Show: AC/DC no Morumbi

Por Tiago Trigo

Fotos: MRossi / Divulgação

Quer unir metaleiros, punks, playboys ou simplesmente tiozões que gostem do rock setentista? Chame o AC/DC. Este raro dom é um dos sustentáculos que mantém a banda viva nos corações da legião roqueira há mais de 35 anos. E colocar cerca de 70 mil pessoas no estádio do Morumbi numa sexta-feira à noite não é tarefa fácil, ainda mais com ingredientes pitorescos da capital paulistana, como chuva forte, semáforos quebrados e quase 200 km de congestionamento.

Enganou-se quem esperava condescendência com o horário devido ao caos urbano. Foram menos de dez minutos de tolerância, que nem podem ser chamados de atraso até as luzes acenderem e o telão preparar a entrada dos australianos. Garotos insandecidos mostram que o quinteto não sofre qualquer dificuldade para conquistar as novas gerações. Muitos, com certeza, não tinham idade para ver a turnê de “Ballbreaker”, que esteve no Brasil em 96 e nem sonhavam em nascer quando da primeira visita do grupo ao Brasil, no histórico Rock in Rio de 85.

Nesta noite de Morumbi lotado sem futebol, a maioria dos presentes já decorou o roteiro do show. O set list é o mesmo de toda a turnê “Black Ice”, o que já causou reclamações de fãs, que sentem falta de alguns clássicos da banda. De fato, “Jailbreak”, canção da época do falecido vocalista Bon Scott, faz falta. Mas, claro, assim que o grupo pisa no palco, a galera se empolga, mas o show começa realmente com “Back in Black”, a terceira da lista, que faz o estádio todo pular e cantar junto. O riff, quase banalizado por um comercial de TV, ainda está no Top 10 dos mais poderosos da história do rock.

A ordem das músicas é preparada de maneira que as novas canções se encaixem durante tantos sucessos e não sofram hostilidade. Humilde, Brian Johnson não espera que a maioria do público reconheça as canções do recém-lançado álbum e as anuncia. “Esta se chama ‘Black Ice’.” Embora menos inflamados, alguns roqueiros até tentam acompanhá-lo nos refrões.

Com um cigarro no canto da boca em diversas músicas e um ar despretensioso de quem faz uma jam session no quintal de casa com os amigos após o churrasco de domingo, o baterista Phil Rudd é sinônimo de relógio. Mas, mais do que isso, é um “escada”, comediante que prepara a piada para o companheiro de cena. Rudd se junta ao baixista Cliff Williams e ao guitarrisra Malcom Young no papel de cozinheiros/carregadores de piano para que as estrelas de Brian Johnson e Angus Young brilhem. Só os dois correm, pulam, se contorcem, jogam no chão e interagem com o púbico. O trio, atrás, assiste a tudo e carrega as bases com precisão matemática.

“Dirty Deeds Done Dirt Cheap” chega para ganhar o Morumbi, cujas arquibancadas piscam em vermelho com os chifres vendidos à porta, símbolo usado por Angus em “Highway to Hell”. O blues “The Jack” marca a metade do show, com o direito ao tradicional strip tease de Angus Young, que faz graça para a plateia até abaixar sua bermuda e exibir uma cueca com o logotipo do AC/DC. É hora de farra. Em seguida, com o público ainda se recuperando de um clássico, Brian Johnson pula na corda e começa a balançar o sino: o Morumbi pega fogo. Começa “Hells Bells”.

Embora ainda use um figurino de motorista de van, sua profissão antes de assumir os vocais do AC/DC, Johnson dá um show de carisma no palco contorcendo-se como se precisasse expurgar algo, e transborda energia. Definitivamente ele não está ali por dinheiro. Anuncia mais uma nova, “War Machine”, que é a 12a. da noite e a última de “Black Ice”. Foram quatro ao todo.

A partir daí, só clássico atrás de clássico, com “Dog Eat Dog” seguida de “Shook me All Night Long”, que volta a incendiar o estádio, e depois “T.N.T.”. A boneca gigante de seios fartos Rosie aparece no palco em “Whole Lotta Rosie” como já aconteceu no show do estádio do Pacaembu, há 13 anos. É impossível ficar parado com a canção, que deveria ser material em escolas de música em alguma aula de “pegada ao vivo”. Olhem e aprendam. “Let There Be Rock” encerra o set antes do bis, quando já estava provado que é possível obter um som perfeito mesmo em um estádio, onde não há acústica.

Angus Young passa um bom tempo brincando com sua guitarra, ameaçando pequenos solos e interagindo com seu público antes da banda deixar o palco. É quase cansativo, mas como todo mundo sabe, faz parte do show. O guitarrista ganha um desconto.

A banda não demora a voltar com o hit “Highway to Hell”. Young usa chifres, masca um chiclete imaginário e vê o estádio inteiro cantar junto. Para fechar, o hino “For Those About To Rock (We Salute You)” faz o canhão disparar. Composta há quase 30 anos, a música mostra que este tiozões de 60 anos seguem alheios a modismos, ondas e rótulos. Eles simplesmente fazem rock da melhor qualidade em quase duas horas de show. Simples assim.

A próxima parada do trem AC/DC é em Buenos Aires, local que a banda escolheu para gravar um DVD da tour “Black Ice”. Enquanto o Brasil recebeu apenas um show do AC/DC neste passagem pela América do Sul,  a cidade argentina esgotou três noites (02, 04 e 06 de dezembro) no Estádio Monumental de Nunes, do River Plate. Tomara que estes cinco caras ainda durem um bom tempo nos palcos. Eles têm muitas almas a lavar mundo afora.

Set list:
1. “Rock’n roll train” – de “Black ice” (2008)
2. “Hell ain’t a bad place to Be”- de “Let there be rock” (1977)
3. “Back in black” – de “Back in black” (1980)
4. “Big Jack” – de “Black ice” (2008)
5. “Dirty deeds done dirt cheap” – de “Dirty deeds done dirt cheap” (1976)
6. “Shot down in flames” – de “Highway to hell” (1979)
7. “Thunderstruck” – de “The razor’s edge” (1990)
8. “Black ice” – de “Black ice” (2008)
9. “The Jack” – de “T.N.T.” (1975)
10. “Hells bells” – de “Back in black” (1980)
11. “Shoot to thrill” – de “Back in black” (1980)
12. “War machine” – de “Black ice” (2008)
13. “Dog eat dog” – de “Let there be rock” (1977)
14. “You shook me all night long” – de “Back in black” (1980)
15. “T.N.T.” – de “T.N.T.” (1975)
16. “Whole lotta Rosie” – de “Let there be rock” (1977)
17. “Let there be rock” – de “Let there be rock” (1977)
BIS
18. “Highway to hell” – de “Highway to hell” (1979)
19. “For those about to rock (We salute you)” – de “For those about to rock” (1981)

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Tiago Trigo é jornalista e assina o Las Chilenas No Histeriquean

4 thoughts on “Show: AC/DC no Morumbi

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