CDs: Paul, Ray Charles e Howlin’ Wolf

por Adriano Costa

“Kisses On The Bottom”, Paul McCartney (Universal)
Há tempos que o ex-beatle queria fazer um álbum inspirado nas décadas de 20, 30 e 40 e agora resolveu tirar o projeto do papel. Para tanto convocou o experiente produtor Tommy LiPuma (Miles Davis) e convidou Diana Krall, que não somente foi tocar piano nas faixas como levou seus músicos. O resultado é um disco bem tocado e acabado, com o jazz como direção principal (e quase única) e Paul cantando de maneira suave e delicada, adequando bem a voz. Após a tríade de registros que colocou novamente qualidade na sua produção atual (“Driving Rain”, 2001; “Chaos and Creation in The Backyard”, 2005; e “Memory Almost Full”, 2007), o velho Macca optou por fazer um trabalho para si mesmo. Porém, por mais que se veja esforço e dedicação, o resultado apenas bonito não transmite aquela vontade de se ouvir novamente. Ele reconstrói canções como “Home (When Shadows Fall)”, gravada por Nat King Cole e Sam Cooke, “Bye Bye Blackbird”, que constava no arsenal de Frank Sinatra, e “Always”, composta por Irving Berlin em 1925, e que já ganhou versões de nomes como Ella Fitzgerald, mas são duas novas músicas o melhor que o álbum oferece: a bela e romântica “My Valentine” se enriquece com a guitarra de Eric Clapton e em “Only Our Hearts” é a vez de Stevie Wonder abrilhantar o resultado final. Casos raros em um trabalho que não consegue emocionar.

Preço em média: R$ 30 (nacional)
Nota: 6

Leia também:
– Discografia comentada: Paul McCartney por Wilson Farina (aqui)

“Modern Sounds In Country And Western Music”, Ray Charles (Rhino)
O último disco de Ray Charles pela Atlantic Records havia sido “The Genius After Hours”, lançado em 1961. No ano seguinte, já de casa nova (ABC-Paramount), Brother Ray concebia “Modern Sounds In Country And Western Music”, um dos seus melhores álbuns, um trabalho que trazia releituras soul e R&B para canções country e folk de autores como Hank Williams e Don Gibson. Com um arranjo de cordas bem dosado permeando todo o registro, a escolha se mostrou correta. Desde o começo, com o coro maravilhoso de “Bye, Bye Love”, hit com os Everly Brothers anos antes, até o encerramento com uma “Hey, Good Lookin’”, de Hank Williams, completamente bêbada de suingue, o músico mostrava uma qualidade excepcional. Sucesso de público e várias semanas em 1º lugar na parada norte-americana, “Modern Sounds In Country And Western Music” ainda trazia toques de jazz em “Half As Much”, de Curley Williams, a tradicional “Carelles Love” (apoiada em uma big band) e o esplendor sentimental de “I Can´t Stop Loving You”, de Don Gibson. Em 1988, a Rhino relançou o álbum pela primeira vez em CD acrescentando três belas faixas bônus da época da ABC-Paramount, entre elas “You Are My Sunshine”.

Preço em média: R$ 45 (importado)
Nota: 10

Leia também:
– Com “Ray”, Ray Charles recebe uma justíssima homenagem, por Mac (aqui)

“Howlin’ Wolf”, Howlin’ Wolf (Chess Records)
Apenas um disco completo de Charles Arthur Burnett, mais conhecido como Howlin’ Wolf, já tinha nascido antes desse trabalho de 1962, depois de mais de 50 anos tocando onde tivesse oportunidade. O álbum homônimo de 1962 (também conhecido posteriormente como “The Rockin’ Chair Album”) era uma reunião de seis singles (lado a e lado b) lançados pela Chess Records entre 1960 e 1962, gravados de modo sensacional por músicos que se revezavam nos estúdios da Chess para cada sessão. Não a toa, são seis singles (ou seja, seis sessões) e seis bateristas diferentes, seis guitarristas (fora Wolf), cinco pianistas e Willie Dixon e Buddy Guy se revezando no baixo. Willie Dixon, aliás, é o compositor de nove das doze canções, que na voz, guitarra e harmônica de Howlin’ Wolf auferiram um poder especial, como se pode ouvir na dramática “The Red Rooster”, no pop invocado de “Howlin’ For My Baby’”, a clássica “Back Door Man” (que o Doors regravaria em sua estreia) ou na estupenda e (hoje) clássica “Spoonful”, entrelaçando bens materiais, amor e ganância e que até hoje não passa impune para quem a ouve pela primeira vez. Frequentemente citado como influência por artistas de diversos estilos, foi aos 52 anos que Charles Arthur Burnett gravou seu maior testemunho para o blues e para o mundo. Um clássico.

Preço em média: R$ 30 (importado – edição 2 em 1: “Moanin in the Moonlight & Howlin Wolf”)
Nota: 10

***

– Textos: Adriano Mello Costa (siga @coisapop) assina o blog Coisa Pop

3 thoughts on “CDs: Paul, Ray Charles e Howlin’ Wolf

  1. Olha só, estava por fora desses relançamentos do Ray Charles e do Howlin’ Wolf. Ouvi o novo do Paul McCartney e assino embaixo quando afirma que as canções que se salva são as inéditas.

    Paul não é um bom crooner, a verdade é essa!

    Abs!

  2. Então, Tiago, não são relançamentos. O Adriano teve vontade de lançar luz sobre esses discos, e achei muito bacana reproduzir aqui. São discos clássicos que estão por ai.

  3. Pois é. São discos com 50 anos de bagagem. E puta discos na verdade. Quanto ao Paul, é isso mesmo. Ele até se esforça, mas o resultado não convence muito. É um disco para ele mesmo. Ainda bem que ele tem muito crédito na praça 🙂

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