CD: Toque Dela, Marcelo Camelo

por Adriano Costa

Experiência: Coloque o disco novo do Marcelo Camelo para tocar. Se desligue de tudo que o mundo coloca a sua volta. Fique lá somente você e o som, sem nenhuma distração. Se dedique completamente para esse trabalho. Não deu liga? Tente novamente, afinal é o Marcelo Camelo, ele merece um pouco da sua consideração. Mesmo assim não foi? Faça mais uma tentativa. Busque olhar para os timbres e a delicadeza. Nada ainda? É. Talvez o problema não seja seu então.

“Toque Dela” encaminha cada vez mais seu criador para o mundo do ame-o ou odeie-o. Os fãs de Los Hermanos provavelmente vão abraçar o músico e indicar essas composições com adjetivos como “geniais” ou “maravilhosas”. Os detratores e saudosistas de plantão, não obstante, classificarão o trabalho como “chato” ou “sonolento”. Nem tanto lá quanto cá seria o correto, porém a única certeza que fica é que Camelo ainda não se encontrou.

Se “Sou” de 2008 podia ser entendido como uma seqüência natural do último disco da sua banda (o “4”) e mesmo com todas as falhas sinalizava um artista inquieto, sem querer ficar preso no passado, mostrava também a procura de um caminho. Seria lógico traduzir então que depois de tocar o novo repertório e terem se passados três anos, o novo álbum já seria mais coeso e ostentaria melhor a indicação do caminho a ser seguido, dos objetivos a serem alcançados.

No entanto, “Toque Dela” encontra-se no mesmo patamar de “Sou”, o que chega a soar desestimulante. Do lado positivo surge um trabalho mais alegre e apaixonado por conta e obra da presença da namorada Mallu Magalhães na vida de Camelo, como também mais curto, o que favorece o consumo. Por outro lado, as canções novamente se alternam em bons momentos (“A Noite”, “Três Dias” e “Meu Amor é Teu”) com outros pouco inspirados ou pretensiosos demais.

Bons exemplos são o indie pop de “Ôô” e a horrenda versão para “Despedida” (música do próprio Camelo gravada anteriormente por Maria Rita), onde há um desejo imenso de andar pela praia dos baianos Caetano, Gil, Gal e Bethânia. Aliás, essa parece ser na verdade a única estrada que “Toque Dela” consegue alcançar, o da canonização do seu criador em contrapartida com os monstros sagrados da Mpb nacional. Tudo indica que é lá que ele deseja estar a todo custo.

Instrumentalmente, “Toque Dela” é um bom trabalho, afinal os paulistanos do Hurtmold, grande destaque de “Sou”, estão lá novamente. Porém, depois da quarta ou quinta escutada do álbum o que fica mesmo é a vontade que tudo fosse melhor, afinal, talento Marcelo Camelo já provou que tem, mesmo com todos os superlativos que lhe foram arrematados. Só que enquanto ele continuar cantando sobre marinheiros e morenas, fica difícil de acreditar.

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– Adriano Mello Costa (siga @blogcoisapop) assina o blog Coisa Pop
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Leia também
– “Sou”, de Marcelo Camelo, é chaaaaaaato, por Marcelo Costa (aqui)
– Melhores da Década 00: Los Hermanas lidera lista com dois discos (aqui)

41 thoughts on “CD: Toque Dela, Marcelo Camelo

  1. Eu tô do lado dos que acham esse cara uma mala sem alça.
    É uma mistura de Renato Russo(no fanatismo dos fãs), Ivan Lins e Oswaldo Montenegro.
    Vixeeeeeeeeeeeee!

  2. “Sono Dela”… Bom para tirar um cochilo depois das 18:30, dai quando chegar nas duas ultimas faixas você não vai escutar. Belas canções “três dias” e a duvidosa “tudo o que você quiser” (com o toque de Jeneci).

  3. Com sinceridade: o anterior é tão chato que me desanimou a ouvir este. Já fiz download há um bom tempo, mas falta coragem.
    🙁

  4. Ao contrário de Sou, eu curti bastante este Toque Dela. Sim, falta a Camelo ALGO em seu trabalho solo – mas essas canções não podem ser desprezadas. “Três Dias”, como já citada acima, é uma bela música, por exemplo.

    (Mas a pergunta que fica é: e o Amarante, cadê?)

  5. Bom, eu sempre achei que houve, num momento de aridez da música pop brasileira, um incensamento exagerado aos hermanos. Algumas canções como sentimental e cara estranho, eu reconheço como acima da média. mas na maioria das vezes a banda emula a família wainright, o rufus, principalmente. tá tudo ali, chupadinho, chupadinho. a voz querendo parecer de bêbado sentimental, alguns instrumentos de sopro anti-convencionais, a mistura de música circense com destilações intimistas. sei que vão me criticar por isso, mas los hermanos datou. não sobreviveu. nesse ponto, Legião Urbana, com o hoje criticado Renato Russo, permaneceu mais atual, mais vivo. talvez porque o renato sempre tivesse a consciência de que queria fazer música pop. simples assim. camelo e cia queriam ser mais do que eram. a negação de ana júlia é sintoma claro disso. eu passo adiante.

  6. “Só que enquanto ele continuar cantando sobre marinheiros e morenas, fica difícil de acreditar.” hahahaha
    Realmente,essa temática já deu,Camelo.Nas primeiras audições que fiz o álbum soou bom,mas nada que me empolgasse a o “devorar” por vezes e vezes seguidas,faltou músicas de presença(vide Janta,Santa Chuva,Liberdade…Em Sou) e acho que é pretensiosa demais a supracitada busca do Camelo por entrar no patamar dos grandes artistas da MPB,mas meu amigo,ainda faltam algumas décadas pela frente.

  7. bom, eu sou fã do cara e da banda antiga dele.
    gosto é gosto. quem nunca gostou dele, na época de los hermanos, jamais irá gostar agora, nem q um deus da música o regrave ou o reverencie.
    não gostei mt do novo disco onvindo de primeira. como tinham divulgado q a hurtmold faria parte do disco inteiro, pensei em algo mais “pesado”.
    mas isso td ao vivo funciona mt bem. pude presenciar isso no dia 07/05/2011, no circo voador.
    e não era só a fanática torcida hermanica esperando canções antigas (só rolaram 2) q tava presente…

  8. Eu nunca fui fã dos Hermanos, mas gosto bastante de algumas músicas.
    Coincidentemente todas as que gosto são cantadas pelo Camelo, por isso tive interesse nos discos solo dele.
    Porém, ahhh porém, o cara transportou sua malice pessoal pras músicas. Pena.

    Daniel, Despedida é linda. A versão é que é horrível. Ouça-a na voz de Maria Rita.

    Ismael, acho o Legião pra lá de datado. O Los Hermanos é bem superior instrumentalmente falando. Tb, né, até o Detonautas é superior instrumentalmente ao Legião. rsrsrrsrs

    Valeu, Eduardo.

  9. Que crítica é essa? Você parece realmente não entender o que se passou entre o primeiro cd dos Los Hermanos e a transformação que vem ocorrendo na forma de composição dos hermanos e principalmente do Marcelo Camelo.

    Ele foi de uma escrita extremamente específica, lírica e com uma mensagem fixa para uma composição livre que significa coisas diferentes para pessoas diferentes, e mesmo para ele não é concreta. O que mostra a evolução desse compositor para uma arte mais pura.

    Ouça novamente “Vermelho” e “Morena”, realmente tentando ouvir entre as notas. Talvez você enxergue alguma verdade, que é tudo que ele quer passar. Mas para alguém que parece ter começado o álbum com uma conceito já pré-existente vai ser difícil.

  10. Sou fã do “Sou” e achei “Toque Dela” um pouco inferior, mas longe de ser ruim ou datado.
    Gostei muito dos arranjos, e isso não é mérito apenas do ótimo Hurtmold, visto que o Camelo gravou boa parte dos instrumentos, como as guitarras e baixo e até bateria em algumas músicas.
    Acho que esse lance de criticar uma suposta ‘grande pretensão’ do cara uma bobagem. Todo artista tem suas pretensões baseadas em outros artistas, por mais original que seja o trabalho.
    Gostaria muito de ver esse show, o problema é ter que dividir espaço com fãs de LH, assumidamente insuportáveis.

  11. Pô, alguém ainda vem com o discursinho de superioridade instrumental. o pessoal do Toto é bem superior musicalmente ao sex pistols. qualquer banda é superior musicalmente aos ramones, ou a iggy pop. o roupa nova é a banda talvez com maior superioridade musical no brasil. e o que isso significa? se a legião datou, por que vamos ter filmes sobre música dele? por que que país é este é tema de novela atual? por que raios saem tantos livros a respeito da banda? por que os fãs deles ainda se multiplicam? daqui a 25 anos poderemos dizer isso dos hermanos?

  12. Sim. Daqui a 25 anos poderemos dizer isso dos Hermanos. E se ele ‘chupam’ Rufus, o que a Legião fazia com o Joy Divison e o Smiths?

  13. E acho que “Que País É Este?” ser tema de novela não quer dizer muita coisa. Na verdade isso vem mostrar a preguiça dos caras que fazem a trilha…

  14. não to no lado A nem no lado B, muito antes pelo contrário: to do lado do pouco se me dá… raramente ajo assim, mas nesse caso, não ouvi e não gostei! sorry ; )

  15. Meu Deus… o comentário do Juliano me fez enxergar a verdade: sou um cara que não tem capacidade de ver o lirismo e a magnanimidade do trabalho do Camelo. Terminei de ouvir este disco abençoado e vi que a arte é pura demais pra mim. Folhinha verde parei!

  16. “O Roupa Nova é a banda talvez com maior superioridade instrumental do Brasil”
    Isso significa que vc não tem parâmetro, meu chapa.
    Depois dessa, lhe desejo sorte.

  17. Você vem com discurso ultrapassado de superioridade instrumental e eu que não tenho parâmetro? Alguém que analisa rock e música pop sob esse viés…mataria o punk rock na fonte. aliás, mataria o próprio rock and roll. Se você não entendeu a ironia do roupa nova, desculpe. superestimei sua capacidade de raciocínio. Um abraço.

  18. Não entendi se o comentário do Gustavo foi irônico ou não, mas de qualquer forma vou me explicar melhor.

    Arte é expressão. É possível dizer que hoje Espanha é o melhor time do mundo, pois, ganhou a copa. Pode até não ser verdade, mas ela participou de um torneio e da forma que ele foi organizado, chegou à final e ganhou.

    Agora, como você pode classificar qualquer arte como superior a outra? Claro que existem níveis que separam artistas de pessoas que só querem ganhar dinheiro com o que fazem (restart, nxzero e Cia ao invés de fazerem um som que os agrade, preferem fazer algo que venda), e isso está LONGE de ser considerado qualquer tipo de arte ou expressão.

    Quando se tem um material como esse, o que se pode fazer é analisar a arte com censo crítico, tentar entender do que o artista esta falando e assim chegar a sua conclusão. Sem julgar simplesmente por gostei ou não gostei ou é bom ou ruim.

  19. Ahh, cara, o lance do Roupa Nova foi ironia?
    É que fica difícil não subestimar quem já passou dos 15 anos e defende com tanto ardor a Legião Urbana.
    Não me leve a mal, é que achei que não tinha capacidade pra ironia.
    Quanto ao discurso instrumental, estamos falando de música, né?
    No mundo pop/rock a pose/atitude valem mais que o som, óbvio.
    Música é bem mais que isso.

  20. Eu achei a versão do Marcelo pra Despedida infinitamente superior à da Maria Rita. Acho a versão dela muito pobre de arranjos. Adorei mesmo os metais na do Marcelo. Esse disco tem pérolas como A Noite, Acostumar e Vermelho merece atenção. Desde que ele saiu em carreira solo, não espero músicas semelhantes às do LH, sabia que a pegada seria outra. Mas acho bom também. Curti bastante o Toque Dela, bem mais que o Sou inclusive.
    Abrçs.

  21. Pô, um disco desse nível de melodia, arranjos e dedicação, com essa resenhazinha? O cara merece muito mais, tem que pelo menos levar a sério. Não vejo ninguém mais sério que ele na música brasileira hoje em dia. Pelo menos por respeito, se não por gosto.

    O pessoal tá pegando pesado, Marcelo Camelo não tem nada a ver com esses dinossauros aí do MPB… Acho mais fácil ver Jazz lá que MPB.

    Acho Sou foda pra caralho, aquelas músicas-poema simplistas e arranjos de violão complexos… Que coisa foda. O que mais me impressiona no Camelo são as melodias de voz que ele faz. Se for usar “genial” na mesma frase que Marcelo Camelo, melodia é o limite…

    Realmente, sobre morenas e marinheiros fica difícil. Prefiro o Camelo mais filósofo…

    Tem show dele aqui em Goiânia em breve, com abertura do Violins. Tô lá!

  22. Legião Urbana mais atual? Los Hermanos datou? Legião Urbana sempre quis faer música pop? Los Hermanos não? Chupinharam Rufus Wainwright O que é isso? Que grande baboseirada. Alguém está bebendo antes de fazer o post não é mesmo?????

  23. Que resenha mais preguiçosa e porca! Não há coisa mais fácil do que falar mal do um trabalho artístico alheio. Mas mesmo concordando que “Toque Dela” não seja o ápice da criação do Camelo, eu acho que merecia palavras mais respeitosas e ponderadas. Esse texto, aliás, deveria estar cá embaixo, junto com o que foi postado por internautas, porque parece mais com uma opinião avulsa do que com uma resenha previamente pensada.

  24. Que comentário porco esse do André, hein. Não há coisa mais fácil do que falar mal de uma crítica que detona um artista que você ame. kkkkkkkkkkk

  25. Caros, quem quiser escrever pq gosta ou não do disco, pq acha Marcelo Camelo isso ou aquilo, ou pq concorda ou não com o texto, fique à vontade para usar esse espaço. Agressões gratuitas serão ignoradas.

    Abraços
    Mac

  26. Acho que a situação precisa ser analisada com mais calma, o que ocorreu foi uma crítica leviana a respeito de um trabalho muito sério, que é o álbum de um músico em um site que, a meu ver, tem influência cultural.
    Ninguém gosta de ler críticas ruins a respeito de algo que goste, porém quando ela é embasada, novos pontos de análise são postos a mesa e assim, o leitor acaba por entender a visão do crítico. Nesse caso não foi isso que aconteceu, não conheço a pessoa que escreveu essa resenha, mas dá pra dizer que ela foi muito leviana e acabou por fazer uma análise extremamente pobre de um trabalho tão rico quanto esse. E vejam bem, não estou falando que ele só poderia falar bem, mas que se fosse pra falar mal deveria embasar melhor do que dizer que Camelo quer parecer Gil e Maria Bethânia, pois realmente não sei de onde ele se baseou pra dizer isso. Só se o critério de Mpb utilizado é todo o tipo de música feita no Brasil.
    Escrevo isso na melhor das intenções para que a próxima análise seja feita com mais calma e embasamento, realmente entendendo a obra, deixando de lado qualquer opinião anterior a ele. Deve-se entrar no clima da obra, não impor o seu a ela.

  27. Sou fã de Los Hermanos, acredito que o disco “4” mostrou bem a diferença e as tendências de composição entre Camelo e Amarante, já prevendo o que seria o trabalho solo de cada um deles (no caso de Amarante, o Little Joy).
    Achei o Little Joy genial, porém, quando escuto Marcelo Camelo, sinto saudades dos bons discos do Los Hermanos (Bloco; e Ventura)…

  28. Música = Arte

    Não existiria arte sem atitude pois atitude é o que difere um artista de uma maquina que por exemplo tem muito mais tecnica que qualquer ser humano na face da terra, um quadro não seria belo sem falhas é respingos de tinta , é rock não seria rock sem guitarras desafinadas é vocalistas desafinados.

  29. Os detratores e saudosistas de plantão, não obstante, classificarão o trabalho como “chato” ou “sonolento”.

    Essa sua frase tenta justificar o injustificável. Ele é ruim, o péssimo dos péssimos. Mas qual é a novidade numa cena tão careta e carente?

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