Stereophonics: mais hard que britpop

texto por Wilson Farina
fotos por Augusto Gomes

O Stereophonics despontou no fim dos anos 90, junto de bandas como o Travis e o Coldplay, como novas promessas do então moribundo britpop. Ao longo dos anos esses grupos trilharam rumos e sonoridades bem diferentes, mas ficaram para sempre marcados com o rótulo do britpop. Quem foi ao Citibank Hall (que já mudou de nome tantas vezes que continua sendo Palace para todo mundo que freqüenta o local) em São Paulo no último dia 18 pode ter se surpreendido com o que encontrou.

O grupo formado no País de Gales como um trio, e que hoje é um quarteto (em alguns momentos acompanhados também de um quinto músico nos teclados), tocou 24 músicas em pouco mais de uma hora e meia, em volume absurdo, riffs e batidas fortes, soando mais hard rock do que qualquer outra coisa. Sim, estavam lá as baladas ao violão, como “Have A Nice Day” e “Maybe Tomorrow”, e canções lentas melodiosas como “Mr. Writer” e “Just Looking”, cantadas em altos brados pelo público. E também estava lá a forte influência do Oasis, escancarada o tempo todo, principalmente no jeito de cantar de Kelly Jones,  basicamente um Liam Gallagher que não perdeu a voz, toca guitarra e, até por isso, sabe se portar melhor no palco.

Mas fora isso, o peso prevaleceu. Logo de cara, três músicas dos primeiros discos do grupo – “The Bartender & The Thief”, “A Thousand Trees” e “More Life In A Tramps Vest” – ganharam o público, mas enfrentaram o problema comum de casas brasileiras, de som desregulado e abafado no começo de shows. Ao longo da apresentação a aparelhagem foi sendo acertada, e terminou bem. A banda é simples, entra e toca, sem comunicações forçadas com o público, frases em português ou coisas do tipo. As guitarras dominam o som, muito mais em destaque que o resto do instrumental, seguindo a linhagem de rock clássico de AC/DC, Faces e Black Crowes.

Adam Zindani, guitarrista integrado em 2007, foi um bom reforço, cuidando de solos e backing vocals, funcionando como sideman de Jones. O baixista Richard Jones e o baterista argentino Javier Weyler são discretos, mas competentes, garantindo o entrosamento entre todos e o som encorpado. Acostumado a tocar em estádios e grandes arenas na Europa, o Stereophonics se saiu bem no espaço pequeno. Mas as músicas mais pesadas e não tão inspiradas de seus discos mais recentes entendiam um bocado.

Falta personalidade própria ao grupo, resumida no próprio vocalista. Kelly Jones tem uma voz incrivelmente potente, mas pouco refinada e de poucas variações, assim como suas composições, quase sempre soando como algo que já foi feito. Claro que isso não importa muito para quem está lá, nem para a banda, que é bastante competente no pop/rock simples a que se propõe. Principalmente quando acertam bons refrões, como na excelente “Local Boy In The Photograph”, que encerrou a primeira parte do set.

Mas em poucos momentos que se aventura a mudanças, como “Superman” e “It Means Nothing”, o Stereophonics mostra que poderia alcançar resultados interessantes. Até porque uma dessas saídas da zona de conforto gerou sua melhor música, “Dakota”, que encerra a apresentação de forma majestosa. Resta saber até onde se interessam em se arriscar no futuro.

– Wilson Farina (@wilsonfarina) assina o blog Wilsera
– Augusto Gomes é jornalista e fotógrafo. Veja mais fotos aqui

3 thoughts on “Stereophonics: mais hard que britpop

  1. acabo de me arrepender de não ter ido. tocaram varias musicas boas dos primeiros discos que achei que não tocariam!

  2. Curto demais essa banda….tem ótimas baladas e ótimos hards.

    Mas claro, o pop dela fez ela cair muito de produção…

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