Cinema: Jovens Adultos, Jason Reitman

por Adriano Costa

Mavis Gary conseguiu uma vida confortável aos 37 anos, bem superior a que a maioria dos habitantes da sua cidade natal, Mercury, no estado de Minnesota, poderia almejar. Tem um bom apartamento em uma metrópole, é escritora e trabalha com uma famosa série de livros. Tudo parece mais ou menos como sucesso, que se não pode ser considerado algo espetacular, é no mínimo uma baita realização. Porém, a sua casa tem alicerces bem frágeis e quebradiços.

Em cima da personagem que a bela Charlize Theron interpreta com muita habilidade é que o diretor canadense Jason Reitman (de “Obrigado por Fumar”, “Juno” e “Amor sem Escalas”) edifica o seu novo trabalho. Nele, Reitman retoma a parceria com a roteirista Diablo Cody, apresentada em “Juno” (2007), e dá mais um passo em direção a uma carreira cinematográfica permeada com relevância e excelência. “Jovens Adultos” é mais um ótimo exemplo desse potencial do diretor e carrega o espectador em um interessante jogo.

Ao contrário do que o primeiro parágrafo tenta descrever, a protagonista não tem realmente a vida perfeita que imagina. Enquanto o roteiro desenha o filme na tela, o espectador percebe que, apesar de ainda manter a beleza intacta (porém, ajudada por truques diversos), Mavis não tem muito mais com o que se orgulhar. Está divorciada, suas relações são instantâneas e superficiais e na série de livros que escreve é como se fosse uma ghost writer, apesar de citada como colaboradora internamente. E até essa série já está em declínio.

Quando chega um e-mail a convidando para ir ao batizado da filha do ex-namorado em sua cidade natal, aquilo acaba mexendo muito com ela e rende uma cena memorável em uma conversa ridícula e falsa com uma amiga. Ela se manda novamente para Mercury depois de tantos anos em busca de reatar o namoro (com um cara casado e com uma filha) e, dessa maneira, na sua infeliz concepção, recolocar a felicidade de novo no caminho. Mais que uma busca, esse desejo tem um esboço de afirmação.

O diretor Jason Reitman já havia explorado a solidão disfarçada com empregos e relações ligeiras no ótimo “Amor Sem Escalas” (2010), como também a questão da maturidade no já citado “Juno”. Aqui, ele retorna a esses temas, mas inverte o prisma do crescimento, pois já não é uma jovem que precisa amadurecer e lidar com um mundo de responsabilidades e sim o contrário, uma adulta que não consegue estabelecer relações e se mistura cada vez mais com os livros que escreve para adolescentes.

Na procura em reatar o antigo romance com Buddy Slade (Patrick Wilson), Mavis Gary esbarra em Matt Freehauf (o competente Patton Oswald), um gordinho que tem problemas de locomoção por conta de uma agressão sofrida de modo irracional ainda no colégio e detentor de uma antiga devoção por ela. Não obstante é com esse cara que remonta bonecos de brinquedo e faz bebida no porão, que ela consegue ter alguns momentos de alívio na sua fantasiosa cruzada.

“Jovens Adultos” é acompanhado por uma trilha sonora para lá de eficiente (que ostenta Lemonheads e Replacementes pelo meio) transformando “The Concept”, do Teenage Fanclub, em coadjuvante, o que rende ótimos momentos. Jason Reitman entra de cabeça no universo da sua própria geração para questionar ambição e crescimento, fazendo isso de maneira criativa e cômica dentro da carga de drama que está automaticamente inerente. E assim, sem contos de fadas ou redenções, faz mais um belo filme.

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– Adriano Mello Costa (siga @coisapop) assina o blog de cultura Coisa Pop

Leia também:
– Juno: precocemente madura e exageradamente espirituosa, por Marcelo Costa (aqui)
– Amor sem Escalas: cinema para adolescentes entenderem errado, por Marcel Plasse (aqui

3 thoughts on “Cinema: Jovens Adultos, Jason Reitman

  1. Jovens Adultos é bem interessante. É difícil ver um filme sobre esta geração em seus 30 e poucos que critique sua auto-indulgência e superficialidade e que mostre a cultura (infantilizadora) do high school de maneira não-nostálgica – e a Charlize Theron nunca esteve tão bem e tão destemida em um papel.

    Quanto ao diretor, ele está mais para um sub Todd Solondz que para um sub Wes Anderson. Enganou geral. Mas ainda é sub.

  2. A história soa desinteressante, mas todos os filmes do Reitman têm, no mínimo, diálogos excelentes. Isso torna qualquer enredo bastante proveitoso. Ótimo texto!

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