Roger Waters ao vivo em Los Angeles

por Fernanda Ezabella

Roger Waters quer te fazer chorar. Seja de emoção, por ouvir o mítico álbum “The Wall” ao vivo e a cores. Seja de tristeza, pelas imagens de cortar o coração projetadas num gigantesco muro, que vai aos poucos sendo construído no palco até esconder os próprios músicos.

O show da turnê “The Wall Live” foi em uma noite de segunda (29/11), num estádio coberto em Los Angeles. Mesma cidade em que, há exatos “30 anos, nove meses e 16 dias”, como bem lembrou Waters, ele e a banda Pink Floyd lançaram a turnê original do disco, que completa hoje 31 anos.

Mas não chorei. Fiquei hipnotizada. E muito emocionada ao ver, com enorme destaque entre centenas de fotos em homenagem a vítimas das guerras, Jean Charles de Menezes. Foi ao final do hino “Another Brick in The Wall (Part 2)”, com umas vinte crianças ao palco, todas com uma camiseta preta escrita “Fear Builds Walls”, cantando e batendo palmas, ao lado de um boneco feioso de marionete, grande e inflável.

Ao acabar, num telão redondo, veio o rosto do rapaz, morto no metrô de Londres em 2005, confundido com terroristas. Na sequência, no quase silêncio entre canções, veio sua ficha completa, nome, nascimento, morte e local da morte.

Sergio Vieira de Mello, diplomata brasileiro da ONU morto em Bagdá em 2003, também apareceu em foto no intervalo da apresentação, no meio de dezenas de outras personalidades, como Gandhi, Salvador Allende, Sophie Scholl, Neda Agha-Soltan e muitos soldados.

Mas isto são detalhes perto da parafernália visual que Waters constrói. “Very Broadway feeling but amazing video & sound”, escreveu Slash no Twitter, direto do estádio. Primeiro e mais impactante foi o próprio “wall”. A canção de abertura, “In the Flesh”, deu uma idéia do que viria pela frente. Fogos de artifício iluminaram as laterais do palco, deu para ver uns pedaços de muro, e um aviãozinho surgiu do nada. Pimba! Derrubou quase tudo.

Aos poucos, o muro foi sendo reconstruído, até sumir com os 12 músicos da banda. Roger Waters vinha à frente cantar às vezes. Todo de preto e tênis branco, ele vestiu capa estilo nazista, óculos escuros, pegou na metralhadora e “atirou” na multidão.

Em “Mother”, tivemos uma dobradinha de Waters, 67 anos. Ao vivo e no telão, com um vídeo de 1981, cantando a mesma música. “Confesso que isto foi narcisista”, disse ao público.

Waters criou esta ópera-rock num período de depressão enquanto fazia turnê com o Pink Floyd, nos anos 70. As músicas são extremamente pessoais, falam de guerra (seu pai morreu na Segunda Guerra), mas também de mulheres e groupies (biquínis e peitos de fora surgem nos telões em “Young Lust”).

É uma jornada pesada, duas horas. O paredão foi desculpa para imagens incríveis. Como um porta-aviões descarregando bombas no formato de cruzes, estrelas de Davi, símbolos da Shell, da Mercedes Benz. Em terra, um rastro de mar vermelho. Ou desculpa para o guitarrista subir ao topo e fazer solos em “Comfortably Numb”. Ou para jogar um boneco suicida em “The Trial”.

O famoso porco voador também apareceu, numa versão porco selvagem do mato preto, com dentes bem longos. Fez sua voltinha clássica e escafedeu-se.

E vou explicar porque não chorei. Tinha alguma coisa estranha no ar. A mensagem clara era anti-guerra e contra o consumismo excessivo. Adoro este clima anárquico, a rebeldia e tal. Mas eram muitos americanos gordos comendo cachorro-quente e pizza ao redor. Sentados, comportados, comendo sem parar.

E algumas imagens dos telões eram muito apelativas. Como uma garota sorridente, na sala de aula. Seu sorriso vira espanto, e depois choro, e berreiro, e acaba num abraço no suposto pai soldado que volta da guerra. Porra, pediu pra chorar.

Ou o vídeo dos jornalistas da Reuters sendo mortos por engano no Iraque em 2007, durante “Run Like Hell”. É de arrepiar.

E, claro, depois da overdose anti-capitalista, você é recebido por uma banquinha oficial de camisetas estacionada bem à saída do show. Pior, eu quase entrei na fila para comprar uma!

Foi um dos melhores shows da minha vida. Mais atual impossível. Mas alguma coisa se perdeu nestes 30 anos. Não dá pra negar.

A turnê começou em setembro, em Toronto. Tem datas até o final de 2011, pela Europa. Nada de América do Sul, por enquanto.

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– Fernanda Ezabella (@ferezabella) é jornalista, vive em L.A. e assina o Ferr goes to Hollywood

9 thoughts on “Roger Waters ao vivo em Los Angeles

  1. Fui ao show do Roger Waters em Sp. Sou de Recife e fui só para ver o show. Vi uma camiseta, que os camelôs vendiam, mas por conta de uma confusão entre a polícia e os camelôs acabei a perdendo. Depois não tinha mais dinheiro para comprá-la.
    Tenho procurado em todos os lugares por essa camiseta e o máximo que achei foi a foto da estampa, em alguns cartazes promocionais. Se vc tiver alguma informação de como posso conseguir tal camiseta me mande um email.

    A camiseta é esta da foto, atrás da mulher: http://www.facebook.com/suhlaur#!/photo.php?fbid=3626433629406&set=a.1569900897373.2074733.1530994815&type=1&theater

    A foto é esta do cartaz: http://www.facebook.com/suhlaur#!/photo.php?fbid=357957164254664&set=a.303254383058276.88853.252489408134774&type=3&theater

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