Boteco: Três alemãs, König, Benediktiner e HB

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por Marcelo Costa

Theodor König inaugurou a König Brauerei em 1858 no distrito de Beeck, que naquele tempo ainda não fazia parte da grande Duisburg (que hoje soma quase 500 mil habitantes), cidade próxima de Düsseldorf. Os primeiros registros de produção da König Pilsener, porém, datam apenas de 1911, e ela era bem mais lupulada (e amarga) do que a versão centenária que circula hoje em dia. No complicado jogo do mercado cervejeiro atual, a König Brauerei foi comprada pela Holsten Group, que a vendeu para a dinamarquesa Carlsberg, que passou o rótulo para a Bitburger Holdings, atual detentora da marca König Pilsener. De coloração dourada e cristalina, com creme branco de boa formação e média permanência, a König Pilsener é uma legitima representante do estilo germânico. No nariz, um punhado de notas herbais (com um levíssimo chulezinho), um leve toque floral e percepção maltada que remete a feno. Na boca, o primeiro toque traz um amargor caprichado mostrando que os alemães não economizaram no lúpulo. Para contrabalancear, no entanto, o adocicado do malte surge na sequencia, dá uma limpada no palato abrindo caminho para uma nova dose de amargor, que encerra o conjunto de forma seca e lupulada. No retrogosto, amargor e notas herbais. Excelente representante do estilo.

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A Benediktiner Weissbier, por sua vez, é o resultado da união entre a cervejaria Bitburger e a Ettal Monastery, que segue a receita original dos monges beneditinos da casa desde 1330. A Abadia de Ettal fica próxima de Munique, na Baviera, e mantém uma cervejaria desde 1609, que ainda está na ativa e produz Benediktiner para abastecer os mercados alemão e austríaco – os demais países recebem uma versão produzida pela Licher com supervisão monástica (a versão que chega ao Brasil, no entanto, é feita no monastério). De coloração dourada puxando para âmbar com turbidez a frio, a Benediktiner Weissbier exibe um creme branco de ótima formação e média permanência. No nariz, as notas clássicas do estilo: frutado que remete a banana, maltado que sugere pão e feno mais leve condimentação (semente de cravo e coentro). É possível perceber ainda um pouco de notas herbais e cítricas. Na boca, as notas cítricas (laranja) parecem mais aguçadas no primeiro ataque, mas logo a tradicional percepção frutada que remete a banana toma conta da experiência acompanhada de um leve adocicado maltado que lembra caramelo. O final fica entre o suave amargo cítrico e o frutado de banana. No retrogosto, pão. Diferente e muito boa.

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Já a Hofbräu Original é produto da Staatliches Hofbräuhaus München, uma cervejaria fundada em 1589 em Munique para abastecer a realeza da Baviera. Vários nomes notórios da história da humanidade passaram pelos corredores da casa: Mozart criou algumas obras após visitas regulares ao salão; Lenin também foi um visitante assíduo às vésperas da Primeira Guerra Mundial, e o Partido Nazista, de Hitler, fez várias reuniões no prédio, uma delas com o futuro líder genocida declamando seus abjetos discursos para mais de 2 mil pessoas. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a cervejaria adentrou um período de ascensão (soldados norte-americanos ficaram fãs da Hofbräu Original) e, hoje em dia, mantém uma das maiores áreas durante a tradicional Oktoberfest da cidade. A Hofbräu Original é uma Munich Helles (uma versão mais suave das Bohemian Pilseners tchecas) de coloração dourada e cristalina, com creme branco de ótima formação e média permanência. No nariz, notas maltadas remetendo a pão e biscoito interagem com o discreto, mas presente toque picante do lúpulo. Na boca, boa combinação de adocicado com amargor numa cerveja extremamente refrescante e tradicional. O final é meio adocicado, meio amargo, um tiquinho picante. No retrogosto, refrescancia.

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Balanço
Autentica German Pilsener, a König Pilsener vale o bordão: “Cerveja de verdade é isso aqui, não essas coisas que vocês bebem em boteco pé sujo no Brasil”. O amargor acima dos padrões do estilo pode assustar alguns, mas o drinkability alto e o sabor refrescante recomendam uma cerveja bastante saborosa, e exemplar de um estilo tradicionalíssimo. Falando em tradição, a Benediktiner Weissbier arrisca soar diferente das Weiss tradicionais devido ao sabor cítrico percebido na boca. O conjunto, claro, valoriza as notas frutadas que remetem a banana, mas a sugestão cítrica acrescenta um elemento interessante ao conjunto, que não desmerece o conjunto, pelo contrário, acrescenta. Vale experimentar. Já a Hofbräu Original (HB para os íntimos) é uma daquelas session beers perfeitas: para se beber muito e acordar inteiro no dia seguinte. Fiel seguidora da Reinheitsgebot, a Lei da Pureza Alemã, é uma cerveja clássica que une alto drinkability com um conjunto equilibrado e refrescante. German Pilsener de respeito. Vá com fé. As três são encontradas em garrafas de 500 ml. A König Pilsener fica na faixa de R$ 10 a R$ 13; a Benediktiner sai entre R$ 14 e R$ 18; já a Hofbräu Original costuma ficar entre R$ 12 e R$ 17.

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König Pilsener
– Produto: German Pilsener
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 4,9%
– Nota: 2,89/5

Benediktiner Weissbier
– Produto: Weiss
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 5,4%
– Nota: 3,06/5

Hofbräu Original
– Produto: German Pilsener
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 5,1%
– Nota: 3,09/5

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