Strokes no Madison Square Garden

por Grasielle Castro, especial para o Scream & Yell
Fotos Renee Barrera

Ninguém brinca no Madison Square Garden. Nem mesmo uma banda de garagem. No maior palco de Nova York, a receita para o sucesso é ser grandioso. Pegue uma disco ball de fazer inveja em qualquer Lady Gaga, dois telões em HD exibindo o show em preto e branco, referências a pac man na decoração do palco e invista pesado na iluminação. Coloque no estádio cerca de 20 mil pessoas, a maioria com o cabelo estrategicamente bagunçado e belíssimas jaquetas de couro (agradeça a primavera nova-iorquina que deu um primeiro de abril repleto de neve e chuva). Pronto, agora só falta a banda… e o elemento surpresa, afinal é dia da mentira.

Com toda essa estrutura, não tinha como os Strokes fazer feio. Eles conseguiram até fazer com que o tempo voltasse dez anos. Já na primeira música da noite, eles mostraram que a ideia 2001 estava mais presente do que nunca. “Is This It?”, do primeiro álbum, abriu a apresentação. E show seguiu com “Reptilia” e a nova, mas já familiar ao público, “Under Cover of Darkness”. Das 19 músicas, as quatro do disco novo (“Angles”, lançado em março) pareciam tão antigas quanto as demais.

Infelizmente essa não era a ideia da banda, que tentou fazer algo diferente em seu quarto disco, mas a seleção funcionou bem – para um público saudosista. Se alguém que não conhecesse nada de Strokes fosse a esse show, não saberia dizer quais eram as músicas novas. Mas saberia que era ao som delas, o momento perfeito para ir comprar cerveja. Depois de um grande hiato (preenchido por projetos paralelos e shows esporádicos), eles voltaram a sua cidade natal para fazer o show de estreia do novo disco com um ar de passado, sem nenhuma novidade. Entrosados, os músicos pareciam os velhos amigos de colégio executando cada música com perfeição.

A sensação é de que a banda soa ao vivo tão bem quanto em disco. Mas não melhor. A diferença é que, comparado ao show que os brasileiros puderam ver em 2005, no Tim Festival, a tradicional falta de presença no palco da banda não se fez presente. O vocalista Julian Casablancas, famoso pela introspectividade, se esforçou bastante. Parecia realmente se sentir em casa e levou um pouco do clima do boêmio East Village, onde mora, para a engravatada Midtown.

O cantor fez de tudo, andou no meio do público e tirou bastante vantagem do tênis que brilhava no escuro. Agradeceu mil vezes aos nova-iorquinos, fazendo com que “New York City Cops” fosse a mais ovacionada da noite. Ah, não mais que a melhor de suas inúmeras piadas sobre primeiro de abril: Elvis Costello.

Logo após o show de abertura, de Devendra Banhart, Elvis Costello fez uma pequena apresentação surpresa. Mas o estrondo ficou por conta da sua participação na nova “Taken For a Fool”. Cantada verso a verso com Casablancas, o cantor foi mais aplaudido do que a própria banda. Ele poderia ter roubado a cena, se não fosse o espetáculo da iluminação – que deu a sensação de ter transportado o público para dentro de um videoclipe. Coisa que a gente só vê no Garden.

Set List
01 – Is This It
02 – Reptilia
03 – Under Cover Of Darkness
04 – Hard To Explain
05 – Last Nite
06 – Juicebox
07 – Someday
08 – You’re So Right
09 – Under Control
10 – You Only Live Once
11 – New York City Cops
12 – Games
13 – Whatever Happened
14 – Taken For A Fool (c/ Elvis Costello)
Bis:
15 – Ask Me Anything (Guitar version)
16 – Modern Age
17 – Gratisfaction
18 – I Can’t Win
19 – Take It Or Leave It

Leia também:
– Discografia comentada: Elvis Costello, por Marco Antonio Bart (aqui)
– Votação: “Is This It”, dos Strokes, eleito o melhor disco dos anos 00 (aqui)

16 thoughts on “Strokes no Madison Square Garden

  1. Se o “Is This It” foi eleito aqui como o melhor álbum dos anos 2000, “Angles” vai concorrer fácil ao de pior da década de 2010. Foi dada a largada!

  2. Conheço pessoas que estavam lá e me disseram que quando o Casablancas foi pra plateia eles quase arrancaram pedaços dele. Me disseram que o show foi incrível. O povo adorou a presença do Elvis Costello, mas dizer que ele “quase” roubou a cena é exagero né? Faça-me o favor. Os Strokes foram ovacionados.

  3. queria muito um show dos Strokes aqui. :/
    e acho engraçado como parece haver certo ressentimento das pessoas com os Strokes, principalmente por parte da galera mais velha.

  4. Diógenes, não é ressentimento, é que é difícil engolir tanta babação por uma banda que não é um décimo do que apregoam. o tal primeiro disco deles, chamado de clássico, é uma série de chupações que vai de the fall a iggy pop, passando por pretenders e outros. o problema é que se vive de hype, palavrinha que mata. e os strokes são a maior expressão disso.

  5. Ismael,
    diz pra mim suas 3 bandas preferidas que sejam 100 por cento originais.
    Isso não existe. Pode dizer que é chupação da banda X ou Y, television, tom verlaine, mas se tem muita gente que embarca no hype há muita gente que alimenta má vontade com o hype.

  6. “com todo respeito” é ótimo, né? hahaha

    enfim, acho que a própria banda sabe que o disco novo não é lá essas coisas – tanto que só incluiu 4 músicas novas no show. e comassim que deixaram “life is simple in the moonlight” de fora? é a melhor do CD, poxa! e quando o próprio grupo tem confiança com o trabalho mais recente, geralmente abarrota a setlist de coisa nova, vide radiohead com o In Rainbows, por exemplo.

    mas eu iria muito fácil num show deles por aqui se rolasse esse ano. ainda mais se o número de músicas novas ficar só em 4.

  7. mas já se foi o tempo que os Strokes eram o supra sumo do hype. hoje em dia, já tem um público cativo. querendo não, é uma boa banda, relativamente grande, enfim…

    e eles realmente não gostaram do álbum, inclusive admitiram isso e parece que vão lançar outro ainda esse ano.

  8. Subscrevo a tudo que o Vinicius disse! Você não pode justificar todo o sucesso da banda somente ao hype… Eu como fã gosto das músicas que eles fazem e o hype em torno é totalmente supérfluo para mim. Tenho menos de 20 anos e não vivi na época em que as bandas que influenciaram os integrantes dos Strokes tocavam. Não os conheço direito e estou trabalhando nisso mas duvido que alguma dessas bandas vão substituir minha empatia para com os Strokes.

    P.S.: O nome da música número 13 do set list é “What Ever Happened?”.

  9. O problema não é ser original ou não. O nó da questão é o pastiche.É a falta de uma centelha de originalidade. Você pode ouvir REM e dizer que eles ouviram Beach Boys, Velvet, Patti Smith,o escambau…mas dentro disso eles criaram uma sonoridade deles, deglutindo as influências para gerar algo. E assim é com Echo and The Bunnymen, Smiths, Iron Maiden, Rush, Radiohead, Arcade Fire e quem vc imaginar que tenha sido realmente significativo. Os Strokes foram simplesmente derivativos, com pose de meninos rebeldes de aptos. Não há risco, não há raça, não há sangue. Há um reflexo muito sintomático do rock atual…No fundo, não diferem muito de Lady Gaga.

  10. Strokes é reflexo do rock atual sim Ismael. Sem raça ,com muita pose e recursos pirotécnicos. E uma ajudinha básica do Elvis Costello, no caso nesse show Mas, vá convencer um “alternativo” disso. E dá-lhe MC5, Stooges, Ramones, New York Dolls nas influências do Strokes.

  11. Vou dizer uma coisa. Essa parada de querer colocar definições na música como um todo é um lixo. E isso mata metade das opiniões proferidas pelos leitores. A gente tem que parar com essa questão elitista ou facista mesmo de querer contextualizar a música. Um puta preconceito com o artista X que chupa a música Y que sai da cena J da música mundial com isso. Puta que pariu, onde nós estamos?. Tenho convicção que qualquer pessoa pode mostrar daqui a 20 anos pro seus filhos ou outras pessoas, músicas da atualidade que,de certa forma, marcaram tais pessoas, pode ser Strokes, Fernando & Sorocaba, Lady Gaga ou Parangolê. Não importa, é o que rolava pra alguém em determinado contexto. O que me deixa com o pé atrás são as pessoas comprarem a ideia de que a musica X tem que soar da forma Y pra entrar no contexto J de qualidade. Quanto lixo!. Imagina os Strokes como artistas pensando nessa temática no momento em que criam uma música. kkkkkkkkkk. Não faz sentido algum.
    Eu curti pra caralho o In Rainbows do Radiohead e, por enquanto, não entrou na minha cabeça o The King Of Limbs, vai saber por quê???!!!
    Com relação a hype ou afins, isso a mídia cria e tem gente que compra, assim como o MELHOR DISCO DO ANO, A BANDA QUE SALVOU OS PATINHOS DA LAGOA, O NOVO ROCK ALTERNATIVO, tudo isso é impactante, não? Bom, espero estar longe dessa coisa ao ler uma matéria sobre determinada banda.

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