Música: entrevista com a Loomer

por Arlen Andrade

Eles são de Porto Alegre, e lançaram o EP “Mind Drops” em agosto do ano passado. Formada por Stefano (vocais, guitarra), Liege (vocais, baixo), Richard (guitarra) e Guilherme (bateria), a Loomer tem recebido uma boa recepção de público e crítica. Segundo o baixista Liege, o nome da banda não tem relação com a segunda faixa do álbum “Loveless”, do My Bloody Valentine, e sim com o “difuso” da própria banda. Mesmo assim, a Loomer carrega fortes influências de Jesus and Mary Chain, Dinosaur Jr, Ride e outras bandas da cena shoegaze do fim dos anos 80.

Ao vivo, a Loomer constrói uma parede sonora com ventos carregados de dissonâncias e distorções. Os vocais ficam um pouco atrás e são divididos entre Stefano e Liege, que se alternam nos microfones. Richard tem um estilo bem peculiar nas baterias e traz outras variações para o som do quarteto.  Apesar do EP conter apenas cinco músicas, o resultado surpreende para uma estréia. “Mind Drops” teve lançamento virtual via SenhorF e Midsummer Madness. Para 2010, várias promessas, que Liege e Richard contam abaixo:

Como a banda se formou e qual a idéia central?

Liege: Digamos que todos, menos eu, são “experientes”. O Guilherme, batera, é “das antigas”. Lembro-me de vê-lo tocando em 2004 com a banda Space Rave, mas sua trajetória é bem maior. O cara já tocou em bandas como a Smog Fog, um petardo dos anos 90. O Stefano já tocou em uns 90% das bandas underground dos anos 90. Já guitarreou ou batereou na Viana Moog, na Cecília, na Dead Fingers, na Girlish. Hoje em dia, além da Loomer, ele toca na Transmission, na Parkplatz e na (novíssima) Badhoneys. O Richard veio do Rio, onde já teve outras bandas nos anos 90. Aqui no Sul ele fundou a Lautmusik, da qual saiu recentemente. A idéia central dos três era apenas uma: fazer barulho, mas com melodia. Me chamaram para um ensaio, toquei e fiz os backings de “When I Wake Up”, do MBV, e “entrei pra banda”.

Muitas pessoas escutam o som da banda e vinculam diretamente ao movimento shoegaze. Vocês concordam com estas comparações?
Liege: Partindo do pressuposto que no âmago o Richard é punk, o Guilherme é oitentão pra caralho, o Stefano é grunge e eu sou metaleira, a dissonância, a microfonia e os vocais leves, sem virtuosismos, são o estilo em comum entre nós quatro. Não que necessariamente seja shoegaze. MBV é uma grande influência. Por timidez a gente toca olhando pra baixo, tal qual os caras. Mas mesmo partindo de uma coincidência óbvia, o nome da banda não é Loomer por causa da música do MBV, mas sim porque Loomer significa difuso, que é como definimos nosso som.

O que influencia vocês no processo de composição das músicas, tanto letra quanto som mesmo? Vocês têm alguns nomes de artistas fora do meio musical que influenciam a banda de alguma forma?

Liege: Hmmmm… fora do meio musical? Eu me inspiro em cerveja. E churrasco. (hehehe) Na verdade, eu não me inspiro. Só respiro. Saca? Minhas letras são carregadas de metáforas do que é meu dia-a-dia. O Stefs é um cara mais sensível, no aspecto poético da coisa. Agora, para o instrumental da banda, a única coisa em que a gente se inspira, que não é musical em si, são nos barulhos de motoserras e motores de caminhão.

Impossível não lembrar de nomes como My Bloody Valentine, Dinosaur Jr e Pixies assistindo a um show de vocês ou mesmo pelas músicas do EP. O que vocês têm achado dos “retornos” destas bandas e do que algumas delas tem gravado?

Liege: O “The Eternal” (último do Sonic Youth) me surpreendeu muito. O Mark Ibold, no baixo, contribuiu pro lado “torto” do som. Achei do caralho. O “Farm”, último do Dinosaur Jr, não sai do meu player há meses. É incrível como mesmo parecendo o Raiden, do Mortal Kombat, o J Mascis continua o mesmo gurizão de 1988! Já o Kevin Shield é um gênio incompreendido. Ele até tentou pirar na carreira solo, fazendo trilhas pra Sofia Coppola e tal, mas prefiro ele de cabeça baixa, surrando a Jaguar ao lado do My Bloody Valentine. Espero que depois dessa turnê de reunião, eles pensem em voltar a compor juntos, gravar. Seria demais!

Como vocês acham que está o mercado, a cena independente?
Liege: A cena independente está bombando. Gente com energia, vontade e idéias novas, mas vivemos uma era nova: sem grandes gravadoras, sem retornos financeiros exorbitantes, e onde a anomia musical se deve às milhares de opções e a facilidade de acesso a todas elas. As bandas hoje não têm o mesmo valor que tinham nos anos 90, quando você esperava a tarde inteira na frente do rádio, com o dedo no rec esperando dar o som pra você gravar para mostrar pro seu amigo. Hoje você recebe tantos spams, e é tão fácil ir lá e clicar e ouvir, que no fim você se enoja e exclui o spam. Acredito que o nosso público (se é que temos) é constituído de gente como a gente: saudosos de músicas boas. Saudosos dos anos 80, 90. Saudosos de barulho mesmo.

Vocês acham que aquele boom de alguns anos atrás, com bandas independentes sendo contratadas por grandes gravadoras (Fresno, CPM22, Pitty) e aparecendo nos veículos de comunicação e em programas conhecidos, ajudou as outras bandas independentes de alguma forma ou aquilo tudo não adiantou para muita coisa?
Liege: Talvez sim, apesar de ser completamente diferente. Todos um dia foram artistas independentes, seja lá quando foi que deram o primeiro passo para o mainstream. São bandas que tiraram a sorte grande. Porém, ainda acho um tanto egoísta sair do independente e se limitar à porta do seu camarim, recheado de Jack Daniels ou Toddynho. Essa galera tinha que “botar a mão na massa” como os caras do Macaco Bong, por exemplo, uma banda sensacional formada por três caras muito legais, que além de tocar o seu projeto pra frente, com o seu próprio suor, talento e originalidade, também são responsáveis pelo Festival Calango, com o coletivo do Espaço Cubo. É um trabalho que vai além de empunhar instrumentos, é um trabalho de empunhar martelos (literalmente) pra montar um palco legal pra outras bandas independentes tocarem. Isso sim, adianta alguma coisa.

Quais são os futuros projetos da banda?
Liege: A gente tem mais umas cinco músicas novas, e duas delas a gente já está tocando em show. As outras duas nós estamos ensaiando e “organizando”, e ainda têm uma na gaveta. Talvez a gente lance outro EP, quando rolar um tempinho e uma graninha. Ou talvez a gente junte tudo e lance um disco. Ou talvez a gente não faça nada. Tudo depende. Saca?

Richard: Meu sonho é poder fazer uma boa gravação, e tocar nos festivais Brasil afora.

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Baixe “Mind Drops EP” gratuitamente aqui, lançamento Midsummer Madness e Senhor F Virtual.

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Arlen Andrade assina o blog Fuzz and Noise in My Ear

13 thoughts on “Música: entrevista com a Loomer

  1. No livro “Our Band Could Be Your Life”, o jornalista Michael Azerrad (aquele) não classifica o Dinosaur Jr. como shoegaze, mas diz que a banda têm vários elementos que são caracteristicos do estilo. Dai muita gente associa-los, e outros considera-los. Não acho um erro coloca-los no balaio. Porém, o que deveria interessar aqui, a priori, deveria ser a entrevista e o link para baixar um EP de uma banda que alguém está dizendo que é bacana, e repercutir se o som dela é realmente bacana ou não.

    Mac

  2. Paulo o Kevin Shields tocou/cantou no Hand it over, do Dinosaur Jr ambas as bandas contribuiram muito juntas.

    Escute a Loomer, faça como o Alan, acima.

    abraço

  3. Então, bem bacana o Loomer mesmo. Eles sim lembram o período shoegazer. Uns vocais meio jesus & mary chain, atolados na mixagem, uns ecos na gravação. Mas dinosuar jr (que eh bem foda, né, alan), não eh shoegazer nem a pau. Tipo, J mascis é mais um neil young do rock alternativo que um Kevin Shield..

  4. Acho que não foi dito na entrevista que Dinosaur Jr é shoegazer. Talvez vc tenha confundido quando o Arlen citou que o som da Loomer lembra mbv, dinosaur e pixies (que tb não é shoegazer). Acho a Loomer uma ótima banda que consegue fundir o grunge com o shoegaze, e o dreampop com linhas pesadas.

    Já vi eles tocarem cover de Little Fury Things do Dino aqui em POA, foi foda. É como a Liege diz ali no que se refere à influências, leiam ali. Eu tenho uma banda e as influências nem sempre se enquadram no estilo do som que a gente faz ou aparecem sutilmente nas músicas.

    Aqui tem um clipe deles ao vivo (que a Liege por sinal tá vestindo uma camisa do Dinosaur Jr, igual a do krist no year punk broke) e tirem suas conclusões: http://www.youtube.com/watch?v=xt9a33x6Fs8

  5. Blz rapaziada. Na verdade, fiz só um primeiro comentário solto mesmo. Não era pra levantar qualquer grande discussão. Anyway, o Mac tá certo: o principal é falar do Loomer, que por sinal eu gostei bastante. Um banda bem interessante, tomara que dê mais frutos.

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