Rock Raro: Affinity

por Wagner Xavier

O álbum “Affinity” é o único trabalho desta boa banda inglesa homônima que misturava rock progressivo e influências de jazz rock com passagens um tanto quanto cinematográficas. Lançado em 1970 pelo selo Vertigo, “Affinity” não chegou a decolar, mas é um excelente item de rock raro chegando a lembrar, em alguns momentos, coisas mais ligadas a black music.

A primeira faixa, “I  Am  And So Are You”, é muito boa, um pop progressivo com um belo vocal de Linda Hoyle, ótimo instrumental com destaque para os metais que acompanham a música numa mistura bem equilibrada, com o vocal de Linda combinando muito com o som da guitarra, baixo e bateria.

Os teclados Hammond podem dar um espetáculo à parte, como mostra a faixa “Night Flight”, mas a canção ainda destaca os metais muito bem dosados esbanjando uma versatilidade que surpreende pelo bom gosto utilizado. “I Wonder If I Care As Much” é uma balada carregada de emoção. O arranjo ganha densidade, principalmente pelo trabalho intenso do tecladista aliado a uma base belíssima da bateria e baixo.

“Mr. Joy” é uma canção carregada de mistério com acompanhamento sutil do teclado e um vocal sussurrado que soa incrível, numa mistura de pop, progressivo e jazz rock de extrema categoria que evidencia a qualidade destes músicos. Uma das melhores faixas do disco.  Já “Cocoanut Grove” pode fazer com que alguns se lembrem da bossa nova brasileira, mas a praia aqui é a soul music, principalmente em relação ao arranjo com violão, flauta e muito swing na melodia.

O álbum já poderia ser considerado agradável apenas pelas canções citadas, mas há ainda (que rufem os tambores) uma releitura de “All Along The Watchtower”, clássico de Bob Dylan imortalizado em outra versão histórica de Jimi Hendrix. A regravação do Affinity tem quase doze minutos e o arranjo faz com que a voz sensual de Linda Hoyle combine muito bem com a música. Vale destacar ainda o ótimo trabalho instrumental, principalmente dos teclados de Lynton Naiff.

John Paul Jones (Led Zepellin) foi o arranjador de algumas faixas do disco, o que de certa forma explica o alto padrão de qualidade do trabalho. A banda encerrou as atividades em 1971, com a saída de Linda, que chegou a lançar um álbum solo pela Vertigo, chamado “Pieces Of Me”, em 1971, mas que também não conseguiu alcançar o sucesso apesar de muita gente acreditar em seu potencial (a DJ Anne Nightingale chegou a dizer que Linda era a menina com mais chance de estourar em 1970).

Quanto ao disco “Affinity”, existe um interessante relançamento em CD da gravadora Repeirtore Records que inclui duas faixas bônus, “Eli´s Coming” e “United States of Mind”, que também valem muito a pena. O álbum foi relançado também em vinil pela Akarma Records. Mas a pedida é o relançamento da Lilith Records, em 2007: edição dupla, caprichadíssima e trazendo nada menos do que oito faixas bônus, inclusive uma impagável versão de “I Am the Walrus”, dos Beatles. Imperdível, um tremendo luxo.

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Wagner Xavier assina a coluna Rock Raro no Scream & Yell. Veja outras raridades aqui

5 thoughts on “Rock Raro: Affinity

  1. Affinity é sensacional. Até estranho ver essa banda aqui em um site que tem uma linha editoral indie. É bom para educar quem acha que o rock nasceu com o Nirvana, que tem como maior mérito causar impacto em um momento em que a aridez e apatia musical imperavam.

  2. Quem é esse Dum De Lucca, Mac? Que nome de merda rs. Baixei o disco mas numa versao que só tinha tres faixas bonus, mas valeu a pena. Estou atrás dessa versão citada no texto.

  3. A seção Rock Raro é publicada no Scream & Yell desde 2002. Há um link no fim do texto para as demais.

    Abraços
    Mac

    Ps. Marcos, releva.

    Ps2. Rolamos Affinity no Scream & Yell On The Radio #3, nosso programa na Rádio Levis. Download disponível na segunda-feira.

  4. primeiro foi a pipoca… agora, a chinelada desnecessária; cultura pop é só cultura pop, nada mais além disso e, mesmo quem acha que o mundo começou com o nirvana tem o direito de se divertir. um dia eu já achei que o mundo tinha começado com os pistols ; )

  5. ah, e tem outra: não precisa educar ninguém, não… a gente acha o caminho, solito no más! de black sabbath a john lee hooker em 6 passos, como diria rob gordon ; )

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