Música: Serenata do punk brega

Banda coloca romantismo em três acordes de charme e caos
por Juliana Simon

“Não existe amor em éssepêêêê”. A música de Criolo é mesmo bonita, mas há quem duvide da máxima do rapper. Com o perdão da cafonice, love is in the air para quem quer. A rua paulistana conhecida pelo “amor pago” ganhou embaixadores do sentimento nobre. Surge “Os Últimos Românticos da Rua Augusta”.

O projeto é composto por Kaly e Cristiano (da banda Stuart), Sérgio Serra (Ultraje a Rigor), Malásia (Ultramen) e o punk-brega em pessoa, Wander Wildner. Corrigindo: a banda é formada por Gustavo André, Cristiano Carlos, Sérgio Henrique, Luciano Clóvis e Wanderley Luiz. “É exigência da banda, todos os músicos têm que ter nomes compostos e andarem bem vestidos”, diz Gustavo.

A música autodefinida “folk punk jazz de apartamento”, obviamente, não é a para se dançar juntinho, mas para berrar uma serenata de porre. “Temos as nossas inspirações. De Jolly Boys a Leonard Cohen de Chet Baker a Johnn Cash”, diz Kaly. O folk vem do formato acústico, o punk da simplicidade, letras subversivas, “do tosco mesmo”, afirma Gustavo – até Joey Ramone ganhou uma declaração: “Eu acredito em milagres, mas não num mundo sem Joey”. Já o “de apartamento” é a facilidade de ensaiar sem plugar instrumentos, sem fazer barulho demais.

Apesar de ainda ter poucos shows “oficiais” na bagagem, a teoria funciona muito bem no palco. O punk está no improviso. Muito longe de ser desleixo, há uma aresta aqui e ali a ser aparada em ensaios. Mas o público torce para que continue longe da perfeição. Esse é o charme. “Esperamos que as pessoas entrem no clima nos shows e tirem do armário a vestimenta mais chique quando forem nos ver”, convida Gustavo.

O repertório repaginou músicas feitas por Gustavo há mais de dez anos e traz composições novas, coisas do projeto “Kaly e os hóspedes do Chelsea”, dos discos do Wander Wildner (como “Bom Motivo”) e da Stuart. Por enquanto, não há outra forma de conhecê-los senão nos palcos e em vídeos pela internet. “Estamos numa fase de tocar, difundir o nosso som na estrada, em lugares bacanas”, diz Gustavo. O romântico, no entanto, não descarta a gravação de um álbum no futuro e promete o registro de uma ou duas músicas logo.

Sendo Gustavo e Cristiano catarinenses, Sérgio carioca, e Luciano e Wander, digo, Wanderley gaúchos, por que a escolha da Rua Augusta para o nome da banda? Por que uma rua de São Paulo? “Somos românticos, moramos e transitamos pelo Baixo Augusta, e somos os últimos por aqui”, diz Gustavo.

Entre uma canção sobre o vestido verde da amada, outra de como o sujeito apaixonado é um homem de sorte, mais uma entoando “gabba gabba hey”, uma pedindo um motivo pra “não cheirar cola esta noite”, fica a certeza espalhada por grafites na, sim, romântica São Paulo: o amor é importante, porra.

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– Juliana Simon (siga @jusimon) é jornalista apaixonada por seus fones e por São Paulo
– Tanto as fotos quanto os vídeos são de Aline Biz (siga @aline_biz)

Leia também
– Wander Wildner: “O Brasil é uma merda e a música é reflexo do País”, por Murilo Basso (aqui)
– Quatro vídeos de Wander Wildner ao vivo em São Paulo, 2011 (aqui)
– “Caminando e Cantando”, de Wander, é trilha sonora para o livro “On The Road” (aqui)
– Entrevistas com Wander Wildner: 2001 (aqui), 2004 (aqui), 2006 (aqui), por Marcelo Costa
– Criolo na linha de frente da quebra de preconceitos, por Bruno Capelas (aqui)

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