Entrevista: Herod Layne e Sinewave

por Ramon Vitral

A popularidade não mais detém o monopólio da criatividade. A lógica dos mercados fragmentados apresentada pelo editor-chefe da revista Wired, Chris Anderson, no livro “A Cauda Longa”, está na ponta da língua dos músicos da Herod Layne.

A teoria de Anderson se faz valer no seguinte raciocínio: mais do que nunca, muitos produtos multiplicados por um volume pequeno de venda equivalem ao sucesso de venda de um único produto. Além do domínio pleno dessa lógica, a banda paulistana propõe o seguinte questionamento: o que é lucro?

Criada em 2006, a Herod Layne é composta por três profissionais de tecnologia da informação e um estudante de Direito. Moeda para eles é mídia e o sucesso de seu trabalho é medido pelo número de downloads gratuitos do disco “Absentia”, lançado em julho do ano passado.

Auto-declarados pertencentes do gênero pós-rock (segundo eles, “um meio-termo entre o indie rock e o progressivo”), os músicos da Herod Layne compõem um nicho de mercado capitaneado por eles próprios através do selo virtual Sinewave.

De responsabilidade de Luiz Freitas e do baixista Elson, da Herod Layne, a Sinewave é norteado pelos princípios do copyleft. Qualquer música hospedada no site do selo (http://sinewave.com.br/) está disponível para uso e consumo convenientes às vontades do ouvinte.

Em seu quarto ano de existência, a Sinewave armazena 82 álbuns, 16 vídeos e 22 podcasts, além de outros arquivos gratuitos. Em janeiro e no começo de março realizaram as mais recentes edições do Sinewave Festival (a terceira edição foi em Curitiba e a quarta em Porto Alegre).

Com “Absentia” e os subprodutos desse mais recente álbum (como shows e clipes), os músicos da Herod Layne não aspiram dinheiro. Segundo Elson, Sachalf (guitarra), Johnny (bateria) e Lippaus (guitarra), a graça está na diversão. Em músicas experimentais que cantam o silêncio e canções com diferentes níveis de leitura, a banda brinca com os rumos da cauda longa.

No bate-papo com o Scream & Yell realizado na Livraria Cultura do Shopping Bourbon, horas antes do lançamento do novo clipe da banda (da música “The Unsung Hero”, assista abaixo), os músicos da Herod Layne e Luiz Freitas da Sinewave falaram sobre as perspectivas de uma indústria musical inconstante.

Questionados sobre o papel da banda nesse cenário e a localização do grupo na cauda cada vez mais longa e horizontal do gráfico que mede a relação entre demanda e hits, eles nem hesitam: “Nós somos a ponta dessa cauda!”.

Vocês já lançaram dois álbuns, dois EPs e um documentário e participaram de festivais em diferentes regiões do Brasil e um no Canadá. Como a banda começou?
Sachalf: Começamos em 2006. Não como banda, mas um projeto. Eu e o Elson trabalhávamos juntos e na época resolvemos fazer um experimento. Era tudo no MSN, transferindo arquivos: eu fazia uma coisa, ele mexia e me mandava. Fizemos uma primeira música (“Prelude”) para participar de um festival, mas não enviamos por questões técnicas. Então ficamos pensando o que fazer com a música. Por coincidência, na mesma época, surgiu um concurso internacional do David Gilmour. Ele estava relançando “Arnold Layne”, (música do Pink Floyd) de 1967, com o David Bowie no vocal e organizou um concurso de covers com o MySpce. A gente já tinha decidido o nome da banda (uma fusão da “Arnold Layne” com a canção “Like Herod”, do Mogwai) e foi uma coincidência legal. Gravamos a nossa versão e acabamos ficando em oitavo lugar, por votação online.

Johnny: Foi a primeira vez que a Herod Layne virou notícia. Eu nem estava na banda e o Elson me mandou um link de uma matéria que saiu no (jornal O) Globo.

Sachalf: O Globo publicou uma foto do Pink Floyd ocupando metade de uma página e uma matéria com um fotinha nossa no canto (risos). Mas foi legal pra caramba. Repercutiu e saiu em outros veículos também. Resolvemos que tínhamos que montar uma banda, levar aquilo pro palco. Já tinha uma cobrança: “Ah vocês tocam, eu quero ver ao vivo”. Convidamos Johnny pra bateria, ele entrou e rapidamente pegou o espírito. Na primeira vez que ele chegou no estúdio falou: “Se é pra experimentar vou fazer um negócio que sempre quis”. Pegou os pratos da bateria e colocou invertidos pra tocar (risos).

Johnny: Não me passaram muitas diretrizes ou tutoriais, só disseram pra fazer muito barulho (risos). Eu tocava num estilo totalmente diferente, então foi um choque. Tinha que controlar tempo e velocidade, mas ao mesmo tempo sempre tive muita liberdade. Esse sempre foi o espírito da Herod Layne. Saí de uma banda de pop rock na qual estava relativamente travado para um negócio completamente novo. O bacana é que já passou quase cinco anos e me lembro do primeiro dia, do primeiro ensaio, da primeira música que tiramos, de detalhe por detalhe. Depois seguimos como trio durante um bom tempo.

Sachalf: Acabamos marcando show antes até do que queríamos. O convite foi lá no extinto Germinal, na (rua) 13 de Maio (em São Paulo). Foi o último show do Germinal. Nosso segundo show foi no Vila Rock – que também fechou depois.

Johnny: A gente era uma banda de fechar a casa (risos).

Sachalf: A gente tocava e o lugar fechava. Mas é melhor falar baixo pra ninguém ouvir (risos).

A banda surgiu com o concurso no MySpace. Na época ele tinha acabado de ser vendido por US$ 580 milhões para a NewsCorp, estava no auge. Hoje ele está pra ser vendido por US$ 50 milhões e perdeu muitos dos seus usuários. Como vocês lidaram com esse cenário ao longo desses cinco anos?
Elson: Estamos quase abandonando o MySpace. Era uma ótima ferramenta, mas por “n” questões administrativas e estratégicas eles estão se perdendo (terreno) cada vez mais. Era o MySpace lá fora e a Trama Virtual por aqui. Sempre criamos perfis nas redes. Surgiu a Bandcamp e criamos o nosso usuário lá. O MySpace era o mais famoso e acabamos o usando mais como todo mundo fez, mas sabíamos que não era a única via.

Luíz: O MySpace era a única mídia que funcionava, mas a tecnologia dele era muito ruim. O site é pesado, o player vive dando problema. Não funciona em todos os browsers e o controle anti-spam é muito ineficiente. Não dá mais pra usar como comunicação entre bandas. Quando surgiram redes sociais mais eficientes ele caiu.

Sachalf: A gente tenta usar tudo que tem disponível. Sempre optamos pela divulgação ante qualquer lucro. Abrimos mão de cachê para tocar em lugar que terá divulgação e alcançar um público que não alcançaríamos. A prioridade é essa: divulgar de graça, sempre que possível e onde for, do jeito que tiver de ser.

Elson: Essa bagunça do MySpave tem mais ou menos a ver com o surgimento do Sinewave. Tinha um monte de banda escondida no MySpace. Por mais que elas tivessem perfis conectados a outros, estavam escondidas e sem divulgação. Tivemos a ideia de criar o Sinewave por ver bandas perdidas.

Sachalf: Bandas com a mesma filosofia: “quero divulgar minha música, não quero ganhar nada com ela e pode ouvir de graça. Não estou preocupado com dinheiro, vamos difundir”.

Luíz: O MySpace e outras redes eram muito confusos. Havia muitas bandas e eu não sabia o que ouvir primeiro. Acabava não ouvindo nada. Eu tinha banda e pensava que a maior dificuldade é como chamar atenção. Como o cara vai ver aquela listona de bandas e fixar o nome na nossa? Daí pensamos na Sinewave. Só com o MySpace não teríamos divulgação. Criamos uma mídia que nós administramos.

Johnny: Estamos enraizados na Sinewave. O núcleo é ali, mas qualquer ferramenta que pareça oportuna e com credibilidade vamos investir. A Sinewave é a nossa âncora.

Como vocês chegaram ao formato atual de divulgação do trabalho de vocês?
Sachalf: Não existe uma receita pronta. Funciona por tentativa e erro e acabamos seguindo alguns exemplos de umas bandas. Vemos o que deu certo lá fora e o que dá pra aplicar aqui. É adaptação de formas vencedoras de divulgação e marketing para a realidade que a gente tem aqui.

Elson: Não seguimos uma regra. A gente não consegue enxergar uma pessoa que esteja fazendo certo. Está todo mundo fazendo uma coisa diferente. A gente observa e tenta fazer de alguma forma. É o que costumo dizer sempre: não é uma banda, um produtor, um jornalista ou blogueiro que está definindo um formato. Estão todos tentando descobrir qual é o caminho! Há toda uma indústria tentando fazer isso.

Sachalf: Tem o intercâmbio entre as bandas. Não adianta uma banda tentar crescer sozinha – e muitas fazem isso – que ela não vai chegar a lugar nenhum. Com os festivais da Sinewave a gente percebeu que a união das bandas ajuda muito quando há um objetivo em comum: expor uma cena que está escondida. Um esforço conjunto de todo o pessoal que tenta emergir. Alguém vai chegar primeiro, mas quem chegar leva os outros. Quem chega sozinho não se sustenta lá em cima.

Luíz: Quando começamos a Sinewave o público de pós-rock no Brasil era mínimo. Não ia adiantar nada divulgar a banda se não formássemos o público. Tivemos de explicar o que é pós-rock e depois apresentar a banda.

Johnny: Em termos de estratégia, a gente sempre tenta conciliar o conteúdo musical com o que faremos depois do lançamento. Tanto que as tours da Sinewave estão muito alinhadas com as estratégias de lançamento do álbum. A gente não lançou pra ficar quieto em São Paulo, mas pra sair pelo Brasil e atrair bandas.

Sachalf: A ideia é sempre termos alguma coisa boa pra divulgar, sempre ter alguma coisa nova pra oferecer. Assim estamos sempre alimentando a cena. Além da parte musical também trabalhamos muito a parte de vídeo, a parte visual da banda. Fiz um curso de cinema pra fazer trabalhos profissionais. Estou montando uma produtora de vídeo e acho que vale a pena investir nisso. As bandas têm problema em divulgar uma música e depois a dificuldade está em suprir a necessidade visual. E a cada show o público interage mais com a banda. No (nosso) primeiro show, no Germinal, tinha pouca gente, a maioria conhecidos. Voltamos de Curitiba e tinha gente subindo no palco e puxando os instrumentos pra tocar também! E nessa cena isso não é de acontecer, mas espero que role sempre (risos). É o pessoal que se identifica, que está gostando, é o retorno que a gente tem na hora. É uma pista que a gente tem que está dando certo.

Elson: Estamos tateando caminhos. Essa ideia de festivais, principalmente fora de São Paulo, para formar público, está dando bastante certo. Há demanda. Pode ser que aconteçam poucos shows do nosso estilo em outras cidades. Outro dia comentei no Twitter que quero ir pro Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campinas e já veio um monte de gente dizendo: “Pô, que legal, vem pra cá!”, “Quero ver o show”. Fazer festivais fora está dando muito certo. Forma público pra todo mundo. É o que o Sachalf estava falando: está todo mundo junto. Não conseguimos enxergar outra banda como uma concorrente.

Mas vocês encontram outras bandas brasileiras que compartilham dessa mesma lógica de Copyleft e espírito independente de vocês?
Luíz: Os festivais de Curitiba e Porto Alegre foram terceirizados. Quem tomou a iniciativa de levar a Herod Layne e o festival pra lá foram bandas locais. No segundo Sinewave Festival trouxemos para São Paulo uma banda de Porto Algre e outra de Curitiba e a reação deles foi fantástica. Eles saíram daqui querendo organizar no Sul. A TV Educativa do Paraná colocou a gente ao vivo, 12h, para explicar o que era o festival! No final se trata de entretenimento. Tudo no esquema “faça você mesmo”. Sempre. Toda a divulgação, financiamento e equipamento, foi tudo organizado pelas bandas.

Sachalf: É o que falávamos de intercâmbio. Se você trouxer uma banda da Venezuela, os caras vão querer que você toque lá. É um conceito simples e básico que funciona nesse cenário.

Elson: Tem gente que vai aos festivais e depois entra em contato falando que conhece outra banda que toca no mesmo estilo que o nosso. Isso aconteceu com a lavalssa. Ouvimos, gostamos e depois do festival lançamos os caras. E é isso que alimenta a cena. A pessoa vai ao festival, vê que a banda dela toca algo parecido e pergunta se pode fazer junto. Gostamos de trabalhar com uma certa curadoria por estilos. A gente prefere chamar uma banda pequena, que não tenha público ainda, mas tenha tudo a ver com a proposta estética da Sinewave do que chamar uma banda que não tenha nada a ver, mas tenha público e gere mais dinheiro. Queremos formar um grupo de bandas que tenha uma postura estética parecida. Meio experimental, meio esquisita, meio pesada e meio suja (risos). Está dando muito certo. A nossa proposta é fazer mais cinco festivais pelo Brasil. E em cada uma dessas cidades que fomos tem uma banda lançada pela Sinewave que conhece outros grupos no mesmo estilo. Temos um núcleo em cada lugar.

Vocês vivem dentro da lógica do Copyleft, disponibilizaram o álbum de graça no site da Sinewave e preferem repercussão ao retorno financeiro. Mas uma pessoa não vive sem dinheiro. Como vocês administram essa situação?
Sachalf: Temos empregos!

Elson: Ninguém sobrevive de música nesse contexto semi-independente. Aquela entrevista do Scream & Yell com o Romulo Fróes abriu a minha cabeça. Um cara top nessa cena toda, capa da Ilustrada, saiu na Rolling Stone e com trabalhos super elogiados. Ele diz que não consegue reunir dez pessoas na Rua Augusta, numa terça-feira às duas da manhã. Quando ele fala que o cachê dele é de R$ 450 e não consegue fazer R$ 450 num show, é porque não tem como sobreviver. Estamos todos na mesma. Não é só a gente que não ganha dinheiro: ninguém ganha! A nossa decisão mais certa quando criamos a Sinewave foi de não trabalhar com dinheiro. Ganhar dinheiro não é prioridade. Isso ajudou a gente a focar em várias outras coisas. É comum pensar que o fato de não ganhar dinheiro vai fechar portas. Com a gente acontece o contrário: o fato de não nos preocuparmos em ganhar dinheiro abre portas. A gente consegue fazer qualquer coisa que quisermos. Se dinheiro fosse critério, o Sinewave seria uma coisa totalmente diferente. Tentaríamos ser pop.

Luiz: Qualquer briga de banda começa quando tem dinheiro envolvido. Já vi diversos músicos que gosto confessando isso: não é vergonha nenhuma ter um emprego além da banda. Não faz de você menos artista, não faz sua banda pior.

Sachalf: Talvez até faça de você um profissional melhor (risos). A gente trabalha e muitas vezes usa coisas do dia a dia para projetar a banda. Usamos metodologia de gestão de projeto, por exemplo. Desde o começo tratamos a banda como um projeto mesmo, e continuaremos assim. É a banda mais nerd que existe (risos). Três gerentes controlando cronograma e vendo o que vai entregar cada dia.

Elson: A nossa moeda é mídia. Sempre pensamos: pode ter pouca gente e o cachê não é legal, mas vai gerar algum tipo de repercussão? Um retorno de mídia? A nossa estratégia é pensada em cima disso e está dando certo. As pessoas estão falando, twittam sobre, comentam no Facebook. Mídia e links são ótimos retornos e em relação a isso estamos super satisfeitos.

A lógica e os princípios de vocês são muito semelhantes com as ideias defendidas pelo Chris Anderson tanto na “A Cauda Longa” quanto em “Free”.
Johnny: Nós somos a ponta dessa cauda (risos).

Elson: Toda a cena independente acaba se encaixando nessa lógica. Você tem pouquíssimos que conseguem aparecer um pouco mais e alguns poucos que talvez possam se manter com música. E tem o resto da cauda composta por todo o resto, por milhares de bandas. A gente vê isso na prática. São milhares de bandas que até tem algum espaço pra tocar em São Paulo, por exemplo, mas não tem público suficiente pra todo mundo. Ninguém enxerga uma saída. Nós estamos nos mexendo e até agora tem dado certo.

Luíz: Fazemos gráficos dos nossos lançamentos e comprovávamos a cauda longa. Li uma entrevista do Nenê Altro, do Dance os Days. Ele fala que, de certa forma, na cena independente a gente já tem um microcosmo do mainstream: um monte de bandas tentando trabalhar da mesma forma que o mainstream trabalha achando que um dia vai chegar lá. Mas não é bem assim. Com esse lance de ter que chamar atenção entre mil, duas mil bandas, sem um produtor, um figurinista, um assessor de imprensa, você vai ter de fazer tudo. A forma de se trabalhar na parte de trás da cauda é completamente diferente. Acho que é nisso que muita banda peca.

Elson: E peca também porque não sabe como fazer. Cada um está fazendo de um jeito. Não tem uma fórmula.

Como foram os seis meses de produção do álbum?
Elson: O disco foi gravado num estúdio que a gente marcava hora picada de gravação. Duas horas hoje, três amanhã e por aí vai. Não gravamos o disco inteiro em um final de semana. Sempre fazíamos picado e até por isso demorou seis meses.

Johnny: Íamos gravar um EP, (no final) gravamos um CD. Éramos três e acabamos as gravações como quatro. Sentíamos sempre a falta de um cara na banda e conseguimos alguém na gravação da última faixa, nas últimas horas de gravação. A gravação era à noite, tirando a bateria. O Sachalf e o Elson fizeram o CD acontecer. Tenho um neném pequeno e não conseguia me dedicar como eles. A cereja do bolo foi a entrada do Lippaus. A gente precisava de mais peso, mais pegada. A parte psicodélica é muito importante no estilo, mas a gente precisava disso.

Lippaus: O Johnny tinha falado no MSN que eu tinha que vir pra São Paulo, pra entrar na banda. Achei que era pegadinha. Um dia eu estava na Dissenso, o Elson também e ele comentou: “a gente quer você na banda”. Não acreditei! Tenho 20 anos, morava em Indaiatuba na época e hoje moro em Campinas. De tantos cara pra chamar… isso é uma puta honra! Uma banda que eu adoro. Sempre gostei. Descobri na época que comecei a ouvir pós-rock. Foi muito bom. Então eles me passaram a última música do álbum e falaram: “queremos uma guitarra aí”. Estava todo mundo animado, querendo criar logo.

Sachalf: O cara estava tão empolgado que tive de bloquear ele no MSN (risos). Não conseguia trabalhar! Eu no computador e ele pedindo pra ouvir o som. Ele ficou umas duas horas bloqueado (risos).

Lippaus: Gravei a ideia e mandei pro Elson. Mas estava muito mal gravado. Sabe aquele microfone de 10 conto pra computador? Peguei um daquele, coloquei perto do amplificador, com umas distorções e botei pra tocar. O Elson ouviu, gostou e fomos gravar.

Sachalf: A primeira música que a gente fechou foi a de abertura do álbum, “The Unsung Hero”. Lançamos ela sozinha na internet, mas para a versão do CD fizemos uma modificação por sugestão do Lippaus. Uma guitarra que ficou tão boa no meio da música, que achamos melhor mudar pela versão nova. Ideias boas são sempre bem vindas. Tivemos muita ajuda do produtor, o Gustavo “Big” Simão. Ele entende a nossa proposta, viaja junto com a gente.

Elson: Não pensamos muito no disco como uma ideia fechada. Estamos no estúdio e se vemos que não tem algo legal, mudamos. Invertemos, fazemos diferente.

Vocês apresentam esse álbum como uma narrativa. Mas nunca tiveram uma rotina de gravações, com outros empregos, e no encerramento do CD entrou um novo membro. Como foi criar um padrão pro álbum?
Johnny: Focamos esse CD em temas: perdas, vazio e ausência. Desde a faixa mais silenciosa, só com som ambiental, até a caixinha de música que incluímos em outra música, o conceito foi sempre centrado nessa ideias. Esse era o nosso alicerce. Até “300-Megaton Lullaby”, uma música com vocal e diferente das demais, tem esse foco. Podíamos gravar a música em maio ou julho, ela teria o mesmo foco. Por isso saiu legal.

Elson: Tem outro lance: nós nos auto-impomos prazos, mas não é como uma gravadora que determina uma data. Se o disco não está bom, vamos continuar. É legal trabalhar assim.

Johnny: Os caras varavam noites e noites no estúdio.

Sachalf: Duas da manhã, esfregando câmera fotográfica na guitarra pra fazer um som e o produtor dormindo (risos).

Elson: A gravação mais legal foi de “Tacet”, que significa silêncio. É uma citação ao John Cage e aquela composição “4´33”. Pensamos em fazer uma homenagem, uma faixa de um minuto em silêncio. Acho que demoramos duas horas no estúdio discutindo como gravar o silêncio (risos). E o produtor não acreditando na nossa discussão. Eu gosto de referências. Tenho um gosto variado, acho legal distribuir links por aí. Tem um vídeo no Youtube que é a Orquestra da BBC de Londres fazendo a apresentação com todo mundo em silêncio. Aparecia escrito “tacet” na partitura dos músicos. Bati o olho naquilo e vi que tinha que virar uma música.

Sachalf: No final das contas o som foi só comigo entrando na sala de gravação. Eu que toquei o silêncio. É um solo meu (risos). Na verdade tem mais detalhes, uma porta que abre…

Elson: A gente discutia se a porta ia abrir ou fechar, se ele ia entrar ou ficar parado (risos)…

Sachalf: O trechinho que fecha o CD é o primeiro registro fonográfico da história, de 1870.
Elson: Uma pessoa cantando “Au Clair de La Lune”, uma cantiga francesa. É tão antiga que não dá pra ouvir nada. E é meio assustadora. Ouvimos e vimos que tinha que estar no disco. É a última coisa, um samplezinho. Gosto dessas coisas diferentes. Já tenho até umas referências pra um próximo disco que andei encontrando por aí.

Sachalf: Nossa música não é pra ouvir tomando banho. A prioridade é a música.

Johnny: “Absentia” (a música) tinha bateria, baixo… A gente ensaiou e a preparou e quando fomos gravar vimos que tinha que ser só guitarra. Essa música tem que representar o maior vazio possível e imaginável para as pessoas entenderem qual é o espírito do CD.

A casa abandonada na capa e algumas músicas me lembraram de Twin Peaks, do David Lynch, e a trilha sonora da série, do Angelo Badalamenti. Foi referência?
Sachalf: Total! Eu sou fã da série. A gente tenta trazer referência do cinema também. Nos nossos clipes a gente faz algumas homenagens. O clipe de “The Unsung Hero” tem uma pegada do David Lynch e referências a “Donnie Darko”. Sempre tentamos fazer isso. Enriquece. É legal pra caramba fazer e são homenagens para os nossos mestres.

Elson: Tudo vira referência. Um filme que você vê, um livro que você está lendo… Esse clima do David Lynch tem a ver com o nosso som: uma coisa meio esquisita lá no meio e não dá pra entender bem o que é. Genial! Tentamos colocar esse clima na música. Se a ideia é colocar algo esquisito ali no meio, bota. Se vai ficar esquisito coloca.

Sachalf: Você pode não entender porra nenhuma do filme do David Lynch e sabe que é genial! Tiramos a foto na nossa viagem pro Canadá. Estávamos no carro, vimos a casa, demos ré na estrada, descemos do carro e tiramos a foto. Sabíamos que ia ser a capa do disco. Na época nem havia ideia de disco ainda, mas a capa a gente já tinha (risos).

E a sexta música, “Il Mafioso”, lembra alguns trabalhos do Ennio Morriconne.
Elson: Sim, muito! Teve outra brincadeira que pensei em fazer, mas acabamos tirando na versão final dessa música. Ela começava com uma fala que dizia: “Johnny Cash was not Jesus but he had the same initials”. Era uma referência a uma música do Pulp em que o Jarvis Cocker cantava: “I am not Jesus but i have the same initials”. A segunda música do disco também. Chama “Drug-Induced Inertia” e tirei esse nome do livro do Hubert Selby Jr. que deu origem ao filme “Réquiem Para um Sonho”. Anotei a frase quando li, quase cinco anos atrás, e virou nome de música. Há um monte de referência.

Sachalf: A gente discute muito o que vai fazer. Trocamos e-mails o dia inteiro. É a sinergia dos quatro que garante essa cara que tem o CD.

E como tem sido a repercussão do álbum?
Johnny: Estamos felizes com o resultado, mas já no pique pra fazer outras coisas muito legais e coesas.

Sachalf: Tem gente que reclama do disco dizendo que as músicas são muito distintas umas das outras. Não vejo isso como problema.

Elson: Teve um site que fez uma crítica falando que o principal problema do disco é que ele é variado demais. Disseram que parece uma coletânea de um monte de bandas, sem coesão. Fiquei muito feliz com essa crítica. Primeiro: eu gosto de ler crítica e segundo: achamos que essa variedade é o ponto mais alto do trabalho.

Clique na imagem para baixar gratuitamente “Absentia”, do Herod Layne
Conheça o catálogo do selo Sinewave: http://sinewave.com.br/catalogue/

12 thoughts on “Entrevista: Herod Layne e Sinewave

  1. chato pra dedéu. rapaziada, a gravata roxa não tá bacana. e não é só tirar uma foto duma casa bagaçada e enquadrar que vira capa de disco.

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