Le Butcherettes: bem-vindo ao pecado

por Renata Arruda

“Bem-vindo ao pecado”, convida o teaser de “Sin Sin Sin”, álbum de estreia da banda mexicana de garage punk Le Butcherettes, formada por Teri Gender Bender (vocais, letras, guitarra e teclados), Gabe Serbian (bateria) e Jonathan Hischke (baixo e teclados) e produzido por Omar Rodríguez-López, que tocou baixo em todas as faixas do CD.

Formado originalmente como um duo feminino – Teri Gender e Auryn Jolene -, a banda surgiu em 2008 com o EP “Kiss & Kill” e apresentações que incluíam Teri e Jolene vestidas como mulheres dos anos 50, referências à escravidão doméstica da época, com vassouras, espanadores e aventais sujos de sangue e letras como “Fuck me as hard as you possibly can”. O avental continua presente como uma “marca” do figurino de Bender e, segundo ela, o significado está em representar as mulheres que morreram pela causa feminista.

A banda rapidamente conseguiu reconhecimento no cenário underground mexicano e em 2009 levou os prêmios de“Melhor Artista Revelação” e “Melhor Álbum Punk” no Indie-O Awards 2009. No mesmo ano, foram convidadas para abrir os três shows da perna mexicana da turnê do Yeah Yeah Yeahs (em Monterey, Guadalajara e Cidade do México).

Entre sangue, cortes de carne crua, cabeças de porco, máscaras e boás de plumas, Le Butcherettes aproveitou a atenção que o mercado musical norte-americano lhe voltou e, finda a parceria entre as musicistas, Teri se mudou para Los Angeles onde continuou a banda com nova formação, escalando o baterista do The Locust, Gabe Serbian, e o baixista Jonathan Hischke (Broken Bells), para integrarem o conjunto.

De acordo com Bender, foi Omar Rodríguez-López quem sugeriu que adicionassem o baixo à banda, para que as músicas ganhassem corpo nas apresentações ao vivo. Em 2010, lançaram “Henry Don’t Got Love”, seu primeiro single, liberado como download gratuito em sua página no Bandcamp. Foi também Omar Rodríguez-López quem apresentou o primeiro show da banda em LA e, em pouco tempo, já estavam excursionando com nomes como The Dead Weather e Deftones.

Sobre o envolvimento de Rodríguez-López, Teri Gender comentou: “Acho que teve a ver com a sorte de estar no lugar certo e na hora certa. Nós estávamos tocando em um bar de Gudalajara quando a eletricidade acabou. Éramos eu e Auryn Jolene, a primeira baterista. Eu tinha um megafone e disse a todos para não irem embora e assim Auryn e eu fizemos o show acapella, bateria e voz. E isto chamou a atenção de Omar e ele nos convidou para tomar um café e nos conhecermos. Mas na verdade tem a ver com não se limitar. Eu não sabia que ele estava lá até depois do show. Você tem que ser impulsivo.”

Em maio de 2011, os Butcherettes lançaram seu primeio álbum (já bem diferente do EP anterior) pelo selo Rodríguez-López Productions, acompanhado do vídeo-clipe de “Henry Don’t Got Love”. Com várias referências, de Henry Miller a Tolstói, o álbum de 13 faixas vem repleto de influências de punk rock e já alcançou o primeiro lugar na parada alternativa no iTunes México. A melódica “The Actress That Ate Rousseau” talvez seja um dos melhores momentos do CD e vale uma audição mais atenta.

Na capa, uma típica família católica, cujos olhos estão tapados por rabiscos e pela palavra “sin” (pecado). “A família da capa é uma família católica nuclear. Desde que nascemos ouvimos que o pecado ocorre todos os dias e até mesmo nascer é um pecado e a única forma de se redimir é ir à igreja. Eu achei interessante existir essa tendência de pensar que temos que compensar tantas coisas ruins que ocorrem cotidianamente na nossa vida sem o nosso consentimento. Cada canção é uma voz diferente e as letras retraram histórias que eu imagino. Criei personagens diferentes, com diferentes identidades, problemas e interpretações da percepção humana do pecado”, contou Bender em entrevista ao site Austin Vida.

Segundo Teri Bender, Le Butcherettes não se trata de uma banda típica de rock, mas um projeto artístico onde se pode fazer tudo o que quiser, sem limites. E isto inclui apresentações onde muitas vezes a performance teatral se sobressai à música, como o recente bem sucedido show no festival Lollapalooza, onde Teri cantou, tocou e dançou frenéticamente entre batidas de cabeça, tapas no teclado, corridas em volta do palco, mosh, além de deitar no chão, bater propositalmente a cabeça no microfone e jogar seu sapato para o público.

Sobre tais performances, Teri explica: “Muita gente acha que sou só uma artista performática e que é só espetáculo, mas há um signficado filosófico. Às vezes finjo ser a imagem da dona-de-casa perfeita, com saltos e maquiagem, a imagem perfeita do que a garota perfeita deveria ser. Toda música tem um personagem, não sou eu de verdade. É uma Sylvia Plath wannabe, ou a Desperate Housewife, ou Tolstói. Ou Henry Miller querendo amor”.

Teri afirma ter sido uma artista visual antes de começar a escrever música. “Fui para uma escola de artes no México. Nas aulas comecei a esboçar coisas como sereias amputadas e também garotas no poder. Eu vivia no meu próprio mundinho. Mas percebi que poderia colocar isso na música. Na cidade onde eu vivia as pessoas eram preguiçosas para ler, então eu quis me expressar de outra forma”, conta. “Fui para a Universidade onde eu tinha um uniforme que incluía uma saia. Era algo que eu odiava com todas as minhas entranhas, porque achava que as meninas deveriam ter a opção de usar calças. Fiz minha própria campanha para tentar corrigir o sstema, mas depois decidi que queria envolver isso com música. Isso definitivamente me inspirou a começar uma banda de rock, porque a música tem o poder de informar mais do que petições”.

Apesar do caráter feminista de Teri, a compositora de 21 anos – afirma que sua intenção não é abordar o tema de maneira direta como Bikini Kill e L7 fizeram no passado. “Se eu fizesse isso, não seria sincero. Não cresci como uma riot grrrl. Sou de uma geração diferente”. Para ela, o feminismo está no privilégio e na liberdade para fazer o que quiser, sem ferir os outros. “Eu quero levar isso para sempre na minha música”.

Você pode ouvir “Sin Sin Sin” pelo site http://lebutcherettes.bandcamp.com/ e visitar o site da banda em http://lebutcherettes.net/. Neste ano, Le Butcherettes já excursionou com Queens of the Stone Age e atualmente está abrindo alguns shows do Flaming Lips. Em dezembro será a vez de dividir o palco Iggy & The Stooges.

– Renata Arruda (@renata_arruda) é jornalista e colaboradora na empresa Teia Livre e na Revista Cultural Novitas

4 thoughts on “Le Butcherettes: bem-vindo ao pecado

  1. Oi, Renata, gostei da matéria. Estou viciado em na banda já faz um tempo, mas ainda não tinha lido nada interessante em português sobre a banda. Parabéns.

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