Novidades de Portugal: A Miúda

por Pedro Salgado, de Lisboa

A Miúda (que significa A Garota) surgiu de um encontro entre Pedro Puppe (OIOAI) e a futura vocalista do grupo, Mel do Monte, em Aljezur, na região do Algarve (sul de Portugal) em 2008. O sonho de Mel era cantar, e o conhecimento de uma canção do músico, conjugado com uma amizade crescente, encontrou correspondência na vontade de Puppe em desenvolver um projeto musical com uma voz feminina, algo que tinha tentado anteriormente, mas sem resultados positivos.

Juntos, Pedro e Mel fizeram alguns serões com guitarra e, no verão de 2010, fizeram o primeiro show, de apenas duas canções, no porto dos pescadores no final de uma noite. Como resultado de uma evidente simbiose entre os dois somados ao encanto de Pedro Puppe pelo espírito livre e a sensibilidade artística de Mel do Monte, os músicos Tiago Bettencourt e Fred Ferreira (Orelha Negra) manifestaram interesse em associar-se ao amigo e integrar o conjunto. A Miúda adquiria assim a sua formação final.

Em fevereiro de 2011, nos Estúdios Namouche, em Lisboa, gravaram a primeira canção: “Com Quem Eu Quero”. O tema integrou a coletânea “Novos Talentos FNAC 2011”. O impacto da música foi considerável e proporcionou um assinalável hype ao quarteto. Cantando “Durmo com quem eu quero e faço o que me apetece”, de uma forma cool e sem pretensiosismos, Mel do Monte conferiu às letras de Pedro Puppe um “clamor de autonomia geracional”, num momento definidor da imagem do conjunto.

Com a chancela da Optimus Discos, o grupo editou recentemente seu EP de estreia, homônimo. Ao longo de sete faixas, a individualidade / multiplicidade de afetos podem ser conferidas seja no punk encontra a new wave de “Com Quem Eu Quero” e no romantismo imagético de “Na Cidade”. Uma aparente calma vocal percorre a tempestade sônica da soberba “Meu Amor” e o exercício etéreo e idílico de “Fluxo De Flores” merece figurar nos grandes momentos do disco.

“Somos todos seres vivos com emoções que nos tocam e movem”. As palavras do quarteto traduzem uma melancolia bonita e uma alma que pede reconhecimento, mas dificilmente se despedaça. Para A Miúda, a emancipação nunca esteve tão perto. É possível baixar gratuitamente o EP de estreia do grupo, com sete músicas, no site http://optimus.blitz.pt/discos/artistoptimusdiscos/com-quem-eu-quero. E abaixo, de Lisboa para o Brasil, Mel do Monte e Fred Ferreira conversaram com o Scream & Yell. Confira:

Um dos aspectos mais notórios do A Miúda é a presença de nomes fortes da nova cena musical portuguesa. É grande a ambição da banda?
Sim, sem dúvida. O compacto “Com Quem Eu Quero” foi muito bem recebido pelas pessoas e até agora ainda se mantém o mistério em volta d´A Miúda. Quem é ela afinal? Fala-se muito de todas estas participações, que ajudaram ao hype. Mas, para além dessa canção, o EP agradou ao público e agora pensamos em fazer shows e avançar com um espetáculo bom e que revele a qualidade do projeto. Não foi por juntar estes músicos que ambicionamos mais do que se fossemos desconhecidos. Como somos amigos, temos a sorte de fazer o que gostamos que é tocar e ter algum sucesso. Temos a ambição de qualquer banda: chegar ao máximo de pessoas possível e fazer um grande número de shows.

Quais são as maiores influências musicais de vocês?
O rock clássico e a música eletrônica, não necessariamente cantada, a música brasileira e o hip hop. O Pedro Puppe gosta mais do cancioneiro clássico e o Tiago Bettencourt aprecia as novidades eletrônicas e o experimentalismo, mas a sua base é o folk e o indie. Ao englobarmos todas as influências que temos, produzimos um resultado visível no disco, ao qual não conseguimos apontar um caminho ou estilo, mas que reflete aquilo que somos.

“Durmo com quem eu quero e faço o que me apetece”. Estas palavras são o mote de uma pessoa que pretende desafiar alguém ou que desafia a si própria?
As duas coisas. Foi naturalíssimo interpretar a canção, porque somos pessoas independentes, sem amarras, e não precisamos ficar incomodados com ninguém. Só com o tempo é que percebemos o impacto que a música, e a rebeldia e ousadia a ela associada, iria ter nas pessoas. No entanto, é uma forma natural de estar vivo. Mais do que dizem as palavras, (“Com Quem Eu Quero”) é um grito de liberdade e, se calhar, é algo que esta geração precisa: “Fazemos o que queremos!” e “Mandamos em nós mesmos!”. O Pedro Puppe escreveu as letras e de alguma forma percebeu que elas eram direcionadas para uma garota livre e que não vive presa em sua própria mentalidade.

Muito do hype do conjunto deveu-se precisamente a “Com Quem Eu Quero”. O que representa esta canção para vocês?
Ela significa o nosso começo. Tínhamos apenas um dia de estúdio para gravar e nesse mesmo dia fizemos a canção. Começamos com uma viola acústica e voz e, numa manhã e tarde, desenvolvemos a música dessa forma. Por isso “Com Quem Eu Quero” é o início do EP, da banda e da junção de quatro pessoas. Percebemos a repercussão que obteve na coletânea dos Novos Talentos FNAC 2011, mas ainda não fizémos shows e, por isso, tudo é novidade para nós. A imagem d’A Miúda está muito associada à essa canção.

Em “Meu Amor”, uma aparente melopeia confessional transforma-se num crescendo de intensidade rítmica. O que vocês procuraram transmitir com a canção?
Foi a faixa menos planejada em estúdio. Ela surgiu de forma expontânea e improvisada. Os instrumentais sugerem um crescendo e decidimos que seria bom a voz manter-se num registo suave, sussurrante. Não havia muito tempo para planejar e até foi bom, porque fez com que o processo fosse instintivo. Houve um momento em que a canção foi por um caminho em que, quase, não nos pertencia. De repente, o vigor dos quatro músicos gerou uma bola de energia, em que ninguém obedecia a nada. Ficamos muito satisfeitos com o resultado.

Para onde pretende caminhar A Miúda num futuro próximo?
O caminho resulta uma vez mais da união de quatro músicos. Ele será feito da forma como abordarmos as coisas. Há muitos caminhos a seguir. Tanto poderá ter uma pegada hip hop ou mais crua e acústica. Musicalmente, quando trabalharmos num álbum, é algo que surgirá como apareceu o EP. Antes de fazermos qualquer coisa para agradar às pessoas, teremos de estar satisfeitos com o nosso trabalho. Para já pretendemos disfrutar do disco e em seguida iremos apresentar o show, que terá estas músicas e algumas novas. O show vai ser diferente do habitual e não irá passar despercebido.

– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell contando novidades da música de Portugal. Veja outras entrevistas de Pedro Salgado aqui

Leia também:
– Especial: conheça a nova cena musical portuguesa, por Pedro Salgado (aqui)

7 thoughts on “Novidades de Portugal: A Miúda

  1. A miuda (Mel do Monte) é linda, tem atitude mas não canta… A “música” é mediocre e a pseudo-provocação do tema é um triste reflexo do degredo da industria musical lusa… One hit band a esfumar-se antes de começar… Boa sorte. Bem precisam…

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