Discografia Comentada: Bob Dylan (parte 2)

por Gabriel Innocentini
Continuação da parte 1 da discografia de Bob Dylan aqui

Infidels (1983)
Após três discos cristãos, Bob volta ao judaísmo. Retorno, ma non troppo? “Ele era um judeu confuso”, afirmou o rabino Kasriel Kastel. Desta vez, Bob decidiu dar duro no estúdio, gastando horas e mais horas para chegar numa performance satisfatória. E chegou, mas deixou de fora o que havia de melhor (“Foot of Pride” e “Blind Willie McTell”, para citar duas). Então fica combinado: “Infidels” é o melhor disco que não existe de Bob Dylan. Ainda assim é seu melhor trabalho nos anos 80. Ele queria produzir o disco, mas sabia que estava defasado com relação à tecnologia e cogitou Bowie, Zappa e até mesmo Costello. No fim, quem ocupou o posto foi o escudeiro Mark Knopfler. A produção foi tão diferente de seu padrão habitual que ele gastou muito tempo dos 18 dias de gravações em jams de covers de Sinatra, Willie Nelson e Hank Williams. Porém, nem mesmo o fato de ter se ocupado mais de um ano com as composições fez com que ele abandonasse a idéia de reescrevê-las no estúdio. Tudo perfeito, mas Dylan, alegando pressão da gravadora, não esperou Mark Knopfler voltar da Alemanha para terminar de produzir as faixas e resolveu regravar alguns vocais e retrabalhar algumas canções. Funcionou em “Blood On The Tracks”, mas não em “Infidels”. Felizmente os lançamentos de sobras corrigiram as escolhas infelizes na seleção final do álbum. E ainda tinha o videoclipe (a MTV, surgida em 1981, começava a modificar o comércio da música no início da década). Bob tinha tudo para se dar bem nesse ramo, adorava cinema, tinha tido a idéia para o clipe pioneiro de “Subterranean Homesick Blues”, mas não se esforçou para que “Jokerman” desse certo. A canção é uma obra-prima, com seus significados velados, suas referências mitológicas e seu sentido talvez impenetrável. A cozinha (Sly Dunbar na bateria e percussão, Robbie Shakespeare no baixo) está impecável durante o disco e o ex-Rolling Stone Mick Taylor também comparece, com um dos melhores solos em toda sua carreira na faixa final. Em “Sweetheart Like You”, Dylan cutuca as feministas. “Neighbourhood Bully” é melhor, vibrante e potente em sua história sobre o mundo à beira de uma catástrofe. “Licence To Kill” fecha o primeiro lado de forma branda e calma. Dylan foi buscar no Novo Testamento a idéia para “Man Of Peace”: “até mesmo o Satanás se disfarça em anjo de luz” (Coríntios 2, 11:14). “I and I”, que significa “nós” em patois jamaicano, é um reggae sobre as opressões da fama e do sucesso. “Infidels” termina em uma bela canção de amor, “Don’t Faal Apart On Me Tonight”.

Nota: 9

Real Live (1984)
Um disco dispensável. A seleção das faixas parece ter sido a pior possível. É preciso procurar pelos discos piratas dessa turnê ou então torcer para que a Columbia revisite esse período nas próximas Bootleg Series. Só de ouvir o timbre de guitarra em “Knockin’ On Heaven’s Door” ou “Every Grain Of Sand” já dá para sacar que é Carlos Santana quem comanda a festa. No entanto, essas duas canções ficaram de fora de “Real Live”. Bob Dylan defendeu o disco, afirmando que se trata de uma fotografia do que eram as canções no período. Pode até ser, mas o produtor Glyn Johns conseguiu escolher as fotos mais desgastadas. Mick Taylor, ex-Rolling Stones, também comparece, assim como o tecladista do Faces, Ian McLagan. Gravado em Roma, “Real Live” poderia ser um bom disco duplo ao vivo, mas esbarra nas escolhas equivocadas. Por exemplo, quem precisa ouvir as interpretações cansadas de Bob para “Ballad Of A Thin Man” ou “Tombstone Blues”? Alguém pode até se empolgar com as músicas de “Infidels” (“I and I” e “License To Kill”), mas ainda é pouco para justificar um disco. “Tangled Up In Blue” traz novos versos, é quase uma nova canção, mas a “Bible Version” é muito mais instigante. A dica é procurar o que ficou de fora do álbum.

Nota: 4

Empire Burlesque (1985)
Pavoroso. Bob Dylan chamou Arthur Baker, produtor de dance music (!), para dar um jeito no catadão de canções que ele gravava desde 84. O resultado é que os fãs preferem o álbum pirata “Clean Cuts” ao oficial, pois ao menos não havia o festival de eco e reverb no disco lançado simultaneamente em vinil e CD. É o tipo de álbum que já pede para ficar na prateleira só por causa da capa. Em todo caso, vamos anotar o que pode ser salvo dessas ruínas. “Tight Connection To My Heart” contém uma fala do Capitão Kirk para o Dr. Spok (“I’ll go along with the charade until I can think my way out”), o que faz dela uma das letras mais bizarras já escritas por Bob Dylan. A canção seguinte, “Seeing The Real You At Last” é bem melhor, uma crônica sobre o fim da relação. Jeff Tweedy tinha essa canção em mente quando compôs “Glad It’s Over”? Os solos em “Emotionally Yours” não são ruins. Os críticos de hoje em dia pedem uma revisão mais benevolente, mas não dá para ignorar a melodia, ou o que sobrou dela, soterrada debaixo dos acréscimos de Baker, e focar apenas nas letras. A melhor decisão de Dylan neste álbum foi gravar “Dark Eyes” de forma acústica e solitária. Ele escreveu a canção depois de esbarrar com uma prostituta no elevador de um hotel. Perdida nessa colcha de retalhos, “Dark Eyes” é como um bálsamo, mas Howard Sounes dá a palavra final: não é uma grande canção de Bob Dylan. Antes que você grite de indignação, faça uma lista das 40 melhores composições do Bardo e diga se “Dark Eyes” conseguiu alguma vaguinha, ok?
Nota: 5

Biograph (1985)
Uma caixa com 53 canções. Dylan não se mostrou feliz com a seleção: “Existem algumas coisas que não foram ouvidas antes, mas a maior parte delas já saiu em discos piratas. É simplesmente uma nova embalagem que vai custar muito dinheiro”. Não foi feita nenhuma tentativa no sentido de ordenar as canções para que exista algum sentido, mas “Biograph” veio a calhar para mostrar que, apesar de tudo, “Shot Of Love” poderia ter sido um grande disco se tivesse “Caribbean Wind”, “Angelina” e a versão iluminada de “Every Grain of Sand”. Dylan está sozinho ao piano e com sua gaita em “I’ll Keep It With Mine”, que teria sido escrita para Nico, do Velvet. De “The Times They Are A-Changin’” vem a pérola “Percy’s Song”, cuja melodia foi emprestada de Paul Clayton. “Lay Down Your Weary Tune” é da mesma leva e parece mais um poema musicado do que uma canção, o que não chega a ser demérito. “Mixed Up Confusion” vem do distante ano de 62, quando Dylan tentou gravar com uma banda elétrica pela primeira vez (ele já pensava nisso desde o início). Soa mais como curiosidade, embora seja bem alegre por causa da gaita. “Baby, I’m In The Mood For You” foi descartada de “Freewheelin’” com razão, não por ser ruim, mas por não estar no mesmo nível das que entraram no álbum clássico de 1963. O período 65-66 não traz muitas novidades para os fãs. A principal é uma tomada de “I Don’t Believe You” de maio de 66 com os Hawks em Belfast, um pouco menos carregada do que a versão de Manchester, mas em 1985 já deve ter sido um presente divino. “Visions Of Johanna” surge numa versão do Royal Albert Hall, “como se gravada numa catedral”. De Manchester, aparece a versão de “It’s All Over Now Baby Blue”, incluída posteriormente nas Bootleg Series. É possível ouvir Dylan com os Hawks em “Can You Please Crawl Out Your Window?”, gravada em outubro de 65, e em “I Wanna Be Your Lover”, das sessões de “Blonde On Blonde”. Da década de 70, “Up To Me” nos faz pensar que “Blood On The Tracks” poderia ser melhor do que é. “Abandoned Love” saiu de “Desire” para dar lugar a “Joey”, no entanto o disco comportaria ambas. A caixa nos brinda também com uma versão altamente inflamável de “Romance In Durango”. A última canção desse conjunto caótico de canções é uma tomada intimista de “Forever Young”, feita num velho gravador de rolo em 1973. “Biograph” é uma boa caixa, mas para iniciados. Há obras-primas renegadas e uma curiosidade aqui, outra ali. Seria o suficiente para qualquer artista entrar no panteão dos mitos da música pop.

Nota: 8,5

Knocked Out Loaded (1986)
Não fosse por “Brownsville Girl”, “Knocked Out Loaded” seria dispensável. Há toda sorte de tralhas aqui: sobras de “Empire Burlesque” (“Maybe Someday”, “Drifiting Too Far From The Shore”) que deveriam ter permanecido inéditas; uma canção tão ruim escrita pelo ator Kriss Kristofferson (“They Killed Him”) que nos faz pensar que ele deveria “ter se limitado a zelador durante as sessões de Blonde On Blonde”, como afirmou Brian Hinton; além de “Under Your Spell”, co-escrita com Carol B. Sager, mulher de Burt Bacharach (Elvis Costello teve mais tento e se tornou parceiro do lado talentoso da família). É mais interessante conversar sobre a capa, que remete a um dos filmes preferidos de Martin Scorsese, “Duelo ao Sol”, de 1946, com Gregory Peck e Jennifer Jones. “Brownsville Girl” tem corais femininos e até saxofone, mas concentre-se na letra, uma parceria de Bob com o ator Sam Shepard, que também faz vezes de escritor e dramaturgo.

Nota: 3,5

Down In The Groove (1988)
Baixo, bem baixo. Quando Bob Dylan quer, ele pode ser muito ruim. Este é o caso de “Down In The Groove”. Ao menos ele é curto, são apenas 32 minutos de música. Até o ex-Sex Pistol Steve Jones se assustou quando recebeu um chamado de Bob Dylan para trabalharem juntos num projeto de canções alheias e composições originais despretensiosas. Paul Simonon (The Clash) foi recrutado para as gravações, mas a única faixa incluída no álbum foi “Sally Sue Brown”. “Silvio” e “Ugliest Girl in the World” são parcerias com Robert Hunter, letrista do Grateful Dead. Bob estava tão por baixo nesse período de sua vida que cogitou entrar para a banda de Jerry Garcia em 87. Só que ele foi tão desagradável e pentelho que ensaiou duzentas músicas para não tocar absolutamente nenhuma delas quando chegou a hora de se apresentar nos palcos. Em “Down In The Groove” temos um ensaio do que a voz de Dylan se tornaria na década de 90 e especialmente na primeira década deste século: uma voz de autoridade, tal qual a de seu ídolo Johnny Cash. Claro, bastaria um “alô” no telefone para sabermos que é Bob Dylan quem fala. Mas agora na parte final de sua carreira, sua voz se tornou seu melhor patrimônio para cantar sobre envelhecimento, morte e a sensação constante de deslocamento. O problema, aqui, ainda é o repertório, fraco demais para um desempenho que ainda apresenta alguma força, alguma energia. Mas toda vez que “Death Is Not The End” toma o ambiente, arrepia. Talvez porque tenha sido escrita originalmente para “Infidels”.

Nota: 4,5

Dylan And The Dead (1989)
No livro “Crônicas”, Bob se refere ao fato de andar perdido, apresentando-se apenas com o nome, quando estava em turnê com Tom Petty and The Heartbreakers. Ele admite que não estava dando o seu melhor nos shows, escondendo-se atrás da massa sonora e dos vocais de apoio. Em 1987, num show em Locarno, na Suíça, uma frase surgiu em sua mente: “Estou decidido a resistir, independentemente de Deus me libertar ou não”. Foi a partir daí que ele conseguiu se conectar novamente com suas canções e deu início à Turnê Sem Fim (Never Ending Tour), com o objetivo de se reaproximar de seu público. Antes disso, ainda em 87, Bob tentou se reunir com outro grupo, o lendário Grateful Dead, para seis shows. Nos ensaios, que podem ser ouvidos no disco pirata “The French Girl”, algumas canções se sobressaíram, como “John Brown” e “Tomorrow Is A Long Time”. Tudo bem, seria um disco correto nota 6, não fosse o fato de Dylan ouvir as gravações em um aparelho de som barato e pedir para diminuir o volume de sua voz no disco “Dylan And The Dead”. A melhor coisa deste álbum é a capa: de um lado Dylan, do outro o esqueleto dos Dead e no meio uma locomotiva assustadora. Assustador também é o conteúdo do disco: interpretações desinteressadas de Dylan, que ainda consegue atrapalhar os Dead quando a coisa parece engrenar, como em “Knockin’ On Heaven’s Door”. Em “Queen Jane Approximately” e “All Along The Watchtower”, Dylan parece um pouco mais disposto a colaborar, mas essas perfomances entregam muito pouco para o que as canções e os ouvintes esperam.

Nota: 3

Oh Mercy (1989)
Mais um renascimento. Dessa vez, bancado por Daniel Lanois, produtor do U2, recomendado por Bono Vox. Bob Dylan atendeu, e Lanois deu vida a uma carreira que estava no limbo, em que pese certo sucesso na virada da década com os Travelling Wilburys, uma reunião de superstars como Roy Orbinson, George Harrison, Tom Petty e Jeff Lynne. Quem quiser saber mais sobre a gênese deste disco, pode ler o capítulo com o título do álbum em “Crônicas”, lançado no Brasil pela Ediouro. Depois de mais um acidente, desta vez em sua mão, que ficou “rasgada e estraçalhada até os ossos”, Bob cogitou bancar o Rimbaud e não compor nunca mais, mas voltou a escrever aos poucos, quando a inspiração batia, e se sentiu confiante para tentar gravar. No estúdio de Nova Orleans, ele retornou à antiga forma. Se não de maneira brilhante, ao menos com um disco que poderia ser assinado por Bob Dylan sem remorsos. “Shooting Star” é linda, uma de suas canções mais suaves e desesperançadas. Apenas Dylan poderia escrever uma canção como “Most Of The Time”. Um compositor comum diria que sente a falta da amada o tempo todo. Dylan está bem “na maior parte do tempo”, é claro. Quem já sofreu por amor sabe como é. Stephen Freas foi esperto o bastante para metê-la num momento decisivo do filme “Alta Fidelidade”, baseado no romance de Nick Hornby. Não bastasse essas duas, ainda temos “Man In The Long Black Coat”. Marcelo Nova adora esse verso: “People don’t leave or die, people just float”. E quem há de negar? Bob Dylan nutre um carinho especial por este disco, pois manteve canções dele em seu repertório durante muitos anos, além de ter mostrado várias versões delas no bootleg número 8.

Nota: 8,5

Under Red Sky (1990)
Clinton Heylin defende uma suposta superioridade de “Under Red Sky” sobre o anterior, “Oh Mercy”, que era introspectivo e melancólico enquanto “Under Red Sky” soa um retorno ao rhythm and blues com a participação de guitarristas lendários, como Jimmie Vaughan e Stevie Ray Vaughan (repare no peso de “God Knows”, descartada sob a produção de Daniel Lanois). Não é para tanta empolgação, mas também não é tão ruim quanto sugere o título – está no meio termo, por causa das letras nonsense e enigmáticas e da falta de unidade ao conjunto, que teve muitos convidados ilustres. A faixa-título é sobre a infância de Dylan em Hibbing, cidade onde cresceu, no norte dos EUA. “Wiggle Wiggle” (com Slash na guitarra) é muito boa, uma canção com a urgência e a excitação do sexo, com algumas imagens bizarras de brinde. “TV Talkin’ Song” tem uma letra incrível sobre um enforcamento presenciado ao vivo e depois visto novamente pela televisão, no mesmo processo de afastamento usado em “Black Diamond Bay”. Mas a canção não engrena, infelizmente. Algumas músicas foram prejudicadas pela obsessão de Dylan em reescrever as letras ao regravar os vocais, para desespero do produtor David Was, que declarou ter “perdido algo” nesse processo. O caso mais emblemático é o de “Born In Time”, cujo verso “I took you close, I got what I deserved” foi trocado para “You won’t get anything you don’t deserve”. Elton John e David Crosby tocaram em “2 x 2”, uma canção que, pelo conteúdo, poderia estar nas “Basement Tapes”. “Unbelievable”, uma das melhores do disco, conta com Al Kooper nos teclados e com um pouco mais de inspiração poderia fazer parte da safra anos 2000 (“Love And Theft” e “Modern Times”). “Handy Dandy” mantém o nível, com o brasileiro Paulinho da Costa na percussão. Brian Hilton acredita que ela seja “como uma versão de ninar de ‘Like a Rolling Stone’”. Na última faixa, Dylan pede ao Senhor: “may the Lord have mercy on us all”. Ele ficaria 7 anos sem gravar uma composição original.

Nota: 7,5

Good As I Been To You (1992)
Nos períodos de seca criativa, Dylan sempre teve por hábito se voltar para as canções tradicionais. Foi assim na época das “Basement Tapes” (1967), foi assim no final da década de 70, foi assim no início da década de 90. Como competir em fúria com a garotada de Seattle? O melhor mesmo era dar um tempo e voltar às raízes, mergulhar na tradição. Com Dylan, isto sempre deu certo. “Aquelas pessoas, elas ainda estão aqui comigo. Elas não são fantasmas do passado ou qualquer coisa desse tipo. Elas permanecem aqui”. A crítica gostou, elogiando a simplicidade do som e a intensidade das interpretações e da voz de Dylan, comparando-o aos fantasmas que ele resgatava (Son House, Mississipi John Hurt, Lonnie Johnson, etc). Um elogio irônico, claro, porém um elogio. Também teve polêmica, pelo fato de todas as canções terem sido creditadas como “Arranjo original de Bob Dylan”, quando a verdade não era bem essa… De fato, muitos arranjos foram surrupiados, mas a conversa aqui é outra. “Good As I Been To You” foi um disco de segurança: não acrescentou nada de novo – nem de original – mas também não foi nada constrangedor como seus piores trabalhos da década passada. Se você gosta de faroeste, não vai perder nenhum faroeste de John Wayne, por pior que seja. Com Bob Dylan, é a mesma coisa: ele raramente erra quando faz o feijão-com-arroz, isto é, voz & violão. Dá pra ouvir numa boa. Se você estiver cansado do mundo, é claro. “Frankie & Albert”, que abre o disco, é de arrepiar a alma, numa interpretação fria como um iceberg. A gaita de “Sittin’ On Top Of The World” transmite todo o pesar e a decepção por ter sido abandonado por uma mulher. Um dos poucos momentos de luxúria de “Good As I Been To You” é a regravação de “Tomorrow Night”, canção de Elvis Presley nos tempos de Sun – repare no modo como Bob enfatiza o espaço entre “surrender” e “to me”. Os críticos foram ao êxtase, dizendo se tratar de um verdadeiro crooner. Mas o ponto alto do disco é mesmo a última faixa, “Froggie Went A Courtin’”, com suas imagens nonsense e o conselho: “If you want any more, you can sing it yourself”. Mas Dylan nos daria mais no próximo disco.

Nota: 7,5

World Gone Wrong (1993)
Gravado em duas sessões em maio de 93, este disco pende mais para o blues, com um imaginário mais violento do que o anterior. Bob Dylan manifestou sua admiração pelo som dos cantores dos anos 50 e 60: “As pessoas deveriam correr atrás das velhas gravações e descobrir o que é a coisa real, porque a minha [música] é de segunda geração”. Em um momento no qual os músicos exploravam cada vez mais as novas tecnologias, Dylan se voltava para o básico novamente: voz & violão, com a gaita espocando seu brilho aqui e ali. A Rolling Stone gostou: “um cantor de blues genial, oracular e atemporal”. Nem todos entenderam assim na época, mas passados 17 anos, parece que a revista fundada por Ralph Gleason acertou na mosca. A faixa-título, que abre o disco, já estabelece o parâmetro: “Strange things have happened, like never before”. Estamos em um mundo corrompido, onde não há redenção. Dylan canta as frases tristes de “Blood In My Eyes” com uma alegria contida, principalmente no refrão, fazendo um contraponto muito eficiente entre o que está sendo dito e o modo de dizer. A canção seguinte, “Broke Down Engine”, pode assustar os que pensavam estar num cemitério: Bob fica animadíssimo ao chamar o Senhor e a batida do violão levanta todos os mortos. “Delia”, no entanto, marca a volta à tumba: “all the friends I ever had are gone”. Para cantar o blues é preciso viver o blues – e é impossível não pensar no Bob Dylan isolado desta época, quase sem amigos de confiança, pagando o preço por ter sido arrogante e mesquinho com a maioria das pessoas. Mas é em “Two Soldiers” que a alma arrepia, numa história com “a horrible dying yell”. Existe uma integração espetacular da voz áspera e rouca de Dylan com o dedilhar tenso do violão. É quase um “Time Out Of Mind” acústico, tocado pelo mesmo homem solitário que escreveria “Things Have Changed” anos depois. “Lone Pilgrim” é o ermitão solitário de “Time Pass Slowly”, agora sem parentes por perto, e encerra o disco de forma tranqüila e contida. O mundo termina com um suspiro, não com um grito, disse o poeta T. S. Eliot. Apesar desse período acústico, engana-se quem pensa que Dylan estava só joãogilbertizando o que fazia de bom: durante a Never Ending Tour, ele estava aprendendo a tocar guitarra com um pequeno conjunto, liderado por G. E. Smith, maestro da banda do Saturday Night Live. Bill Flanagan resume a parada: “World Gone Wrong é para qualquer um que tenha ouvido para escutar e coração para sentir”.

Nota: 9

MTV Unplugged (1994)
O fato de Bob Dylan voltar a tocar violão e gaita pode sugerir que o trovador está de volta. Não é para tanto: algumas interpretações não têm brilho algum e a escolha do repertório teve de se acomodar aos pedidos da MTV, o que levou a algum desinteresse por parte de Dylan em se entregar como deveria na interpretação de seus hits. Este álbum é também uma tentativa de Bob Dylan de se aproximar do público jovem, algo que ele já vinha fazendo com a Never Ending Tour. São 10 canções e mais algumas que ficaram de fora. Das que entraram, duas valem o disco. A primeira é “Shooting Star”, numa interpretação que parece ser a definitiva da canção. A outra é “Love Minus Zero/No Limit”, recheada de violão steel. “O modo como ele canta “wall” vale o disco”, segundo Brian Hilton. Difícil discordar.

Nota: 6

Time Out Of Mind (1997)
Outro renascimento (este sombrio em todos os sentidos) patrocinado por Daniel Lanois. Um problema no coração levou Dylan para o hospital e influenciou a temática do disco (morte, vazio, solidão). Ele queria que o disco pudesse ser “mais sentido do que pensado”, que fosse “uma performance em vez de uma coisa do tipo literária”. Aqui Dylan veste a tradição com roupas contemporâneas, no que pode ser visto como o disco que marca o fim do século XX. Basta a primeira frase de “Love Sick” – e o modo como Dylan a canta – para sabermos que estamos diante de uma obra-prima: “I’m walking… through streets that are dead”. Não é propriamente o mérito literário, mas a intensidade da interpretação que faz a excelência do álbum. É também o início de um longo debate sobre a questão autoral das canções: a quem pertencem os versos? Bob Dylan roubou muitas frases de músicas antigas, dos discos de 78 rotações. Os especialistas gastam saliva e pesquisa para descobrir de onde foi feito o roubo. Por ora, basta-nos curtir a música. “Dirt Road Blues” foi definida pelo autor como se “Charley Patton tivesse vivido o bastante para gravar nos estúdios da Sun nos anos 1950”. A terceira faixa, “Standing In The Doorway” é um country vagaroso, com muitos empréstimos, mas com um raro senso de devastação na música popular (“even if the flesh fall off of my face”). É a continuação, a explicação de “Love Sick”. A sensação de vazio é constante em todo o disco, com versos sobre a falta de palavras. O cansaço, a solidão e o solo de gaita em “Tryin’To Get To Heaven” são comoventes, vindos de um sujeito que pode cantar “I been all around the world, boys”, soando durão e destruído ao mesmo tempo. “’Till I Fell In Love With You” é um rhythm and blues que exemplifica o som quente e claustrofóbico do disco. Mas é em “Not Dark Yet” que o tema da morte corta como navalha. Não parece haver redenção para este cantor de blues, recitando sua dor contra uma combinação maravilhosa de guitarra e bateria. É uma canção sobre envelhecimento e também sobre um amor desfeito. Na entrega do Grammy, quando foi premiado por “Cold Irons Bound”, Dylan afirmou que sentiu o espírito de Buddy Holly no estúdio durante as gravações. “Make You Feel My Love” é talvez o momento mais alegre do disco, quase um Roberto Carlos americanizado. Qualquer vestígio de sentimentalidade é deixado para trás em “Can’t Wait”, raivosa e animada, com alguma sensualidade na batida matreira. “Highlands” fecha o disco, deixando o ouvinte com a sensação de que a canção poderia continuar infinitamente, como se o tempo presente fosse perpétuo, graças ao riff roubado de Charley Patton, que se repete hipnoticamente durante 16 minutos e 32 segundos. A voz corroída desse homem devastado foi um sucesso, o primeiro álbum de platina desde “Slow Train Coming”. Curiosidade: vale dar uma olhada no filme “A Máscara do Anonimato” (2003), em que Dylan interpreta a si mesmo, com apresentações de várias músicas deste disco.

Nota: 10,5

“Love And Theft” (2001)
Ezra Pound, o poeta mais influente do século XX, disse certa vez: se você for roubar, trate de ser honesto e explicar suas referências ou fazer isso do modo mais camuflado possível. Dylan oscila entre estes dois pólos. São comuns as entrevistas em que ele cita seus heróis do passado, ao mesmo tempo em que esconde suas referências. Daí as aspas do título na capa do álbum (“Amor e Roubo”). O disco foi lançado numa data inglória: 11 de setembro de 2001. Alguns consideraram “Love And Theft” uma resposta bem humorada e surrealista ao ataque às Torres Gêmeas. “Qualquer dia acima do chão é um bom dia”, declarou Dylan na época. Bob pensa no álbum “mais como uma coletânea de greatest hits, sem os hits”. Brian Hinton está mais próximo da verdade, ao considerar o disco uma obra pós-moderna, “reunindo ecos, expressões e sons e chacoalhando o caleidoscópio mais uma vez”. A questão da autoria e do plágio foi muito debatida. Dylan teria retrabalhado trechos do livro “Confissões de um Yakuza”, de Junichi Saga, sobre um gângster que está para morrer. Outros críticos consideraram tudo isso uma piada de mau gosto: imagens bizarras, voz deteriorada, versos roubados. Melhor é aproveitar o que há de bom nessa coleção de quase uma hora, espalhada em 12 canções. O início não poderia ser menos nonsense. Dylan se aproveita de Twedle Dee e Twedle Dum, de Lewis Carroll, para compor uma “Highway 61 Revisited tocada por malucos”, segundo Hinton. Abandonada em “Time Out Of Mind” (e gravada por Sheryl Crow em “The Global Sessions”, de 1998), “Mississipi” introduz a devastação no disco, apesar de acenar com a esperança do amor redentor (“I’m gonna look at you ’till my eyes go blind”). Os blues (“Lonesome Day Blues”, “Honest With Me”, “Cry A While”) tornam “Love And Theft” um disco animado, com direito a piadinhas amorosas. Uma mulher tem um rosto “like a teddy bear”. Em “Summer Days”, Dylan turbina seu desejo: “I’ve got eight carburetors, baby”. O conselho final está em “Sugar Baby”, canção de amor e redenção: “You always got to be prepared but you never know for what”. Alguém que dissesse que “Love And Theft” é “Under The Red Sky” filtrado pelo Dylan de “Good As I Been To You” e “World Gone Wrong” não estaria longe da verdade.

Nota: 7,5

Modern Times (2006)
Estamos no mesmo terreno do disco anterior, mas o tom aqui é mais sóbrio. A mistura de blues, rockabilly, country e empréstimos continua. Bob Dylan disse que adora cantar melodias alheias na cabeça, enquanto dirige ou conversa, adaptando e mudando as letras, até que tenha algo novo (como ele canta numa música deste álbum, “I keep recycling the same old thoughts”). Este “novo” é objeto de muito debate, tal como em “Love And Theft”: o que é de Dylan, o que não é de Dylan? Os autores roubados parecem velhos demais até para reclamar, supondo que ainda exista algum vivo para abrir a boca. Folclore irlandês, standards, baladas dos anos 30 e 40 são o pontapé inicial para Dylan tocar seu jogo. “Thunder On The Mountain” é um dos melhores começos de disco de Bob Dylan: a guitarra entra solando e a bateria nervosa dá o tom desse country levado pelo piano, com direito a citação ao poeta Ovídio e à cantora Alicia Keys. “Spirit On The Water” e “Beyond The Horizon” estão entre as canções de amor mais felizes de Bob, com a segunda nos remetendo ao nosso inevitável Rei Roberto Carlos. Porém, é em “When The Deal Goes Down” – cujo clipe tem ninguém menos do que Scarlet Johanson de maiô! – que Dylan afirma o amor incondicional: “I owe my heart to you, and that’s sayin’ it true, and I’ll be with you when the deal goes down”. Dos blues, “Rollin’ And Tumblin’”, “The Levee’s Gonna Break” e “Someday Baby”, este é o melhor, num casamento infernal de letra (“I don’t care what you do, I don’t care what you say, I don’t care where you go or how long you stay, someday baby, you ain’t gonna worry po’me any more”) e música (a pegada quente dos riffs e os solos de guitarra). Duas canções se sobressaem aqui. A primeira é “Workingman’s Blues #2”, apoiada num belo trabalho de cordas, sobre trabalhadores em tempos econômicos difíceis. Soa tão antiga que poderia ter sido cantada durante a Grande Depressão, mas guarda versos atuais: “Some people never worked a day in their life, don’t know what work ever means”. A outra é a faixa de encerramento, “Ain’t Talkin’”, um passeio de um sujeito devastado num mundo violento. Praticamente uma versão fúnebre de “Things Have Changed”, se esta tivesse sido gravada durante “Time Out Of Mind”: “The sufferin’ is unending, every nook and cranny has its tears, I’m not playing, I’m not pretending, I’m not nursin’ any superfluous fears, ain’t talkin’, just walkin’”.

Nota: 8

Together Trough Life (2009)
“Beyond Here Lies Nothing” abre o disco com uma batida seca de bateria, tal e qual “Like a Rolling Stone” abria o mítico “Highway 61 Revisited” no longínquo ano de 1965. Se seu clipe tivesse sido feito por algum artista mais jovem teria dado o que falar: um casal se espanca durante toda a canção para fazer as pazes no final. O acordeão de David Hidalgo que aparece nesta faixa dá o tom do disco, composto por blues repletos de energia. As canções começaram a ser produzidas para o filme “My Own Love Song”, do diretor francês Olivier Dahan. Muitas delas são em parceria com Robert Hunter, do Grateful Dead. Desde “Desire”, em 76, que Dylan não dividia a autoria com outro parceiro em tantas canções. Hunter e Dylan já haviam composto juntos nos anos 80. Talvez por causa dessa união seja difícil considerar “Together Trough Life” como o volume 3 de uma trilogia iniciada em “Love And Theft”, de acordo com a sugestão de Dylan. Ele gostou do som vivo do disco (“gruda na cabeça como uma dor de dente”). “Life Is Hard” é o centro temático do álbum, afirmando a necessidade de sonhar (um misto de esperança e medo) e de amar, pois a vida é dura. O verso pungente “dreams never did work for me anyway” é o tipo de coisa que poderia estar num daqueles blues do início do século, cantados por algum Blind qualquer. “Forgetful Heart” é um dos destaques do álbum, um blues dark sobre mais um amor perdido: “You were the answer to my prayer”. Mas hoje tudo o que ele ouve é “the sound of pain”. “Jolene” mantém a pegada e o embalo, num rock cru, com um refrão matreiro (“Jolene, Jolene, I am the king and you is the Queen”), reconhecendo que o amor pode salvá-lo das trevas (“If you hold me in your arms, things don’t look so dark”). “I Feel A Change Comin’ On” é uma música sobre a velhice, o amor e o fim da vida. Bob ainda teve a pachorra de meter umas referências ao modo como James Joyce tratava sua esposa Nora nas cartas (“You are as whore as ever, baby, you can start a fire”). Não tem nada a ver, mas é curioso: embora “Ulysses” tenha sido escrito para ela, Nora se recusou a ler uma página do catatau de seu marido. Não poderia ser mais certeiro quando Dylan canta: “Some people tell me I got the blood of the land in my voice”. Ao contrário do que se poderia esperar, nem mesmo a chegada de um negro à presidência parece ter trazido esperança ao compositor neste mundo corrompido, que assegura sarcasticamente, com voz sombria, no fim do disco: “It’s All Good”.

Nota: 8,5

Christmas In The Heart (2009)
Muita gente pensou que era piada: Bob Dylan faria um disco só com músicas natalinas. Não era. “Must Be Santa” teve direito até a clipe na televisão – e com uma risada que nos remete aos tempos daquele caipira que divertia a platéia com piadas e músicas engraçadas no início de carreira. Parece música de fanfarra, muito por causa do acordeão. A introdução de “O Come All Your Faithfull” vem do latim, enquanto a faixa anterior “Christmas Blues” é um blues para ninguém botar defeito, com o Papai Noel deixando o blues nos sapatinhos, em vez de presentes. O som dessa brincadeira toda parece vir diretamente de algum filme empoeirado e preto e branco de eras antigas. Ou do seu programa de rádio, o “Theme Time Radio Hour”. Nada menos do que 7 das 15 músicas são de Frank Sinatra, do disco “A Jolly’s Christmas”, de 1957. Algumas pessoas disseram que este álbum é um desejo secreto de Bob Dylan bancar o Dean Martin. Seria um retorno ao Dylan cristão dos anos 80? Parece pouco para uma afirmação categórica. De todo modo, é um disco engraçado, inesperado, que não deixa de ser uma piada – muito bem contada, por sinal. Em “The Christimas Song”, Dylan se permite mencionar Jack Frost, nome com o qual ele assina a produção de seus discos. “O Little Town of Bethlehem” é o encerramento perfeito, parece que estamos numa catedral – do blues, é claro – e a voz de Bob soa mais adequada do que nunca: como uma lixa, autêntica. Uma voz que nos faz pensar: esta versão do Papai Noel talvez pudesse ser desenhada pelo Dr. Seuss.

Nota: 8

Tempest (2014)
Um anticlímax. Depois de uma sequência poderosa que se inicia com “Time Out of Mind”, passa por “Love and Theft” e “Together Through Life”, este álbum pode ser considerado uma decepção. Apenas a grife explica que tenha cavado um lugar em listas de melhores do ano. Dylan mergulha em imagens tradicionais da música folk e do blues, porém sem inspiração. Ninguém espera nada menos do que excelência quando põe um Bob Dylan pra tocar, caso dessa coleção de canções mais ou menos. A faixa-título, “Scarlet Town” e a homenagem a Lennon em “Roll Over John” se arrastam, e o cansaço de Dylan é também o cansaço do ouvinte. Vale conferir a violenta “Soon After Midnight” e a grande joia de Tempest: “Long and Wasted Years”, um belo lamento para um amor perdido.

Nota: 5

Shadows In The Night (2015)
Dylan canta Frank Sinatra. Uma surpresa apenas para os que não conhecem Mr. Zimmerman. Ele sempre foi bem claro: “Eu faço música americana”. Este álbum é um passeio breve por clássicos já conhecidos nas vozes de Sinatra, Ray Charles, Billie Holliday etc. Embora afirme ser esta a melhor gravação de sua voz em toda a carreira, Dylan não compete (nem haveria como) com essas gargantas de ouro. Auxiliado pela slide guitar de Donny Herron, principal contribuinte para o som coeso do álbum, sempre em tom menor, a marca de Bob está na interpretação surpreendente (repare, por exemplo, no modo frágil como pronuncia a palavra “dark” em “The night we called it a day”). “Autumn leaves” ganha versão espectral, a melodia flutuando pelo ar feito as folhas da letra. Há um tanto de abandono aqui, como se Dylan tivesse de alcançar lugares poucas vezes acessados em seu papel de mero intérprete. Somado aos temas de solidão, tristeza e apelos por volta da amada, este disco surpreende positivamente (ainda mais vindo na sequência do terrível “Tempest”). A boa notícia é que há mais de uma dezena de gravações que não foram aproveitadas (que ele vai lançar na sequencia)!

Nota: 8

Fallen Angels (2016) e Triplicate (2017)
Continuação da exploração pelo cancioneiro americano (Great American Songbook). A intenção de Bob era trazer estas canções de volta à vida, “descobri-las” (“uncovering them”). Nas entrevistas mais recentes, daquele seu modo enigmático, Dylan tem enfatizado a importância da arquitetura da canção. Conceito que não sabe explicar muito bem, exceto para apontar onde não existe e onde existe – caso desta nova leva de canções. Seu desejo de investigar as canções “que o rock and roll veio para destruir” (inclusive com a sua ajuda…) vem desde a década de 1970, quando ouviu “Stardust”, de Willie Nelson. Mesmo na passagem de som dos shows evangélicos, em 1978, Dylan já bancava o crooner em “A Couple More Years” (de Shel Silverstein) e “She’s Not For You” (de Willie Nelson), sonhando ainda em gravar um disco de clássicos country. Os arranjos de “Fallen Angels” e “Triplicate” continuam sóbrios e minimalistas: como produtor, ele decidiu prescindir do piano, pois ocupava muito espaço. Seu papel é cantar, auxiliado pelos cinco parceiros fiéis: os guitarristas Charlie Sexton e Dean Parks, o baterista George Recile, o mago do pedal steel Donnie Herron e o seu braço-direito, o baixista Tony Garnier. Assim, a trupe dylanesca segue no processo de estripar a canção original de tudo o que é acessório, para chegar à sua essência. Novamente é a sua voz quem vem para o centro do palco. Mesmo nos shows da Never Ending Tour, quando uma destas canções era performada, ele costumava sair da lateral e assumir o papel completo de vocalista diante da plateia. Bob chegava até a sorrir, ao se curvar para agradecer os aplausos após “Why Try to Change Me Now?”. “Fallen Angels” segue na mesma trilha de seu antecessor “Shadows In The Night”. A novidade de “Triplicate” é o acréscimo de uma seção de metais, que traz uma alegria despreocupada a certas canções, como em “Braggin’”, “Day In, Day Out”, “I Guess I’ll Have to Change My Plans”. Juntos, estes 5 discos formam um conjunto de canções selecionadas cuidadosamente para sobreviver à devastação da sociedade de consumo, que impõe “as mesmas roupas, os mesmos pensamentos, a mesma comida. Tudo é processado”. Contra a tecnologia dos estúdios (“contrária às emoções que informam a vida de uma pessoa”), Dylan oferece o que ninguém mais pode oferecer: sua voz, sua presença. Frágil e poderosa, amorosa e desolada, sutil e ameaçadora. Como presente de aniversário para os 18 anos de sua filha Rosanne, Johnny Cash elencou cem canções country que ela deveria ouvir (posteriormente uma dúzia delas deu origem ao disco The List). Bob Dylan agiu de modo semelhante aqui, com uma diferença – imprimiu nelas a sua voz. Podemos ouvi-lo dizer: é assim que elas devem ser tocadas. Ou seja, como canções folks.

Rough and Rowdy Ways (2020)
A chave para o primeiro disco de inéditas em oito anos está no verso da whitmaniana “I Contain Multitudes”: “I go right where all things lost are made good again”. Ou seja, mais uma vez o tema do expedicionário musical que traz à vida canções esquecidas. Como o empolgante riff de “False Prophet” (roubado de Billy The Kid Emerson). Como a estranha sequência de acordes de “Black Rider” (ainda não descobrimos qual a origem desse roubo…). Como na infindável enumeração de artistas e políticos de “Murder Must Foul”. “Eu abri meu coração para o mundo e o mundo entrou”. Estaria Dylan a ler o Livro dos Mortos egípcio? Certo é que enquanto estava descobrindo (“uncovering”) Sinatra, Bob levou mais um prêmio, desta feita o Nobel de Literatura. Mais certo ainda é que a presença do guitarrista Blake Mills poderia marcar uma nova transformação em sua banda. Por enquanto, ainda permanece o mistério: qual a real participação de Mills neste álbum? Ele postou trechos de 7 das 9 canções no Instagram, sugerindo que sua participação iria além do crédito de “músico adicional”. De fato, a elegância e a destreza dos licks e dos acordes “blocados” tocados por Blake Mills são marcantes, a distinção de que algo novo aconteceu na nossa presença. Qual foi o último disco de “originais” em que tantas melodias simplesmente grudaram tão instantâneas em nossa mente? Talvez por isso mesmo seu nome tenha ficado esmaecido. O som característico de “Rough and Rowdy Ways” não existiria sem Blake Mills, a arma secreta menos secreta desde o acordeão de David Hidalgo. Mas quem é este guitarrista indie no universo de Bob Dylan? Exato: apenas mais um guitarrista a serviço de alguém que subiu “a montanha de espadas com os pés descalços”, alguém que “não se lembra de quando nasceu nem de quando morreu”. Há um estranho mistério nestas canções, que nos confrontam com as partes desconhecida de nós próprios (“In the mystic hours when a person’s alone”). O falso profeta, o cavaleiro negro, as musas gregas, os rios, a imortalidade, a morte, o amor, os brinquedos infantis, os apóstolos cristãos. Dylan vai desenrolando com a língua o mapa espiritual do cosmos, em especial da sua América. Nesse turbilhão de rimas inusitadas somos transportados para um espaço onde tudo pode acontecer: a canção. Se calhar, ela é o “você” de “My Own Version of You” (que parece saída de um filme B noir), e não alguém de carne e osso, ou uma tola fantasia machista como fizeram supor. Uma canção prima de “Man In The Long Black Coat” (procure a explicação dylanesca em suas Crônicas). A pandemia do coronavírus pode ter sido a desculpa perfeita para os quase 17min de “Murder Must Foul”, que alcançou um inusitado sucesso (se as pessoas tentaram decodificar esta meditação, é outra história – e se é possível decodificá-la, é tarefa para os acadêmicos). De qualquer forma, ao ouvir esta canção, Chrissie Hynde (The Pretenders), abandonou a letargia e decidiu gravar um disco completo de covers do Bob, intitulado “Standing in The Doorway”. Mais provável é que “I’ve Made up My Mind to Give Myself to You” se torne outra balada clássica, na linha de “Make You Feel My Love”: há uma doçura incomum em sua lírica aqui – repare no modo como ele canta “lost in the stars” logo no verso inicial. Inflexões de voz como esta, mudanças sutis e às vezes àsperas no fraseado, mostram o domínio e a maestria imperfeita de Bob Dylan, numa reunião de canções que crescem aos poucos, repletas de assombros e epifanias. O recado está dado mais uma vez: “Do it with laughter and do it with tears”. Nunca houve melhor conselho para cruzar o rubicão, seja pela primeira, seja pela última vez.


As Bootlegs Series

Em 1991, a fim de (também) lucrar com suas sobras e gravações ao vivo (o que muita gente já vinha fazendo desde os anos 60), Bob Dylan colocou na lojas um box triplo chamado provocativamente de “Bootleg Series” que resumiam trinta anos (1961/1991) de pirataria em 58 canções que flagravam de uma sessão na casa de Dylan em 1961 (“Hard Times in New York Town”), outra no famoso Gaslight Cafe, em Greenwich Village (“No More Auction Block”,1962), passavam por sobras dos álbuns clássicos indo até outtakes do álbum “Oh Mercy”. Os fãs que ajoelharam-se perante “Biograph”, o box de 1985, podiam morrer felizes agora. Ou não, pois muito ainda estava por vir. Em 1998, Dylan deu sequencia ao projeto colocando no mercado o áudio completo do mítico show em Manchester, em 1966, que durante décadas foi comercializado pelos pirateiros como sendo em Londres. Dylan brinca com o engano dando nome ao bootleg número 4 de The “Royal Albert Hall” Concert. O histórico climax do final do show, em que alguém da plateia chama Dylan de Judas, está eternizado no obrigatório documentário de Martin Scorsese, “No Direction Home”, e neste CD duplo que contém as duas entradas de Dylan no palco, a primeira acústica (aplaudida) e a segunda elétrica (vaiada). O volume 5 resgata 22 faixas entre altos e baixos da The Rolling Thunder Revue, a tour amalucada que Dylan promoveu em 1975 no estilo caravana de circo. O volume 6 volta no tempo flagrando Bob Dylan ao vivo no Halloween de 1964 (acompanhado de violão, gaita e Joan Baez) no Philharmonic Hall, em Nova York. O volume sete pegou o bonde do documentário de Scorsese, e contém 28 gravações abrangendo 1959 a 1966 (duas bem conhecidas, “Song to Woody”, do primeiro disco, e” Like A Rolling Stone”, do bootleg 4). O volume 8 contém 27 gravações que abrangem pepitas de 1989 a 2006 (uma edição de luxo trazia mais 12 números resgatados do mesmo período). Recém-lançada, a nona bootleg series volta mais uma vez no tempo com 47 gravações entre 1962/1964 que compreendem tudo (será?) que Dylan gravou para as companhias Leeds e Witmark. Uma edição especial deste último álbum traz sete registros do concerto de Dylan na Brandeis University, em 1963. Há muito ouro nestas bootlegs series, mas o garimpeiro só irá visualizar o brilho de uma canção renegada (ou de um arranjo deixado de lado) após cavar muito na discografia do homem. O desafio vale à pena. Muito.


Coletâneas

Em 5 anos, Dylan já tinha uma coletânea de hits digna de fazer inveja a artistas cujas carreiras não passaram de um ou dois sucessos. “Bob Dylan’s Greatest Hits” (1967) é uma boa seleção, baseada no disco mais recente da época, “Blonde On Blonde”, que carrega quatro músicas. Aqui estão as canções de protesto, a guinada para o rock e algumas baladas. A única inédita é a raivosa “Positively 4th Street”, que ficou de fora de “Highway 61 Revisited”. A “4th Street” fica no coração de Manhattan, na zona boêmia do Greenwich Village. Cogita-se que seja endereçada a Joan Baez. Seja quem for o destinatário, jamais a música pop veiculou tanto ódio em 4 minutos: “I wish that for just one time/You could stand inside my shoes/And just for that one moment/I could be you//Yes, I wish that for just one time/You could stand inside my shoes/You’d know what a drag it is/To see you”. Pode ser uma boa porta para quem nunca ouviu nada de Bob Dylan, mas nos faz pensar em seleções melhores. Quatro anos depois saía “More Bob Dylan’s Greatest Hits” (1971). O “hits” do título é licença poética. Basta ver a seleção das músicas para sacar que forçaram a barra. No entanto, este é Bob Dylan, e casado com o primeiro disco de hits, dá uma boa medida de seu talento. Os destaques são “Watching The River Flow”, com Bob cantando logo na abertura: “What’s the matter with me, I don’t have a lot to say”. O lado 4 do vinil (ou o fim do segundo CD, como queira) traz cavalos de batalha lançados como singles, no caso “You Ain’t Going Nowhere” e “I Shall Be Released”, que só existem oficialmente em coletâneas como esta.  Caetano Veloso adora se gabar de ter sido o primeiro compositor no Brasil a meter “Coca-Cola” numa canção popular, mas Bob Dylan conseguiu rimar o refrigerante com “gondola” em “When I Paint My Masterpiece”. Algumas canções das Basement Tapes já começam a circular neste álbum duplo. Ouça sem erro.


A saga dos “Greatest Hits” teve seu volume 3 editado em 1994 fechando a tampa com canções da safra 1971/1991. Já bastaria por “Knockin’ on Heaven’s Door”, mas tem também “Tangled Up in Blue”, “Hurricane”, “Jokerman”, “Forever Young” (já deu vontade de comprar, diz ae) e curiosidades como o b-side “The Groom’s Still Waiting at the Altar” e duas sobras de “Oh Mercy” – que hoje em dia não são mais novidade.  “The Essencial Bob Dylan” (2000) surgiu para colocar ordem na casa. Coletânea dupla, com 30 músicas, que pegam desde “Blowin’ in The Wind” (07/62) indo até “Things Have Changed” (07/99) com todos os principais hits do compositor, sem muitas surpresas. Aqui o álbum vencedor é “Bringing It All Back Home”, com quatro inclusões, mas os destaques são as três faixas que só figuram em coletâneas: “Positively 4th Street” (que só saiu em single e no “Greatest Hits” 1), “I Shall Be Released” e “You Ain’t Goin’ Nowhere” (que juntas integram apenas o “More Bob Dylan’s Greatest Hits”). De quebra ainda tem “Knockin On Heaven’s Door”, que faz a trilha de “Pat Garret And Billy The Kid” algo indicado apenas para dylanologos. Não ria, eles existem (e com certeza estão lendo tudo isso, a propósito, lembranças). Resumão mesmo é o box triplo “Dylan”, de 2006, com 51 canções que peneiram a carreira do homem deixando de fora da seleção apenas os álbuns “Self Portrait”, “Dylan” e “Saved”.


Tributos

A melhor biografia, de longe, é a escrita por Clinton Heylin, disponível apenas em inglês: “Bob Dylan: Behind the Shades Revisited”. Além de narrar a história de vida do nosso artista favorito, Heylin ainda se dedica a boas análises e interpretações dos discos. Em português, temos “Dylan”, do competente Howard Sounes (lançada no Brasil pela Conrad), que começa exatamente flagrando Bob Dylan desajeitado nos preparativos do concerto de 16/10/1992, que iria comemorar seus 30 anos de carreira. O show (lançado posteriormente em CD duplo) traz uma constelação notável de artistas pagando tributo ao velho Bob. Stevie Wonder (“Blowin’ in The Wind”), Lou Reed (“Foot of Pride”), Eddie Vedder e Mike McCready (“Masters of War”), Johnny Cash e June Carter (“It Ain’t Me, Babe”), Ron Wood (“Seven Days”), Neil Young (“All Along The Watchtower”), Eric Clapton (“Don’t Think Twice, It’s All Right”), George Harrison (“Absolutely Sweet Marie”), Tom Petty (“Rainy Day Women #12 & 35”) e The Band (“When I Paint My Masterpiece”), entre muitos outros, se reuniram para interpretar números dylanescos. No fim, o próprio Bob sobe ao palco para tocar versões solo de “It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding)” e “Girl from the North Country” e receber a “compania” de Eric Clapton, George Harrison,  Neil Young,  Roger McGuinn e Tom Petty em uma versão turbinada de “My Back Pages”. Para o final, todo mundo subiu ao palco para entoar “Knockin’ on Heaven’s Door”.



Em 2002, a Uncut preparou uma homenagem em uma edição da revista que trazia um longo perfil do cantor. Dividida em dois CDs, “Hard Rain” juntou covers exclusivas para o projeto de gente como Paul Weller (“I Shall Be Released”), Paul Westerberger (Positively 4th Street”), The Waterboys (“Girl from the North Country”),  Johhny Marr (“Don’t Think Twice, It’s All Right”) e Charlatans (“Tonight I’ll Be Staying Here With You”) assim como resgatou versões já registradas por Cat Power (“Paths of Victory), Yo La Tengo (“I Threw It All Away”), Cowboy Junkies (“If You Gotta Go, Go Now”), Lee Ranaldo (“Visions of Johana”) e Echo and The Bunnymen (“It’s All Over Now, Baby Blue”), entre outros. Três anos depois, a Uncut voltou a homenagear Dylan, desta vez revistando um álbum inteiro, o “Highway 61 Revisited”, com a presença de Drive By Truckers (“Like a Rolling Stone”), Paul Westerberger (“It Takes a Lot to Laugh, It Takes a Train to Cry”), Williard Grant Conspirancy (“Ballad of a Thin Man”), American Music Club (“Queen Jane Approximately”) e The Handsome Family (“Just Like Tom Thumb’s Blues”), entre outros.

Em 2007, aproveitando o embalo do lançamento do filme “I’m Not There”, de Todd Haynes, um bom CD duplo foi lançado em uma seleção que soa interessante. Lee Ranaldo, do Sonic Youth, montou um supergrupo para acompanhar os “sem banda”: Steve Shelley na bateria (Sonic Youth), Nels Cline (Wilco) numa guitarra, Tom Verlaine (Television) na outra, Tony Garnier (Bob Dylan Band) no baixo, Smokey Hormel (parceiro de Miho Hatori) também na guitarra, e John Medeski (do grupo Medeski, Martin and Wood) nos teclados. Essa turma faz a cama para Eddie Vedder (“All Along the Watchtower”) Stephen Malkmus (“Ballad of a Thin Man” e “Maggie’s Farm”) e Karen O (“Highway 61 Revisited”). O Calexico ficou responsável por acompanhar Jim James (My Morning Jacket, em “Goin’ To Acapulco”), Roger McGuinn (“One More Cup of Coffee”) e Charlotte Gainsbourg (“Just Like a Woman”). E ainda tem Cat Power (acompanhada por sua Memphis Rhythm Band em “Stuck Inside of Mobile with the Memphis Blues Again”), Jeff Tweedy (”Simple Twist of Fate”), Mark Lanegan (”The Man in the Long Black Coat”), The Hold Steady (”Can You Please Crawl Out Your Window?”), Yo La Tengo (”Fourth Time Around”) e Sonic Youth (“I’m Not There”, que também surge em uma versão de 1967 de Dylan com a Band”).

Continuação: Discografia Comentada: Bob Dylan (parte 1)

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– Gabriel Innocentini (@eduardomarciano) cursa jornalismo na Unesp e assina o blog Eurogol

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Leia também
– Bob Dylan ao vivo em São Paulo, 2008: retrato borrado da era de ouro do rock ‘n roll (aqui)
– Bob Dylan ao vivo em Brasília, 2012: Deixou todo mundo chapado (aqui)
– Bob Dylan ao vivo em São Paulo, 2012: Uma noite inspirada (aqui)
– “The Other Side of Mirror: Bob Dylan at the Newport”, de Murray Lerner, é essencial (aqui)
– Bob Dylan e a canção que mudou todas as canções: “Like a Rolling Stone” (aqui)
– Original vs Versão: Bob Dylan e Skank (aqui)
– Original vs Versão: It’s All Over Now, Baby Blue (aqui)
– “Bob Dylan – Letra e Música”: Um passatempo ok, mas… vá ouvir as originais (aqui)
– A bela trilha sonora do filme “I’m Not There”, de Todd Haynes (aqui)
– “I’m Not There”, o mais próximo que o público chegou de Bob Dylan (aqui)
– “No Direction Home”, a cinebiografia de Bob Dylan por Martin Scorsese (aqui)
– Bob Dylan, Martin Scorcese e a História Universal, por Marcelo Costa (aqui)

Outras discografias comentadas:
– Elvis Costello, por Marco Antonio Bart (aqui)
– Echo and The Bunnymen, por Marcelo Costa (aqui)
– The Cure, por Samuel Martins (aqui)
– Leonard Cohen, por Julio Costello (aqui)
– Midnight Oil, por Leonardo Vinhas (aqui)
– Nick Cave, por Leonardo Vinhas (aqui)
– R.E.M., por Marcelo Costa (aqui)
– The Clash, por Marcelo Costa (aqui)

Fotos da parte 1 por Divulgação Paramont. Fotos da parte 2 por Divulgação Sony/BMG

6 thoughts on “Discografia Comentada: Bob Dylan (parte 2)

  1. Cara parabens, pelo texto! Eu sou fanatico pelo Bob….e esta discografia comentada ta me servindo praticamente como um guia. Fiquei impressionado pela quantidade de informação que vc juntou, parabens!

  2. Grande texto. Estou usando-o como guia para uma audição detalhada da obra do Dylan, disco a disco, pra fazer a minha seleção do melhor desse gênio. Não é uma tarefa qualquer. Demorei anos para entender a magia do Dylan e, quando me dei conta, foi uma revelação muito impactante e dolorosa (no bom e no mau sentido). Ler esse texto me instigou ainda mais a cavoucar na obra dele. Depois de feita minha seleção será a hora de comprar alguns discos e, pelo seu texto, o primeiro será “Blood On The Tracks” (já tenho Highway 61 Revisited). Parabéns e obrigado!

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