Música: Skank, Lulu, Leoni e Arnaldo

por Marcelo Costa

“Ao Vivo Lá Em Casa”, Arnaldo Antunes (Rosa Celeste)
Se o disco “Iê Iê Iê” sofria de estilização e soava datado, o repertório crescia no palco acrescido de números especiais formando um bom show, que surge agora reunido em um pacote CD/DVD comemorativo gravado por Arnaldo no telhado da varanda de sua casa, em São Paulo, para uma plateia de amigos e globais. O disco abre com uma grande versão de “A Casa é Sua”, segue com o pornô soft da ótima “Essa Mulher” e emenda com “Americana”, canção do grupo nordestino Solano e Seu Conjunto apresentada por Fernando Catatau a Arnaldo. Erasmo Carlos é chamado ao palco para cantar uma espertamente escolhida “Sou Uma Criança Não Entendo Nada” (Arnaldo faria 50 anos dias depois) enquanto Jorge Benjor decepciona em “As Árvores” (parceria fraca dos dois). Grandes momentos: a balada “Meu Coração”, a apropriada “Envelhecer” e a versões para “Quando Você Decidir” (Odair José) e “Vou Festejar” (Jorge Aragão). “Longe”, o grande momento do show, só está no DVD (dirigido por Andrucha Waddington e recheado de extras).

Preço em média: R$ 30 (CD), R$ 40 (DVD)
Nota: 8,5

Leia também:
– Arnaldo fala sobre o disco em entrevista para Marcos Paulino (aqui)
– Arnaldo Antunes ao vivo no Sesc Pompéia, por Marcelo Costa (aqui)

“Multishow ao Vivo no Mineirão”, Skank (Sony Music)
Diferente do projeto de Arnaldo (registro de um disco que cresceu no palco e ganhou novo significado), este álbum ao vivo do Skank é o tipo de souvenir para fã que pouco acrescenta a carreira do grupo. Funciona para quem estava lá e fez coro de torcida em “É Uma Partida de Futebol”, gritou “maconha” cada vez que ouvia “É Proibido Fumar” e sacudiu o Rider na versão de “Vamos Fugir”, de Gil. Porém, os detalhes de cada canção se perdem na grandiosidade do evento, entre a adrenalina despejada pela banda e o recurso sacal de deixar o público cantar (que pode funcionar em show, mas é chato pra caralho na solidão do lar). Escolhidas pelos fãs em votação, das 29 músicas, 16 (!) bateram ponto em “MTV ao Vivo” (2001) – e pouco mudaram. Três parcerias inéditas de Samuel Rosa com Nando Reis marcam presença (duas delas em versão estúdio), sendo que a melhor, “Fotos na Estante”, não arranha o brilho de “Resposta”. Bola dentro: a bela capa, uma foto do estádio em sua inauguração em 1965. Vale pôster.

Preço em média: R$ 30 (CD) R$ 40 (DVD)
Nota: 5

Leia também
– “Calango”, o disco mais importante do Skank, por Marcelo Costa (aqui)

“Acústico II”, Lulu Santos (Universal)
Uma reportagem do jornalista Regis Tadeu num show de Lulu Santos em agosto (2010) mostrou que o público não estava ali para ouvir canções novas. “Nem as conheço”, diz um espectador. A safra recente de Lulu é ruim? O público acomodou-se? As questões ganham reforço já que Lulu lança outro disco acústico repleto de canções com mais de 20 anos de idade – “Papo Cabeça” (1990), “Brumário” (1989), “Um Pro Outro” e “Minha Vida” (1986), “Tudo Azul” (1984) e “Adivinha o Quê” (1983), aqui com participação sensual de Marina De La Riva (que, no DVD, ainda canta “Ele Falava Nisso Todo Dia”, de Gil). Há faixas novas (“Baby de Babylon” é do álbum “Singular”, de 2009, “Vale de Lágrimas” de “Letra & Música”, de 2005) e até duas inéditas – a simplória “É Tudo Mais” e “O Óbvio”, do e cantada pelo baixista Jorge Ailton – mas a produção caprichada reforça a impressão de que Lulu virou “um funcionário do rock batendo ponto na fama” cantando, no DVD, Caetano (“Odara”) e Jorge Ben (“Tuareg”). Bonito, mas ordinário.

Preço em média: R$ 20 (CD), R$ 30 (DVD)
Nota: 6

Veja também:
– “Na Mira do Régis” visita o show de Lulu Santos. Assista ao vídeo aqui

“A Noite Perfeita”, Leoni (Outro Futuro)
“É Proibido Sofrer”, avisa Leoni logo na faixa que abre um projeto que começou em 2008, quando o compositor liberou para download a canção “Da Pra Rir e Dá Pra Chorar”, e seguiu distribuindo mais dez músicas novas para os fãs cadastrados em seu site oficial nos meses seguintes (todas ainda lá). Destes 11 singles mensais, 9 integram o CD “A Noite Perfeita”, registro de um show no Circo Voador em junho de 2010, com uma banda afiada comandada pelo guitarrista Gustavo Corsi, ex-Picassos Falsos. Ao invés de ficar lamentando a expansão do P2P, Leoni usou a internet para divulgar suas novas canções. O DVD traz 14 inéditas mais sucessos escolhidos pelos fãs enquanto o CD ignora cavalos de batalha buscando valorizar a bonita “Canção da Despedida” (dos Heróis da Resistência, ex-grupo de Leoni), aqui num medley com “Two Princes” (Spin Doctors), e números novos como a balada “O Amor Me Espera Lá Dentro”, a ótima “Hora de Pular do Trem” e “É Proibido Sofrer”, que diz: “A ordem é ser feliz”. Tente cumprir.

Preço em média: R$ 20 (CD, R$ 35 (DVD)
Nota: 8

Leia também
– Leoni recria o pop perfeito em “Outro Futuro”, por Marcelo Costa (aqui)
– Baixe várias músicas no site oficial de Leoni: http://www.leoni.com.br/

23 thoughts on “Música: Skank, Lulu, Leoni e Arnaldo

  1. Mac, dizer que “as árvores” é parceria fraca é pisar em casca de banana. Música romântica e atual. Escorregou e caiu Mac, Talvez não tenha gostado da parceria cantada, pois lírica é emocionante.

  2. Tb gosto de “As Árvores”, mas gosto mais de “Dinheiro” tb parceria dos dois. Esta no cd Um Som. Devia ter entrado.
    Discordo que o cd “Iê iê Iê” soe datado. Acho que o grande lance, um de seus méritos, é justamente o contrário.

  3. Mac, é “Iê Iê Iê” anos 2000, sim. Não é “Iê Iê Iê” anos 60.
    Acho super nítido isso. Vc não?

  4. É anos 60 sim. A sonoridade é sessentista mesmo sendo feita nos anos 2000. Isso fica ainda mais claro no show, com a iluminação de bailinho e os terninhos da banda. É uma revisitação não uma apropriação. E foi uma escolha do Arnaldo, ele quis soar assim (como se estivesse fazendo um filme de época). No disco não me agradou, no show (com todo o contexto) funciona melhor (apesar da turnê “iê Iê Iê” usar praticamente o disco todo, que não é tão bom sim – e cansar). Porém, importante dizer, o Arnaldo conseguiu construir uma carreira solo digníssima repleta de grandes momentos (alias, esqueci de mencionar no texto: senti falta de “Judiaria”, outro grande momento do show).

  5. Continuo discordando. O “Iê Iê Iê” ficou preso nos anos 60, é fato.
    Mas acho que a produção do Catatau deu pitadas – que faz toda a diferença – anos 2000, sim.
    Uma revisitação, sem dúvida. Mas não uma emulação.
    Ao meu ver o Arnaldo quis fazer um ‘Iê Iê Iê” contemporâneo.
    E conseguiu.

    PS: Achei o disco um achado. Várias pérolas pop do mais alto calibre.

    Abraço

  6. Como um jornalista escreve algo que não conhece? Amigo, se você não sabe nada além da carreira do Lulu, além dos muitos hits dele, não escreva. Também não dá para esperar que um site de cultura indie teça elogios a um artista pop como o Lulu. Preconceitozinho vagabundo!

  7. E eu que achei que os fãs de Lulu Santos ainda estivessem na máquina de escrever. Eles não só já estão na rede mundial de computadores com leem sites de cultura indie. 2012 está realmente próximo. kkkkkk

    Uma coisa: Leoni não dá…

    Abraços e bom natal para todos

  8. Acalmem os ânimos, acalmem os ânimos: o cara tem o direito de se expressar. Apenas acho engraçado falar em preconceito sendo preconceituoso. Se o jornalista fala mal é pq não conhece. Se é indie não pode ser pop (apesar do mesmo texto tecer elogios ao Leoni e termos uma entrevista com Planta e Raiz na capa). Porém, é preciso entender: fã pensa mais com o coração do que com a razão. A vida segue.

    Abraços e feliz natal e ano novo a todos

  9. Enfim, é impressionante. Tanto na página com a entrevista com o Planta e raiz quanto nesta apareceram comentários irados, criticando a abordagem ou da matéria ou de outros comentários. E nenhuma argumentação é usada para embasar o ponto de vista. Simplesmente se ataca o outro. Se quer fazer valer o direito de se expressar, que faça direito, e não fique nervosinho pq criticaram alguém que vc gosta.

  10. A verdade é que acho todos esses discos bemmmmmmm fracos. Música brasileira já passou desses carinhas ai. Tem coisa muito melhor acontecendo. Alias, pra mim, esses nunca aconteceram, periodo negro da música brasileira.

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