Dead Fish em Vitória: um estranho amor

Dead Fish em Vitória: um estranho amor
texto por Shirley Ribeiro
fotos por Carlos Netto

Um estranho amor une os fãs do Dead Fish. A banda sobe ao palco embalada por um grito de guerra que, em outro ambiente, poderia ser considerado ofensivo: “Ei, Dead Fish, vai tomar no cu”. Durante todo o show, Rodrigo (vocais), Philippe (guitarra), Alyand (baixo) e Marcão (bateria) precisam, literalmente, defender o pequeno espaço dos fãs mais audaciosos que pulam sob as caixas de som para, de lá, jogarem-se sobre o restante da audiência. É assustador, engraçado e perigoso. Entre uma música e outra, Rodrigo Lima pede cuidado ao público. “É uma noite muito especial para nós. Não queremos que vocês se machuquem”.

A empolgação é tanta que ninguém presta atenção aos apelos. As letras são cantadas aos berros por todos, inclusive nas músicas novas, como é o caso de “Tijolo”, um protesto contra as elites brasileiras. Já nos primeiros acordes de “Sonho Médio”, um dos maiores e mais antigos sucessos do Dead Fish, a plateia sorri satisfeita por poder ouvir mais uma vez, em alto e bom som, que “a hipocrisia vai vencer”.

Mais de uma hora de show e ainda falta metade das trinta canções que o público escolheu para compor o DVD e a set list das apresentações que a banda está fazendo em comemoração aos 20 anos de estrada. Ninguém parece perceber o calor provocado pela energia emitida pelas mais de mil pessoas que continuam pulando e cantando como se não houvesse amanhã.

O final da noite de sábado, 19/11/11, chega com “Afasia” e a gritaria agora manda “sorrir quando se quer chorar, sorrir para viver”. O público canta e pula ensandecido, os músicos se despedem sob os gritos de amor dos fãs. Ninguém está cansado. Se pudessem, ficariam ali mais duas, três horas, batendo cabeça, cantando e pulando. É um estranho amor. E bonito.

Entrevista: Dead Fish
Sempre na Estrada
por Shirley Ribeiro

Mais de mil pessoas se espremem no pequeno salão do Praia Tênis Clube de Vitória e aguardam ansiosos a apresentação do Dead Fish. No último encontro, o palco quebrou. Muitos esperam poder repetir a façanha. Nada será surpresa. “O importante mesmo é a energia que os nossos shows produzem. Enquanto isso acontecer, estaremos na estrada”, garante Rodrigo Lima, único integrante que se manteve na banda desde o início.

Tocar na cidade natal é sempre uma experiência calorosa. A identificação do público com o Dead Fish é ainda mais forte na capital capixaba. Muitos acompanham a banda desde o início. A maioria, no entanto, tem menos de 18 anos, o que comprova a renovação contínua dos fãs da mais famosa banda de hardcore do Espírito Santo.

Antes do show, Rodrigo dá autógrafos e posa para fotos com os fãs, enquanto arruma a mesa com os produtos da banda – CDs, camisetas e adesivos. Homem multitarefa (além de músico, é cozinheiro, mestre cervejeiro, produtor, pai e esposo), ele ainda consegue dez minutos para responder a algumas perguntas para o Scream & Yell, antes de correr para o camarim e preparar o espírito para mais um show.

20 anos de estrada, 10 discos e um público que não para de se renovar. O que você acha que não mudou no Dead Fish?
A vontade de estar na estrada e de fazer o que sempre quisemos fazer: música do nosso jeito, sem concessões, sem adequações ao mercado. Foi por isso que começamos e é assim que continuamos.

Como foi a gravação do DVD no Circo Voador? Vocês ficaram satisfeitos?
A concentração de energia, que sempre existe em nossos shows, foi incrível. Um verdadeiro big bang. Posso dizer que, em termos de energia e público, foi o melhor show que já fizemos no Circo Voador, embora tecnicamente pudesse ter sido melhor. Mas eu já vi as imagens e estão excelentes. Para dizer a verdade, tem cenas bem assustadoras. Vai dar um ótimo DVD.

O show pode virar um filme também?
Não. A ideia do filme, que está em fase de organização, é fazer cinco shows pelo Brasil e apresentar as músicas entremeadas por informações sobre a história do Dead Fish nesses 20 anos. Vamos produzir no próximo ano.

Houve alguma surpresa na votação das 30 músicas preferidas do público que vão integrar o DVD?
Não. As escolhas foram bem óbvias. A gente queria que tivesse saído do óbvio, mas, fazer o quê? O público sabe o que quer ouvir, então vamos tocar. Mas, acrescentamos uma canção que não teve muitos votos, chamada “Eleito por Ninguém”. É uma provocação, não sei se o público vai entender, mas fica o recado (risos).

A estrada ainda é a solução? Ou, hoje, é ainda mais solução do que era há 20 anos?
Acho que a estrada sempre foi a solução e continua sendo. É a estrada, a rede de pequenos produtores e selos, os amigos que fazemos pelo caminho, os fãs que nos ajudam e o público que sempre comparece. Esse esquema poderia ser ainda melhor se no Brasil a palavra fosse mais respeitada. Mas, tudo bem, a fórmula é seguir em frente!

A música nova do show, “Tijolo”, tem uma letra muito clara contra as elites brasileiras “viúvas de D. Pedro”. Quando ouvi, fiquei pensando em como vocês foram inovadores ao fazer letras em português, abriram portas para outros fazerem o mesmo. Para o Dead Fish ainda é fundamental mandar o recado na música e na letra?
Claro. A gente tem que passar a mensagem, essa é a nossa ideia sempre. O público pode até não entender, mas isso não é problema meu. Cada um deve procurar refletir, estudar, ver as raízes do cenário atual. Achar que o mundo está maravilhoso porque agora podemos comprar carros em 72 prestações é muito perigoso. Eu só estarei satisfeito quando a gente tiver educação e saúde gratuita e de qualidade para todos. Isso ainda está longe de acontecer.

Para terminar, que cervejas você recomendaria aos apreciadores das artesanais?
Não vou falar das minhas preferidas, mas das que estão me empolgando no momento: a brasileira Bamberg, que já tem algum tempo e está tendo destaque este ano; a chilena Kross; e as Altbeers, cervejas sazonais, que você só encontra agora, no final do ano.

– Shirley Ribeiro (siga @poptals) é jornalista. Carlos Netto é fotógrafo e um dos fundadores do programa de rock “Antenado”, da Rádio Universitária. Colaborou Guto Bertollo, apresentador do “Antenado” (saiba mais aqui).

3 thoughts on “Dead Fish em Vitória: um estranho amor

  1. Dead Fish é foda pra caralho.Só faz show foda,aqui em Curitiba então foram brutais alguns deles.Recomendo.Aliás,ouvinte de boa musica que se preze tem que ouvir o Dead Fish.

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