Entrevista: Gabriela Munin

por Allan Hipólito

“Oi, você pode esperar 5 minutos que eu tenho 74 e-mails pra responder?”. Aparentemente eufórica, Gabriela Munin, de apenas 21 anos, se mantém alheia às conversas ao seu redor. Digita sem parar em seu notebook repleto de adesivos com nomes de bandas. Estamos no café da Livraria Cultura no Conjunto Nacional, que fica na Avenida Paulista.

À frente da Tronco Produções (http://troncoproducoes.com.br/) desde o seu começo em novembro de 2007, Gabi (como todos a chamam) parece insegura com a entrevista. Momentos antes de ligar o gravador ela me questiona se farei perguntas difíceis. Respondo que não e começo a gravar.

Foi através de seu trabalho na gravadora independente Amplitude, especializada em lançar bandas com sonoridade experimental, que Gabriela teve a idéia de criar a Tronco Produções. Ela explica – sempre gesticulando muito: “Assim que eu entrei na Amplitude me envolvi bastante com a produção de shows. Foi algo com o qual eu me identifiquei e achei que era boa naquilo. Pensei que já estava na hora de montar minha própria produtora”.

Inicialmente trabalhando apenas com as bandas da própria Amplitude, pouco a pouco o cast da Tronco foi tomando forma. “Com o tempo isso foi mudando, muitos artistas saíram, outros entraram. Hoje, todos os artistas que eram da Amplitude já não estão mais com a gente. E os que estão são novos, diferentes. Estamos em constante processo de mudança”, conta.

Outro importante foco da Tronco está no trabalho desenvolvido para bandas que não fazem parte de seu cast. A produtora já organizou turnês para diversas bandas através da prestação de serviços. As americanas Attractive & Popular e Ketman – pouco conhecidas do público brasileiro, a matogrossense Macaco Bong e o músico Tony da Gatorra são alguns dos artistas que já contrataram os serviços da Tronco.

Falando de maneira compulsiva, porém pontual, Gabi explica que a inspiração para os projetos desenvolvidos na Tronco tem grande referência no que é feito fora do Brasil. “Tem muita coisa que a gente vê lá fora e quer trazer pra cá. Principalmente projetos que são super importantes pra cena independente crescer”, acredita Gabriela. O Parklife, que já teve três edições, e o Desbravando o Interior são alguns exemplos.

Servindo de marco zero para a atuação da Tronco no mercado, o projeto Desbravando o Interior nasceu da dificuldade dos artistas independentes entrarem em turnê. Com um alcance que já se aproxima de 30 cidades no interior de São Paulo, o projeto tem proporcionado a constante troca de informações entre artistas de diferentes localidades. Os laços deste intercâmbio têm sido responsáveis pela criação, ainda que tímida, de um circuito de shows até então inexistente nas regiões por onde o projeto tem atuado.

As casas de shows – um dos elos mais importantes neste circuito – ainda carecem de uma abertura maior a este tipo de público. Pergunto a Gabi sobre sua relação com elas. Ela fecha a cara e respira fundo, dando a clara impressão de ter que falar de um assunto indigesto. “É muito difícil trabalhar com casas de shows. É complicado porque tem toda uma política que só você não sai ganhando. No interior, por exemplo, eu nunca trabalho em contato direto com as casas, somente com produtores (locais)”, explica.

Através de turnês organizadas pela Tronco em outros países, Gabi cita a diferença da postura das casas de shows fora do Brasil. “Já fiz três turnês nos Estados Unidos e a realidade é totalmente diferente. Lá você ganha dinheiro facilmente, mesmo se você for uma banda desconhecida. Porque a maioria das casas dá 100% da bilheteria para as bandas.”

A relação de amizade é um dos principais pontos que a agência mantém com seus artistas. Segundo Gabriela, ela acaba se tornando amiga mesmo daqueles com quem ela não mantinha uma relação de amizade: “A vida do artista é um caos, e meu papel é organizar a vida deles”. Ela – que já foi tecladista da banda Seamus – assume que hoje em dia prefere muito mais trabalhar no backstage a estar na frente do palco.

Apesar de assumidamente (ainda) não obter lucros, Gabi afirma que cobrir os custos das turnês já é uma vitória a ser comemorada. O reconhecimento que algumas bandas do cast da produtora têm recebido da mídia em geral, entre elas a MTV, é outro indício de que a produtora está no caminho certo.

Gabriela ainda está surpresa com a nomeação das bandas Holger e Black Drawing Chalks para algumas categorias do VMB, premiação anual realizada pela MTV. “A gente estava esperançoso de entrar no VMB. Ficamos atualizando a página dos indicados no site da MTV o dia inteiro. Foi quando tivemos a surpresa. Eu entrei na sessão de Rock Alternativo e estava lá o Holger e o Black Drawing Chalks. Depois eu entrei na sessão Aposta MTV e estava lá também o Holger e o Black Drawing Chalks”, comemora. Duas semanas depois, ao vivo no Acesso MTV, os indicados ao melhor clipe do ano no VMB foram anunciados. Mais uma vez o Black Drawing Chalks estava entre os indicados.

Mesmo não ganhando em nenhuma das categorias em que concorreram, só o fato de ver as bandas da Tronco figurando ao lado de importantes nomes da música pop – como Nando Reis e Mallu Magalhães – já é motivo de orgulho para a produtora – e de certa forma, um reconhecimento pelo trabalho.

Atualmente, Gabriela divide a sociedade da Tronco com Sérgio Ugeda – com quem havia trabalhado na gravadora Amplitude. Sua equipe conta ainda com três estagiários. Os planos para 2010 não param. Duas novas bandas são quase certas pra integrar o cast da produtora. No site, diversas reformulações pretendem transformá-lo num portal, aumentando a quantidade de informações e interatividade para seus visitantes. Parece um plano de dominação em larga escala. Ela me interrompe com um sorriso e também em tom de brincadeira conclui: “É um plano de dominação Mundial”.

http://troncoproducoes.com.br/

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Allan Hipólito é estudante de jornalismo, DJ e um dos apresentadores do podcast Frequência Damata.

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