Entrevista: Qinho

por Marcos Paulino

Ao contrário da esmagadora maioria dos novos artistas nos últimos anos, o carioca Marcos Coutinho, o Qinho, de 27 anos, não apareceu na internet. Aliás, nem site oficial ele tem. Tampouco consta na Wikipédia um verbete com seu nome.

Ele prefere divulgar seu trabalho participando de uma série de projetos paralelos à sua carreira solo. Talvez por isso sua fama demore a ultrapassar as fronteiras do Rio de Janeiro. Até porque seu estilo, calcado basicamente na MPB, não costuma ter muito espaço em rádios e TVs.

Porém, remando contra a maré, Qinho acaba de lançar seu segundo disco, “O Tempo Soa”, que traz participações de Elba Ramalho e Mart’nália, entre outros. Este álbum surge três anos depois do primeiro, “Canduras”, quando ele ganhou fama de queridinho da nova MPB. E cinco após sua primeira incursão fonográfica, ainda com a banda Vulgo Qinho & Os Cara.

Além do CD, o conteúdo do trabalho também pode ser encontrado em várias versões digitais: ringtone, truetone, fulltrack, ringback tone e streaming (ouça o álbum aqui). Sobre o novo disco, Qinho conversou com o PLUG, parceiro do Scream & Yell.

Entre seu primeiro e este segundo disco solo, foram três anos em que você se dedicou a participar de CDs dos outros. Como foi esse período?
Foi um período de muitos encontros. Depois que a banda acabou, fiz o “Canduras”, que é um disco mais centrado na minha voz e no meu violão. Então precisei dar uma reciclada pra encontrar a galera com quem eu queria trabalhar no novo disco. Nesse meio tempo, desenvolvi o projeto BléQinho, em que recebi no palco Jards Macalé, Luiz Melodia, Mart-’nália e outras pessoas consagradas. Também sou o organizador do Jazz na Rua, um festival de novas bandas no Rio, que está na terceira edição, levando shows gratuitos para a rua. Também fiz projetos paralelos com amigos, e tudo isso foi um processo de amadurecimento pro novo disco.

Falando em amadurecimento, você, que surgiu como o queridinho da MPB carioca, percebe mudanças na sua carreira?
Não sou de família de músicos, não tive apadrinhamento no início da carreira, ninguém tinha ouvido falar de mim, então era um estranho fazendo música. Então fui fazendo muitos trabalhos com muitas pessoas. Daí veio essa coisa de queridinho, porque é muita gente com quem converso, trabalho. No “Canduras”, explorei a coisa mais romântica, os temas de amor. O disco da banda já foi mais político, falou dos problemas da cidade. O novo fala do tempo, das coisas passadas, dos encontros. Foram essas fases: o olhar crítico sobre a cidade, o olhar mais afetivo sobre o outro e o mais abrangente, do tempo atuando sobre nossas vidas.

O tipo de música que você faz dificulta a divulgação do seu trabalho, sobretudo entre os jovens?
Não acho que dificulte, mas é difícil se consolidar com um trabalho autoral, original, muito próprio. No Rio, existe uma cultura mais de entretenimento, aqueles projetos em que você toca músicas de outros autores, bailes, esses são infalíveis, bombam. Mas aí é aquela coisa do tempo, de ir quebrando barreiras, de as pessoas irem se aproximando, entendendo seu som. Hoje já tem uma juventude mais interessada numa MPB mais sofisticada, num som autoral.

E esse som tem espaço na mídia?
Na grande mídia é sempre difícil, porque ela é muito fechada no que é extremamente comercial. Mas é um trabalho de formiguinha, que no final das contas acaba dando resultado. Não é um progresso a olhos vistos, mas é um trabalho que tem um público consolidado, disposto a te seguir e a pres-tigiar seu show. E aos poucos a gente vai conseguindo entrar numa midiazinha ou outra, tivemos vídeo na MTV e agora, com este disco, estamos tentando chegar um pouquinho mais longe.

Você não tem site oficial, não está na Wikipedia, enfim, parece que não aproveita muito a internet, que é o espaço onde as novas gerações têm divulgado seus trabalhos. Você não pensa em explorar melhor a rede?
Ah, sim. Você até me deu boas ideias. Mas tem muito vídeo, muita música, muito conteúdo na internet. Sobre o site, foi uma opção achar que ainda não é preciso. Mas tem perfil no MySpace, tem YouTube, no Oi Música, muita coisa mais fragmentada. A internet sem dúvida é uma ferramenta importante, mas é preciso aliar com a grande mídia. No Rio, algumas rádios estão tocando as músicas. É ilusão achar que a internet salva tudo. Ajuda a espalhar a notícia, mas é preciso essa mistura de mídias.

O novo disco foi lançado, além do formato CD, em várias plataformas digitais. Você acha que esse é o caminho hoje?
Com certeza. Essa é uma das maiores ferramentas de divulgação que a gente tem, mais até que qualquer tipo de site. Essas mídias disponibilizam o conteúdo integral pras pessoas ouvirem, onde quer que elas estejam. Isso é uma catapulta pro trabalho. Não dá pra limitar a quem compra na loja.

Você teve algumas participações de peso no CD. Como foi a escolha delas?
Com a Mart’nália, tenho uma relação um pouco mais longa. Ela participou do BléQinho e a gente se conheceu melhor. A Elba foi uma surpresa, uma sorte. Tem uma música do Gonzaquinha, que descobri num disco do Gonzagão e que eu cantava nos shows e percebia que ninguém conhecia. Então me senti impelido a gravar pra não deixar essa música cair no esquecimento. Quando pensamos em quem podia gravá-la com a gente, surgiu o nome da Elba, que teve uma relação longa com o Gonzagão e é parceira de geração do Gonzaguinha. Apresentamos a música pra ela, que topou, e foi ótimo.

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Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira

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