Nação Zumbi, Joey Ramone, Dr John

por Leonardo Vinhas

“Ao Vivo No Recife”, Nação Zumbi (Deck)
Depois de cinco anos de ausência discográfica, era de se esperar que a Nação Zumbi viesse com um novo álbum de estúdio. Porém, a banda entrega um disco ao vivo gravado em 2009. Se por preguiça ou falta de criatividade, pouco importa: as duas possibilidades incomodam quando se fala de uma banda que já foi uma das mais inovadoras do país. É inevitável a sensação de fim de festa. Nem a tal “canção inédita” é nova de fato: “Cordão de Ouro” havia sido registrada (em versão inferior, vale dizer) para a trilha sonora do filme “Besouro”. Mesmo jogando em casa, falta empolgação à banda, que aposta num repertório supostamente mais psicodélico, que termina enfraquecido na execução final. Das obrigatórias participações especiais, só Siba e a Fuloresta entregam energia e novidade. Os demais – Fred 04, Arnaldo Antunes, Paralamas do Sucesso – não fazem diferença. Pelo visto, os integrantes da banda estão mais preocupados em brincar de ser cool em projetos como Almaz e 3namassa do que levar a Nação adiante. Pena.

Preço em média: R$ 24 (nacional)
Nota: 5

“…Ya Know?”, Joey Ramone (BMG)
Álbuns póstumos tendem a ser uma lembrança para ser ouvida com condescendência, e raras vezes trazem material que vai além da mera curiosidade de fã. Este disco lançado dez anos após a morte do vocalista dos Ramones não é uma exceção completa, já que traz umas farofadas desnecessárias e algumas faixas anódinas. Porém, pescam-se pérolas aqui e ali, como o bubblegum “What Did I Do to Deserve You?”, a T. Rexiana demo de “Life’s A Gas” e o folk (pois é!) “Waiting for That Railroad”. Mas nada supera “Make Me Tremble”, uma balada psicodélica que deveria ter entrado em “Mondo Bizarro”, mas inexplicavelmente foi excluída do repertório do disco. Fica a constatação que, se Joey tivesse tido a chance de gravar um disco de soul e pop sessentista, como sempre quis, teríamos hoje um clássico indelével. Ficam apenas os fundamentos do sonho. Já é alguma coisa.

Preço em média: R$ 60 (importado)
Nota: 6

“Locked Down”, Dr. John (Nonesuch)
Se você nunca ouviu falar de Dr. John, agora você tem no hype a desculpa perfeita. Seu novo disco, “Locked Down”, é produzido por Dan Auerbach, dos Black Keys, e o diálogo musical entre os dois é uma beleza: fica evidente o quanto os Keys beberam na fonte de Dr. John, e o quanto este se beneficia da produção de um fã respeitoso, mas não reverencial. O resultado é uma sonzeira fortíssima, uma roupagem envenenada para o swing que Malcolm John Rebennack Jr. desenvolve com raro encanto há mais de 40 anos. Os fãs puristas de Dr. John podem reclamar, mas… como é possível falar de purismo quando se trata de alguém que nunca viu limites para sua música? Funk, gospel, vudu, rock, blues, está tudo aqui, tudo junto e nunca uniforme. A melhor faixa: todas.

Preço em média: R$ 60 (importado)
Nota: 9

Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yel

15 thoughts on “Nação Zumbi, Joey Ramone, Dr John

  1. Quanto a Nação Zumbi o escriba aí está bem equivocado.
    O disco em questão é de um show gravado pra virar DVD – comprem que ficou muito do bom – e que demorou esse tanto por falta de grana pra finalizar.
    A banda já tem um disco inteiramente pronto – só faltando a mixagem e remasterização. Mas novamente a falta de grana(shows) vai fazer a bolachinha esperar dentro do pacote mais um tempo.
    – A Nação anunciou no começo desse mês que entra em recesso de shows(não estava havendo demanda) para tratar, segundo eles, de projetos pessoais e do dito cujo a ser lançado. Estão dizendo por aí que 3 dos zumbis(Lúcio, Dengue e Pupillo) vão ganhar uma graninha acompanhando a neo caída Marisa Monte em sua nova turnê –
    Quanto ao repértório, só uma banda com os culhões bem roxo(bem mais que do safado do Collor) é capaz de na frente de 60 mil pessoas não tocar seus maiores hits – pois esses já estavam no primeiro DVD deles de 2004.
    Ahh, o lado B da Nãção, se brincar, é até melhor que o primeiro.
    Não sei se a banda um dia volta, tomara que sim, só sei que a carreira discográfica dos caras é ilibada e o Leonardo não sabe o que fala.
    Foi pra rimar, cara. 🙂

  2. nunca entenderei o hype da nação zumbi: o vocalista canta mal e as músicas são ruins. O guitarrista é bom, mas ele sozinho não consegue segurar tudo. uma das coisas que a critica idolatra que eu não entendo.

  3. Gabo, eles tem coisas muito fodas, mas como disse pro Bruno Capelas uma vez, o negócio é vê-los ao vivo, dai a ficha cai (um show em especial, no Tim Festival, foi histórico). Mas ainda assim, em estúdio, há várias coisas boas. Vale dar uma segunda chance. Abraço

  4. Como o Mac disse, a Nação tem muita coisa boa em estúdio e o bicho pega ao vivo. Exatamente por isso esse último, tão sem energia, é decepcionante – ainda mais porque o antecessor, Fome de Tudo, é – na minha modesta opinião – o melhor disco da Nação sem Chico Science.
    O espaço dessa seção não me deixou falar do “Propagando”, que já tinha os hits e era um ótimo documento do gás da Nação Zumbi ao vivo. Outra razão pela qual era possível esperar mais desse disco.
    E as informações que o Zé Henrique cita, se confirmadas, só atestam que a banda vem passando por um período de baixa, tanto comercial como criativamente. Não à toa que falta ânimo aos caras.

  5. Criativamente não, Leonardo. Como falei acima o disco novo está pronto e das três ou quatro músicas novas que ouvi, algumas só um pedaço, me parece coisa bem boa.
    Pela escolha do Fome de Tudo(pra mim o menos bom da banda) e pela aparente estima pela energia da banda, que eu também tenho, vc me parece ser daqueles que confundem a Nação com uma mera banda de rock.
    Pra mim o principal da banda, além da energia, são os grooves. Daí que acho o Futura mais instigante que o Fome de Tudo, por exemplo.

    PS: Não acho, mesmo, que esse novo DVD deva em termos de gás nada ao de 2004.
    Agora, o primeiro foi em um espaço fechado para 2.000 pessoas e o outro em uma praça púbica para 60.000. São coisas bem diferentes.
    Vc viu o DVD ou só ouviu disco, Leonardo?

  6. Tenho os dois, Zé Henrique, e a edição/direção clichês do vídeo me bodearam um pouco, apesar de eu ter gostado do documentário. Você está correto em sua observação: gosto mais dos discos que tem uma energia mais bruta e um formato mais “rock”, de fato, mas o que me encanta no Fome de Tudo são canções menos óbvias, como “Nascedouro” (pra mim, uma das melhores da banda, e decididamente uma prova de que a Nação não pode ser definida apenas como banda de rock) e “No Olimpo”, Mas o que mais me desagradou nesse disco foi a falta de gás (que você não viu, e ok, porque isso é bem subjetivo mesmo) – ainda mais porque, tocando pra 60 mil pessoas, era de se esperar uma coisa arrasa-quarteirão. Já vi vários shows da Nação Zumbi, alguns totalmente hipnóticos e outros que eram pura pancadaria, e gostei muito de todos. Infelizmente, encontrei pouco das coisas que me agradam nesse último disco. E achei as participações pífias, mesmo: basta comparar o que os Paralamas fizeram com “Manguetown” em seu acústico, ou todas as versões que ouvi ao vivo com a Nação, para ver o quanto a desse disco é desencontrada. E isso vale para as presenças de Arnaldo Antunes e Zeroquatro também.
    Mas até aqui, estamos lidando com opiniões, e acho que isso é o legal de escrever num espaço como o S&Y. Você apresentou argumentos que se opõem À minha resenha, e são todos argumentos válidos. Como eu queria que todas as discussões aqui nos comments fossem desse nível!

  7. Então, Leo, eu estava lá e o show foi bastante problemático, cara!
    Teve inúmeros perrengues.
    Desde problemas com a mesa de som a insatisfação da grande maioria do público com a ausência dos principais hits – Meu Maracatu Pesa uma Tonelada, Da Lama ao Caos, Quando a Maré Encher..
    As críticas do dia seguinte foram pesadas e por muito tempo achei que esse DVD nunca sairia.
    Por isso dou vivas a esse DVD. A edição ao invés de vilã é na verdade herói.
    Quanto as participações, só achei fraca a dos Paralamas. Mas aí vale mais a simbologia da coisa – como aliás todas as outras participações foram simbólicas.
    O Paralamas e a Nação, desde a época de Science, são bandas afins. Tanto na questão musical quanto pessoal.
    Ahh, tb gostei do documentário. Ficou bem amarrada a edição de som com imagens contendo bastante informação.

    PS: Do Fome de Tudo a grande pérola que acho é: Toda Surdez será Casrtigada

    Abraço.

  8. esse dr john novo tá lindo demais, mesmo.
    você já viu ou tá vendo TREME? é do produtor de the wire, sobre new orleans pós-katrina.
    corra atrás urgentemente, que cê vai pirar nela.

  9. A pergunta é meio dúbia, Fernando.
    Vou dar as duas respostas pela qual ela pode ser interpretada.
    Que o disco tá gravado é público e notório. Eles gravaram em junho/julho do ano passado.
    Inclusive postaram vários pequenos vídeos no youtube com o nome de Fita Demo I, Fita Demo II, Fita Demo III, Fita Demo IV… Saca:
    http://www.youtube.com/watch?v=xQ9_HbGf0BM
    Já se perguntou sobre as músicas… Bem, eles andaram tocando em shows as novas “Cicatriz ” e “Foi de Amor” cujo nome parece na verdade ser “Temporal”.
    Aliás, bem melhor.
    Saca:
    http://www.youtube.com/watch?v=cbvbHfH9NcY

    “Foi de amor, droga mais que letal.
    Quando não mata, aleja. Faz esse temporal”

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