O melhor do M/E/C/A/Festival 2011

por Murilo Basso

Inspirado no conceito dos festivais multiculturais, o M/E/C/A/Festival transformou a praia de Atlântida, no balneário de Xangri-lá, litoral norte do Rio Grande de Sul, em território para a prática de diversas atividades: campeonatos de surf, skate, futevôlei, além de mostras culturais e, é claro, muita música.

Wannabe Java abriu a programação musical mesclando riffs e beats dançantes com cargas de experimentalismo. Passion Pit, Yeasayer e Holger são influencias evidentes – e tem gente que ainda desconhece estas bandas. A velocidade da troca de informações musical impressiona nos anos que estamos vivendo, e cobra seu preço: o público, ainda tímido, esteve longe de responder ao som do grupo. Quem sabe daqui alguns meses.

Na sequencia, os curitibanos do Rosie & Me trouxeram para o palco um despojamento contagiante. O ponto alto ficou a cargo da versão propositalmente tímida de “Ready For The Floor”, hit electro rock do Hot Chip. Desilusões, incertezas e inseguranças com roupagem folk e os dois pés no pop. Acordes simples, letras introspectivas e melodias marcantes. Tudo tão singelo que fica a pergunta: por que não partir do simples para fazer música?

Tudo bem, tudo lindo, mas o M/E/C/A só ganhou cara de festival realmente quando o Copacabana Club subiu ao palco. Ok, se você for ao Google, em cinco minutos voltará com no mínimo três dúzias de bandas iguais a eles. Originalidade nunca foi o forte do quinteto. Mesmo assim é impossível permanecer indiferente à apresentação. Música acelerada, boa presença de palco, vocal correto e uma sucessão de repetições que, mesmo estando longe de convencer, ao menos aumentam a vontade de beber cerveja e pular. Afinal, música também é diversão, certo? O repertório contou com músicas inéditas e que estarão no debut da banda, intitulado “Tropical Splash”.

Quando a noite já dava as caras os irlandeses do Two Door Cinema Club deram seu recado. Seguindo a linhagem das bandas que revivem os anos 80 e escorados na competência do guitarrista Sam Halliday, o grupo mandou bem na intensa “Undercorver Martin”, nos falsetes do vocalista Alex Trimble em “Something Good Can Work” e no final cantado em uníssono nos refrões de “I Can Talk”. Dance sem medo de ser feliz.

Por volta das 23h o Vampire Weekend tomou o palco com suas batidas que misturam afro pop e indie rock. É fato que os nova-iorquinos nunca foram uma banda virtuosa e, na verdade, nunca precisaram ser. Quem foi ao show não esperava ouvir solos de guitarras ou assistir demonstrações explícitas de heroísmo musical. Boas canções já bastariam. E a turma liderada por Ezra Koenig foi além.

Extremamente à vontade, o quarteto alterna os melhores momentos dos dois trabalhos do grupo: logo no inicio “Holiday”, “White Sky”, “Cape Cod Kwassa Kwassa” e “I Stand Corrected”. O que já era bom em seu CD player, Ipod e afins se torna ainda melhor no palco. A sequência “California English”, “Cousins”, “Run” e “A-Punk” faz a banda transitar em um território que contempla desde Talking Heads a Paul Simon, mesclando força com obsessão pela simplicidade. É o retrato de uma banda, para nossa sorte, ainda longe de seu auge, afinal são apenas cincos ano de estrada e dois discos nas costas, mas ao mesmo tempo capaz de demonstrar imensa maturidade.

“One (Blake’s Got A New Face)”, “Giving Up The Gun” e “Oxford Comma” dosam de maneira coerente os laços étnicos e culturais que são encontrados conforme a apresentação avança, fazendo a ponte para o encerramento com “Horchata”, “Mansard Roof” e “Walcott” – que provam que o Vampire Weekend pode ser atordoante, vigoroso e, acima de tudo, musical. Fica implícito, em meio aqueles 50 minutos, a necessidade em acreditar que é possível mudar o mundo com uma canção, mesmo que as coisas não estejam saindo como planejamos.

Boas bandas não surgem todo final de semana, para reafirmar nossa paixão pela música e trazer de volta sua adolescência. É algo como dar dois passos para o lado antes de voltarmos a encarar a realidade. E o pessoal do The Twelves que nos desculpe, mas já era hora de voltar para casa. O que importa, no  fim das contas, é o saldo final: ótima organização e boa estrutura marcaram a primeira edição do festival gaúcho, que já desponta como uma ótima opção para o calendário brasileiro. Reserve janeiro de 2012.

Todas as fotos: Divulgação. Veja o álbum do M/E/C/A Festival no Facebook (aqui)

One thought on “O melhor do M/E/C/A/Festival 2011

  1. Murilo, concordo com a afirmatica do “por que não partir do simples para fazer música?” Achop muito isso. Mesmo sem achar o Vampire essas coisas toda, deve ter sido bem bom. E o janeiro de 2012 acabou de ganhar uma proposta…

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