, que você citou, ela tende pra esse lado cafona, mas eu acho lindo o refrão dessa música.
    Acho interessante acrescentar que nas músicas que ela compôs pro filho em “Havoc…”, a Alanis como boa leitora de livros de psicologia / auto ajuda que é, sempre que fala do Ever (sua outer child) fala também sobre a criança que existe nela mesma (sua inner child). Isso acontece em Guardian (o refrão é pro Ever, os versos para a Alanis-criança) e em Magical Child.

  2. Obrigada pelos comentários. 🙂

    Mas eu não acho que o que Alanis fez em 90 seja “genial”. Acho que ela fez ótimas canções e que a qualidade foi decaindo com o passar do tempo.

    Dar nota é complicado (e injusto), e alguns acharam que eu fui “benevolente”, outros que fui “rigorosa”, mas este texto não pretende ser a verdade absoluta. Entendo o “Flavors” como um CD até abaixo da média, mas dei 5,5 levando em consideração algumas boas músicas que se pode pinçar dali e o risco que ela assumiu ao sair da sua zona de conforto (e, mesmo assim, tentei pensar menos nas intenções e mais nos resultados).

  3. Realmente um texto muito bom, bem desenvolvido. Indicado para fãs, e não fãs de Alanis Morissette. Agora, Renata, vc foi benevolente com a nota para o novo cd dela. 6 foi muito! O disco é a decepção do ano até agora. Melodias batidas, algumas melosas demais, realmente achei bem ruim o novo álbum.

  4. Gostei do teu “constrangedora Torch”. Se eu pensei como você… não sei, mas aqui não acho constrangedor só o fato de ser uma melodia irritante e sim o quanto ela se posiciona como um “pano de chão” na música… e isso me levou a pensar em “- E quem nunca?”

    É tão bom ler um texto de alguém que conhece realmente o artista. Eu, assim como você, acho injusto dar notas.
    Particularmente, acho curioso ou ainda coincidente que ela escreva sobre coisas que estou preocupado no momento, seja sobre a minha relação com as pessoas ou com o mundo.
    Lembro de achar o FOE estranho no início, mas depois de saber ‘the story behind’, achei muito criativo fazer um álbum inteiro sobre as sensações de um rompimento (indesejado por ela). Agora valeu lembrar as ótimas baladas “Orchid” e “Madness” do Deluxe Edition.

    Sobre o Havoc And Bright Lights, ainda estou desfrutando. Tomei um susto com Woman Down em estúdio e tive uma reação muito parecida de quando ouvi “So Pure” em 98. (Supposed: nota 9 e So Pure sugerida para escutar … )
    Mas não, não concordo que seja um álbum ruim como alguns comentários que li.
    Veio na hora certa as terapêuticas “Numb”, “Spiral’ e “Receive”, ao menos pra mim.

    Vamos lá … não dá pra esperar algo mais “orgânico’ da Alanis, pois isso ela fez somente com a Sexual Chocolate há 17 anos atrás! Até mesmo o JLP é cheio de efeitos, mixagens e sobreposições vocais …

    Voltando ao texto, parabéns por escrever tão bem e “sorry” pelos meus erros… to naquele ponto de “acabar logo e ir dormir”…. hahaha.

  5. Assisti, pela primeira vez, a uma atuação de Alanis Morissette, durante o Rock In Rio Lisboa de 2008. Agradou-me a sua postura de palco enérgica cool e simpática, mas senti que os temas do disco “Flavors of Entanglement”, à época o novo disco da cantora canadense, ficavam uns furos abaixo de trabalhos anteriores. Mais do que isso, deixei de acompanhar Alanis por alturas de “Under Rug Swept” e sinto que esse sentimento se alargou a grande parte do seu público. Tudo porque ela construiu uma imagem de rebelião pós-teenager de que “Jagged Little Pill” foi o grande catalizador e a pegada honesta de “Supposed Former Infatuation Junkie” ainda conseguiu merecer o aplauso de muitos seguidores. A razão pela qual a sua carreira não decola, atualmente, está muito associada a um espírito peacenik que envolve as mais recentes produções discográficas, chocando com o modelo inicial. De qualquer modo, parabéns pela excelente matéria.

  6. Li de novo e achei ainda melhor. A parte das notas é confusa pq não existe unaminidade com nada…e se existisse, seria muito ruim. Eu realmente detesto o FOE e daria menos ainda, mas cada um é cada um! Tirando isso, meus parabéns mais uma vez!! Lendo sobre toda essa discografia gigantesca, fico triste em pensar que uns 60% da obra da Alanis não é sequer conhecida do grande público. Mesmo com altos e baixos visíveis, todos os cds e “eras” dela têm coisas muito relevantes! Destaco algumas do Deluxe do FOE, o FOS quase todo e umas três do SCC… (tô considerando que o URS ainda teve moderado sucesso!)

  7. Alanis é uma grande cantora e “Jagged Little Pill” é uma obra-prima de todos os tempos. Estamos recebendo uma artista influente e dona de um repertório clássico.

    Tenhamos educação, respeito e postura digna, portanto.

  8. Sou fã da Alanis, JLP é um disco maravilhoso, com certeza, mas fiquei decepcionado com o novo álbum dela. Acho que nossos artistas preferidos não acertam sempre. Acontece.

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