Nasi fala de futebol e alforria

por Yuri de Castro

No mês de lançamento de seu novo álbum, “Vivo na Cena”, o pobre paulista Nasi tem em sua agenda duas apresentações marcadas no Estado do Espírito Santo: o primeiro em Vitória e o outro em Colatina, interior do Estado. Na capital, o show é para um público considerado adulto (talvez você esbarre com alguém pela casa lamentando “não se faz mais rock no Brasil do jeito que era feito nos 80”). Em Colatina, Nasi toca às três da manhã em uma festa que comemora o jeito cafona de se vestir e de se viver.

Algumas coisas no Brasil são tão defasadas, que as pessoas ainda acham cafona se vestirem com um paletó e um girassol na lapela. Isso já é tendência perto da quantidade de Ray-Bans Wayfares (de grau) e de lenços palestinos que se espalham pelas baladas alternativas a fora. A conferir as festas cafonas de 2020.

“Onde os Anjos Não Ousam Pisar”, bom álbum de 2006 (baixe aqui), despertou algumas atenções que estavam adormecidas para a carreira do cantor, que parecia se resumir a participações em jogos de futebol da MTV e a ensaios fotográficos expondo-o como o ‘Wolverine brasileiro’. A conferir a criatividade dos ensaios fotográficos de revistas culturais em 2020.

Engraçado como sempre, Nasi não economiza no bate papo e fala não somente de seu novo trabalho (que, além de CD, sairá em DVD e em LP – seus quatro discos anteriores estão para download gratuito no site oficial), mas também do faniquito do jogador Richarlyson, do São Paulo, no Peru, dos ex-colegas do Ira! (“O André Jung toca a mesma coisa há 25 anos”), sobre sertanejo universitário e, claro, sobre um pouquinho mais de futebol.

Se muitos especialistas já tentaram estabelecer o esporte preferido dos brasileiros como uma possível metáfora para interpretar a vida, não fizeram isso à toa ou sem motivo. Fã de funk e blues e apresentador de um programa de rádio (sobre futebol, claro), Nasi prova que as quatro linhas do esporte bretão estão muito próximas das linhas escritas por ciências como a psicologia e a psiquiatria.

E talvez seja por isso que, logo depois de afirmar que “a psiquiatria forense tem atalhos que interessam a tudo, menos à saúde das pessoas, principalmente quando envolve bens patrimonais”, o são paulino fique à vontade de comentar a reação um tanto exagerada do jogador Richarlyson ao ser expulso na partida contra o Universitário, do Peru. “Nossa senhora. Pensei que ele ia dar um beijo nos jogadores adversários. Quando ele extrapola é fogo: quer tocar a bola para um lado e olhar para outro, dar de calcanhar, botar aplique…”, se diverte.

Paulista daqueles de se intitular paulistano, Nasi comenta com naturalidade as tempestades que abalaram as estruturas do Ira!, antes mesmo dos inícios de trabalho para “Invisível DJ”, derradeiro álbum da banda. “Um fã chegou pra mim, em uma banca de jornal, e conversamos sobre esse álbum. Ele comentou que esse era um bom disco, mas que faltava alma. E realmente. À exceção do baterista Andre Jung, todos nós nos desenvolvemos. Até o Edgard [Scandurra]. Mas isso é muito pouco para uma banda. Perdemos a oportunidade de dar um tempo. Falar de outros assuntos, sentir saudade e voltar”.

E se jogador que simula falta deve ser advertido com cartão amarelo, Nasi não faz muito “migué”. Questionado sobre a produção de Rick Bonadio em “Invisível DJ” (Rick é reconhecido por empreitadas teens como Rouge e Bro’z além de trabalhos com Charlie Brown Jr. e Mamonas Assassinas, além de ser uma espécie de divindade para bandas como NxZero e Fresno), o cantor encaixa no peito a responsabilidade: “Ele mete a mão com certeza num monte de som aí. Mas no som de uma garotada que nem sabe o que quer. Quando ele foi tocar com o Ira!, as poucas coisas em que ele interferiu eram coisas que um produtor tinha que interferir mesmo. Éramos uma banda com 25 anos de história. Brigamos com o Liminha na época do “Vivendo e Não Aprendendo”. Um cara tão conhecido como produtor de sucesso e nós, os garotos terríveis do underground paulista. Nós brigamos e ele mandou a gente voltar pra São Paulo. O disco terminou com cinco produtores diferentes. Então, não tem essa coisa de ‘a culpa foi do produtor’. Se você foi até o final com o cara, a culpa é sua”.

Sobre “Vivo na Cena”, Nasi se delicia ao comentar que o clássico “Bala com Bala”, de autoria de João Bosco e eternizado na voz de Elis Regina, ganhou uma solução “tipo funk de Nova Orleans”. Diz também que ficou muito feliz com o fato da Coqueiro Verde (a mesma que lançou o ótimo “Rocknroll” de Eramos Carlos e que distribui artistas internacionais como t. A.T.u e Face to Face) levar adiante a idéia de prensar um LP o lançamento. Quem conseguir a bolacha, talvez tenha alguma onda com a metalinguagem de ouvir um LP e conferir regravações de clássicos do rock brasileiro (“O Tempo Não Pára”, “Rockxixe”), algumas do Ira! (“Tarde Vazia, “Por Amor”), outras dos tempos de Voluntários da Pátria e Irmãos do Blues (“Verdades e Mentiras”), além de uma regravação de um sub-hit do rock nacional: “Carne e Osso”, do Picassos Falsos.

Da mesma forma que algum torcedor do São Paulo possa defender a permanência de Richarlyson no time de Ricardo Gomes, talvez Nasi esteja se divertindo bastante em covers de Cazuza e Raul Seixas. Talvez tenha um público que também se amarre ao ver “hinos de uma geração” (falam isso por aí – ainda) sendo bem executados no palco, com uma variação ali, outra acolá. Talvez algum jornalista ainda goste de dar umas risadas com o personagem Nasi, ali, misturando ambições, brigas e opiniões divertidas. Mas, ao que parece, Nasi está mesmo sendo alforriado, assim, aos poucos. Resta saber se, daqui pra frente, seus atos musicais permitirão que ele se reintegre à sociedade de forma digna ou se irá aumentar as estatísticas do Instituto Paulo Ricardo para Formação de Artista em Decadência. A conferir o lançamento de “Vivo na Cena” em 2010 e os próximos integrantes da banda do Domingão do Faustão em 2020.

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Yuri Castro é jornalista, fotógrafo, músico e produtor das rádios Litoral FM e Gazeta AM

21 thoughts on “Nasi fala de futebol e alforria

  1. O Yuri como jornalista deve ser um fotógrafo.
    Texto pra lá de ruim, cara.
    E olhe que o Nasi, junto com Lobão e Marcelo Nova, é dos melhores entrevistados que existem.
    Ele nem falou que já comeu a Marisa Monte, pô!
    Não valeu, fica pra próxima.

  2. Momento Contigo.
    Pegou a Marisa, sim. Há muitooo tempo quando ela era uma gatinha cult.
    Ele fala disso em toda entrevista, como um troféu.
    É um figuraça!

  3. Descobri isso lendo o Noites Tropicais, do Nelson Motta. Ele que “lançou” a Marisa Monte, acabou se apaixonando por ela, e quando viu ela tava com o Nasi…

  4. Não entendi a bronca com o texto. Eu que desprezo muito essa banda e cantor fiquei satisfeito. O que o Nasi tem pra falar além disso que o autor colocou no texto? Achei o texto melhor do que qualquer coisa que o nasi faria.

  5. Agradeço pelas críticas ao texto. Quem reclamou sobre a falta da suposta entrevista, talvez tenha até acertado. Fizemos um videochat com o Nasi no portal que hospeda o blog das nossas rádios e, por isso, o texto era mais um gancho do papo, do contexto das apresentações do Nasi e do novo trabalho dele. No mais, as coisas funcionam assim mesmo; errando aqui, ouvindo acolá. O que achei curioso foi o pedido de que, no texto, devia estar presente a informação de que o Nasi comeu a Marisa Monte e – por isso – o texto seja ruim. Talvez por outros motivos, mas não porque faltou uma história já perpetuada e que não houve gancho algum para ser contada ou citada.

  6. Não é tão curioso assim, Yuri.
    Quando reclamei – obviamente brincando – que o Nasi nem sequer falou que tinha comido a Marisa Monte. Quis dizer, e disse, que a entrevista foi fraca, já que ele fala disso em todas!
    Sei disso porque sou fã do cara e sempre leio, e levo em conta, o que ele fala.
    Nasi é dos poucos que chegam aos 40/50 sem virar bunda mole.

    Um abraço

  7. Sou velhaca aqui no S&Y e já conheço esse tipo de embate nos comentários: gente que não conseguiu ler as entrelinhas do texto e autor que perde tempo dialogando com fã.

  8. Ué, fã não pode se manifestar?
    O autor é uma eminência parda?
    Não pode escrever mal?
    Eu sou fã do Nasi, não da Ivete Sangalo.
    Tenho senso crítico, baby.

  9. Lugar comum falar mal de Paulo Ricardo, o cara pelo menos tem um punhado de canções que pode se orgulhar pro resto da vida, pior é vir ao mundo e nem saber pra que veio.

  10. Caracas, alguém defendendo o PR!!!! (rs) Verdade é que ele tem carisma e algum talento. Tem um não-sei-o-que com a Globo, toca ao vivo em festinhas do BBB, tem música de abertura… Resumindo: faz uma coisa aqui outra ali (a hora que ele quiser fazer TV ou cinema ou qq coisa, ele consegue), e vai vivendo, bem, acho, então tá, sei lá. Entrevistas do Nasi, Marcelo Nova (o melhor) e Lobão são mesmo sempre bem bacanas, desde sempre.

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