O quarto álbum de Brendan Benson

por Marcelo Costa

Em seu quarto álbum solo, e o primeiro após o grande sucesso do Raconteurs, Brendan Benson parece ter se esforçado para entregar ao público tudo que lhe cobravam ficar escondido sob a persona fortíssima de Jack White: as melodias. Quatro anos após “Alternative To Love”, Brendan apresenta “My Old, Familiar Friend”, o maior número de canções assoviáveis por metro quadrado que você vai ouvir da música nascida em 2009.

Brendan Benson faz de tudo um pouco no disco. Canta, toca guitarra, baixo, teclados, percussão e até bateria (em duas músicas, mas toca). Ao contrário de seus álbuns anteriores, auto-produzidos, Benson convocou Gil Norton (Pixies, Echo & the Bunnymen, Foo Fighters) para a missão, e o resultado é um som limpo, cristalino, que valoriza a voz suave do compositor e suas letras que trafegam entre a rejeição, a amargura e o amor.

“My Old, Familiar Friend” abre com “A Whole Lot Better”, um poderoso power pop com tudo com o estilo tem de melhor: boas guitarras sobrepostas, vocais melodiosos e uma letra romântico sonhadora. Bingo. É ouvir e sorrir. “Eyes on the Horizon” visita o território da paranóia e conquista com seu refrão beatle. A balada “Gonowhere”, número menor, é uma das canções em que Brendan assume a bateria – e faz o arroz com feijão.

Uma das surpresas do disco são as orquestrações e influências da Motown que batem ponto na romântica “Garbage Day”, em que o personagem espera alguém que possa salva-lo da solidão de seu apartamento, com direito a arranjo de cordas e um jeitão Burt Bacharah que casaria perfeitamente com o momento grandioso de algum filme da época de ouro de Hollywood, e na bonita balada acústica “You Make a Fool Out Of Me”.

Para aqueles que querem pular, pular e pular há a vibrante “Poised and Ready”, a poderosa canção de término de namoro “Don’t Want to Talk” (“Isto é adeus, e aquela é a porta” – emos, aprendam: é assim que se faz), a deliciosa declaração de amor “Misery” (“Eu sei que é errado, mas o que posso fazer? Eu gostaria de poder tocar em você”), de levada que poderia fazer Paul McCartney sorrir em uma manhã nublada, e a ótima “Borrow”.

A grande canção do disco é “Feels Like Taking You Home”, uma parceria de Brendan Benson com Dean Fertita (Queens of The Stone Age, The Dead Weather) que lembra, e muito, os melhores momentos do Raconteurs. Começa com o sintetizador (tocado pelo próprio Fertita) hipnotizando. A marcação básica da bateria vai entrando aos poucos e crescendo, crescendo, e ali pelos dois minutos você vai querer sair pulando pela sala da sua casa. Uma porrada irresistível.

Em “Lesson Learned”, Brendan faz tudo (bateria, teclado, guitarra, baixo, voz e o que mais tiver), mas a canção é outra do segundo escalão do álbum. O baixista Roger Dabbs e o baterista Rollum Haas, da banda The Features, de Nashville, assumem seus instrumentos na maior parte das canções do álbum, que ainda conta com Jared Reynolds, que costuma acompanhar Ben Folds em turnês, tocando baixo em quatro canções.

A primeira edição de “My Old, Familiar Friend”, lançado na gringa via Ato Records, traz duas faixas bônus, “New Words of Wisdow” (levada ao violão com um teclado viajandão fazendo climas) e a psicodélica “I’ll Never Tell”, que fecha um disco que não soa século 21: parece ter saído de algum dia perdido de um mês de verão nos anos 70 para a atemporalidade. Perfeito para quem quiser dar um descanso ao Teenage Fanclub e ao Big Star (e, claro, a “Alternative To Love” e “Lapalco”) ou pretende sorrir após ouvir uma canção de rock and roll.

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Leia também:
– Raconteurs ao vivo no FIB 2009, por Marcelo Costa (aqui)
– “Consolers of The Lonely”, Raconteurs, por Marcelo Costa (aqui)
– “Alternative To Love”, de Brendan Benson, por Marcelo Costa (aqui)

Foto: Marcelo Costa

9 thoughts on “O quarto álbum de Brendan Benson

  1. Um disco de rock honesto e inspirado recheado de singelas melodias e letras que dizem alguma coisa de importante.Algo raro de se ouvir nos dias de hoje.Porque?

    PS:”Don’t want to talk” e “You make a fool out of me” são pérolas dos famigerados anos 00.

  2. pode ser apenas uma puta coincidência, mas quando sentei para ler tua resenha, meu ipod tava no shuffle do teenage fanclub, 25/70; anyway, vou dar uma nova chance ao carinha, já que lapalco e one mississippi passaram meio em branco… tua resenha me fez lembrar um pouco josh rouse / josh ritter.

    abraço mac!

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