CDs: Mechanics, Lestics, Cérebro Eletrônico

por Marcelo Costa

“12 Arcanos”, Mechanics (Monstro Discos)
Em 2008, o Mechanics lançou uma edição limitadíssima de “Neither Acoustic Nor Electric”, um ótimo EP com quatro faixas do insano “Música Para Antropomorfos” em versões acústicas para a trilha do documentário “Graffiti em Ruínas e Outros Muros”, de João Novaes. Quem achava que a banda pudesse amolecer após a experiência que prepare os ouvidos: “12 Arcanos”, novo trabalho dos goianos, é um forte concorrente ao posto de disco mais barulhento da música brasileira em 2010. O pacote novamente surge caprichado. O artista plástico carioca Lauro Roberto assina a arte fodaça. As letras, pela primeira vez em português, vêm impressas em cartas negras inspiradas no tarô e ambientam o freguês já nos títulos diretos: “Ódio”, “Cicatriz”, “Sangue”, “Fogo”, “Desmorto”, “Vira-Latas”, “Beleza” e… “Beleza”? “As coisas belas não possuem outro sentido que não seja imoral”, avisa a letra. “I Am Joe’s Fear of Disease”, a única em inglês, surge como bônus em um disco violento que fará até o Enforcado sorrir.

R$ 20 http://www.monstrodiscos.com.br/loja/
Nota: 8,5

“Aos Abutres”, Lestics (Independente)
O mundo de Olavo Rocha, vocalista e letrista dos Lestics, é cinza. Fragmentos: “Você quer se salvar e segue adiante, mas o céu jamais esteve tão distante” (“Travessia”). “Meus dias são eternidades ocasionais. Ontem já faz muito tempo, amanhã já é tarde demais”. (“Eternidades Ocasionais”), “A sorte é traiçoeira, mas o azar é leal” (“Dois de Paus”). Após dois belos álbuns produzidos em home stúdio (“9 sonhos” e “les tics”, ambos de 2007 gravados apenas por Umberto Serpieri e Olavo, ex-Gianoukas Papoulas), o grupo se firmou como quinteto e investiu na gravação de “Hoje” (2009), que perdeu em espontaneidade. “Aos Abutres” retoma o modus operandi (e a inspiração) dos primeiros álbuns e revela pequenas pérolas de cotidiano (embaladas por folk, country e rocks emocionais) como o tom infantil de “Dorme Que Passa” (“Fumar dinamite dói, cair do penhasco dói, tocar violino não dói, mas também não tem graça”) e a pungência de “Dois de Paus”, “Parto Normal” e da faixa título. Pop da melhor qualidade.

Download gratuito: baixe aqui http://www.lestics.com.br/
Nota: 8,5

Leia também:
– “9 Sonhos” e “les tics”, dois discos para baixar agora, por Marcelo Costa (aqui)
– “Em faixas como ‘Velho’, a banda consegue quase tocar o céu”, por Adriano Costa (aqui)

“Deus e o Diabo no Liquidificador”, Cérebro Eletrônico (Phonobase)
“Perdi a decência, a noção, a razão e a compostura”, canta Tatá Aeroplano na faixa que abre “Deus e o Diabo no Liquidificador”, terceiro disco do Cérebro Eletrônico. “Decência” narra uma “viagem sexo, drogas e rock and roll” pelo Baixo Augusta, em São Paulo, e dá o mote do disco chutando o politicamente correto no estômago. Na balada “Cama”, por exemplo, o personagem convida seu par a “tragar uma ponta” e cantar uma canção de Leonard Cohen. Logo depois, um Chapeleiro Louco avisa que fumou um baseado, e se vê seduzido por uma menina “de vestido transadinho”, que o leva em seu disco voador. Os relacionamentos abertos são o tema de “Os Dados Estão Lançados” enquanto “Desquite” provoca (sob uma base de forró no refrão): “Você me deu o fora, agora eu vou à forra”. Se o caos domina as letras (entre os grandes momentos ainda vale citar as ótimas “Sóbrio e Só” e “220V”), o namoro do quinteto com Roberto Carlos, Sergio Sampaio e Tropicália continua firme e rende, novamente, um dos discos do ano.

R$ 20 no http://cerebroeletronico.com/deod/loja/ (baixe gratuitamente o single “Cama”)
Nota: 8,5

Leia também:
– “Pareço Moderno”, segundo melhor disco de 2008 e com as duas melhores músicas (aqui)

9 thoughts on “CDs: Mechanics, Lestics, Cérebro Eletrônico

  1. Mechanics eu não conheço, mas interessei muito. Cérebro Eletrônico não sou muito fã, mas gostei do que ouvi deste novo disco. Já o Lestics… eu conheci a banda no início de 2010 através de uma indicação do Mac pelo twitter. E gostei muito de todos os discos, até do “Hoje”. Mas este “Aos Abutres” mata a pau. Eu o considero o melhor disco nacional de 2010. E “Dois de Paus” ficou no repeat por uns 3 dias seguidos. 🙂

  2. A imprensa não diz, exceto o Tatá Aeroplano, mas tenho dito: A patota goiana monopoliza a cultura rock aqui, só toca quem eles querem. Esqueçam essa roça (como diria Leo Jaime) aqui. Não sou músico (graças a Deus), não tenho banda e adoro Cérebro Eletrônico.

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