Música: End Times, Eels

por Adriano Mello Costa

Mark Oliver Everett já passou por poucas e boas na vida. Perdeu familiares e amigos vitimados com doenças e outras desgraças. O sentimento por trás dessas perdas sempre nutriu diretamente o Eels, grupo do músico, que na verdade funciona em torno da sua figura. Depois de um hiato de quatro anos, E. (como também é chamado) retornou com um ótimo disco no ano passado, “Hombre Lobo: 12 Songs Of Desire”, no qual utilizava um personagem para descarregar suas emoções.

Pouco mais de seis meses depois, agora no comecinho de 2010, Everett aparece com mais um álbum do Eels. “End Times” lançado pela Vagrant Records, é um disco triste, extremamente triste e sem esperança. Utilizando suas próprias visões nas canções, Mark Everett imprime – com marca forte – letras sobre perdas, desilusões e carência. Em “End Times”, o Eels mostra a face de um cidadão de meia idade que se vê um pouco perdido enquanto busca encontrar seu lugar no mundo e conviver com suas falhas.

Para a gravação do disco, o músico se enfurnou dentro de um porão e elaborou as 14 canções que passam na maioria em níveis mínimos e com poucos instrumentos. Já na abertura, com “The Beginning”, o clima do disco se apresenta. Aparecem os versos “tudo foi lindo e livre” e, na seqüência, um “no princípio” designa o que virá: tristeza. É o fim dos tempos. Na canção titulo, ele faz uma espécie de depoimento: “Eu ando em torno de uma poça na rua (…) eu não sinto nada agora, nem mesmo o medo.”

Em “Nowadays”, com violões que a tornam mais acessível, além de uma bonita harmônica, Mark Everett canta como um antigo trovador solitário: “Hoje em dia quando você for para uma caminhada, melhor não parar e dizer olá”. Decepção, isolamento e receio batem com força na porta. Na emotiva “I Need A Mother”, a carência afetiva por um amor perdido encontra paralelo com o amor de mãe: “Eu preciso de uma mãe (…), eu preciso de uma amante, não alguém como você”.

A poesia meio suja de “In My Younger Days”, o ritmo mais cru de “Paradise Blues” e a contemplativa “Little Bird” são outros bons momentos de “End Times”, talvez o disco mais difícil da carreira do Eels (e olha que isso não é nada fácil). Nem tanto por sua construção sonora e sim pela sua visão pessimista e derrotada do mundo em que vivemos. Pode-se até discordar de alguns pontos das letras de Mark Everett, e abusar do positivismo como guia, mas mesmo assim é um disco que faz pensar.

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Adriano Mello assina o blog Coisa Pop.

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